Strauss

Capítulo 1 - Simon, O Gato


Roy

Chove lá fora. Uma chuva irritantemente frequente, daquelas que só param depois de cinco dias molhando tudo e todos. Resultado? Estou em casa, fazendo um trabalho que é para amanhã.

Que tipo de professor assassino passa um trabalho para a segunda semana de aulas? Eu tenho que escrever, mas estou sem a mínima criatividade e não posso roubar nada da Wikipédia. Bom, tenho que tentar assim mesmo, então nada de preguiça. Computador aberto, Word pronto, folha A4 perfeitamente milimetrada e ajustada, fonte preferida no tamanho preferido, luminosidade da tela no nível ideal.

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Começo a escrever:

“A vida e obra de Richard Strauss.”

O gato subiu na minha mesa de novo.

– Sai daqui, Simon... Eu estou tentando escrever – empurro-o de volta ao chão, mas ele sobe de novo na mesa e mia, ficando em cima do meu teclado, e dos meus dedos.

– Simon... – bufo tirando as mãos de baixo dele – Você quer comida, não é?

Recebo outro miado em seguida. Deve ser isso, eu devo ter me esquecido de dar comida para ele. Levanto-me e ando até a cozinha com Simon atrás de mim. Encho o potinho de comida e o de água, volto para a mesa, sento na cadeira, estralo as juntas dos dedos... Ok. Tenho que escrever. Acho que esse título não está muito bom. Hm... Vou começar de novo.

“Como Richard virou Strauss”.

– Simon! – grito. Ele subiu na mesa de novo e agora está na frente do monitor, me impedindo de ver qualquer coisa – O que você quer dessa vez?

Outro miado.

– Quer que eu abra a janela? – silêncio – A porta? – mais silêncio – O que você quer? Eu estou tentando trabalhar aqui, sabia?

O empurro ao chão e percebo que esse título... Também não está bom. Apago tudo.

“Richard Strauss – Uma vida, uma história, um mundo”.

Ele volta para a mesa e eu reviro os olhos, o fitando como se ele tivesse acabado de esfaquear a minha mãe. Recebo um miado em resposta, e o grande gato cinza e branco anda imponentemente até o meu teclado, se deitando novamente nele e em minhas mãos. Ao menos, não fiquei sem resposta.

– Simon... – bufo novamente e o empurro de novo para fora da mesa – Sai daqui, vai... Por favor.

Ele cai no chão, e sem ao menos hesitar volta para a superfície de madeira clara, cheia de papeis aqui e acolá.

Agora quem precisa de comida sou eu. Saio da cadeira e vou para a cozinha. Geladeira aberta, itens pegos, cafeteira ligada, sanduíche de geléia com pasta de amendoim feito e cortado, refrigerante no copo. Volto para o quarto e Simon está na minha cadeira.

DE NOVO.

– Simon, seu gato inútil, sai dai – falo, e ele se limita a se ajeitar melhor no assento da minha cadeira.

Coloco todas as coisas na mesa e começo a andar sem rumo pelo quarto. Eu preciso tirar esse gato daqui ou vou acabar comprando algum explosivo.

Plano A.

– Simon... Você quer catnip? – o chamo, segurando o saquinho com a erva. A alguns metros da bola de pelos mais irritante da face da terra – vamos, você adora essa coisa!

Ele nem me escuta.

– Fala sério, não é tão ruim assim – a cheiro e franzo o nariz – Tá. Isso realmente não cheira nada bem.

Plano B.

– Você quer brincar? – mexo a pequena vareta com um pássaro cheio de peninhas na ponta – olha o que eu tenho aqui para você...

Ele me olha, e volta a dormir.

– É divertido, vem aqui! – começo a brincar com a vareta. Até que ela é bem interessante.

Plano C.

– É hora do banho! – grito pela casa, pegando um balde cheio d’agua e ameaçando jogar nele – ou você sai, ou eu te encharco.

Simon mia, se levanta da cadeira, sobe na mesa, e deita em cima do meu teclado. Ele sabe que não vou jogar água se ficar ali.

– Eu acho que preciso de um banho – resmungo, tentando não amarrar TNT ao bichano e explodir tudo – um longo banho.

Olho-me no espelho, tentando não notar meu cabelo marrom extremamente grande e bagunçado e minha cara de “fui atropelado por um monster truck... Três vezes”. Banho tomado e roupas limpas vestidas.

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Volto para o escritório e ele está em cima da mesa, longe o suficiente do teclado para que eu consiga produzir alguma coisa. Sento, estico as mãos e começo a escrever. Esse titulo me incomoda tanto! Mudo de novo.

“Richard Strauss – Em busca da melodia perfeita” - Simon volta a sentar no teclado. Ele está fazendo isso de propósito, só pode!

– Simon! – grito – Sai daqui agora!

Nem um movimento.

– Argh! Eu cansei! – me levanto impaciente da cadeira – vou dar uma volta!

Pego minhas chaves, as encaixo na fechadura e abro a porta. Quando olho para o chão... Lá está ele.

– Você quer ir comigo? - não posso deixar de sorrir com a situação.

Ele mia em resposta.

– Tudo bem, tudo bem – afirmo deixando-o passar pela porta e a trancando em seguida – nunca conheci um gato que gostasse tanto de sair de casa, sabia?

Quando olho novamente para o chão, ele sumiu.

– Simon? Onde está você? – o chamo, mas ele sumiu. É aí que vejo a porta das escadas aberta, ele deve ter passado por lá.

Corro. Corro muito. Desço as escadas o mais rápido que posso e não encontro nada. Ele deve estar em algum andar de cima.

– SIMON! – grito novamente, escutando um miado e o barulho de passos na escada – Simon, é você?

Subo os degraus o mais rápido que meu corpo consegue. Outro miado. Estou chegando perto...

– Simon! – berro.

– Você é o dono do gato? – escuto uma doce voz desconhecida. Tão doce quanto qualquer voz que possa já ter escutado em toda a minha vida.

– Sou – falo em resposta, parando de subir para conseguir ouvir o que a outra pessoa tem a dizer.

– Eu estou segurando ele, não precisa correr, eu espero por você – afirma.

Volto a subir as escadas, com um sorriso no rosto. Eu não perdi aquela bola de pelos, ainda bem. Eu subo, subo, e subo mais um pouco. Quem mandou morar no terceiro andar de um prédio com quatorze andares e ser tão sedentário assim?

Estou no décimo terceiro andar, e estou praticamente morto. Subo ofegantemente mais dois lances de escadas e lá está ele.

Para quem tem curiosidade, esse é o Roy: