A.S: Anormal Students

Por trás da máscara - Parte 1


Era dia de faxina na divisão especial. No momento, todos estavam arrumando o quarto dos garotos. Michiru estava varrendo o chão, mas não da maneira convencional. Ela controlava a vassoura e levantava a mobília com seus poderes psíquicos. Kouta tirava lixo e outras coisas inúteis do quarto e colocava em um saco. Yuichi arrumava as camas. Hikaru apenas observava tudo e disse pra si mesma:
— Wow, e eu achando que eles não eram organizados...
— E não eram até eu chegar aqui. — Karen surgiu de repente, assustando Hikaru. Ela pegou um espanador e o deu para Hikaru. — Agora comece a limpar você também!

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Hikaru ficou um pouco aborrecida, mas não contestou e foi espanar atrás de uma cômoda. Ela viu Kouta passando com o saco de lixo/tralha inútil e ficou olhando pra ele, com cara de que queria saber algo. Ela então foi até Karen e decidiu fazer uma pergunta:
— Ei Karen, por que o Kouta sempre tá com aquele pano no rosto?
— Sei lá, ele diz que aquilo esconde os segredos dele, que para ele é o rosto. — Ela respondeu. — Ele nunca tira esse troço, eu acho. Talvez ele tire quando toma banho, mas eu não tenho a mínima vontade de espiar ele fazendo isso, não sou nenhuma pervertida...
Por que ela adicionou essa ultima frase mesmo?, perguntou-se Hikaru.
— Então, nenhum de vocês já viu o rosto do Kouta, certo? — ela perguntou.
Aquelas palavras atingiram Karen como uma flecha. Ela correu para o cantinho do quarto e se encolheu. Hikaru se aproximou do lugar e perguntou a Karen:
— É, Karen... O que aconteceu?
Karen parecia bem nervosa e insegura. Era raro algo assim acontecer com ela, já que era geralmente uma pessoa bem inexpressiva e indiferente.
— B-bem... É-é que... É que... É que... — ela estava gaguejando e falando baixinho. — E se eu... Sabe, tiver... Visto o rosto dele?
Hikaru gritou O QUÊ!? tão alto que todos no quarto ouviram ela. Michiru, Kouta e Yuichi olharam pra as duas, perguntando o que diabos havia acontecido. Karen levantou-se.
— Com licença, pessoal! Eu preciso... Buscar umas coisinhas com a Hikaru! — Karen rapidamente agarrou a mão de Hikaru e a levou pra fora do quarto. Ela fechou a porta.
— O QUE FOI ISSO KAREN?! — Hikaru gritou com Karen, mas não em uma frequência de som que podia destruir tímpanos. — Logo quando eu estava achando que você era a mais normal daqui você faz isso?!
Karen estava se tremendo.
— Desculpe, é que... Eu prometi para o Kouta que eu não ia dizer pra ninguém que isso aconteceu...
— Mas já que você já fez isso... Que tal me contar como foi essa história?
Karen voltou ao seu típico estado emocional.
— Você promete que não vai dizer nada sobre isso depois?
— Tá bom, eu prometo, agora diz logo como foi isso.
— Bem, foi um tempo depois de eu ter entrado da divisão especial. Esse lugar tava uma bagunça antes de eu chegar aqui, então resolvi fazer uma faxina junto com os garotos...

...

— O MESTRE DAS TREVAS VAI ANIQUILAR VOCÊ, POEIRA! — gritava Yuichi no quarto enquanto Karen e Kouta estavam no pátio, limpando a sujeira.
— Falta pouco pra gente terminar? — perguntava Kouta.
— Só falta triturar o lixo. O resto a gente deixa com o Yuichi, eu acho. — disse Karen.
— Poderia ter sido bem mais rápido se você tivesse usado seus poderes ao invés de uma vassoura...
— Os meus poderes só iriam espalhar a poeira por aí, caso não tenha pensado nisso. Aliás, você sequer usou o seu.
— Bem, se existisse algum animal que ajudasse com limpeza...
Karen viu um saco de lixo não muito longe deles.
— Ah, ali está o saco de lixo. Vou levar ele pro triturador. — Ela foi pegar o saco.
— Você quer uma ajuda? Esse saco parece pesado.
— Não, não preciso, eu consigo levar esse saco sozi... — Karen estava andando com o saco nas mãos, quando acabou tropeçando no próprio pé. Ela tentou se segurar em Kouta, mas falhou e caiu no chão. Karen rapidamente se levantou, como se não tivesse acontecido nada.
— Tem razão Kouta, esse saco é realmente pesado, é melhor você... — Karen percebeu que estava segurando alguma coisa.

