Tempest

Capítulo 07 – Algum problema com isso?


Tempest

Kaline Bogard

Capítulo 07 – Algum problema com isso?

Kagami abriu a porta e deu de cara com Aomine, de braços cruzados, um olhar indecifrável no rosto que transmitia apenas tédio.

— Demorou, escravo.

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— Teu rabo! — o ruivo não conseguia manter a calma perto do rapaz! Parecia ser um dom especial de Aomine. Alguns nascem com talento para música, outros criam pinturas belíssimas e há ainda aqueles que escrevem livros fantásticos. Aomine não, ele irritava. Mais nada. E jogava bom basquete, claro, mas esse último é apenas um detalhe.

Daiki não respondeu, avançou pela porta aberta, perdendo dois segundos para deixar o par de tênis no genkan. Nem se deu ao trabalho de calçar o surippa que Taiga deixara reservado. Entrou na casa apenas de meias, bem a vontade.

— Lugar bacana — elogiou analisando a sala descaradamente — Vou gostar muito de fazer hora por aqui de vez em quando.

— Oe! Nem se acostuma...

O rapaz ignorou completamente a reclamação. Largou a mochila no meio do caminho até o sofá, onde deitou de costas, suspirando.

— Me traz um travesseiro, escravo.

Pobre Kagami, que inflou de raiva. Pobre porta, vítima dessa raiva.

Após bater a porta, foi pisando duro até o quarto pegar o bendito travesseiro. Aproveitou para imaginar quanto tempo uma pessoa demoraria para morrer, quando se aperta o travesseiro em sua cara. Especulou se os vizinhos ouviriam alguma coisa suspeita. Tentou pensar em um bom lugar para esconder o corpo.

Trabalho demais.

Ao invés disso apenas retornou à sala e jogou o fofo travesseiro sobre o outro, que deu uma risadinha cheia de si.

— O que tem pra comer? Vim direto do treino e to morrendo de fome.

Taiga ergueu as sobrancelhas ao ouvir aquilo.

— Hn? O grande Aomine sama agora se dá ao trabalho de treinar? Venceu a preguiça, é? Por que será...?

Daiki não se deu por perdido. Coçou a orelha com o dedinho, logo após ter se ajeitado no travesseiro e encontrado uma posição muito cômoda para si.

— Depois que eu perdi pra um macaco tive que reavaliar a situação. É a vida. Cade a comida?

Apertando os punhos com força, Kagami deu meia volta e foi para a cozinha. Respirou fundo três vezes. Assassinato ainda é crime, repetiu em sua mente como um mantra.

— KAGAMI! — o chamado alto soou bem preguiçoso.

Assassinato ainda é crime! Não se esqueça, cara.

Voltou para a sala pisando duro.

— O que foi, Aomine sama?

— Liga a televisão. Quero assistir alguma coisa.

— O controle 'tá aí, caralho! — apontou a mesinha de centro. Daiki só tinha que se inclinar um pouco e esticar o braço — Por que não pega você?!

— Porque eu tenho um escravo para fazer isso pra mim.

Taiga pegou o controle. Mas tinha um brilho tão intenso nos olhos avermelhados, que Daiki ergueu um dedo em alerta.

— Nem pense em me acertar com isso. Convivi o bastante com Akashi para evitar um amador como você...

— Eu não ia tentar acertá-lo, Aomine sama — o ruivo afirmou com falsa inocência. Os dois sabiam que era mentira.

Apenas ligou a televisão e arremessou o controle para o outro rapaz, que o pegou no ar e colocou sobre o tórax, satisfeito como um gato que roubou todo o sashimi de cima da mesa.

— Mais alguma coisa, Aomine sama? — perguntou com os dentes cerrados.

— Não. Se precisar eu chamo.

Kagami estreitou os olhos. Como alguém podia ser tão folgado e cara de pau assim? Mal chegara e já agia como se fosse dono da casa! Mais a vontade só se tirasse a roupa e... deu um tapa no próprio rosto. A última coisa que precisava (ou queria, óbvio) era a imagem mental de Aomine pelado andando pela sua casa! ARGH!!

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Sem opção voltou para a cozinha, mas nem tinha chegado a mesa para arrumá-la e se ouviu sendo chamado novamente.

— ESCRAVO!

Ergueu o rosto e fixou os olhos no teto. Paciência. Onde podia comprar paciência por quilo? Ou um álibi que testemunhasse sua localização longe dali na hora do crime...

— O que foi... Aomine sama? — indagou entrando na sala.

— Esse programa tá chato — apontou a tela da televisão — Procura outro.

— O... o quê?! — olhou para o controle que ainda estava sobre o peito de Daiki — Muda você!

