My own race

Capítulo 02


My Own Race

Kaline Bogard

Capítulo 02

E ele venceu a corrida. Atravessou com uma diferença tão pequena que parecia inacreditável. Mas não mudava o resultado final: Hakone era a grande campeã do segundo dia!

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Viu de vislumbre seu rival cruzar a faixa logo atrás de si, já sabendo que estava em segundo lugar, cabisbaixo. Aquilo doeu um bocado e tirou frações do brilho da vitória.

Antes que se desse conta as palavras escaparam de sua boca:

– Ne, Kinjou? Obrigado. Obrigado por ter corrido com todas as suas forças. Obrigado por ter levado a competição a sério. Agora posso deixar o passado para trás e sorrir.

O Az de Sohoku ergueu as sobrancelhas por sobre os óculos avermelhados.

– Se engana, Fukutomi. Você não está sorrindo. Está chorando.

Juichi sabia que era verdade. As lágrimas desciam por sua face sem que pudesse evitar. Aquela vitória era diferente de todas as demais: lavara sua honra. Provara ao rapaz ao seu lado que era forte. E honesto. E podia ganhar de forma limpa.

Foi como se uma tonelada de culpa abandonasse seus ombros, deixando Juichi leve. Livre.

– Não acabou ainda – Shingo prometeu – Amanhã Sohoku irá vencer.

– Amanhã é amanhã. Mas hoje... – vacilou.

Kinjou respirou fundo.

– Uma Bepsi? Hoje a noite?

A sombra de um sorriso brincou nos lábios finos de Fukutomi e logo desapareceu.

– Sei onde Sohoku está hospedado. Passo lá ás sete horas. Podemos ir de bicicleta até algum lugar.

– Tudo bem – Kinjou concordou. Estão tomou impulso e começou a afastar-se. Precisava desculpa-se com os companheiros de equipe. Perdera a competição. Por muito pouco. Mas perdera.

Juichi ficou observando-o afastar-se. Havia algo diferente na forma como pedalava. Desejou secretamente que não fosse nada que atrapalhasse a disputa no dia seguinte.

Acabou dando impulso na bicicleta e rumando em busca dos próprios amigos. Tinham muito o que comemorar! Afinal, se chegara até ali, fora graças ao esforço e empenho de todos.

Ainda se encontraram mais uma vez no pódio, quando Hakone subiu no degrau mais alto, Sohoku à sua direita e Kyoto à sua esquerda, no terceiro lugar. Aquele colégio enviara um representante. Aparentemente a derrota fora um duro golpe para o seu Az.

O resto do dia passou incrivelmente rápido. Juichi respondeu a duas ou três entrevistas para revistas esportivas e tirou várias fotos. Alguns expectadores mais corajosos o abordaram para parabenizar pela vitória. Mal pode acreditar quando chegou a pousada onde Hakone estava hospedada e, finalmente, conseguiu tomar um banho e relaxar no futon por algumas horas.

Dividia o quarto com Shinkai e Jinpachi (que passara o resto do dia sumido, provavelmente caçando o exótico Climber da Sohoku). Por isso, os amigos de longa data podiam usufruir de certa intimidade, o bastante para que Hayato parasse de comer sua barrinha de cereal e apontasse o dedo para Juichi.

– Você está me deixando louco.

–...

– Qual o problema com as suas roupas? – lançou um olhar para as camisas que Fukutomi segurava. O rapaz olhava tão desanimado para ambas que, se pudessem falar, elas pediriam desculpas por terem sido feitas e compradas – A cerimonia de encerramento do dia já foi. Não precisa se preocupar com o que vai vestir.

– Não é isso – desconversou – Vou sair para beber algo.

O Sprinter deu uma mordida no doce.

– Sozinho...? – perguntou como quem não quer nada.

Juichi lançou um olhar rápido e indecifrável para o amigo, incerto sobre o que responder.

– Não exatamente...

– Como assim, homem? – Hayato deitou-se de lado no futon e apontou com o cereal para Fukutomi – Ou você está sozinho ou não está. Pelo jeito é a segunda opção. Use a camisa preta.

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– Esta? – o Az mostrou a escolhida. Era toda preta, com uma pequena estampa branca de um tigre estilizado do lado direito.

– Hai, hai.

– Responda apenas uma vez – repreendeu, sério como sempre.

– Hai – a reposta veio seguida de um grande sorriso.

– Obrigado pela dica – acabou decidindo seguir o conselho e usar a preta.

– Não precisa agradecer – jogou o último pedaço da barrinha na boca e amassou a embalagem, guardando-a no bolso da calça moletom – Do jeito que nosso Az está preocupado com a aparência tenho certeza que é noite de “caçada”. Quem será a felizarda...?