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Era o pano que sempre ficava no rosto de Kouta. Ela não havia visto que tentara se agarrar em Kouta, mas acabou sem querer puxando o pano dele. Karen começou a se tremer. Então ela rapidamente se virou.
Karen havia visto O rosto.
Ela entrou em pânico e correu até o cantinho, enquanto Kouta rapidamente pegou o tecido e colocou-o de volta no lugar de onde nunca deveria ter saído.
— Você viu meu rosto! — ele estava tão alterado quanto Karen.
— D-desculpe... E-eu não vou c-contar pro Yu-Yuichi... — Ela estava bem nervosa, e se recusava a olhar para trás.
Kouta foi se aproximando dela. Então, ele começou a tomar características leoninas, como a juba e as patas,e seu olhar não estava tão amigável. Ele começou a falar em um tom ameaçador:
— Já que você viu o meu rosto... — Karen tinha vontade de borrar as calças. Ela estava morrendo de medo, em sua mente até já sentia raios e trovões atrás de Kouta. — Eu vou... — Karen já estava a ponto de implorar por piedade, quando Kouta de repente voltou ao normal e completou a frase. — Te contar todos os meus segredos!

Karen queria socar a cara de Kouta milhares de vezes seguidas, mas como ela sabia controlar sua raiva, ela só respondeu com a ignorância de sempre:
— Não quero saber.
— Mas você viu o meu rosto! Meu rosto significa meu passado e segredos que não quero lembrar! Se viu ele, vai ter que saber de tudo isso! — ele implorou para que a garota ouvisse o que ele tinha a dizer sobre ele mesmo.
— Tá bom, tá bom, pode contar... — Karen acabou aceitando.

...

— Fim da história. — disse Karen a Hikaru.
Hikaru apenas... Não aceitou isso.
— FIM?! Como assim fim? Vai Karen, me conta! Eu quero saber o que ele disse! — Hikaru era uma garota BEM curiosa. Suspense nunca foi o forte dela.
— Desculpa, mas só posso contar até aí. Já quebrei metade da promessa, e não estou muito afim de quebrar o resto.

Hikaru se aproximou da porta.
— Tudo bem, se você não vai me contar nada... — Ela abriu a porta do quarto.
— Kouta, será que você pode vir aqui por um instante, por favor? —ela perguntou com um tom de voz simpático. Ele assentiu e foi até o pátio. Hikaru fechou a porta.
— Tudo bem meninas, o que vocês querem? — Kouta perguntou. Hikaru apenas o encarava com um olhar adorável no rosto. Karen havia percebido o que ela queria fazer.
De repente, Hikaru tirou a máscara de Kouta à força. Ela exclamou Isso! antes que ela pudesse olhar pro rosto de Kouta e ver que ele... tinha outra máscara por baixo.
— POR QUE VOCÊ TEM OUTRA MÁSCARA POR BAIXO DESSA? — gritou Hikaru.
— É por precaução, eu não quero que certo incidente aconteça mais... — ele olhou pra Karen nesse momento. — Aliás, por que diabos você fez isso?!
Hikaru começou a suar nervosamente.
— É que... É que... Foi a Karen! Ela me contou que viu o seu rosto e sabe seus segredos, mas como ela não me contou nada sobre esses segredos, eu mesma decidi saber, tirando a sua máscara! — confessou Hikaru. Ela ouviu Karen murmurando dedo-duro atrás dela.
Kouta ficou furioso com Karen:
— VOCÊ QUEBROU METADE DA NOSSA PROMESSA!
— Mas foi só metade. Não foi a promessa toda.
— Sinto muito... — Hikaru fazia de tudo para aparentar estar fofa e triste ao mesmo tempo, e estava funcionando. — Mas eu só estava curiosa, afinal, você é tão misterioso, Kouta...
Ele não resistiu à fofura de Hikaru.
— Hii-chan, como você é fofa! Tá bom, eu vou te contar! Você precisa satisfazer sua curiosidade!
Ah, o doce poder da chantagem emocional., pensou Hikaru. Kouta começou a contar o passado dele, mas ele se sentia um pouco desconfortável com isso. Mas ele não se importou, continuou a falar.

