Enquanto você dormia

I will fight, but only because i can not give up


Hoje completa 1 mês desde que eu acordei, cada dia pareceu se tornar mais longo e com o inverno a neve fez com que eu me escondesse em 5 ou 6 lençóis todos os dias, Nathan e eu fizemos fisioterapia todos os dias e eu já consigo me manter em pé apesar que isso geralmente me faz ficar muito cansada.

Minha mãe disse que Damon viajou com as crianças e por isso não veio me ver, não me convenci com essa explicação maluca mas fingi aceitar porem depois de três semanas eu impus que ela ligasse pra ele como ela negou eu fiz oque qualquer pessoa faria e parei de receber visitas, pode parecer infantil mas se ninguém iria me falar a verdade por que eu iria vê-los?

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Passei uma semana vendo somente a Dr. Fell, o Nathan e alguns enfermeiros, e uma psicóloga também veio me ver segundo ela é comum que pessoas que acordam do coma depois de algum tempo tenham traumas, segundo a própria psicóloga ela nunca viu alguém acordar depois de 5 anos, tenho falado com ela mais sobre minha família e também tenho tido pesadelos horríveis todas as noites, pesadelos dos quais eu tento não me lembrar.

E hoje pela manhã enquanto eu estava fazendo uma sessão com Nathan a Dr. Fell entrou na ala de fisioterapia do hospital e falou que minha alta já estava pronta, assim que terminei com a fisioterapia voltei para o quarto onde minha mãe me esperava com roupas.

– Não precisava vir. – Falei enquanto Nathan me ajudava a deitar novamente na cama.

– Para de gracinha Elena – Ela respondeu colocando as roupas na cama – Como está a fisioterapia?

– Elena está ótima – Nathan observou minha mãe com cuidado –Acredito que em 1 mês ela esteja muito bem.

– Nathan, eu acho que minha mãe realmente não esteja interessada – Ela me olhou como quando eu era criança e falava de mais na frente das pessoas que visitavam minha casa – Nat, como vamos fazer a partir de agora?

– Acho que eu posso ir até sua casa – Ele pareceu desconfortável – Depois resolvemos isso.

– Obrigada. – Ele me olhou e depois saiu do quarto.

– Trouxe algumas roupas – Minha mãe tentou se aproximar de mim mas já consegui força o suficiente para conseguir me esquivar – Para com isso Elena.

– Vai me falar a verdade? – Ela suspirou – Então eu não paro. – Não me culpem por ser tão infantil, estou chateada com tudo isso.

– Deixe-me te ajudar a se trocar, depois você pode se estressar comigo de novo – Ela massageou as têmporas como se realmente estivesse exausta – Por favor.

– Ok. – Falei somente e ela pegou as roupas e me ajudou a levantar tirando as roupas de hospital e colocando uma calça jeans de quando eu tinha uns 19 anos e mesmo assim ficou um tanto larga e uma blusinha que pareceu ter sido usada por alguém de 600 quilos antes de mim.

– Senta aqui – Ela pegou a cadeira de rodas que eu usei no inicio para ir fazer a fisioterapia – O Nathan pediu que você usasse, ele não acha que você esta pronta para andar.

– Tudo bem – Me sentei na cadeira – Agora você vai ser sincera?

– Elena... – Ela fez uma pausa e olhou em volta – Isso não depende só de mim.

– Então me fale – Pedi enquanto meus olhos se enchiam de lagrimas – Eu juro que vou entender oque quer que seja, eu só preciso saber que minha família esta bem, preciso dos meus filhos e do meu marido.

– Elena fazem 5 anos a ultima vez que Damon te viu – Ela usou seu tom maternal – Ele sofreu muito, fez praticamente um acampamento no seu quarto.

– Eu fiquei todo esse tempo aqui? – Isso foi algo que ficou muito pouco explicado, todo esse tempo lembro-me que antes do acidente eu li alguma coisa sobre o coma e que algumas pessoas não ficam todo o tempo no hospital.

