Reviravoltas

Explicações


Todo mundo ficou quieto e um silêncio constrangedor tomou conta do lugar, só se ouvia o barulho do tintilar dos talheres no prato.

— Bruna… Eu tinha dezesseis anos, a sua idade, eu e Oscar namorávamos e éramos muito pobres, os dois. Seu pai tinha acabado de entrar na faculdade e não conseguia nem se sustentar direito porque a mãe dele tinha falecido naquele mesmo ano e ele nunca conheceu o pai. Mesmo não tendo irmãos era difícil pra ele. Minha mãe e meu pai não aceitavam que eu te tivesse e queriam que eu abortasse. – Uou! Fiquei chocada! Não sabia dessa história toda… E Helena já estava emocionada. - Fiquei morando com Oscar até você nascer, percebemos que ia ser impossível nos sustentarmos e depois de muitas lágrimas e dúvidas… Te colocamos em um orfanato, preenchemos toda a papelada e perguntamos se poderia deixar o nome que colocamos em você e eles responderam que sim. Voltei para casa de meus pais e fiquei o resto do ano sem ir para o colégio, já que você nasceu em agosto. Não passaram nem três meses e eu estava cada vez mais arrependida. Resolvi ir ao orfanato e quando cheguei lá você já havia sido adotada, fiquei arrasada e um mês em depressão pesada. Fiz um supletivo para compensar o ano da gravidez e entrei direto na faculdade de direito com 18 anos, quando fiz vinte anos eu e Oscar nos casamos e ficamos tentando achar um meio de te encontrar, enquanto não te achávamos adotamos Mitchel e ele já tinha cinco anos. Ele sempre foi malandrinho e era uma graça. Depois de cinco anos viemos morar na Califórnia e descobri que estava grávida. Foi maravilhoso! Mas nada me fazia te esquecer. Então ano passado encontramos seu paradeiro. Acho que você sabe o resto da história…

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— É, sei… - Respondi.

Por que não cai um meteoro agora? Ou então um buraco abre debaixo da minha cadeira?

— Acho melhor pedirmos a conta, não? – Perguntou Oscar percebendo o clima tenso.

— Vai pagando enquanto vou ao toalete. – Disse Helena com uma voz um pouco chorosa.

Como eu sou burra! Pelo menos vamos pra casa. No carro o clima tenso continuou, porém um pouco mais descontraído em função da música que tocava (Hey Jude – The Beatles).

Chegando em casa fui direto pro quarto. Tomei um banho rápido e sequei meu cabelo. Que saco! Não tenho nada pra fazer em pleno sábado de noite! E ainda são dez e meia… Se eu tivesse no Rio o Lucas ia ficar insistindo pra sair com ele até me convencer… Que saudades… Resolvi mandar mensagem no whatsapp, mas ninguém me respondeu, todos deviam estar se arrumando pra sair e eu aqui sem NADA pra fazer.

Saí do quarto e antes de descer as escadas passei em frente ao quarto do Mitchel (óbvio, por que é do lado da escada) e ouvi ele falando com alguém “Tá, Mathew eu vou! Daqui a meia hora tô saindo daqui e passo aí pra te pegar. Já disse que não vou furar! Ô, seu gay! Deixa eu me arrumar e quando a gente chegar lá na boate tu pega quem tu quiser, só não entre em detalhes por favor!”

Opa! Saidinha? Eu topo! Desci rápido as escadas e vi Oscar lendo jornal no sofá.

— Humm, Oscar?

— Pode falar, filha. Posso te chamar de filha ou é melhor Bruna?

— Pode me chamar de filha… Pai… é que o Mitchel me chamou pra sair com ele e uns amigos e amigas, pra poder me enturmar, sabe?

— Sei, pode ir sim filha. Mas é pra ficar com o Mitchel, viu?

Fiquei tão feliz de ter alguma coisa pra fazer que dei um abraço e tasquei-lhe um beijo na bochecha.

— Obrigada, pai!

Agora eu tinha que me arrumar super rápido, senão o Mitchel iria embora e realmente não me deixaria ir. Já de banho tomado, fiz uma maquiagem bem escura e forte, porém rápida, passei um batom vinho. Passei o secador no cabelo pra dá uma arrumadinha, coloquei o vestido (branco com preto, com um decote pequeno e brilhos dourados), calcei outro salto alto preto e peguei uma bolsinha preta em que só cabia meu celular. Sentei no chão do lado da porta e deixei-a entre aberta, onde que conseguia ver todo o corredor até o início da escada. São dez pras onze e eu ainda estou esperando o Mitchel sair do quarto, passei um esmalte preto por cima do rosinha e spray pra secar rápido.

— Mitchel! – Gritei quando o vi sair do quarto. Os cabelos secos e bagunçados, calça jeans e uma blusa de manga dobrada até o cotovelo.