Bella sonhara sair pela nave da­quela mesma igreja de vila ao lado de Mike. Agora ela teria de esboçar seu melhor sorriso quando a prima desempenhasse o papel que tanto desejara para si. \"Não irei mais me torturar\", determinou com firmeza ao sentir a emoção aumentar, quase sufocando-a. Não tinha a intenção de se deixar consumir pela autopieda-de, apesar da grande dor.

Desceu do carro quando Edward abriu-lhe a porta. Não havia nem notado que ele saíra do automóvel.

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— Obrigada, Edward — agradeceu, ignorando a mão dele, estendida para auxiliá-la.

— Não se esqueça do chapéu.

Os olhos verdes, semicerrados, logo captaram os sinais de nervosismo no rosto de Bella. Ela dis­farçava bem, mas a tensão dos lábios e a rigidez dos traços refletiam o turbilhão interior. Edward relutou em desviar a atenção dos suaves lábios rosados entreabertos.

Agitada e um tanto ressentida por desconfiar que Edward estava se divertindo com sua situação, Bella agarrou o chapéu pela aba e o afundou na cabeça, prendendo os cabelos dentro.

— Como estou?

— Ficou uma mecha para fora.

Edward ajeitou alguns fios que caíam pelo pes­coço dela e os escondeu. Naquele momento, Bella pareceu muito jovem e vulnerável. \"Foi assim que agarrou a velha raposa?\", Edward se pergun­tou, com cinismo.

O leve toque dos dedos longos e ásperos em seu pescoço provocou nela um pequeno tremor. Surpreendeu-se com a reação de seu corpo, mas tinha de admitir que a sensação não a desagradou. De fato, era bom desviar os pensamentos da provação que teria de enfrentar em breve.

— Está charmosa, Bella. Tenho certeza de que o noivo se consumirá de arrependimento.

— Na verdade, não me importo nem um pouco — declarou, com arrogância. A crítica implícita a deixou ofegante.

—Mas que pequena mentirosa! A brinca­deira fo mais evidente e,antes que Bella o colocasse em seu devido lugar, sentiu que era en­laçada pela cintura, e o rosto se juntou ao seu. Edward riu, como se Bella tivesse acabado de contar algo muito engraçado.

— O quê...

— Convidados para o casamento, às dez horas —Edward cochichou ao ouvido dela.

Para dar mais realidade à farsa, mordiscou-lhe o lóbulo. Por alguma razão, Bella fechou os olhos, e um arrepio percorreu-lhe a espinha.

Piscando, ela olhou dentro dos olhos verdes inten­sos. Profundos lampejos irradiavam dos cantos, e os cílios escuros e espessos contrastavam com o bri­lho claro. Não se tratava de olhos apenas arreba­tadores, davam a impressão de inteligência e humor. Ser acompanhante não fora, com certeza, a pri­meira escolha profissional de Edward. Quais cir­cunstâncias o haviam reduzido a...? \"Não é de mi­nha conta!\", disse para si mesma, tentando des­viar a atenção para uma voz familiar.

—Bella!É você, querida? Não lhe havia reco­nhecido.Eu e George estávamos falando a seu respeito. Tão corajosa.... Apesar de tudo, foi me­lhor assim.

Bella mordeu o lábio e assentiu.

—Tia Helen, tio George,este é Edward —Bella apresentou, triunfante, como um mágico quan­do tira o coelho da cartola.

Mas a semelhança terminava ali. Se fosse para comparar Edward a algum representante do reino animal, ele pareceria mais com um grande felino, perigoso, predador.

Edward percebeu que estava sendo examinado com minúcia pelos parentes dela. Pareceu, de sú­bito, investir-se de um certo ar de autoridade que os forçou a desviar o olhar.

—Enfim conheci alguns dos parentes de Bella—disse Edward, cumprimentando o tiocom um aperto de mão que o fez retrair-se.

O beijo que ele plantou na face de Helen a fez enrubescer e parecer tão agitada como qualquer adolescente.

—Igreja bonita— Edward observou, olhando para a construção de pedras quadradas.—E arquitetura normanda, não é?— Edward pegou a mão de Bella, entrelaçou os dedos nos dela e continuou:

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— Estou falando com os pais da noiva, querida?

— Os próprios.