– Não você ficou aqui durante 12 meses e depois como você estava “estável” você foi para uma casa especializada em cuidar de pacientes em coma persistente – Ela parecia olhar para o longe quem lembrasse de algo ruim – A dois meses você voltou porque teve problemas respiratórios.

– E o Damon... – A incentivei a falar e ela olhou pro outro lado – Continue, por favor.

– Como eu disse por 1 ano ele e as crianças viveram aqui, por acaso o aniversario de 1 ano foi aqui – Ela procurou alguma coisa na bolsa e me esticou uma foto, foi a primeira que me mostraram na qual eu aparecia no hospital, eu estava horrível – Ai, você foi para... eu não sei o nome é uma espécie de casa de repouso, e o Damon continuou indo, os pais dele pediram para ele dar um tempo ir passar alguns meses na Itália e...

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– Ele foi... – A interrompi – Oque aconteceu?

– Ele negou no inicio, mas os médicos davam como impossível sua volta então ele cedeu e foi passar alguns meses na Itália, queria poder te falar oque ele fez nesse tempo mas eu juro que não sei, quando ele voltou ele estava com uma garota o nome era... Francesca – Ao ouvir essa parte meu coração se acelerou – Segundo ele, ela era uma funcionaria da Savaltore’s , ele assumiu a empresa e passou a vir te visitar menos, a viagem pra Itália durou 3 meses, quando ele voltou só veio algumas vezes – Ela começou a mexer no a barra da blusa – Então parou de trazer as crianças, e depois só veio 1 vez, e no dia de ação de graças de 2012 eu chamei eles para o jantar, ele trouxe essa tal de Francesca, jantamos e depois ficamos na sala, Damon foi para o lado de fora junto com essa garota, eu fui chama-los para a sobremesa e vi eles se... se.... se beijando.

Nessa hora o mundo a minha volta sumiu, as palavras da minha mãe começarão a ecoar na minha cabeça, Isso explicaria o porque dele não vir me ver, e também o tom de todos a minha volta, mas...

– Filha? – Minha mãe colocou a mão sobre meu ombro, percebi que eu chorava descontroladamente – Quer que eu continue?

– Por favor. – Minha voz foi um fiasco.

– Eu fiquei surpresa, e eles me olharão assustados eu disse que não entendia o porque daquilo e Damon falou que precisava de uma mãe para os filhos dele e que você nunca iria acordar e que já estava com essa loira oxigenada desde que voltou da Itália, ai tudo fez sentido, Jeremy veio nos ver e ouviu Damon falando, e então bateu nele – Ela deu um sorriso que eu não entendi – Eu o repreendi mas confesso que eu o teria feito se pudesse, isso faz 2 anos mas Jeremy nunca mais voltou a falar com o Damon.

– Então Damon agora, tem outra pessoa? – Perguntei entre soluços.

– Sim, mas...

– Meus filhos? – A interrompi – Eles sabem sobre mim, não é?

– Sabem – Senti um peso ser retirado de cima de mim – Mas pensam que você esta morta.

– Oque? – Voltei a chorar e ela passou a mão sobre minha cabeça e eu a abracei – Como Damon pode?

– Eu não entendia, mas depois eu percebi que não foi culpa dele. – A soltei imediatamente.

– Como assim? – Usei o Joystick da cadeira de rodas e me afastei dela – Você acha mesmo que ele esta certo?

– Não foi isso que eu disse – Ela se defendeu – Só falei que eu o entendi, ele ficou perdido, filha.

– Perdido? – Perguntei indignada – Eu fiquei literalmente perdida durante 5 anos, você realmente acha que ele não faria o mesmo se eu não estivesse em coma?

– Como assim? – Ela pareceu realmente confusa.

– Do mesmo jeito que ele arranjou outra enquanto eu estava em coma ele faria o mesmo se eu tivesse bem, ele nunca me amou! Ou não me amou o suficiente. – Abri a porta e guiei a cadeira de rodas até a saída.

– Filha! – Minha mãe surgiu pouco minutos depois – Espere eu tenho que resolver as ultimas papeladas da alta, se acalme, e não me faça me arrepender de ter te contado.