A frase reticente trazia uma interrogação consigo. Hayato jogara a isca, querendo que Juichi caísse na armadilha. E aquela altura já não havia mais como fugir do óbvio.

– Não é nada disso, Hayato – tentou desconversar, sem saber se o Sprinter era extremamente perspicaz ou se ele próprio dera bandeira. Mais provavelmente era a soma das duas opções – Não exatamente.

Shinkai riu alto dessa vez. Sacou outra barra de cereais e a abriu. Observado com interesse pelo amigo. Um dia Fukutomi perguntaria de onde ele tirava tanto doce! Um dia.

– Só vou tomar uma Bepsi com Kinjou, da Sohoku. E deixar umas coisas claras.

Hayato esparramou-se sobre o futon, deitando-se de costas. Observou o teto do quarto por alguns segundos, sem parecer realmente surpreso.

– Aa – ele disse pensativo – Vai ter um encontro com o cara? Esse que te deixou obcecado desde o ano passado? E quer que eu acredite que não tá saindo em uma “caçada”?!

– Oe! Eu não estava obcecado. Isso não é um encontro e de jeito algum é uma caçada – Fukutomi resmungou, com a mesma expressão de Tekkamen de sempre, porém socando a camisa rejeitada de volta na mala, impaciente.

Virando-se no futon para encarar o companheiro de equipe, Shinkai tirou uma mecha do cabelo castanho avermelhado que caiu sobre os olhos azuis. O doce dançava em seus lábios, momentaneamente esquecido.

– Esse cara esteve em nossas conversas mais de uma vez. Por dia. Parece obsessão pra mim. Você saiu de Ashigarashimo e foi até Chiba atrás dele. Eu chamo isso de “caçar”. E, a punhalada final meu amigo, tanta indecisão para escolher uma roupa, das duas uma: ou vai para uma entrevista de emprego ou para um encontro. Diante desses fatos afirmo com toda certeza: você está obcecado. Isso é um encontro e você é meu caçador preferido – parando para tomar ar, Hayato tirou a barrinha dos lábios e apontou para Juichi como se fosse uma espada – Ah, e a verdade às vezes dói.

O Az da Hakone ignorou o discurso dito em tom de diversão e fez de conta que não ouviu a risada de seu melhor amigo. Maldito Shinkai com suas ideias absurdas e fantasiosas!

Cansado de tentar rebater os argumentos do outro, foi tomar um banho rápido. Era quase sete horas da noite e ele não queria atrasar-se. Em pouco tempo estava pronto (trajando a maldita camisa de tigre, diga-se de passagem, fato que deixou Hayato com um ar insuportavelmente convencido). Saia do quarto quando Toudou estava voltando. O Climber falava ao telefone tinha um ar de distante estupidez. Nada diferente do usual. Despediram-se com um aceno de cabeça.

– Juízo! – Shinkai gritou antes de sumir pela porta do banheiro, Fukutomi girou os olhos sem se dignar a responder.

Passou pelo hall principal da pousada e notou Arakita sentado próximo a máquina de refrigerantes. Parecia cansado e sonolento.

– Cuidado pra não dormir aí – o capitão da Hakone disse para o amigo.

– Vá a merda e me deixa em paz! – Yasutomo exaltou-se naquele seu jeito impaciente.

Juichi sorriu de leve e balançou a cabeça. Entendia como o companheiro se sentia, afinal todos tinham dado o melhor de si durante a corrida. E o resultado fora excelente: chegaram em primeiro lugar.

Logo pegou a bicicleta e ganhou a rua. O ar ainda abafado lembrava-o das dificuldades de participar do intercolegial durante o verão, mas pedalar a noite era muito mais agradável, claro.

A distância entre as duas pousadas foi percorrida sem qualquer problema. Rapidamente chegou ao seu destino. Não se surpreendeu por encontrar Kinjou parado à entrada, segurando a própria bicicleta. Ele vestia roupas casuais e usava aquele par de óculos de armação quadricular que fazia Fukutomi se perguntar como um atleta podia parecer tão nerd apenas colocando óculos!

Enfim... Enquanto diminuía a velocidade e parava próximo ao outro, um pensamento passava pela cabeça do Az da Hakone como um verdadeiro mantra.

“Não é um encontro. Não é um encontro. Não é um encontro. Não é um encontro.”

Mas; lá no fundo, escondido em um lugar que ainda não tinha coragem de encarar, outro pensamento brincava com sua mente: bem que ele gostaria que fosse.

continua...