A Rainha Dourada.

Prólogo.


Gandalf não se juntara a mesa, reparava Bilbo, enquanto Beorn, o anfitrião skin-changer que demonstrara receptividade a si e aos anões da companhia, servia um bocado de leite morno. Aproveitaria destas pequenas regalias o máximo que pudesse, já que a jornada tomava aos poucos rumos demasiadamente sombrios.

O mago caminhava em círculos, por vezes batendo o cajado em algum objeto inanimado. Pela pequena janela embaçada de poeira, era notável seu semblante preocupado, até mesmo confuso, e não seria sensato interrompê-lo caso estivesse arquitetando uma rota de fuga segura. Tomando a trilha de Mirkwood, a floresta oeste, chegariam até o lago que os separaria de Erebor, porém, o velho não parecia de um todo satisfeito com essa façanha. Não garantiria uma passagem silenciosa diante dos perigos ocultos daquelas matas.

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– Deixe-o, mestre Baggins. - Balin comentou, beliscando um pedaço de torrada. - Até mesmo os mais sábios precisam de um tempo ás vezes.

Thorin soltou o ar com aparente desdém.

– A sabedoria já não pode nos atrasar mais. - seu argumento soava rude, entretanto, desesperado. - Devemos partir em breve, antes que a luz seja levada dos céus e sejamos novamente caçados por aqueles orcs.

– Seu tom de voz é astuto, Thorin, filho de Thráin.– Beorn disse lentamente. - Conheço essa aspereza tanto quanto a vontade detrás dela. - cerrou os olhos. - Mas não acredito que lhe seja concedido esse direito, por hora...

A porta escancarada impediu Thorin de se exaltar, erroneamente, enquanto Gandalf aproximava-se. Um muxoxo baixo de desgosto foi suficiente para abater uma futura discussão, a face do outro iluminando-se, como se um enigma dificultoso terminara por descoberto.

– As passagens de Mirkwood possuem muito mais do que encantamentos élficos. - virou-se para Beorn, que assentiu. - Ainda há um portal de Vallerie escondido no umbral de Hádar?

O mais alto franziu o cenho diante do questionamento inesperado. Todos acobertaram Gandalf de maneira curiosa, principalmente Bilbo, que nada compreendia do que o mago falava. Todavia, mesmo que surpreso, Beorn reconheceu o dialeto, dando de ombros.

– Pensei que este segredo jazia apenas nas mãos dos senhores de Lothlórien, a quem nos fez jurar há muito guardá-lo com a própria vida...

– Os Istari– interviu. - têm permissão de consultar artigos mágicos desde que não interfiram no discorrer da Era.

O skin-changer pousou a jarra de leite sobre a mesa, analisando o olhar inquietante do mago.

– Aquelas terras estão repletas de maldições. Tudo que a toca adoece, enlouquece. Eu não aconselharia traçar um passo sequer, se não fosse extremamente necessário. Porém, preferiria atravessá-la de uma ponta a outra antes de tomar aquele portal. - balançou a cabeça, livrando-se de qualquer pensamento inacabado. Com uma voz amortalhada, acrescentou. - Você nunca saberá onde ele termina.

Gandalf hesitou, assentindo pesaroso.

– Sim. Mas temo não possuir outra opção.