Lealdade, Honra, e um Coração Disposto

Capítulo 16 – Um Ninho para Repousar


Eles se animaram com a vista da Montanha Solitária, mas então Kíli olhou em volta procurando por Ellen, dado que ela não estava com o grupo e ele tinha certeza de que a havia visto sobre uma águia também. A viu sentada no chão de pedra com a cabeça baixa, pálida, segurando-se na cintura.

“Ellen!” Ele correu até ela. “O que foi?”

Ela balançou a cabeça.

“Eu tomei uma flechada, o corselete de couro segurou a maior parte do dano, mas acho que estou sangrando.”

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Ela levantou a mão direita, que estava suja de sangue. Ele fez com que ela se deitasse.

“Como é que isso aconteceu? Eu estava a seu lado o tempo todo!”

Como se estar do lado de alguém criasse um campo de força em volta, pensou Ellen.

“O orc arqueiro mirou nas suas costas, então eu corri.” Relatou, simplesmente.

“Ficou maluca? Você podia ter morrido!”

“Não dava tempo de fazer nada, tinha barulho demais para conseguir te avisar, eu pensei que podia nos defender com minhas espadas do jeito que eu vi você fazendo na caverna dos goblins. Mas parece que as flechas dos orcs voam mais rápido do que as dos goblins.” Ela sorriu fracamente. “É pouco mais que um arranhão, acho. A ponta nem ficou presa, caiu quando eu pus a mão.”

Os outros chegaram mais perto para ver o que estava acontecendo, e Óin parecia preocupado.

“Às vezes as flechas deles são envenenadas. Precisamos limpar esse ferimento assim que possível. As águias voltarão para nos levar para baixo, Gandalf disse que estavam em reunião para decidir até aonde sua ajuda irá. Deixe o sangue lavar a ferida, é melhor perder um pouco de sangue do que manter o veneno dentro de você.”

Lily ajudou a tirar o corselete de couro para dar mais conforto para respirar e deixar a ferida aberta para sangrar. Era bem mais que só um arranhão, a propósito.

“Lamento, Tia, meu estojo de primeiros socorros estava na mochila, e se perdeu dentro da montanha.”

“Eu vou ficar bem, mas me preocupo dom Thorin. E se aquele maldito warg tinha raiva? E as feridas dele são bem mais do que a minha, acho.”

“É, eu também me preocupo. Mordidas de animais tendem a infeccionar, precisam ser muito bem limpas e eu precisava achar alguma coisa para evitar que infeccione.”

“E um analgésico, também, para os dois.” Complementou Óin.

Kíli acariciou a testa de Ellen, preocupado.

“Você está sangrando muito para um ferimento desse tamanho. Como está se sentindo?”

Ela apertou a mão dele contra o próprio rosto e estremeceu um sorriso. “Já estive melhor!”

“Hmm, então não pode ser chá de casca de salgueiro para você, então; ele favorece o sangramento.” Mencionou Lily.

“Você é uma curandeira, Titia Lily?” Perguntou Kíli;

Titia é o seu passado, seu peste!” Ela deu um croque na cabeça dele. “Bom, eu sou uma curiosa. Meu pai é biólogo e adora botânica, ele prefere usar plantas medicinais do que remédios alopáticos, então a gente tem um monte delas em casa, e eu aprendi a usar.”

“O que é um remédio alopático?”

Lily riu e tentou explicar.

“Hmm, unguentos e poções feitos com as coisas que as plantas e outras coisas têm que podem curar as doenças, mas sem ter toda a planta neles. Acho que não consigo explicar melhor. Eu e Óin vamos ver Thorin agora, se ele deixar.”

Ele estava com dor, mas teimoso o suficiente para querer esperar até as águias os levarem embora dali. Isso aconteceu logo, e elas lhes deram um vôo suave até o sopé das rochas onde tinham seus próprios ninhos. Havia um riacho perto, onde os homens foram se reabastecer de água e se limpar o melhor que podiam. Nem todos tinham cantis consigo quando a armadilha dos goblins abriu, mas alguns tinham, e trouxeram água de volta para o acampamento improvisado. A elfa estava com sede, e Kíli lhe deu água em pequenos goles, como Gandalf lhe havia orientado, embalando a dela cabeça em seu colo. Lily foi com Thorin até a margem do riacho para ajudar a lavar a mordida de warg, o que ele recusou, irritado.

