Impressões Enganam, as

Ela gosta de comida japonesa


Tudo bem que a Veridiana era meio desligada e até que não sabia fazer ou entender piadas, mas era justamente por essas e outras que eu a colocava acima de qualquer suspeita.

Seria eu o inocente?

_ Oi! Já voltei. - ela comunicou alegremente parando em frente à minha mesa.

Como se eu realmente não fosse perceber sua presença sem que fosse anunciada...

_ Hum. Legal. - hesitei – Vamos então?

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_ Não vai esperar o seu amigo?

_ Não... Ele tinha um outro compromisso na hora do almoço e não ia comer. - sorri nervoso.

_ Ahn. Que pena. - ela pareceu se desanimar.

_ Por quê? - E por quê eu precisava saber?

_ Por nada... É que achei tão divertido sair com todos vocês na sexta-feira...

Legal, agora eu era o chato da turma.

_ Hum. - murmurei bloqueando meu micro.

_ Ah, não, por favor, não pense que quis dizer que você não é divertido!

_ Não pensei.

_ Às vezes eu me expresso mal... Ou melhor, faço isso com alguma frequência, você não acha?

Ela sorriu despreocupadamente enquanto me fazia a pergunta, o que me levou a rir também.

_ Esquenta não, Veri. Sou expert nessas partes.

Continuamos dando risada enquanto tomávamos o elevador. A Veridiana porque era seu hábito mesmo. E eu... Não saberia dizer ao certo, mas a minha apreensão com certeza estava contribuindo.

Senti a brusca mudança de temperatura ao deixar o prédio refrigerado, enquanto lembrava-me que se voltássemos ao mesmo restaurante de sexta, muito provavelmente encontraríamos o Robinson e a Dani, o que não me deixaria muito à vontade.

_ O que acha de comermos pizza? - sugeri tentando pensar rápido.

_ Pizza? - ela pensou por um longo momento.

E parecia não conseguir tomar uma decisão. Por que ela não falava logo que não queria? Era esse tipo de reação que me dava vontade de plugá-la numa tomada de 220 volts.

_ Ou então esfirras? Lanche? Batata recheada? Ou qualquer outra coisa diferente... Vamos no shopping para decidirmos lá?

Ela arregalou os olhos, surpresa com a minha urgência.

_ Tá. - assentiu.

Caminhamos silenciosamente, e eu nem percebi a falta de diálogo, devido à minha preocupação. Eu não poderia evitá-los para sempre. Não seria melhor abrir o jogo de uma vez com ambas as partes?

E também... Será que à essa altura o Robinson já estava xavecando a Dani? E se fosse tudo uma tática só para me furar os olhos?

_ Olha... Comida japonesa!

Procurei o lugar para onde a Veridiana apontava. Comida japonesa??

Eu só comia yakissoba, e havia pouco tempo descobrira que era originalmente chinês.

_ Pra falar a verdade eu nunca comi...

_ Você iria adorar os barquinhos.

Que raios de barquinhos?

_ Iria?

_ Hum-hum. - confirmou resoluta, me fazendo acreditar que os barquinhos eram decisivos para o sabor final.

Bem, o que custava tentar? No máximo, uma dor de barriga...

_ É uma boa oportunidade para experimentar. Vamos.

Segui-a até o restaurante e nos sentamos no chão por causa da mesa ser muito baixa. Deixei o pedido por conta dela, pois eu não entendia o cardápio.

_ E o que tem nesses barcos afinal?

_ Como você é iniciante, eu pedi sushi e sashimi, que são bem característicos.

_ Iniciante? - ri – Quer dizer que essas coisas tem leveis?

Ela me fitou na esperança de entender a piada, mas eu não podia exigir tanto dela.

_ É só uma piada tosca, pode ignorar.

Ela sorriu e voltou a estudar o cardápio.

_ Vai querer um chá verde? - perguntou.

_ Chá verde? Não é um desses chás para emagrecimento?

Depois de alguns segundos me encarando em silêncio – talvez me julgando um completo ignorante nas artes culinárias -, ela me explicou:

_ Também. O chá verde morno ajuda a quebrar as moléculas de lipídios, por isso os orientais costumam tomá-lo depois das refeições.

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_ Ahn. - dentro de quinze minutos eu esqueceria mesmo... - Por isso eles são tão inteligentes?

Deixei-a confusa com a pergunta.

_ Poxa, essa eu não sei...

_ Isso também foi uma brincadeira, Veri.

_ Ah! Claro.

Acabava de chegar à conclusão que ela precisava de um intensivo sobre piadas quando chegou o nosso barco.

_ Agora me diz o que é o quê aqui. - pedi.

_ O de arroz é o sushi. Os frutos do mar, o sashimi.

_ Esses é que são os crus? - perguntei apontando para os últimos.

_ Hum-hum. - ela negou separando seus pauzinhos – São cozidos. - respondeu ainda sem me encarar.

_ Ué... Sempre achei que fossem crus.

_ Por que não experimenta? - ela me encorajou.

Ainda me atrapalhei com as varetas, mas consegui pescar um pedaço de um peixe. Agora que ela tinha dito que não era cru, estava com menos medo de morrer de cisticercose.

_ Uau! É mesmo gostoso! - apurei o paladar e estranhei – Não parece cozido.

_ E não é.

_ Hã? - engoli para não engasgar.

_ Você tinha apontado para o polvo. Ele é cozido. Mas você comeu o atum. Ele é cru mesmo.

_ Oras... Mas... É tão bom, como pode ser cru?

_ Se-gre-do.

Ri da graça que ela fez. Por menos intencional que fosse, ela tinha uma graça ímpar.

Me dei conta que estava descobrindo-a. E por causa disso, senti-me satisfeito.

_ E se eu morrer de cisticercose?

_ Só seria possível com carne vermelha.

_ Certo...

Olhei mais uma vez para o barco e não deu outra, tornei a me servir.

_ Viu? - ela perguntou enquanto tomava um gole de chá quente.

_ O quê?

_ Sua aceitação foi maior por imaginar que o peixe era cozido.

Tentei entender o raciocínio dela, mas não consegui. Ela pareceu se dar conta disso.

_ Você estava de mente fechada, Vitor.

Percebi que aquele comentário se encaixava perfeitamente para toda a minha conduta.

_ Tem toda razão. Vou procurar não fazer mais isso. - isso também se aplicava à minha conduta.

*

Voltamos a passos apertados para o escritório, pois o tempo ameaçava uma chuva.

Mal chegamos e notei que ela logo deixou seu lugar. Mais ao fundo, avistei o Robinson conversando alegremente com a Dani. É... Era melhor eu me conformar.

Mas outro pensamento se sobrepôs. Eu podia apostar que almoçar com a Veri havia sido bem mais legal. De uma forma esdrúxula. Mas não menos legal por isso.

No dia seguinte voltamos a almoçar juntos pois eu ainda não decidira como confrontar o meu colega.

E o mesmo se repetiu na quarta, e comecei a desconfiar que não era apenas minha esquiva que me levava a almoçar com a Veridiana.

_ Você acreditaria se eu dissesse que quero comer daquele barco novamente? - perguntei.

_ Acreditaria, por quê?

_ Ah, você tá me zoando, né?

Sua expressão foi de desentendimento total, mas para meu alívio ela riu e sugeriu:

_ Por quê não experimenta outros pratos também?

_ Olha lá hein... Vou confiar em você.

_ Mas não vá me responsabilizar por uma eventual cisticercose.

_ Você não disse que era só em carne vermelha?!

_ Você confia demais nas pessoas, sabia? Sorte sua que sou mesmo confiável.

_ Nossa, conseguiu me assustar!

_ Desculpe.

_ Foi brincadeira, Veri...

_ Ah... A minha também.

Mesmo parecendo estabanada, ela conseguia lidar com saias justas.

*

Na quinta-feira seguinte, tornei a recusar o convite de almoço do meu amigo. A situação estava começado a ficar cômoda. Deixar de almoçar com o Robinson ou com a Dani já não parecia tão chato.

Ergui a cabeça para chamar a Veridiana para o almoço, mas ela não estava em seu lugar.

Logo estaria de volta, carregando pilhas de papéis, e digitaria algum documento furiosamente. E tratei de parar de sorrir quando percebi que estava fazendo isso.

Continua