Bella estremeceu ante a menção da palavra \"noiva\". Jássica, a querida prima, esperara a opor­tunidade e se atirara sobre Mike sem pudores. Bella sempre soubera que ela cobiçava seu namorado. No entanto, tinha uma confiança ina­balável de que ele nunca nem mesmo olharia para qualquer outra mulher. Fora aquilo o que mais a deixara arrasada. Como pudera ser tão ingénua? Assim que Mike teve a chance, fez muito mais do que apenas olhar.

\"Mas é tolice ficar remoendo o passado. Com a família que tenho, deveria ter sido mais cuidado­sa. Bem, aprendi a lição.\"

Edward seguiu o pequeno grupo até a porta aberta e afastou-se para que Helen e George pas­sassem à frente.

—Sorria,Bella—cochichou,quando eles se adiantaram, ainda segurando a mão dela.

—Você parece que está a caminho do calabousso.

Os olhos de Bella brilharam de raiva, e ela tentou livrar-se.

—Pensei que estivesse aqui para me bajular— murmurou, furiosa.

Aquele homem esquecera seu papel passivo com muita rapidez. Não tinha o direito de fazer co­mentários pessoais.

Edward parou, virando sobre os calcanhares e segurando-a para encará-la.

— Não imaginei que gostasse de elogios men­tirosos.

— Mas não preciso suportar insultos.

— Tenho meu orgulho profissional a zelar. Gos­taria de contar com um mínimo de sua colabora­ção. A menos que pretenda desempenhar o papel de uma mártir.

Aquele comentário a despertou. Edward tinha razão, lógico. Teria de procurar representar para compensar seu amor-próprio ferido.

— Não sou uma profissional, Edward. E estou achando isso muito difícil, pois você é um completo estranho.

— Faça tudo direitinho, Bella. Lembre-se: es­tamos apaixonados. — Roçou os lábios nos dela, com delicadeza, porém, demonstrando uma fami­liaridade surpreendente. — Pensei que todas as garotas conseguissem fingir.

Mais uma vez, Edward fez um movimento cínico com a boca.

—Tenho certeza de que as moças que conhece conseguem com facilidade. Acha possível procurar não exagerar em seu desempenho? — Ergueu a ca­beça e afastou-se.

Bella esboçou um leve mas sincero sorriso para o porteiro, um rapaz que conhecia desde os tempos de escola.

—Convidados da noiva ou do noivo?—per­guntou ele, e então corou, dando-se conta da gafe que cometera. — Oh, desculpe-me, Bella... Que­ro dizer, eu não...

Bella quase sentiu pena ante a confusão do rapaz.

—Pode deixar, Jim. Encontraremos o caminho. Obrigada.

Em tom de voz bem baixo, em respeito ao recinto sagrado de antiga construção, apontou com um gesto de cabeça para uma das convidadas, sentada em um banco:

— Aquela é minha mãe, Edward.

— A de chapéu vermelho? — Inclinou a cabeça para captar as palavras sussurradas.

Bella meneou a cabeça.

— Mamãe ficará furiosa por havermos escolhido a mesma cor. Eu deveria saber: ela é o tipo de pessoa que adora vermelho.

— Bella, o que lhe deu na cabeça para usar roupa vermelha, com seu tom de cabelo? — Renné Swan era uma mulher bonita, cuja expressão rígida fora suavizada com os anos. Como sempre, estava muito elegante.

Bella sabia que nunca conseguiria alcançá-la nesse quesito: a maneira como caía o lenço de seda, a inclinação do queixo... Para Reneé, era tão simples quanto respirar. Para Bella, significava horas de cuidado para chegar à metade do efeito que gostaria.

Bella olhou para Edward, indiferente, antes de sentar-se.

—Sra.Swan, assumo total responsabilidade pela escolha. Bella está procurando me divertir.

O olhar surpreso no rosto de Reneé quando Edward, cheio de charme e carisma, se inclinou em sua direção e estendeu a mão, despertou em Bella uma vontade imensa de rir. Aquele não era o tipo de homem que a mãe ou quem quer que fosse imaginara, um dia, encontrar ao lado dela. Pela primeira vez, desde que encontrara Edward Mansen, se deu conta de que a decisão de empregar um artifício daquele se justificara. Decidiu apro­veitar o máximo possível o ar perigoso e selvagem de Edward. Bella era a única que sabia que todo aquele fascínio era falso.

— Edward é daltônico, mamãe. — Geórgia mal conseguia conter o riso.