— Não. Estou ordenando que você mude o canal. Você é meu escravo e tem que fazer o que eu mando. Por que fica reclamando se no fim vai me obedecer? Isso enche o saco.

Taiga não respondeu, embora os dois soubessem a razão de tanta relutância. A verdade é que cada vez que Aomine o mandava fazer algo era como se esfregasse a derrota de Kagami em sua cara. Era humilhante.

Silencioso foi até o sofá e pegou o controle. Zapeou os canais, demorando alguns segundos em cada um, para que Daiki pudesse ver se algum lhe agradava.

— Aí, deixa aí! — exigiu quando a tela exibiu a reprise de um jogo da NBA.

O ruivo devolveu o controle ao lugar onde estava e tentou voltar para a cozinha sem conseguir.

— Oe, Kagami. Você acha que eu tenho super audição? Aumenta o volume porque tá baixo.

— Dá um tempo, cacete! Aumenta você!

— Não.

Desistindo de lutar contra a correnteza, aproximou-se de novo. A tentação que o invadiu foi de enfiar o controle na garganta do outro e matar dois patos com uma cajadada só: evitar que ele continuasse testando sua paciência e acabar com a fome que Daiki dizia sentir.

— Tá bom assim — Aomine falou quando o volume alcançou um tom mais elevado.

— Quer mais alguma coisa, Aomine sama? — esticou os lábios forçando um sorriso, cheio de falsa simpatia. Tinha caninos pontudos, que lhe davam uma aparência meio selvagem. Passava a impressão de que ia saltar sobre Daiki e estrangulá-lo a qualquer instante.

— Não. To bem.

— Tem certeza, Aomine sama? — o sorriso aumentou. Se pudesse faria como os titãs daquele anime bizarro e arrancaria a cabeça de Daiki com uma dentada. Justo o castigo merecido!

— To bem, já disse. Vá tranquilo e em paz, escravo. Prepare a nossa refeição — terminou dispensando-o com um gesto de mão e engolindo uma risadinha. Como o rapaz se divertia provocando-o assim!

Kagami voltou para a cozinha. Parou perto da mesa e esperou, mas os segundos avançaram e não ouviu seu nome sendo gritado. Pelo visto o outro sossegara o rabo por um tempo. Conseguiu estender uma toalha sobre a mesa para evitar farelos de cair sobre o tampo, colocou os hambúrgueres que comprara depois do treino e já estavam meio frios. Também pegou a garrafa de Bepsi e dois copos.

Nem acreditou que conseguiu terminar a arrumação sem ser chamado para alguma exigência idiota. Se aquilo virasse uma rotina não ia aguentar! Mais cedo ou mais tarde acabaria explodindo com Daiki e a coisa ficaria feia.

Precisava da sua revanche o quanto antes! Venceria os três jogos e voltaria a ser livre. Lição aprendida com louvor: nunca mais apostaria com quem quer que fosse. Ia fazer como Kuroko sugerira. Crescer com a experiencia, se tornar uma pessoa melhor e mais madura. Abrir um grupo de ajuda e dar palestras alertando as pessoas sobre os riscos de aceitar pactos com o diabo... boas ações assim, humanitárias. Salvaria milhões de almas inocentes.

Enfim, não podia ficar ali na cozinha pra sempre. Mais cedo ou mais tarde teria que voltar para a sala e enfrentar o carma acumulado em suas vidas passadas. Pra ter recebido um castigo daqueles Kagami devia ter sido péssimo no passado. Quem sabe um discípulo de Átila, o Huno...

Pediu desculpas mentalmente a todos os italianos mortos pelos hunos durante a invasão em... em... algum ano histórico (Kagami era ruim em história antiga) e voltou para a sala. Logo entendeu o bom comportamento de seu dono, digo, visitante.

Aomine estava em pé, analisando a pequena estante de madeira em que Taiga guardava algumas de suas coisas. Livros, CDs, BR de filmes, alguns porta-retratos.

— Vem comer — chamou, atraindo a atenção do outro.

Quando Daiki se virou, Kagami percebeu que ele tinha uma caixinha de CD na mão. E sorria meio maldoso.

— Porra, Kagami. Não fode, né? — o sorriso sacana aumentou — Coldplay? R.E.M.? Yiruma?! Tu só ouve música de viado.

A expressão do ruivo se fechou. Ele tornou-se quase taciturno, grave. Mas foi uma intensidade diferente de tudo até então. Surpreendeu Aomine, que esperava raiva e protesto. Não uma postura tão defensiva.

Kagami foi até o outro e pegou a caixinha de sua mão, colocando-a de volta no lugar.

— Você tem algum problema com isso?

Continua...