A filha da Marca Negra

A trégua e o beijo


Era em torno de meia noite quando acordou na ala hospitalar, cada centímetro de seu corpo doendo de modo que mal conseguia se mexer. “De novo essa sensação, só que desta vez os cortes são de verdade” pensou. Considerando os Potter como imagens da bondade como os vêem, até que podem ser bem maldosos.

Alguém dormia profundamente na poltrona ao lado da cama e ela conseguiu se levantar o suficiente para reconhecer Jake Avery. Por alguma razão isso a deixou feliz.

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Como se ela tivesse gritado, ele acordou num sobressalto e quando viu que ela o olhava, sorriu.

_Que bom que você acordou, ficou bastante tempo desmaiada, acho que perdeu muito sangue_ ele continuava a sorrir como se nada no mundo o deixasse mais feliz do que vê-la bem.

_Nossa, hum... Porque está aqui?_ foi um pouco grosseiro.

_Bom, que tal isso: eu me preocupo?_ mas ele não parecia magoado.

_Ah_ ela corou_ me desculpe, fui indelicada.

_Tudo bem, não fui o único que veio te ver. Scorpius passou a manhã aqui e Ashley a tarde, mas achamos que seria melhor alguém mais velho ficar à noite_ explicou_ até o Potter veio te ver, o Alvo_ completou quando viu que ela ia perguntar qual_ mas não ficou muito, porque ameacei jogá-lo da janela.

_Ah, valeu, eu acho_ não sabia quem queria matar primeiro_ odeio eles, todos eles_ ele assentiu e em pouco tempo caiu no sono de novo.

Passado em torno de uma hora a porta da enfermaria se abriu o suficiente para passar um braço e de lá surgiu uma varinha que rapidamente apontou para Jake e sumiu. Lena ainda procurava a dela que só depois foi perceber estava na mesa de cabeceira.

A porta tornou a se abrir e agora Alvo vinha caminhando até ela, atitude que ela teve que considerar corajosa, porém ele parou a um metro e meio da cama, como se isso o protegesse de qualquer feitiço que ela poderia jogar.

_Eh... Oi_ ele tentou.

_Potter, o que fiz para merecer a honra de sua visita a esta hora?_ ela colocou o melhor tom de deboche que conseguiu no momento. Ele murmurou algo do tipo “só me deixam entrar agora” lançando um olhar rancoroso para Jake, que nem se mexera, provavelmente Alvo tinha lançado um Abaffiato nele e em Madame Pomfrey.

_Eu queria_ o esforço que ele estava fazendo para dizer estas palavras era admirável e assustador, porque não podia ser boa coisa_ queria pedir desculpas e_ depois do pedido ele conseguiu falar mais normalmente_ olha só, é ridículo esse lance de ficarmos brigando só a leve menção do nome do outro, sei que nossos pais se odiaram_ se odeiam ela corrigiu mentalmente, caso Harry Potter soubesse da volta do Lorde_ e que supõe-se que sejamos assim também, mas não somos eles! Herdei algumas características dele, assim como você deve se parecer em alguns pontos com seu pai_ quase todos_ mas não somos eles, não estamos em guerra, estamos em Hogwarts!_ pela primeira vez Lena realmente não sabia o que dizer e ficou pensando se aquele discurso era dele ou havia tirado de algum livro tipo “como falar com seu inimigo sem ser morto” ou qualquer coisa do gênero.

_Por que não deixou seu irmão continuar a demonstração, e devo dizer que comecei a respeitá-lo mais depois daquilo, porque foi digno de algo que eu mesma faria?_ foi a única coisa que conseguiu pensar, uma zona segura, sem pedidos de desculpas e coisas estranhas. Se ele estava pensando que ela ia se desculpar, devia ter bebido umas boas doses antes de vir para a ala hospitalar.

_Por que como você mesma disse, é algo digno do que um comensal da morte faria e nós, que defendemos tanto a paz e o bem estávamos nos igualando a eles_ como ela não demonstrou reação acrescentou_ Tiago concorda comigo_ pelo que ela já ouvira falar de Tiago ele provavelmente concordou só para fazer algo calar a boca, mas Lena começou a considerar a trégua, porque era tentador viver sem os Potter a perseguirem aonde quer que fosse.

_Tudo bem, aceito a trégua_ “tomara que ele vá embora” pensou com toda força que conseguiu.

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_Hã, okay, fechado_ ele pareceu surpreso com a facilidade da trégua, devia ter decorado outros discursos e estava pronto para usá-los_ acho que vou indo então_ e tropeçando duas vezes ele chegou a porta da enfermaria, retirou o abaffiato e saiu. Num salto Jake levantou.

_Ouvi a porta fechando, quem era?_ mas quando olhou para o lado viu que Lena dormia profundamente, ou fingia que dormia, não querendo responder perguntas.

No outro dia, com muita insistência, Madame Pomfrey acabou liberando-a, então voltou para o salão comunal da Sonserina. Estava bem difícil se acostumar com ele, pois não passara mais de duas noites lá.

