Gamer Love

Encontro na vida real.


– Mais um roubo perfeito! – Falou um jovem de cabelos castanhos e encaracolados, que retirava um dos fones de ouvido, e sorria convencido olhando para a tela do computador. Observava seu personagem, um hobbit com o nome “Burglar” indicado logo em cima, fumando seu longo cachimbo, sentado tranquilamente em um tronco. Sentia uma grande satisfação ao ver seu plano ter resultado em algo positivo.

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– Falando desta maneira é meio estranho, sabe? Se um policial ouvisse, podia interpretar de forma errada e iríamos presos! – Resmungou outro rapaz. Este tinha cabelos negros e encaracolados, da mesma forma que seu companheiro, o que poderia indicar um alto grau de parentesco – além de ambos serem baixinhos, rechonchudos e terem olhos grandes e expressivos e pés grandes. Até que poderiam ser confundidos com um dos personagens do jogo que tanto adoravam; estariam perfeitos classificados dentro da categoria “hobbit”.

– Drogo, não seja tão melodramático, você sabe que é só um modo de dizer!

– Pode até ser, mas devia tomar cuidado do modo como fala, Bilbo! Digo, às vezes acho que fazemos algo ilegal!

– Roubar coisas virtuais de personagens virtuais, para vender para outros personagens virtuais e ganhar dinheiro virtual que não vale nada no mundo real? – Aquele que se chamava Bilbo levantou uma das sobrancelhas e encarou o garoto de cabelos negros, que pareceu corar devido a pergunta provocadora – Não creio que o que fazemos é ilegal, meu caro primo Drogo! Meu personagem tem a habilidade de roubar de outros jogadores; se existe um problema nisso, os culpados são aqueles que desenvolveram o jogo e permitiram que essa habilidade existisse.

Drogo apenas fez biquinho, focou os olhos azuis claros na tela do seu notebook e começou a mexer nos botões do seu joystick fazendo seu personagem - um elfo - a atirar flechas em todas as direções do mapa, descontando a sua irritação.

– Não gosto quando fala como fosse um sabe-tudo! – Fez biquinho e Bilbo apenas rolou os olhos. Seu primo às vezes podia agir de forma bem infantil.

– Eu jogo a mais tempo que você, então sei mais, logicamente.

– Só não quero que sejamos bloqueados porque você gosta de ficar brincando de roubar e flertar com os jogadores!

– E-eu não flerto com ninguém! – Agora era a vez de Bilbo ficar corado.

– Chamar aquele anão de fofo não foi um flerte? – Drogo deu um meio sorriso.

– Ora, eu só expressei minha opinião!

– Não acho que outros jogadores do sexo masculino gostam de serem chamados de fofos... Aposto que agora ele odeia você!

– E desde quando um garoto de 16 anos tem tanto conhecimento assim sobre relacionamentos? Que eu saiba você ainda é virgem! – Bateu com os punhos fortemente na mesa, bochechas agora vermelhas devido a raiva.

– E você tem 20 anos e também é virgem, não venha dar lição de moral! – Drogo também bateu com as duas mãos na mesa, imitando o primo. Os dois trocaram olhares raivosos, tal como lobos prestes a lutarem pela dominância do território.

– Er... Pessoal... - Um terceiro companheiro tentava interromper o briga antes que essa se tornasse ainda mais embaraçosa, afinal eles não estavam sozinhos. As pessoas das outras mesas do cybercafé os fitavam com olhares de curiosidade e desaprovação, outros até continham risadas – Podemos deixar essa discussão para outra ocasião? – Perguntou em uma voz baixa, quase inaudível.

– Você não ouviu o que esse moleque falou sobre mim? – Disse Bilbo, apontando para Drogo, que cruzava os braços diante do peito e bufava.

– Moleque? Pode ser mais velho mais compartilhamos o mesmo tamanho!

– Eu sou mais maduro!

– Aham, sei. – Rolou os olhos e cruzou as pernas.

– Ori! Diga para ele de que lado você está!

O terceiro membro do grupo agora se encontrava em uma situação delicada. Os seus dois melhores amigos o encaravam, esperando a sua opinião. Ori nunca fora o centro das atenções, estava acostumado a viver na sombra, logo aquela situação era deveras desconfortável para o tímido garoto.

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– Er... Eu... Bem... - Já estava começando a suar frio, seu coração batia rápido.

Bilbo suspirou e tocou no ombro de Ori.

– Não precisa responder – Disse, piscando – Sei que, silenciosamente, você me apoia.

– Ei! Não coloque palavras na boca dele! – Ralhou Drogo também colocando a mão no ombro livre do tímido companheiro – Não precisa ficar nervoso, Ori! Ainda seremos seus amigos, mesmo que você me considere mil vezes mais maduro que o Bilbo!

– Como é? – Rangeu os dentes o dito mais velho.

– Você ouviu bem! – Drogo mostrou a sua grande maturidade estirando a língua, e Bilbo para responder a altura também estirou a língua. Ori rolou os olhos. Ali estava a resposta sobre o grau de maturidade dos primos.

– Acho melhor comemorarmos a nossa vitória, não? Digo... Conseguimos a espada! – Sugeriu Ori, tentando uma mudança estratégica de assunto.

– Tem razão! – Sorriu animado Bilbo, voltando para o seu notebook – O que acham de um milk-shake?

– Perfeito! Estou morrendo de fome! – Concordou Drogo, também sorridente. Ambos já pareciam ter esquecido totalmente a discussão anterior. Ori já devia ter se acostumado com o modo como os primos agiam - Vamos desligar os computadores e ir para a lanchonete do outro lado da rua.

Ori deu uma última olhada no seu personagem na tela de seu notebook: um anão folheava um livro e faíscas saiam de sua mão. Era raro alguém escolher a raça dos anões, que é caracterizada por ter uma estamina alta e força, contudo, as habilidades de destreza e inteligência, necessárias para a classe mago, estariam em menores valores e desenvolveriam com mais dificuldade. Porém, Ori aceitou o desafio. Gostava de mostrar que podia sobrepor os limites; pelo menos na vida virtual, pois na vida real ainda não conseguira nem ao menos expor a sua opinião sem ter um ataque de pânico.

– Vamos, Ori! – Choramingou Drogo já com o notebook guardado na bolsa, pronto para a pequena jornada à outra lanchonete. Bilbo estava ao seu lado, ajeitando os óculos de aro laranja que usava. Pareciam garotos bem nerds, camisas com temas de super-heróis – Bilbo usava a camisa do Flash e Drogo do Homem-Aranha; as bolsas eram cheias de botons com temas de filmes, videogames e seriados que assistiam, e Ori não era diferente, vestia uma camisa do Quarteto Fantástico. Faziam um belo grupo.

O trio cruzou a rua, sendo que os primos tagarelavam entre si e Ori apenas concordava com a cabeça quando o questionavam e comentava com poucas palavras, esse o cotidiano: jogar, estudar e comer...Sem nada realmente que entusiasmasse ocorrendo, até que...

Bilbo estava abrindo a porta da lanchonete quando foi recebido com um líquido frio que fora jogado em sua roupa. Um rapaz alto, de cabelos negros amarrados em rabo de cavalo e olhar penetrante acabara de sair e colidir com o menor; o choque fez com que a vitamina que segurava fosse derrubada em Bilbo.

– Olha por onde anda, baixinho. – Falou o misterioso rapaz. Drogo e Ori se entreolharam aflitos: aquele cara acabara de dizer a palavra proibida.

– O que você disse? – Rosnou o “baixinho”.

– Por acaso é surdo? – Arqueou uma sobrancelha, como estivesse surpreso pelo outro o questionar.

– Quem você pensa que é afinal? Foi você que esbarrou em mim! Se eu sou surdo você é um cego!

