Meu Pequeno Amor

Epilogue


DRACO

A Plataforma Nove Três Quartos estava apinhada de gente, como sempre ficava naquele dia do ano.

Esprememos-nos entre a multidão, procurando a porta de embarque do trem.

Senti a mão de Astoria estremecer contra a minha.

– Draco... – ouvi-a sussurrar – ele é tão pequeno...

– Eu sei, querida –suspirei – mas está na hora.

Aproximamos-nos do círculo de pessoas que conversava animadamente, se despedindo de seus filhos.

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Senti alguém puxar minha mão.

– Papai?

Onze anos depois, aquela única palavrinha ainda me fazia sorrir.

– Sim, Scorpius?

Olhei para baixo, encarando o garoto louro que segurava minha mão. Em todos os detalhes, uma cópia perfeita minha, com os olhos azuis e a pele clara que eram a marca de minha família.

Ainda me admirava com o como ele havia crescido.

– Eu não quero ir... quero ficar com vocês - Scorpius me olhou, de modo aflito.

O medo e a ansiedade em seus olhos nunca haviam aparecido nos meus, quando eu estive no lugar dele, há décadas atrás.

E eu agradecia profundamente por ver aquela demonstração de emoção em seu rosto.

– Você tem que estudar, querido – Astoria disse suavemente – vai gostar muito de lá, eu garanto.

Astoria me encarou sugestivamente. Sorri, assentindo.

Depois que tudo se acertara ao término de meus serviços comunitários, conhecera aquela garota - inusitadamente humilde para uma sangue-pura – na divisão em que fui contratado para trabalhar no Ministério. Já havia me libertado das amarras agonizantes da minha última namorada, então, no momento, me parecera uma oportunidade interessante.

Mas aquilo se transformou em algo que eu não esperava. Não houve ímpeto, ou paixão, como eu esperava. Apenas uma afeição mútua e profunda, que cresceu continuamente até chegar aonde estávamos hoje. Eu aprendi a amá-la, assim como ela já era para mim.

E, anos depois, Astoria me presenteara com aquele pequeno serzinho maravilhoso que era meu filho.

Eu podia dizer que estava relativamente feliz.

Mas eu sabia que algo sempre faltaria.

E nunca poderia contar – ou mesmo entender – o que era.

Afaguei os cabelos de Scorpius.

– Hogwarts é legal, Scorpy. Você vai gostar muito.

No entanto, algo desviou minha atenção dos olhos assustados de Scorpius.

Ergui a cabeça, arfando de surpresa quando reconheci as figuras adiante de nós.

Eu imediatamente reconheci quem era o primeiro casal. A cicatriz em forma de raio e os óculos eram como um luzeiro sob o homem de cabelos negros, que acompanhava a esposa na despedida dos dois filhos mais velhos. Uma pequena garotinha ruiva e pálida – devia ser a caçula – batia os pés em cima das maletas dos irmãos, parecendo entediada.

Porém, foi o outro casal que os acompanhava que chamou minha atenção.

Rony não havia mudado nada – exceto por uma leve barba ruiva e um brasão em pingente que o identificava como auror do Ministério da Magia.

Enrijeci quando os olhos castanhos ao lado dele se ergueram para mim.

Hermione também enrijeceu, espantada.

Ela estava obviamente mais velha do que eu me lembrava. Porém, ainda tinha aquele mesmo ar fascinante e curioso.

Mas parecia muito mais com outras lembranças que eu tinha.

Algo se remexeu em meu estômago quando lembrei quais eram aquelas memórias.

Assenti, dando um sorriso hesitante para ela.

Fiquei aliviado quando Hermione também sorriu, afagando, abaixo dela, os ombros de um garoto ruivo de expressão desanimada – obviamente, o filho mais novo.

Voltei meu olhar para a menininha ruiva que se encostara ao lado do pai.

Tinha a exata fisionomia que a mãe tivera, em nosso primeiro ano. Absurdamente parecida. Mas os olhos e os cabelos eram iguais aos dos demais Weasleys.

A garotinha acenou surpreendentemente para mim, animada.

Levado pela animação dela, acenei de volta.

Parecia até demais com a mãe.

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– Querido?

Olhei para Astoria, que me encarava curiosa.

– Ah, sim... melhor irmos até a porta, filho.

