Meu Pequeno Amor

Blowing Mind


DRACO

Irritado até o último fio de cabelo, vi a coisinha se aproximar, com um sorriso macabro, até chegar perto de mim.

Olhei para o auror, desejando que se desintegrasse e me deixasse em paz. Já não bastava eu estar passando por aquela situação ridícula?

Imaginei, com prazer, uma cena em que eu apertava com vontade o pescoço daquela escriturária maldita de Kingsley.

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Fechei a cara para a Weasley, que me olhava de modo azedo. Infelizmente, eu tinha que concordar que não estava mais feliz do que ela com a perspectiva de ter que cuidar daquela praga.

– Draco.

Olhei para baixo, focalizando dois olhos enormes arregalados para mim.

Eu nunca tinha reparado o quanto eram marrons. Marrons demais. Mais marrons que a própria cor marrom. Chegava a assustar.

A peste inclinou a cabeça, como se eu fosse uma aberração – irônico, sendo que a aberração ali era ela.

Para meu espanto, Granger ergueu a mãozinha para mim.

Com meia dúzia de pessoas me encarando, tive que engolir a bile que me subiu pelo estômago e segurá-la, puxando a coisinha escada acima e voltando para o quarto.

A mão dela era tão pequena que eu podia facilmente ter segurado apenas com dois dedos.

Quando chegamos ao quarto, me joguei sentado na cama, olhando feio para o auror, enquanto Granger entrava. Eu podia aceitar tranquilamente os olhares de ódio de todos ali... mas aquele cara já estava me irritando além da conta. Fala sério... como se, ameaçado por uma temporada em Azkaban e com meio mundo de bruxos, prontos para me esquartejarem, eu fosse ser doido de fazer mal àquela pirralha.

Ele fechou a porta atrás de nós, nos deixando sozinhos.

Puxei a colcha cheia de brinquedos que a mãe dos Weasleys deixara ali mais cedo e a forrei no chão. Ia ser mais fácil ficar olhando aquela praga, enquanto estava sentado ali, sossegado.

A Granger deu um gritinho de arrepiar os cabelos e se sentou, puxando para si um bichinho de pelúcia.

Revirando os olhos, apanhei um dos livros que trouxera, tentando desviar minha mente de toda aquela bagunça.

Percebi, por cima do livro, a menina me encarando.

– O que foi?

Ela franziu o cenho.

– Não vai brincar comigo?

Dei um muxoxo, erguendo a sobrancelha.

– Acho que não precisa.

– Mas eu não quero brincar sozinha – Granger murmurou, com os olhos apertados.

– Vá se acostumando.

Ela baixou os olhos para o dragão de pelúcia, pensativa.

– Por que todo mundo não gosta de você?

Ergui a cabeça, surpreso.

A Granger parecia preocupada com a resposta. Olhei-a, pasmo. Era como se... como se ela não estivesse nem um pouco feliz com os chistes que haviam me jogado nos últimos dias... Como se estivesse preocupada comigo.

Balancei a cabeça. “Deixe de ser burro, Draco. Por que ela se preocuparia com você?”.

– Não fiz o que eles queriam nos últimos anos – bufei – eles pensam de um jeito e eu penso de outro. Simples... por isso não gostam de mim.

Ela contraiu as sobrancelhas.

– Mas isso é feio!

– O quê? – indaguei, confuso.

– É feio não gostar das pessoas só por que são diferentes!

Enrijeci com o que Granger disse.

– Não, não é – rebati, ainda atordoado – tem pessoas melhores que outras.

– Não tem não! Mamãe disse que todo mundo é igual... que só muda a cara ou o corpo...

Olhei para ela. Mesmo sendo a criaturinha ingênua e infantil que era agora, era tão teimosa quanto a forma adulta. Irritante até o último fiozinho de cabelo armado.

– Você vai entender quando crescer.

– Então eu não quero crescer... – ela terminou, se jogando de volta da colcha – não faz sentido, Draco!

Parei outra vez.

Eu era forçado a concordar. Realmente não fazia sentido algum.