— Quem é este belo jovem, Isabela? Não vai apresentá-lo?

— Este é Edward.

— Encantado, sra. Swan.

— Por favor, trate-me por Reneé. É amigo de Bella? Ela é muito fechada com relação às amizades.

—Um pouco mais que amigo, não é, querida?

Os olhos de Edward estavam fixos no rosto deBella, dando a impressão a seus pais de que ele e a filha eram muito íntimos. Foi tão convin­cente que Bella corou.

Naquele momento, ela notou, com o canto dos olhos, que alguém se levantava de uma fileira opos­ta. Virou a cabeça como que atraída por um ímã poderoso, e os músculos de seu ventre se contraíram.

Mike era um jovem muito atraente, alto e atlé­tico. Seus traços, regulares, a expressão, sincera e direta. Os dentes eram alvos e perfeitos. Os cabelos loiros davam-lhe um ar ainda mais jovial.

A perda e a amargura que Bella sentia transformaram-se em uma dor física. Mike a viu, mas não demonstrou nenhuma emoção. Ela não sa­bia se sentia aliviada ou humilhada. O ar cosmo­polita que ela se esforçara tanto em adquirir tivera seu efeito. Pena que, no fundo, ainda era a mesma garota por baixo das roupas caras e da maquiagem.

A mão que de súbito segurou-lhe o rosto a des­pertou de seu transe. Aos poucos, a vida retornava a seu corpo.

- Não estou acostumado a ver a mulher que acompanho encarando outro homem como uma tola apaixonada. — As palavras, ditas em tom baixo e casual, tiveram o efeito de um balde de água fria. Edward aproximara os lábios dos dela, dando ao incidente uma aparência sensual.

—Como ousa?! — A arrogância dele era ina­creditável. — Enquanto estiver lhe pagando,o que faço ou deixo de fazer não é de sua conta. Não se deixe levar por seu papel.

Na verdade, Bella sentia-se humilhada por haver sido flagrada comportando-se da maneira a que jurara nunca mais permitir-se. Sua raiva foi então dirigida à única pessoa que notara aque­la fraqueza momentânea e que tivera o mau gosto de mencionar o fato.

—E uma grande bobagem gastar dinheiro con­tratando um falso amantes e insiste em se com­portar com a discrição de uma adolescente, Isabella.Porque deveria eu desperdiçar meu tempo e minha energia agindo como perfeito enamorado se você não coopera?

Bella não pôde deixar de se sentir ofendida ante a insinuação de que agir como seu amante requeria uma grande quantidade de sacrifício.

—Porque está sendo pago para isso, Edward Mansen. Então,trate de se comportar.Diga-me, o que você faz? E um ator desempregado? Se quer saber, não é, em absoluto, o tipo de homem que solicitei à agência. Pedi um acompanhante, e não um conselheiro. E não precisa se esforçar tanto, ou, a não ser que seja um excelente mentiroso, vai acabar nos colocando em uma situação difícil. As técnicas de interrogatório de minha mãe che­gam ao limite da perfeição.

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Edward suspirou, impaciente.

Movimentou a cabeça em direção ao noivo.

—Se aquilo é de seu gosto, acho fácil acreditar que não sou a pessoa certa. Pegue um manequim de qualquer vitrine de loja e terá uma amostra de seu companheiro ideal.—Aexpressão de Edward era de puro escárnio.

Bella quase engasgou de ira.

O hábito, havia muito entranhado, de pensar que Mike representava a beleza masculina encar­nada fez os olhos de Bella soltarem faíscas.

— Como ousa?!

— Ora, meu anjo. Já reparou que fica repetindo essa frase? Dizem que a repetição é um sinal de intelecto limitado.

— Não me diga que a agência para a qual tra­balha só contrata génios!

— Só para as clientes esnobes.

Por algum motivo, Bella sentiu-se apreensi­va. Havia algo no contraste entre a suavidade da voz de Edward e a dureza na expressão falsamente sincera... Afastou aqueles pensamentos ridículos. Depois daquele dia, nunca mais teria de tornar a ver aquele homem. Edward não tinha influência alguma em sua vida.