Vi Scorpius olhar interessado para a garota ruiva, enquanto nos aproximávamos da entrada do vagão. Ela percebeu, e deu uma risadinha confusa para ele antes de se virar para os pais e abraçá-los.

Ouvi os dois falarem enquanto nos virávamos.

– Bom ano, meu bebê! Não esqueça de mandar cartas!

– Mamãe! – a garota algavariou – não me chame de bebê! Já tenho onze anos!

Ao mesmo tempo em que achei graça, senti um aperto bobo quando me lembrei do timbre fino de uma certa menininha, com o qual eu lidara há tantos anos.

– Tudo bem – ouvi Hermione rir – estude direito, não se meta em encrencas e escute seus primos.

Refreei a vontade de dar risada. Sendo filha de quem era, a pequena Weasley jamais conseguiria se comportar. Era uma receita de encrenca ambulante.

Enquanto assistia as duas famílias terminarem de despedir-se e ver as crianças entrarem no trem animadamente, Scorpius suspirou, revirando os olhos.

– Não vai dizer pra eu me comportar, papai? – ele me encarou de um jeito divertido.

Astoria sorriu, me incentivando.

Ajoelhei-me até a altura dele, pondo a mão em seu ombro.

– Scorpius... – olhei em direção ao casal abraçado diante de mim, tendo uma súbita inspiração.

Eu tinha perdido chances que nunca mais pude recuperar durante minha vida.

Mas podia dar as chances que perdi ao meu filho.

– Você quer que seus anos em Hogwarts valham a pena?

Scorpius assentiu, animado.

– Quero sim, pai!

– Então, assim que entrar neste trem... – fiz um gesto para a janela mais próxima – vá direto para o vagão onde os Potters e os Weasleys estão. – sorri.

– Hum, ta bom – ele mordeu o lábio – é a turma daquela menina ruiva que entrou?

“A menina ruiva”. Era ela que chamara sua atenção.

Meu sorriso ficou ainda maior.

Sim... Scorpius ia ficar muito bem.

– Sim... – levantei-me, abraçando-o – se cuide, garotão.

– Mande cartas se precisar de qualquer coisa – Astoria beijou-o, chorando – tome cuidado. E faça amigos, está bem?

– Ta bom, mamãe – ele a soltou, sorrindo para mim e apanhando sua maleta, correndo para subir os degraus do trem, que começara á esfumaçar e se locomover – tchau!

– Tchau, filho! – acenei com Astoria para Scorpius, que desapareceu por alguns segundos antes de reaparecer na primeira janela antes dos vagões, dando adeus para nós.

Antes que o trem pegasse velocidade, exclamei para ele.

– E Scorpius...!

– Sim, papai?

Pisquei para ele, acenando.

– Não deixe ela escapar!

Vi Scorpius gargalhar enquanto o trem se distanciava.

Ele foi virando um pontinho louro até o trem entrar no túnel e desaparecer de vista.

Assim que nada além dos trilhos moldava minha visão, senti minha garganta se apertar.

O garoto mal sumira de minha vista e eu já estava sufocando de saudade.

– Ele vai ficar bem, querido – Astoria beijou meu rosto, apertando minha mão.

Olhei ao redor, procurando Rony ou Potter, mas eles já haviam ido embora.

Deviam estar tão angustiados de saudade quanto eu estava agora.

Mas Scorpius estava seguro.. E andar com os filhos daqueles três patetas era uma garantia de experiências emocionantes.

– Sim... claro que vai.

Levei as mãos á minha carteira, abrindo-a.

Aproveitei que Astoria ainda estava distraída com a movimentação das pessoas que deixavam a plataforma para admirar, com um sorriso, o desenho desgastado, mas ainda colorido, do boneco louro de sorriso enorme.

Afaguei o plástico que o protegia, lembrando da mãozinha pequena e talentosa que o desenhara.

Scorpius em breve teria algo, talvez, que eu nunca mais tivera chance de experimentar.

Mas, enquanto eu vivesse, eu sabia que nunca mais – assim como até agora – conseguiria me esquecer da garotinha calorosa, inocente, fantástica e amável, que me tirara de um dos mais profundos poços nos quais alguém já havia mergulhado.

E iria, por mais que não quisesse, sentir uma saudade eterna do meu pequeno amor.

FIM

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.