Por que diabos nós éramos forçados a conviver com pessoas supostamente mágicas, de famílias da ralé dos trouxas, e sermos obrigados á aguentar, calados, a divisão de nossos lares e direitos com bruxos que nem tinham sangue puro, nascidos de qualquer pessoa insignificante do mundo trouxa? Os de sangue puro sempre não haviam sido os mais poderosos, os precursores, os inventores? Quantos bruxos famosos e geniais, verdadeiros defensores de nosso povo, não tinham o sangue de nossos ancestrais?

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Forcei-me a engolir em seco.

Por que eu tinha uma resposta desagradável. Só conseguia pensar, infelizmente, em uma.

Só um idiota discordaria que aquela coisinha sentada á minha frente, quando na forma adulta, era uma bruxa inteligente – ridiculamente inteligente. Ou que fosse famosa, depois de toda a ladainha sobre a história de Potter durante a jornada dos três patetas em busca de fosse lá o que fosse. E, para meu maior desagrado, eu não podia negar que Granger, tanto quanto Potter ou Weasley, havia praticamente salvado todo o nosso povo, quando a ideologia de Voldemort se voltou contra nosso próprio sangue.

Deparar-me com esse fato só me deixava ainda mais confuso. Como era possível? Era tão injusto e irracional que uma garota, sem origem nenhuma, se tornasse maior do que verdadeiros bruxos de linhagem nobre...

Distraído, percebi que estava observando Granger desenhar com giz de cera em um papel. Ela tinha a testa vincada, absorta na atividade, com as pernas abertas como a de uma boneca de pano.

A comparação me fez rir.

E o som me fez arregalar os olhos. Por que eu estava rindo dela?

Granger parou de desenhar, parecendo tão pasma quanto eu com minha reação bizarra.

E ela sorriu, me fitando. Um sorriso grande, alegre, cheio de dentes minúsculos como contas.

– Eu fiz alguma coisa?

Estava me sentindo besta. Por que cargas d’água eu estava reparando em Granger? Francamente... devia estar ficando louco...

– Não fez nada – sacudi a cabeça – continue.

– Já cabei – ela me inclinou o pergaminho, animada.

Apanhei o papel, petulante.

Quando vi o desenho, não pude deixar de admirar o talento gráfico das pequenas figuras, ainda mais para uma menininha de quatro anos.

O primeiro boneco, de cabeça redonda e com óculos exageradamente grandes, só podia ser Potter. Havia todos os Weasleys ali – vários bonequinhos com cabelos vermelhos -, incluindo um que se destacava, maior e um tanto mais caprichado, ao lado da bonequinha ruiva. Devia ser o Weasley mais novo.

E, para meu completo choque, um bonequinho louro, tão grande e esmerado quanto o último ruivo, com um sorriso desnecessariamente curvado para cima do rosto, como o de um gato risonho. Acima dele, com uma letra grossa, estava escrito o meu nome, dentro de um sol garranchoso. Entre mim e o Weasley mais novo, havia uma figurinha minúscula de mãos dadas conosco. Absurdamente familiar.

– Gostou? – ela sorriu - é pra você!

Eu nunca recebera nenhum desenho ou bilhete relacionado á mim – que não fossem avisos de detenção ou notificações. Nem mesmo dos meus primos mais distantes, que deviam ter a idade dela.

Senti uma coisa estranha, enquanto encarava o desenho de Granger.

– Hum... está bom – comentei.

Granger bateu palmas, largando os giz e voltando a brincar com o dragão.

Quando a menina Weasley veio busca-la para o turno da tarde, eu fiquei olhando para o pergaminho que Granger me dera.

Agora, sem os olhos enormes da pestinha sobre mim, o desenho finalmente me parecia infantil de verdade.

Apanhei-o, decidido a parar de ficar pensando naquilo.

Tirei a varinha do bolso.

– Incendio.

Chamas surgiram na ponta da varinha. Aproximei o papel.

O fogo começou a consumir o pergaminho, fazendo pedaços de papel em brasa caírem no chão.

Porém, quando estava perto da última parte, um ímpeto súbito me fez apagar as chamas.

Apressado, recolhi a sujeira do piso, jogando os fragmentos carbonizados do pergaminho no lixo ao lado da cama.

A última parte que não queimara ficou em minha mão.

Fiquei observando-o. Que loucura... devia estar ficando maluco.

No fim das contas, guardei-o dentro do livro.

O boneco loiro me devolveu um olhar de giz azul, sorrindo, antes que as páginas o engolissem.