...

Os pais de Kouta queriam muito ter uma filha. Eles tiveram uma, mas um menino acabou vindo de brinde. Esse garoto era obviamente Kouta.
— Olha só como a Kouko dormindo é fofa! — A mãe dos gêmeos, Misao, olhava a filha que estava dentro do berço.
— Eu vou pegar a câmera para filmar ela! — disse Koji, o pai das crianças.
Os pais de Kouta não ligavam muito para o filho. Davam a dele apenas as necessidades básicas, nunca atenção, que eles só davam para a filha. Isso foi assim até quando as crianças tinham quatro anos.

A filha do casal, Kouko, ficou muito doente. Kouta apenas observava os acontecimentos. Ele via a irmã pela janela do quarto da irmã no hospital. Misao e Koji imploravam para os médicos salvarem a menina, que estava com um sério problema nos pulmões.
Depois de um tempo, a menina acabou morrendo. Os pais de Kouta ficaram completamente arrasados. Eles não haviam perdido apenas uma filha, era a filha que eles tanto desejaram desde que haviam se casado. Eles estavam sentados no sofá da casa, chorando e lamentando, enquanto Kouta estava apenas ali, de pé, vendo o sofrimento dos pais.
— Mamãe... Papai... — ele chamou os pais.
Misao ouviu a voz do menino. Ela se levantou e virou-se na direção onde o garoto estava.
— Ah, você está aí, Kouko. — a mulher olhou o filho com um olhar maníaco.
O garoto tentou corrigir a mãe:
— Mamãe... Eu xô o Kouta! — ele começou a se tremer.
Koji também se levantou do sofá.
— Olhe querida! Ela está fazendo de conta que é o irmãozinho que morreu! — Koji também aderiu à loucura de sua mulher.
— Que bonitinho, ela está tentando nos consolar!
O menino tentou fugir dos pais, mas acabou sendo pego pela mãe.
— Vamos lá, Kouko! Vamos te dar um banho e colocar suas roupinhas de menina! — Misao segurava o filho pelos braços, enquanto ele chorava e gritava que era Kouta, não Kouko.

Três anos depois, Misao deixava Kouta, que agora era obrigado a ser Kouko, na escola.
— Thauzinho, Kouko! Tenha um bom dia na escola!
Kouta odiava aquilo. Não era o fato de usar roupas femininas que o incomodava, ele tinha que fingir ser outra pessoa contra a vontade dele. E ele não podia fazer nada, porque era apenas uma criança.
Na hora do recreio, Kouta viu dois garotos brincando com bonecos de um anime bem popular, Maruto. Kouta assistia isso quando seu pai e sua mãe não estavam por perto. Eles diziam que era desenho de meninos, garotas não deviam ver isso. Como se não bastasse ele fingir ser uma menina, tinha que ser uma menina de gostos limitados por gênero? Era uma droga, mas ele fazia de tudo para gostar do que ele quisesse.
Kouta decidiu se aproximar das crianças:
— Ei, vocês estão brincando com bonecos de Maruto?
Um dos garotos, Jun, respondeu a ele:
— Eh, sim, por quê?
— Eu gosto de Maruto! Posso brincar com vocês também? — perguntou Kouta.
Os dois garotos olharam um para o outro. Dez segundos depois, eles responderam:
— Tá bom,você pode. — Jun abriu uma caixa cheia de bonecos de Maruto e pegou uma boneca. — Tome aqui a boneca da Zakura!
Kouta pegou um boneco de dentro da caixa.
— Não, eu não quero a Zakura. Eu quero o Takashi. A Zakura é legal, mas eu gosto mais do Takashi.
Os garotos não reclamaram da escolha de Kouta. Ele então começou a brincar com os garotos durante todo o recreio.
No final da aula, eles estavam brincando novamente:
— Agora, eu, Takashi-sensei, vou ensinar um super Jutsu! — brincava Kouta com o mesmo boneco.
— Faz logo, Takashi-sensei! — os meninos, Jun e Daisuke, estavam empolgados.
Kouta não sabia, mas sua mãe estava vendo aquilo. Ela havia chegado há uns sete segundos, mas já estava zangada com a filha.
— KOUKO! — ela gritou com o garoto. — Solte já esse boneco! Pegue logo a sua mochila e vamos embora! — Kouta não teve escolha.