Não respondi simplesmente fechei os olhos e ela se afastou, os pensamentos vieram como marretadas em tudo que eu acreditava, eu acreditava que meu marido me amava, e isso ele destruiu, eu acreditava mesmo que no fundo que meus filhos viam me ver, e ele destruiu também. Não sei por quanto tempo chorei ali parada e sozinha mas senti uma mão em meu ombro.

– Oque aconteceu? – Reconheci ser a voz de Nathan mas não me virei permaneci olhando para frente – Você está bem?

– Não mas... – As lagrimas me atrapalharão – Eu vou ficar.

– Quer me contar porque esta assim? – Neguei com a cabeça – Quer que eu te faça companhia?

– Nat, se não se importar eu preferia ficar sozinha. – Ele deu alguns tapinhas leves no meu ombro, e depois ouvi os passos dele se afastando.

Continuei lá parada naquela maldita cadeira de rodas esperando minha mãe, e depois de quase 30 minutos ela surgiu, passou levemente as mãos nos meus cabelos e foi até minhas costas empurrando a cadeira. Ela me ajudou a sentar no banco da frente e colocou minha cadeira de rodas no porta malas e entrou do meu lado, deu partida no carro e eu finalmente entendi oque a psicóloga falou sobre traumas.

Assim que o carro começou a se movimentar minhas pernas ficaram moles, e o acidente ficou se repetindo na minha cabeça, minha mãos estavam geladas e eu soava frio, olhei para minhas mãos e notei que elas tremiam.

– Você esta bem Elena? – Minha mãe olhou de relance pra mim e eu continuei congelada.

– Sim. – Falei baixinho concentrada em não pirar, continuei assim até minha mãe estacionar na garagem da minha casa... da minha antiga casa, da casa dos meus pais.

– Elena você entende o porque de não ir pra sua casa não é? – Assenti levemente – Aqui nunca deixou de ser sua casa e...

– Pode pegar a cadeira, por favor. – A interrompi e ela assentiu descendo do carro, depois de me sentar na cadeira de rodas eu mesma usei o Joystick para entrar na casa.

– Maninha! – Jeremy me abraçou e eu não vi nada além de sua imensa jaqueta preta.

– Obrigado por bater nele. – Falei no seu ouvido.

– Quando precisar. – Ele sorriu se afastando, e finalmente notei ele... uma figura de terno encostada no canto da escada, não tinha mudado nada, seus olhos azuis continuavam encantadores, seus cabelos continuavam negros como e noite e seu rosto tão lindo quanto da ultima vez que o vi.

– Elena. – Sua voz chegou aos meus ouvidos e apesar de estar o odiando intensamente eu sorri.

– Olha quem veio – Falei um tanto quanto irônica, ele sorriu e eu me aproximei dele parando a cadeira a sua frente e me levantando – Como está?

– Você está linda. – Elena não cai nessa, Elena não cai nessa... Repeti essa frase como um mantra, e por fim conseguir manter a aparência gélida.

– Acho que Francesca não gostaria que você falasse assim de mim. – Vi seu rosto mudar de expressão o sorriso sumiu e oque sobrou foi um homem surpreso.

– Já te contaram – Ele lançou um olhar mortal para minha mãe – Eu posso explicar.

– Ahh, é claro que pode – Falei irônica – Você pode me explicar o porque esta com outra e quer saber isso pouco me importa mas não ouse falar “não é nada disso que você esta pensando” – Ouvi uma risada do Jer mas me mantive séria – Sabe oque realmente importa? Meus filhos, e você ter dito pra eles que eu morri...

– Os médicos falaram...

– Oque importa oque os médicos falaram? – O interrompi e lagrimas começaram a cair dos meus olhos – Sabe, quando eu acordei a primeira coisa que eu me perguntei foi, “Como o Damon esta? Meus filhos estão bem?” Mas quer saber? Você foi baixo, você sujou tudo que construímos juntos.

– Você não sabe o quanto foi difícil, o quanto cada noite sem você me fez mal...

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– Chega, Damon! Eu não quero saber o quanto foi difícil pra você! Tudo isso, esta sendo difícil pra mim agora, eu acordei e descobri que fiquei em coma durante 5 anos, tenho dores de cabeça todos os dias, meu músculos doem cada vez que eu fico em pé, eu tenho cicatrizes no corpo que ainda não cicatrizaram, você acha que eu escolhi isso, acha que eu quis te deixar? Só para fazer você sofrer? Damon não viva no mundo aonde só exista você, cada...

– Eu não vivo Elena – Ele me interrompeu – Eu vivo no mundo aonde só existem meus filhos, sinto muito que isso não inclua você, mas não fui eu que escolhi isso, esta bem? Você não viveu com as crianças, então não finja que se importa com elas tanto assim, porque...

Não o deixei terminar e dei um tapa certeiro em seu rosto que o fez perder o equilíbrio e ele se encostou na mesinha, próxima a escada.

– Nunca mais diga que eu não me importo com meus filhos, posso ter perdido 5 anos deles mas amo aquela crianças mais que tudo nesse mundo – Ele se levantou e notei que além de ter uma marca perfeita dos meus 5 dedos na sua bochecha, eu consegui cortar o canto do seu lábio inferior – Não seja hipócrita, Damon.

– Você não sabe o quanto foi difícil – Ele gritou – Você não viu como eu sofri, como as crianças sofreram!

– Você fala como se tudo tivesse sido planejado – Eu usei o mesmo tom que ele – Como se eu tivesse te abandonado de proposito.

– Eu sei que não – Ele olhou para toda minha família que nos olhava – Vamos conversar em um lugar mais apropriado.

– Vem por aqui. – Me sentei novamente na cadeira de rodas e a guiei até o lado de fora, me sentei em um dos bancos e ele sentou do meu lado.

– Eu sei que não foi de proposito e que você não quis nos deixar – Ele voltou ao tom normal – Mas eu sofri.

– E eu não? Damon não me interessa – Ele me olhou surpreso – Eu não ligo para oque você e a va...

– Olha a boca. – Ele me interrompeu.

– Oque você e a vadia que você namora vão fazer da vida – Ele me olhou novamente surpreso – Só ligo para os meus filhos e apesar de te amar eu não vou deixar você tirar eles de mim.

– E eu não pretendo só preciso... de tempo. – Ele abaixou os olhos.

– Você tem até amanha – Ele levantou o olhar pra mim – Amanhã eu quero vê-los, não vou perder mais nenhum momento da vida deles.

– Seja flexível – O olhei incrédula – Me entenda.

Desferi mais um tapa em seu rosto e ele ficou inclinado para direita, com a mão no rosto, o pequeno machucado no canto da sua boca começou a sangrar.

– Te entender? Eu vivi por 5 anos paralisada em cima de uma cama enquanto você ia para minha cama com uma mulher qualquer, eu perdi 5 anos da vida dos meus filhos – Me transferi novamente para cadeira de rodas – Perdi 5 anos da minha vida, perdi 5 anos da nossa vida, eu perdi você.

Entrei novamente para dentro da casa e minha família toda estava lá me olhando, eu não disse nada só os encarei com lagrimas caindo descontroladamente pelos meus olhos, Bonnie a qual eu mal tinha notado a presença desde que cheguei correu para me abraçar.

Eu chorei como uma criança que via a maldade do mundo pela primeira vez, nada daquilo fazia sentido, me perguntei se eu não deveria estar morta, este era para ser meu destino não? A morte, foi por isso que aquele motorista entrou na contramão naquela noite, eu deveria estar morta.

E talvez tenha sido por isso que minha vida esta essa bagunça, eu fugi da morte e agora estou pagando o preço por isso, mas meus filhos... sim, é por eles que eu estou aqui, e será por eles que eu viverei cada um dos meus dias, é por eles... e só por eles que eu vou lutar, lutar para voltar a fazer parte da vida das duas coisas mais preciosas do mundo.