Ainda assim, ele não deixava de ter razão: Bella tinha de se controlar se queria convencer os outros de que havia superado a traição de Mike e se sentia satisfeita e feliz.O que não deixava de ser verdade. Tinha uma carreira promissora como assistente em uma agência de propaganda. Franziu a testa ao pensar no homem que fora seu chefe:

Aro Cullen, a mão abençoada que conduzira a conhecida em­presa ao lugar que ocupava como uma das seis principais agências do país. Bella fora sua pro­tegida, e eram muito amigos. Aro construíra a Cullen do nada e, depois de estabelecida e fa­mosa, morrera. Aquilo deixara incerta a posição de Bella, mas a tristeza que sentia pela perda do amigo era genuína.

Bella tinha tudo o que queria: uma carreira, um apartamento próprio, independência, bons amigos, liberdade. Mas, mesmo com alguém a seu lado, sabia que todos a veriam apenas como uma mulher desprezada. Ela detestava a convicção geral de que uma mulher precisa de um homem para se realizar. Vira sua mãe passar por inúme­ros namoros temporários, cada um deixando-a um pouco mais desesperada e solitária que o anterior. A partir da própria experiência de perda, decidira nunca mais repetir o erro.

— Importa-se de tirar as mãos de cima de mim, Edward?

A mão que havia chamado sua atenção ainda segurava-lhe o rosto, as pontas dos dedos mergulhadas nos cabelos dela. Edward aproximara o seu rosto do dela o suficiente para que Bella pudesse ad­mirá-lo muito bem, a textura da pele, o aroma al-miscarado da fragrância masculina que exalava.

Um dos dedos de Edward enrolou-se em uma mecha que escapara do chapéu. A expressão nos olhos verdes, enquanto observavam o movimento preguiçoso do dedo, demonstrava uma incrível au­toconfiança. A perna de Edward, pressionada con­tra a dela, também a deixava perturbada.

\"De uma maneira desagradável\", tentava convencer-se.

Os acordes familiares da marcha nupcial soaram, e, com o coração aos pulos, Bella livrou-se da mão de Edward e dirigiu-lhe um olhar frio e distante, mais para convencer-se de que ele não tinha nada a ver com a descarga de adrenalina que percorreu suas veias do que outra coisa. Em uma ocasião como aquela, Bella não poderia dirigir sua atenção a nada além da atração principal.

A noiva estava adorável, suas respostas claras e decididas. Já o noivo pareceu menos firme do que sempre fora. Bella imaginou que se sentiria hu­milhada durante a cerimónia, mas percebeu que fora capaz de assistir a tudo como se não estivesse pre­sente, como se não passasse de um sonho.

Lá fora, os convidados se agrupavam para tirar fotografias. Bella manteve a cabeça erguida e respondeu com alegria aos cumprimentos da fa­mília e dos amigos, que olhavam com curiosidade para o homem alto ao lado dela. Em alguns casos, havia uma ponta de inveja. \"Bem, é sem dúvida muito melhor do que piedade!\"

— Por que Mike a deixou?

— Essa é uma pergunta indelicada. — Bella sentiu um arrepio. — Se quiser mesmo saber, par­ti para Londres, para fazer um curso. Mike e eu não éramos noivos, apenas namorados.

— Não lutou por ele? Ou já tinha alguém mais interessante em vista?

— Nenhum homem merece que uma mulher lute por ele.

— Não está sendo um pouco radical? Pelo que sei, você só sofreu uma vez. Ou será que seu pas­sado é ainda mais doloroso que essa experiência?

A ironia no rosto de Edward fez com que Bella sentisse vontade de esganá-lo.

— Sei que está entediado, mas, de modo algum, tenho a intenção de animar seu dia com histórias picantes. Minha mãe virá atrás de você em alguns minutos e, pode ter certeza, irá extrair cada par­tícula de energia de seu corpo.

— Noto que não se dá muito bem com ela. E seu pai, onde está?

— Para sua informação, nunca conheci meu pai. Ele nos abandonou antes que eu nascesse. Não conseguiu suportar o peso das correntes que o ata­vam a um lar. Mas mamãe nunca desiste. Sua vida é incompleta sem um homem em sua cama. Mas todos os seus amantes acabam partindo. Tal mãe, tal filha. Nós, é claro, não conseguimos se­gurar nossos homens.

Ofegante, Bella parou de falar e mordeu o lábio trémulo, horrorizada com o que acabara de confessar a um completo estranho.Edward ficou perturbado ao notar a angústia nos olhos sombrios dela, mas sufocou rápido qual­quer instinto protetor. Não deixaria, de modo al­gum, que seus sentimentos interferissem no mo­tivo de sua real presença ali.