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Dentro do carro, as coisas ficaram piores. Misao dirigia o carro enquanto perguntava ao garoto:
— Kouko, você é uma menina, certo?
Kouta queria discordar, mas preferiu concordar com ela.
— Sim, sim, eu sou sim, mamãe...
Ela alterou o tom.
— Pois é, então pare com essas brincadeiras de meninos! — Kouta ficou assustado. — Meninas têm que brincar de BO-NE-CA!
Kouta ficou com raiva de sua mãe, e logo retrucou, gritando:
— VOCÊ UMA CHATA! EU SOU UM MENI-
— CALE A BOCA! Quem você pensa que é pra responder a sua mãe?! — ela gritou com o garoto. — Agora fique quietinha aí!
Kouta começou a chorar baixinho, para não ser ouvido pela mãe e levar outra bronca. Ele se desculpou com a mãe, mas não eram desculpas sinceras, eram apenas para deixar a mãe mais calma.

Assim que chegou em casa, Kouta foi direto para o seu quarto. Seus pais, assim que começaram a fazer Kouta ser sua irmã falecida, haviam tirado todas as coisas dele, que na verdade eram poucas, pois eles sempre mimavam mais a filha. Eles compraram coisas que eles diziam ser femininas para preencher os espaços vazios que a retirada das coisas do menino causou. Kouta não suportava aquilo. Ele queria muito ter coisas que ele gostava, mas Misao e Koji sempre desaprovavam. Então, ele só se contentava em fingir que as bonecas eram personagens de Maruto.
Kouta estava na frente de uma cômoda, olhando para um retrato que estava lá. Era uma foto de sua irmã, Kouko, aos 3 anos. Kouta derrubou violentamente o porta retrato no chão, quebrando o vidro do objeto.
— KOUKO IDIOTA! — O garoto gritou, olhando para o objeto quebrado. — POR QUE VOCÊ TINHA QUER MORRER?! — Ele parou. O menino começou a choramingar. — Por que... Por que eu não morri em vez dela? Ninguém gosta de mim...
Kouta sentiu um vento entrar pela janela. Ele não ligou, e saiu do quarto.

Na verdade, o vento era um espírito de uma garotinha. Era Kouko, a irmã falecida de Kouta. O fantasma aparentava ter a mesma idade de Kouta, apesar de ter morrido em uma idade mais jovem.
— Eu não aguento mais ver o Kouta desse jeito! — dizia a menina. — Bem, amanhã eu vou fazer ele ficar bem feliz!

No dia seguinte, Kouta estava sentado no sofá, assistindo televisão. O pai e a mãe de Kouta estavam de saída:
— Kouko, eu e sua mãe vamos sair para fazer compras. Tranque a porta e não deixe ninguém entrar! — disse Koji.
— Tá. Thau. — Kouta não estava ligando pra nada a não ser a tevê. Ele estava vendo um programa sobre lobos, que seus pais aparentemente não ligavam pro fato dele assistir aquilo.
Eles saíram. Kouta trancou a porta e depois voltou ao sofá.

(Atenção: Essa fic não aprova pais deixarem crianças de sete anos sozinhas em casa.)

O fantasma de Kouko se aproximou do irmão. Ela não era visível nem audível ao irmão, mas isso só se ela quisesse. Ela se aproximou do ouvido do irmão e falou a ele:
— Ei, Kou-kun, que tal ir pro parque?
Kouta achou que a voz de Kouko fosse apenas a consciência dele.
— Puxa... Eu tô com vontade de ir pro parque... Acho que eu vou. E eu me chamei de Kou-kun?