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“Eu consigo tomar banho sozinho mulher!”

Ela sorriu enquanto o ajudava a tirar o capote e a loriga.

“Tenho certeza de que pode, mas quero garantir que os machucados fiquem bem limpos, você não vai querer que infeccionem.”

“Por que está sorrindo?”

Ela sorriu mais.

“É a primeira vez que você me chama de mulher em vez de guria, criança, garota. Eu sorrio porque gostei.” Lily ajudou com a túnica, rasgada em alguns lugares e muito suja de sangue. Ele estremeceu quando alguns dos ferimentos reabriram com o movimento. “Toma o seu banho enquanto eu colho algumas ervas aqui perto, então eu venho lavar as feridas.”

“Vou assobiar para você saber que pode vir.” Ele pegou a túnica da mão dela e acariciou seu cabelo, beijando-a suavemente. “Eu posso ter te chamado de mulher, mas até a hora certa chegar você vai ser tratado como uma donzela.”

Lily corou como uma adolescente e foi embora, ladeando a margem do riacho, pensando em quando essa tal hora certa chegaria. Depois de uma curva, encontrou o que procurava, um trecho com pés de íris selvagem. Cavou algumas raízes e lavou-as no riacho. Um pouco adiante raspou um pouco da casca interna de um salgueiro, e no caminho de volta coletou flores de calêndula, lilás e absinto. Já estava voltando quando ouviu um assobio grave.

Thorin estava sentado numa pedra chata perto da beira do riacho, vestido apenas com suas calças, descalço, e sua túnica estava lavada sobre a grama perto dele para secar. Seus cabelos estavam úmidos, e corria os dedos por entre eles para desembaraçar. Lily pôs as plantas perto da túnica e começou a arrancar os lilases das hastes.

“Como estão os machucados?”

“Estou tentando ignorá-los.” Ele estremeceu quando ela tocou uma das feridas. “Mas você não está facilitando.”

A garota anã esfregou as flores entre as mãos junto com um pouco de água do riacho até formar uma espuminha, que usou para lavar os ferimentos das costas dele. Sentiu quando ele tremeu sob seu toque num dos machucados maiores, onde as presas o haviam atingido, pensando que se não fosse pela loriga poderia ter sido muito pior. Não pôde deixar de sorrir ao sentir o cheiro másculo para além do perfume de lilás; enxaguou a espuma e começou a fazer mais pasta de lilás.

“Então minha flor de lírio está usando suas irmãs para me curar, é isso?”

Ela sorriu.

“Mais do que você pode imaginar! Aquelas são raízes de íris, se quer saber.”

“O que você vai me fazer com pezinhos de hobbit?”

Ele tentava brincar para esquecer a dor. Lily riu enquanto esfregava as mãos.

“Vou esmaga-las num emplastro para evitar que suas feridas infeccionem. Não é o que eu usaria se tivesse meu estojo de primeiros socorros, mas é o melhor que consigo por enquanto. Posso...?”

Ajoelhou-se perto do lado esquerdo dele com a espuma nas mãos. Ele puxou o cabelo para as costas para não atrapalhar, e se reclinou para trás apoiado nas mãos, expondo o peito.

Junto com os ferimentos havia um monte de hematomas e equimoses visíveis por baixo dos pelos que cobriam seu peito. Lily os tocou gentilmente, focando em limpar as feridas com a espuma de lilás, mas era perturbador passar os dedos pelos músculos bem definidos e ainda manter a cabeça em assuntos de saúde. A pele dele estava quente do sol, e ela sentia seu peito mover-se de acordo com a respiração. Os dedos dela não puderam deixar de brincar com o pelo encaracolado do peito dele enquanto enxaguava a espuma suja de sangue; então não pôde mais resistir, as mãos procuraram pelo cabelo levemente úmido e a boca encontrou a dele. Thorin respondeu positivamente, sentando ereto para liberar as mãos e acariciar os ombros dela, a respiração de ambos ficando mais pesada. Acariciou o lado direito dele, que não estava machucado, que então pegou a mão dela, beijou levemente a palma e disse com voz rouca.

“Não acenda um fogo que não podemos apagar.”

Ela olhou para ele, parecendo confusa.

“Desculpe, você deve estar com dor, eu não deveria...”