Bella nunca imaginara que pudessem colocá-la na mesa dos noivos. Pressentiu o toque da prima Jéssica naquele arranjo, que sempre fora pouco ge­nerosa na vitória, pois acreditava que a mágoa de­veria ser sempre relembrada. De qualquer modo, Bella tranqúilizou-se notando que o tamanho de Edward a protegia da visão do casal feliz. As vozes, entretanto, não eram tão fáceis de ser bloqueadas.

Ela desperdiçara seu fôlego implorando para que Edward mantivesse a boca fechada durante a re­cepção. Ele já estava conversando com tio George havia dez minutos. Bella não conseguia entender tudo o que diziam, mas termos financeiros pareciam estar sendo usados o tempo todo. Por melhor artista que Edward fosse, o tio era um bem-sucedido con­sultor financeiro e seria apenas uma questão de mi­nutos para que descobrisse que Edward não tinha a mínima ideia do que estava falando.

Furiosa, Bella aceitou mais uma taça de vi­nho e a bebeu, de um gole, nem sequer degustando o produto daquela safra especial.

—Edward querido!—ela interferiu na conver­sa, segurando com um gesto afetuoso a mão do companheiro e, sem que ninguém visse, enterran­do as unhas em sua pele.—Você prometeu que não falaria de negócios hoje. Lembra?

Os olhos de Bella soltaram faíscas de alerta.

—Está se sentindo negligenciada,meu anjo?-As sobrancelhas escuras se ergueram, e Bella per­cebeu que Edward julgara inútil e improcedente o comentário.—Seja mais sutil, senão a farsa cairá por terra—murmurou,comvozgrave,pousandoos lábios, com delicadeza, nas costas da mão dela.George fitou-os com ar indulgente.

—Minha culpa, Bella, querida.Você tem um na­morado muito interessante. — Sorriu, satisfeito.

O elogio inesperado fez com que Bella se ca­lasse, surpresa. O tio não era o tipo de pessoa fácil de se agradar.

—Você sempre foi ótimo em analisaras pes­soas, titio.

O homem que amava estava a menos de meio metro de distância, e ali estava Bella, suscetível ao toque sensual das mãos de um desconhecido.

— Pode se comportar, Edward?!

— Como prefere que eu me comporte? — Franziu o cenho ao ouvir a risada infantil de Jéssica. — Sabe o que mais? Acho que você deveria sentir pena de seu amante ideal. Ele terá de conviver com essa ri­sada pelo resto da vida. Se é que vai aguentar muito...

— Desejo o melhor para eles.

— Mentirosa... — Edward ergueu a taça de vi­nho e ficou observando o movimento da bebida enquanto a balançava. — Como todas as mulhe­res, você é vingativa e não pode esperar para ver seu amado arrastar-se a seus pés.

— E fácil acreditar que as mulheres que você conhece ajam desse modo — comentou com des­prezo. Mas havia, tantas vezes, imaginado a cena amorosa na qual Mike apareceria para implorar seu perdão que não teve coragem de encarar Edward. — Não gosto do papel de vítima, e é por isso que você está aqui. Não tenho a mínima von­tade de causar ciúme em Mike e, para dizer a verdade, não conseguiria, considerando o que a agência me mandou.-Os olhos verdes se estreitaram, e os lábios de Edward se curvaram com desdém.

— Está me comparando de maneira desfavorá­vel... aquilo. — Fez um gesto arrogante com os ombros e olhou com altivez na direção de Mike.

— Você tem a si mesmo em alto conceito, não é?

— Minha auto-estima sempre foi elevada, con­cordo. Escute, sei que hoje está sendo um dia trau­mático para você, então por que não esquecemos esse tolo insensível que a humilhou e relaxamos? A comida está ótima, o vinho poderia ser melhor, mas é farto, e não permitirei que sua farsa seja descoberta. Alegre-se, coma, beba e dance um pou­co. Aproveite o charmoso companheiro que a agên­cia lhe enviou.

— Charmoso?! — Bella riu.

— Tenho uma reputação a manter — disse Edward, com ar solene. — Então, combinado?

O sorriso que lançou a Bella chegava ao li­mite do irresistível, então, ela resolveu erguer o copo e concordar com a proposta.