Sinto algo pegajoso nos meus dedos, um frio percorre minha espinha, um gosto metálico preenche minha boca e um forte cheiro de algo podre invade minhas narinas. Forço meus olhos a abrirem e a cena que vejo me assusta.

Eu estou nua, deitada próxima do que um dia foi um cervo mas agora é só um amontoado de ossos e sangue seco. Olhos para minhas mãos e vejo que elas estão cobertas de sangue e há alguns pedaços de carne embaixo das minhas unhas. Minha boca tem gosto de sangue e deve ter alguns pedaços de carne preso aos meu dentes.

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Me levanto rapidamente e olho em volta, eu estou em uma toca de lobo, ou melhor, de coyote. Há mais ossos no fundo da toca, e por sorte tem um casaco enorme jogado do lado dos osso. O casaco está velho, puído e fede a carniça mas é melhor usa-ló do que ficar nua. Meus cabelos estão emaranhados, há algumas folhas e ramos neles e também há sangue e resto da carne do cervo. Meus pés estão descalços e alguns machucados pequenos neles, machucados que estão se fechando.

Saio da toca com cuidado, e olho em volta. Tem apenas mato em volta, nada mais que eu densa floresta. Pela posição do Sol já deve passar do meio-dia. Suspiro e começo a caminhar, eu preciso encontrar a cidade, ou hospital, porquê agora eu me lembro, me lembro de tudinho.

Eu apenas caminho, seguindo alguns sons que parecem ser de carros, mas por mais que eu caminhe não chego a lugar nenhum. Não vejo nada, apenas mato e de vez em quando alguns animais.

Depois de caminhas por horas vejo que é inútil, não há saídas, parece que estou andando em círculos. Me sento em uma pedra qualquer e coloco a cabeça entre as mãos e suspiro. Logo irá escurecer e mais uma vez eu vou virar um coyote e vou perder a consciência, e se isso acontecer de novo sabe-se lá onde eu vou acordar. Suspiro mais uma vez e olho para o céu, o sol está se pondo e eu já não consigo mais ouvir os sons dos carros, isso é muito frustante.

Eu olho mais uma vez em volta e me levanto, me forçando a continuar caminhando. O céu já está um pouco mais escuro por isso apresso o meu passo, seguindo em uma direção qualquer.

Depois de mais algum tempo eu olho para cima e percebo que cometi um grande erro, lá em cima a lua cheia brilha com intensidade e mais uma vez sinto aquilo acontecer.

Sinto meus sentidos se aguçando, minha fome aumentando, garras crescendo, presas aumentando. Minha visão fica turva e rapidamente perco a consciência dos meus atos, deixando apenas meus instintos me controlando.