A Rainha Dourada.
Natureza.
Muitas das risadas cessaram instantaneamente quando Thorin e Tauriel surgiram juntos na base da escadaria, dando lugar para o barulho de outros visitantes e da natureza matinal. O líder, ainda desprovido de seus trajes de combate, utilizava apenas uma túnica azul marinho que lhe servia como roupa de baixo, calça de montaria e botas, típico conjunto de trabalho como ferreiro. Os cabelos pretos desgrenhados insistindo em ocultar seus belos olhos azuis. Lied percebeu a tristeza irrompendo deles, mas foi compreendida de outro ângulo:
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Ele não gosta de elfos. - explicou Bálin, temeroso. - Mas aprova humanos. - acrescentou para tranquilizá-la.
Já a elfa que dizia não ser companheira de Kíli mantinha um sorriso contido nos lábios rubros. O olhar complacente e gentil. Naquele momento era impossível acreditar que a moça fosse uma guerreira, como antes tinha dito Fíli, a ameaçar seu irmão que agora aguardava ansiosamente que ela tomasse o lugar a seu lado, e tão logo o fez.
Com um aceno de cabeça vindo do recém-chegado, todos retomaram suas atividades com o dobro de energia.
– Venha, quero que conheça alguém. - disse Fíli, seu olhar tão desperto como estrelas de verão. - Ele é muito especial para mim.
– Parece tenso, um tanto aborrecido. - Lied cogitou negar o pedido, pouco receosa.
– Não se acanhe, nada vai dizer para chateá-la. É meu tio, Thorin. - declarou, por fim.
O jovem anão esperou o consentimento da outra antes de tomá-la pela mão uma segunda vez naquela manhã, porém, a forma com que o fez era totalmente diferente da anterior, muito mais segura e precisa, com passos curtos decididos e a postura rija esbanjando superioridade. Os olhos azuis escuros fitaram-na sem emoção, pousando alguns segundos no aperto firme de Fíli entrelaçando seus dedos nos dela.
Ao pararem, o loiro hesitou, inspirando o máximo de ar antes de pronunciar de uma vez:
– Tio Thorin, quero lhe apresentar Lied, nossa nova amiga de Dragon Forest. – o anão robusto intensificou o olhar. - Lied, este é Thorin Oakenshield, líder desta comitiva e irmão mais velho de minha mãe.
– Nossa nova amiga? - repetiu desconfiado.
– A companhia não pôde ser mais cortês. - sorriu o jovem.
Lied mensurou as palavras com carinho, porém, entre os seus era pouco provável a construção de uma amizade em apenas um dia e tão poucos agrados. Thorin relaxou os ombros, reverenciando-a com um aceno de cabeça. Ela, por sua vez, surpreendeu-o ao baixar-se perante sua figura, nivelando as alturas. Tomou a mão calejada e grossa entre as suas com delicadeza, beijando-a em seguida. Fíli piscou descrente enquanto todos observavam com igual assombro, num sobressalto, o herdeiro de Erebor virou a palma da mão para o rosto da jovem, afagando-o com o polegar.
– É tradicional em meu reino prestar cumprimento a líderes com a mesma soberania de um monarca, senhor Thorin. - ilustrou um sorriso luminoso em sua face, levantando-se. - O mais nobre de nossos afetos.
– Poderia eu deter uma parcela deste carinho? - questionou uma voz sutil em suas costas.
– Estérela! - Lied virou-se num ímpeto, abraçando-a com fervor. - Cheguei muito tarde, já estava recolhida, e seu pai absorto em preocupações por seu sumiço repentino!
– Que fora resolvido em total acordo, creio? - os anões assentiram em comum opinião pela comida e abrigo.
– Não vi as criaturas de Yamar nas redondezas. Aconteceu alguma coisa?
Ester ensaiou uma piscadela para Gandalf ainda que não pudesse enxergá-lo.
– Receio que não. Minha querida vai para o Norte? - interrogou-a com interesse.
– Pretendia partir ainda esta tarde. - respondeu displicente.
– A caminhar? - a outra parecia ligeiramente surpresa.
– Sim, mas assumiria uma cavalgada assim que chegasse em Spaceport Alpha.
– Então terá de passar por StarCity de qualquer maneira, presumo.
Lied assentiu, sem compreender até onde a loira chegaria.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Importa-se de guiar mestre Gandalf e a companhia de Thorin Oakenshield?
– Para onde? - interrompeu Thorin agressivamente, atento a conversa.
– Sei que não será de um todo satisfatório, acredite, mas o tempo em Stellaevi passa bem mais rápido para vocês que para nós. - a tentativa de explicação deixando-o mais confuso. - O Istar necessita de conselhos, e estes devem vir de uma supremacia que não possuímos.
– Istar? - Lied repetiu maravilhada. - Eis que é um mago cinzento... Mestre em magia?
Gandalf estava preparado para argumentar quando Ester tocou o braço de Lied, virando-a para si.
– Mjeshtër? A jo. Kujdestar.¹
Apesar de nada entender do que foi dito por Estérela, Bilbo notou que sua expressão se dissolveu, a voz melodiosa soando metálica e significante. Lied não contestou, apertando as mãos da amiga fraternalmente.
– Será um gosto poder ajudá-los.
– Faça-o como um favor pessoal a mim. - interviu Ester, tateando um espaço para acomodar-se. - Aviso que são dois longos dias e três noites antes de chegarem ao destino prometido, em trilhas pouco amistosas.
– Ao que se compara as nossas, ela diz. - explicou Lied a Thorin prontamente. - Mas já passei tantas vezes que meus pés poderiam ir sozinhos.
Dwálin não parecia convencido.
– A madame possui alguma aptidão para combate? - indagou com escárnio.
Bombur, Glóin, Kíli e Thorin riram, ao passo que Fíli franzia o cenho e Bilbo aparentava estar engasgado.
– Apenas quando necessário. - respondeu docemente diante da brincadeira.
– Lied tem diretrizes distintas em batalha. - defendeu Ester. - Suas palavras são tão poderosas quanto as armas que carregam.
Gandalf assentiu:
– E isso é uma dádiva incomum.
– Logo que encontrar o que busca em nossos domínios - finalizou, especialmente para Thorin. - serão orientados a retornar para sua jornada inicial, tenho certeza.
Terminada a refeição, Bilbo Baggins deu seu último suspiro aliviado ao deixar a estalagem de Midgard, um lugar seguro ante ao mundo completamente inexplorado. Lhe foi assegurada toda assistência com alimentação e acampamento, e basicamente todos os pertences tomados pela viagem anterior foram repostos, mas isso não era suficiente para tranquilizá-lo. O silêncio estava se tornando uma maneira ágil de defesa contra a indiferença; de longe podia ver os membros da companhia reunidos com suas armas de guerra e suprimentos, sendo Óin privilegiado com caules e ervas medicinais que provavelmente seriam úteis no retorno ao Ermo. Ori rabiscava seu diário o mais rápido que podia, tentando concentrar em um dia milhares de informações válidas para suas histórias.
Kíli e Tauriel, os únicos um tanto distantes, observavam admirados a beleza do céu, um azul primaveril inspirador. Lied e Fíli acercaram-se em seguida, o segundo com ânimo aflorado pela possibilidade de passar algum tempo ao lado da moça, de modo que a despedida iminente pudesse ser retardada. Lied se arranjara, rápida e objetiva, tão leve quanto elegante. Bilbo não pôde deixar de notar o olhar de Thorin sobre ela, desvendando-a através de bucólicas atitudes, como reorganizar o peso da bagagem para que nenhum deles fosse prejudicado pelo cansaço.
Seu cumprimento deixara-o desnorteado, já que há muito não experimentava do protocolo real de seu povo, mesmo que fosse respeitado entre os seus, herdeiro de um trono perdido. Entretanto, a jovem nada conhecia sobre suas origens para tratá-lo com tamanha pompa, e por tal ganhara parte de sua afeição.
– Não se aflija, pequeno. - disse Ester em suas costas. - Nem todo desconhecido é perigoso.
– O que enfrentaremos daqui por diante? Que perigos teremos de vencer? - ousou questionar.
– Há guerras que são fundamentais, mestre Baggins.
– Como?
Ester aproximou-se, tocando-lhe o ombro exatamente como fizera com Lied no desjejum.
– Vence a ti mesmo e estará apto a vencer qualquer outro. - sussurrou. - A pior batalha é aquela travada com sua consciência.
O hobbit ergueu a cabeça num semblante mais calmo, reparando como a maioria reagia bem às novidades. Encontrara, sim, uma bondade inexplicável entre aquelas pessoas, um misto de felicidade e conforto.
– Lembre-se, Bilbo, há coisas que você pode fazer, outras que deve. Mas não abra mão de suas opções diante de uma obrigação.
– A propósito, devemos partir. - notificou Gandalf, entregando a Bilbo sua diminuta espada elfica e alcançando a comitiva.
– Vocês estão indo para o berço do conhecimento e sabedoria de nosso povo. Guardiões da essência e da magia que rege nossos domínios e garante nossa paz. - Estérela parou ao lado de Lied, consideravelmente mais alta. - Desejo a todos a maior sorte dos mundos, que tenham o sucesso esperado e prosperidade.
Midgard apressou-se a abanar as mãos do alpendre até que não fosse mais avistado, a filha logo abaixo, o olhar comumente vago. Assim que contornaram a campina, a paisagem mudou instantaneamente de esplanadas para uma vasta floresta, Greenwood Forest, as fronteiras se desfazendo a cada movimento estimulado pela jovem humana.
Lied os conduziu por passagens bem iluminadas, embora os pinheiros e salgueiros fossem grandes o suficiente para encobrir o sol. Contrastando com as planícies, o terreno montanhoso aos poucos foi se mostrando desbravado e, sem parada, penetraram mata adentro, ficando cada vez mais nítido que aquele espaço sem dúvidas era inaugural, de uma beleza e harmonia indiscutível. Aves exóticas piavam em dueto, seguidas pelo tilintar gracioso de esquilos correndo na pedra; flora da mais variada cor e tamanho alegrava o ambiente, plantada com tanta perfeição que era difícil crer em seu crescimento genuíno.
– É tudo tão lindo... - Ori colecionou algumas margaridas dispostas no chão, entregando-as para moça num buquê singelo.
– Obrigada, mestre anão. - agradeceu ela, guardando o ramalhete no bolso frontal do casaco.
– Eu poderia fazer uma coroa, se quisesse. - comentou Fíli, acercando-se. - Apesar que ficaria bem mais bonito se coletássemos flores frescas.
– Elas morreriam da mesma forma. Não faremos isso, deixe que suas cores perdurem.
– Prefere que adornem os jardins invés da tua fronte, Lied?
– Oh sim! - confirmou ela sorridente, apoiando-se em uma pedra tombada. - Estarão aí para enaltecer outras almas com sua formosura.
– Não o faria por vaidade?
– Para quê? Tudo que na terra habita possui o direito incontestável de viver, Fíli.
Bilbo acelerou a caminhada, aproximando-se:
– A natureza não faz nada em vão*.
– Precisamente, senhor Baggins.– Lied sorriu para o hobbit, que retribuiu o gesto em instância. - E quando agredida, ela não se defende. Apenas se vinga.**
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