Ele manteve a mão dela na dele, segurando firme.

“Dor não é nada em comparação à minha fome.” Seu olhos brilhavam perigosamente, a respiração ainda pesada. “Eu jurei para mim mesmo que a trataria como uma dama até as coisas se ajeitarem e o momento certo chegar, porque você é uma jovem flor que merece ser tratada do jeito certo; mas se você me tentar desse jeito de novo não me responsabilizo por meus atos.”

Lily corou.

“Lamento...”

“Não lamente!” Thorin se apressou em dizer. “Mas não esqueça que não sou um garoto humano como os que você conheceu no seu mundo; sou um homem anão, e meu sentimento é forte.” Soltou a mão dela. “Volte para o acampamento, sigo assim que esfriar um pouco.”

Ela o beijou suavemente, pegou as plantas e voltou para o acampamento para preparar suas poções.

ooo000ooo

“Temos alguma chaleira para ferver um pouco de água?”

Lily perguntou a Bombur, o tenente da cozinha.

“Na verdade não, garota. Foi tudo perdido naquele maldito ninho de goblins.”

“Nenhuma caneca, frigideira, panela, qualquer cosia?”

“Acho que realmente não temos nada. As águias trouxeram uns carneiros para comermos, mas estamos assando, não tem jeito de cozinhar nada.”

Ela olhou para as ervas que havia colhido.

“Que pena. Eu tinha que pelo menos aferventar essas plantas para extrair o medicamento delas.”

“O que você tem aí?” Perguntou Óin. Ela estava contente de ter alguém na Companhia que compartilhava de seu interesse em cura; estava ficando velho e seria bom ter alguém para quem transmitir seu conhecimento.

“Algumas flores de calêndula, para lavar os ferimentos, porque é antisséptica e ajuda a ferida a sarar mais depressa; seriam boas tanto para Thorin quanto para Ellen, e para qualquer um que tenha algum machucado; casca de salgueiro como analgésico; e flores de absinto para envenenamento, já que não sabemos se o ferimento de flecha da minha tia está envenenado ou não. Mas as flores precisam ser aferventadas, e a casca de salgueiro precisaria ser cozida. Não precisa ser uma panela grande, só o suficiente para ferver um copo de água.”

Fíli se aproximou dela com um olhar culpado no rosto.

“Titia, uma caneca do tamanho de uma lata de atum seria suficiente?”

“À parte de que Titia é a sua barba, sim, seria o suficiente.”

O anão loiro enfiou a mão no bolso e produziu uma lata de atum vazia.

“Espero que isso ajude.”

Lily olhou espantada para a lata de atum do tamanho perfeito.

“Onde é que você arranjou isso? E por quê?”

Fíli arrastou os pés no chão.

“Bom, lá no pórtico dos goblins a Iris disse que aquelas eram as últimas latas de atum, e eu pensei em pegar uma como lembrança.” Lily olhou para ele, espantada. “Não do atum, mas dela.” Se apressou em explicar. Eu sei que essa minha Irmãzinha vai ter que voltar para o mundo dela, quando encontrarmos o Portal de Erebor. Não que eu e o Kíli gostemos da ideia, mas sabemos que essa é a coisa mais provável de acontecer. Já fomos abençoados de ter uma Irmãzinha por algum tempo, somos gratos, mas vamos sentir falta dela. Então peguei a lata de atum como souvenir.”

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Ele arrastou os pés no chão mais um pouco, olhando para baixo. “Ter algum remédio para o Tio e a Ellen é mais importante que qualquer relíquia. Pegue.”

A garota anã pegou a lata de atum vazia nas mãos e se curvou profundamente.

“Obrigada, Fíli. Eu vou ter que queimar o verniz antes de aferventar o remédio, mas depois que eu usar eu te devolvo, pode ter certeza.”

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Com a aprovação de Óin, Lily fez a infusão de pétalas de calêndula e limpou as feridas de Thorin e de mais alguns outros; então pôs para ferver novamente e acrescentou as flores de absinto, para lavar o ferimento de flecha da elfa. Sua tia já estava ficando febril, mas lhe garantiu que ficaria bem, apenas tinha sede; a ferida não sangrava mais, apenas vazava uma água amarelada. Bombur ajudou a dobrar uma grande folha de árvore para guardar a infusão de absinto que sobrou para usar mais tarde, então usou a mesma lata de atum para ferver um decoto de casca de salgueiro como analgésico para Thorin.