Foi para o dormitório, onde começou uma análise delicada no espelho depois desse tempo na ala hospitalar.

Ela era muito parecida com o pai. Os mesmos cabelos escuros, olhos azuis e estava pálida – mas porque tinha perdido muito sangue. Era um pouco alta, nada fora do normal e sua postura era de alguém que fora ensinada a ser superior. Definitivamente ela precisava parar de causar confusão. Não assistira mais de um dia de aulas.

Decidiu que se queria começar a parecer normal, tinha que ir almoçar, então entrou de cabeça erguida no salão e bem metade dos alunos se encolheu, obviamente o duelo com Alvo era de conhecimento geral.

Quando a viu, Ashley fez sinal que guardara seu lugar e ela acelerou o passo, todos aqueles olhares estavam irritando-a um pouco.

_Viu? Acho que ninguém quer se meter com você_ ela deu uma risada divertida_ Estão rolando boatos que você foi treinada para substituir seu pai.

_Ele não precisa de substitutos, ele não morre_ ela falou calmamente_ Scorpius tinha feito o favor de contar para ela do Lorde das Trevas, pois era um consentimento entre os comensais que os filhos não deveriam saber do Lorde, principalmente se estavam em Hogwarts, onde tinha muitos simpatizantes da Ordem.

Seu olhar correu pela mesa e para seu horror se encontrou com o de Alvo, que estava novamente sozinho em um dos cantos – visivelmente seu “amigos” acharam melhor não cair em uma das listas negras da filha do Lorde das Trevas, que além de ter esse título agora era considerada versada em Maldições Imperdoáveis e maneiras de tortura. Lena notou que Ashley o olhava como se quisesse estar com ele, mas quando viu que ela os observava baixou a cabeça. “Não somos mais inimigos” pensou “e Ashley gosta dele, ela vez tanto por mim, tenho que retribuir”.

_Potter, venha sentar-se conosco_ ela falou em tom alto o suficiente para ouvi-la. Todos da mesa se viraram, muito surpresos. O rosto de Ashley se iluminou e ela falou baixinho “obrigada”.

Num salto, Alvo estava ali, sentado entre ela e Ashley com um olhar assustado e surpreso, Lena encolheu os ombros e se concentrou na torrada, que parecia mais interessante. Ele podia ter sentado entre Ashley e Scorpius, porque pouparia a torrada de inúmeras garfadas sem sentido.

Ouviram-se tossidas de engasgo e alguns se viraram. Era Tiago Potter, chocado com o irmão no meio dos comensais, mas ele logo se recuperou e fez questão de não olhar mais para a mesa da Sonserina.

Na aula de transfiguração Lena entendeu que Alvo preferia sentar com Ashley a Scorpius, de quem ele parecia ter ódio e vice-versa. Então, Lena estava sentada com Scorpius que não parava de falar o quanto Potter era idiota.

_Ok, Scorpius, eu entendi, ele é inútil, chato, Potter, babaca e imbecil, mas Ashley gosta dele, ok? Ela sempre me ajudou, vou tentar agüentar ele se for por ela, o que você quer? Também me ajudou e quem sabe isso vá fazer você parar de falar e me deixar tentar transformar esse fósforo em agulha.

Depois disso ele ficou em silencio, uma escolha muito sábia.

Na hora do jantar Alvo tornou a sentar-se com eles, o que Lena achou um teste muito grande a sua paciência, então se virou para conversar com o primeiro aluno desocupado que encontrasse, no caso, Jake.

_Oi_ agora ela se lembrou que não sabia o que dizer.

_E ai? Você não parece muito feliz_ ele riu.

_Bom, digamos que não vou sair por ai de braços dados com o Potter pulando e cantando “Tudo pela amizade”_ ela sem sabia se aquela música existia.

_Imagino que não, mas sua amiga parece feliz.

_É claro que a ruiva está feliz, bonito do jeito que Potter é_ Lena e Jake começaram a procurar que havia dito uma coisa tão sem noção. Era uma menina de pele levemente morena, com cabelos escuros e olhos esverdeados, muito parecida com Jake, que revirou os olhos.

_Pela amor de tudo que é mágico Carol, não me diga bobagens na frente de todos.

_Besteira, tenho certeza que Lena vai ter que concordar comigo.

_O dia em que Potter for bonito eu como um galho do salgueiro lutador com geléia_ até a menina, Carol, teve que rir.

_Sou Carolina Avery, irmã do Jake, mas pode me chamar de Carol_ ele murmurou “infelizmente”, mas ela pareceu não ligar. Lena a cumprimentou e em dois segundos já estava conversando como se fossem amigas há séculos.

Após o jantar foram para o salão comunal e enquanto Ashley e Alvo jogavam xadrez bruxo elas conversavam sobre roupas, sapatos, acessórios, assuntos que Lena nunca falava com ninguém, mas como poderia? Morava com Lord Voldemort e ele não é o tipo de pessoa que se discute as últimas tendências da moda.