Keep Holding On

Viva La Vida


Um minuto eu detinha a chave

Depois as paredes se fechavam em mim

E percebi que meu castelo estava erguido

Sobre pilares de sal e pilares de areia

(Viva La Vida - Coldplay)

Eu me lembro bem da minha primeira caçada que eu não consegui para o monstro. Era um vampiro. Ele tinha pegado Mike, que eu conheci durante essa caçada e o menino que eu estava gostando, e ameaçava matá-lo ou, pior, transformá-lo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

O vampiro me mandou entregar minhas armas. Vendo o rosto assustado de Mike, não tinha decisão para se fazer. Entreguei minhas armas para o vampiro, exatamente o que eu fui treinada para nunca fazer, e logo percebi porque. O vampiro simplesmente sorriu quando viu a arma longe de mim e mordeu o pescoço de Mike, o matando instantaneamente. Nunca vou esquecer-me desse momento. Foi uma das razões que me fez continuar caçando e me fez perceber o quão frágil eu era. Se meu pai não tivesse chegando logo, acertando o vampiro com um dardo com Sangue do Homem Morto, eu já estaria morta.

Depois disso, tudo foi diferente. Para começar, eu finalmente entendi que não era invencível e passei a ter medo. Engraçado, essa palavra nem estava no meu vocabulário antes, mas depois nunca mais dormi bem. A culpa de ter falhado estava presente comigo para sempre. Eu nunca esqueceria o horror no rosto de Mike quando ele viu que o vampiro iria o matar, que eu tinha falhado, mesmo ele tendo confiado em mim.

Eu fiquei com medo de errar e levou meses para que eu começasse a confiar em mim novamente, num período cheio de reclamações do meu pai, que precisava de mim 100% nas caçadas.

No fim, eu acabei conseguindo voltar a caçada e até mesmo a melhorar, mas eu nunca vou poder me esquecer de Mike, porque além de tudo, eu gostava dele. Podíamos ter tido alguma coisa se ele não tivesse sido morto na minha frente. E isso me causou mais um grande problema de distanciamento.

Eu fiquei afastadas das pessoas e de relacionamentos por um bom tempo, para me punir pelo que tinha acontecido, mesmo no fundo sabendo que era não era minha culpa, não poderia deixar tudo que Mike sofrera em vão. E temia que se eu chegasse perto de alguém novamente, essa pessoa teria o mesmo destino dele. Achava que ninguém devia confiar em mim, porque eu tinha falhado.

O que aconteceu foi horrível, mas marcou minha vida e eu tenho certeza que aquele momento me definiu. Porque eu tinha aprendido a missão mais importante de uma caçadora sobrenatural: erros são fatais.

Era a minha escolha continuar caçando ou não depois de saber isso e escolhi continuar para nada que aconteceu com esse pobre jovem acontecesse de novo com outra pessoa.

Eu percebia agora que no fim morreria fazendo isso. Porque não há velhice para caçadores – sempre há alguém que irá se vingar no final. Mas, novamente, não era uma escolha. Era algo que eu precisava fazer, era algo que eu estava destinada. Era o negócio da família. Não podia sair.

Então, escolhi continuar e me tronar a melhor caçadora possível, e, embora admito que podia ser muito melhor e que existem outros mais habilidosos que eu, fiz o melhor que pude sem destruir a minha vida. Ou o pouco que sobrara dela.

Eu não acredito em nenhuma religião, mas acredito que devemos aceitar tudo fizemos para poder seguir em frente e continuar tentando fazer o melhor, sempre. E o melhor que eu podia fazer era caçar. É o que eu nasci fazendo.

Então, continuei mesmo sabendo que um dia tudo que eu conquistei desaparecia, que um dia eu seria só um nome e um túmulo. Eu continuei mesmo sabendo que estava pisando em bombos. Simplesmente aceitei que explodiria um dia e tentei ter a melhor vida que eu pude. E eu tive.