O emplastro fez com que ele se sentisse mais confortável, e foi dormir depois de comer um pouco de carneiro; Ellen tinha mais sede do que fome e comeu pouco, instada pela ordem de Dwalin de que ‘você tem que comer direito’, o que para ele significava comer carne, e caiu num sono inquieto. Kíli ficou ao lado dela, lavando o suor do resto e braços com um lenço úmido que Arwen havia dado para Bilbo em Imladris. Ambos filhos de Fundin estavam preocupados com ela e foram falar com Gandalf.

“Nossa Irmãzinha vai ficar bem? A febre dela está tão alta, o que pode ser feito?”

O velho mago olhou para eles e deu uma baforada no cachimbo.

“Nada mais do que Lily e Óin já fizeram e que Kíli está fazendo. Não está mais nas nossas mãos. O corpo dela está lutando contra qualquer veneno que possa ter restado, e é por isso que ela está tão febril.”

Dwalin olhou para os próprios punhos, impotente.

“Uma febre pode matar.”

“Sim, mas dessa vez sua irmã é uma elfa. Ela pode morrer em batalha, ou de tristeza, mas nenhuma doença ou veneno a tomará de vocês. Ela pode ficar fraca por algum tempo, no entanto.”

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O longo corridor estava vazio, e as luzes controladas eletronicamente se apagavam conforme ela passava por ela. A porta diante dela não tinha identificação, o que já era identificação suficiente. Bateu na porta e esperou. A porta abriu sozinha para um escritório espaçoso e acarpetado. A janela à direita dava em nada a não ser outro prédio. Uma palmeira artificial desagradável à esquerda tinha poeira nas folha. O Diretor de Recursos Humanos estava sentado em sua poltrona do outro lado da mesa, seu terno Armani preto combinando com o longo cabelo preto. Ela permaneceu de pé diante dele.

“Você está despedida.” Ele disse, simplesmente.

“Não, eu não estou!” Ela desafiou. “Você não pode me despedir, estamos no meio de um projeto!”

“O projeto nem era seu no começo, você entrou depois. Agora você vai sair e o prjeto vai continuar como deveria desde o começo.”

“Mas tenho pessoal da minha equipe trabalhando nele...”

“E vão continuar em frente sem você, não precisam de você.”

“Obrigada pelo elogio, pode-se reconhecer um bom líder quando as coisas funcionam bem quando ele não está lá para supervisionar. Então, por que está me demitindo?”

Thorin ajeitou a gravata de seda e olhou diretamente para ela.

“Você se machucou gravemente sem necessidade. Ameaçou todo o projeto com suas ações.”

“Foi um acidente de trabalho!”

“Foi lesão auto-inflingida!” Bateu na mesa com o punho. “Você pulou na frente de um colega de trabalho e foi atingida pelas estatísticas projetadas!”

“O que queria que eu fizesse, que deixasse o seu próprio sobrinho ser morto pelo peso do orçamento? Não havia cronograma para isso, eu tinha que fazer alguma cosia logo, senão a concorrência ia comer a fatia de mercado dele!”

Ele baixou a voz perigosamente.

“Vou considera-la responsável por qualquer perda na produtividade.”

“Pergunte sobre mim à equipe de Qualidade Total. Não é de mim que a falência vai vir.”

“Você ainda é leal à Companhia?”

“Por tanto tempo quanto meu contrato durar, e além.”

“Vou falar com os acionistas.

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Uma Ellen extenuada acordou de seu delírio para se ver segura por um Kíli cansado que acariciava seu cabelo e murmurava que ela ficaria bem.

“Tive um pesadelo.” Disse suavemente, e seus olhos não estavam mais vidrados. Ele assentiu, mas não disse nada. “Estou com sede.”

“Está se sentindo melhor?” Ele perguntou enquanto ela bebia água.”

“Acho que sim. Durma. Eu te acordo se precisar.”

“Parece que sua febre passou.” Ele passou o lenço úmido no rosto dela. “Vou estar bem aqui do seu lado, se me permitir.”

“Se meus irmãos não se importarem, seria o paraíso para mim.”

Ela o beijou suavemente e se aninhou em seu peito, para encontrar o descanso que podiam antes do amanhecer.