– Você devia me agradecer, pois eu poderia muito bem te obrigar a pagar pela a minha bebida desperdiçada.

– O quê? Sua bebida? – Bilbo pegou o copo da mão do maior, e ainda tinha um resto de bebida, mas essa foi jogada no rosto no outro – Ops! – Fez uma falsa cara de culpa – Me desculpe, senhor. Escorregou!

Drogo mordeu o lábio inferior, suprimindo uma exclamação e Ori cobriu os olhos, temendo que a discussão se tornasse física.

– Thorin! - Outro rapaz se aproximou, tinha cabelos loiros e era possível ver que tinha semelhanças físicas compartilhadas entre o homem sujo de vitamina, todavia apresentava um semblante menos opressivo – O que está fazendo? Assustando algum jovem indefeso?

– Cala a boca, Frerin! – Rangeu os dentes – Esse jovem indefeso acabou de jogar a bebida que paguei em mim!

– Ora! Esqueceu de mencionar que primeiramente você jogou essa mesma bebida em mim? – Interrompeu Bilbo – Agora estamos quites!

– Eu não joguei intencionalmente!

– Pode até ser, mas nem ao menos pediu desculpas! Sua atitude foi horrível!

– Fala o garoto que jogou suco na minha cara...

– Foi um ato de autodefesa!

– Ok, já chega – Frerin se colocou entre os dois jovens “vitaminados” – Vamos esquecer todo esse mal entendido, sim? Estamos interrompendo o tráfego de pessoas na lanchonete!

De fato, era verdade, a briga entre Thorin e Bilbo estava ocorrendo logo na porta de entrada da lanchonete, e uma fila de pessoas que desejam entrar se formava, sem falar dos curiosos que se amontoavam para ver a briga.

– Thorin, você já é grandinho o suficiente para parar de agir que nem um garoto mimado. – Resmungou o último rapaz que acompanhava o grupo. Ele era alto, cabelos cortados em um estilo militar, e tatuagens nos braços e no pescoço podiam ser vistas por sobre a camisa de mangas compridas.

– Cala a boca, Dwalin! – Rangeu os dentes Thorin, e parecia que estava pronto para iniciar outra briga. Frerin massageava a testa, claramente cansado daquele mico que estavam pagando.

– Eu peço perdão... – Falou Frerin, sorrindo amistoso. Bilbo cruzou os braços diante de si, com a cara emburrada, lançando olhares mortais para Thorin, que os devolveu com a mesma intensidade. Ori olhava meio assustado para Dwalin, talvez nunca tivesse visto um homem daquele porte antes. Já Drogo subitamente ficou tímido, corando e abaixando os olhos – Meu irmão costuma ser meio que ranzinza, principalmente depois de ser derrotado. Não se preocupem, nós já estamos de saída!

– Frerin! Não peça perdão em meu lugar! – Contudo as reclamações dele não foram ouvidas, já que com ajuda dos outros dois companheiros, fora arrastado dali.

– E a minha camisa?! – Gritou Bilbo, zangando.

– Nossa... O que aconteceu? – Ori estava impressionado. Aquele encontro realmente quebrou a rotina pacata do grupo.

– Eles são uns idiotas! - Falou subitamente Drogo, se recuperando do seu ataque de timidez.

– Se me encontrar com aquele Thorin novamente.... – Bilbo fechou o punho e socou a sua mão. Ori duvidava que o seu amigo tivesse alguma chance em uma luta contra aquele brutamonte, mas achou melhor não expor sua opinião.

– Por que não entramos? – Disse nervoso, Ori – Ao não ser que queiram desistir do milk-shake...

– De jeito nenhum. Não vai ser um encontro com um metido idiota que irá me fazer esquecer de nossa comemoração!

– Apoiado, Bilbo!

Ori sorriu, seguindo seus amigos para dentro da lanchonete, entretanto tinha uma certa impressão que não seria a última vez que encontrariam aquele outro grupo de rapazes.

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