Kouta saiu de casa e foi em direção ao local. Ele sabia bem o caminho, já que ele e os pais já tinham ido lá várias vezes. Kouko fez questão de seguir o irmão, para garantir que ele estivesse em segurança. Chegando lá, o menino não tinha a menor idéia do que iria fazer. Kouko disse para ele virar a cabeça para a direita, e ele fez o mesmo. Ele acabou avistando os mesmos meninos do dia anterior, Daisuke e Jun. Ele foi logo em direção aos garotos.
— Daisuke! Jun! Oi! — chamou Kouta.
— Oi Kouko. — eles falaram em coro.
— Tão fazendo o quê aqui? — disse Kouta.
— A minha irmã é namorada do irmão do Jun, então, eu disse pra eles deixarem o Jun ir pra cá pra brincar comigo! — respondeu Daisuke.
— Ei, vocês estão brincando com bonecos de Maruto, né? Onde tá o boneco do Takashi? — perguntou Kouta, ansioso para brincar com o seu personagem favorito.
— Foi mal, a gente só trouxe o Maruto e o Sasuki, se você tivesse avisado que viria pra cá... — respondeu Jun.
— Não tem problema, eu finjo que sou ele! — disse Kouta, que estava bastante empolgado.
Kouko ficou observando o irmão se divertir. Ela estava feliz em saber que o plano dela de trazer Kouta até os amigos sem os pais saberem tinha funcionado. Ela te planejava fazer isso mais vezes.
Kouta estava brincando tranquilamente com os amigos, sem se preocupar com os pais. Tudo parecia ótimo. Kouta simulava fazer um golpe do tal anime. Mas de repente, ele viu duas sombras no chão muito familiares. Eram os pais de Kouta, que estavam voltando do supermercado, quando avistaram o filho no parque. Eles imediatamente pegaram Kouta e o levaram para casa.

O garoto teve que encarar o olhar furioso e reprovador dos pais quando chegou em casa.
— Eu disse pra você não brincar com aqueles meninos! Você me desobedeceu! — disse Misao.
— E saiu de casa sozinha! E ainda deixou a porta aberta! Poderíamos ter sido assaltados! — disse Koji.
Kouta apenas olhava pro lado, fingindo não escutar. Misao pegou o controle da tevê e começou a bloquear programas e canais.
— Vou bloquear todos esses desenhos de meninos! Estão te ensinando a agir que nem um!
Kouta estava a ponto de fazer pirraça, quando a mãe o mandou ir para o quarto dele. Ele não hesitou e correu até o cômodo, fechando a porta com força.
— POR QUE MINHA VIDA TEM QUE SER UMA DROGA?! — desabou Kouta. — Por que eles nunca me amam pelo que eu sou? Eu só queria pelo menos... Ser eu mesmo... Mas não sendo eu... — ele se sentou no chão e começou a chorar. Kouko olhava o irmão com muita tristeza no olhar. Ela começou a falar com ele.
— Kouta, você consegue me ouvir? Sou eu, a Kouko.
O menino parou de chorar para prestar atenção na voz.
— Kouko...? Você... Tá...
Kouko tornou-se visível ao irmão.
— Não, Kouta. Eu morri. Eu estou me comunicando com você pela minha forma espiritual.
— O que você quer? Acabar com a minha vida também? — resmungou ele.
— Não, eu nunca faria isso! Bem, eu sei que eu fui a causa de você estar nessa situação, mas não foi minha culpa! Me desculpa por tudo isso... Eu morri só pra você ser feliz, Kouta...
— Como assim?! — Kouta estava um pouco confuso.
— Bem, eu vou explicar. Começou quando eu ainda estava viva, no hospital.

...

Kouko tinha quatro anos na época. Havia contraído uma séria doença respiratória, cuja cura era bem difícil. Ela estava na cama de seu leito no hospital. Seus pais estavam perto dela, fazendo-a companhia. Mas eles haviam deixado Kouta do lado de fora, e o menino observava a irmã pela janela. Kouko olhou para a tal janela.
O Kouta... Tá sozinho... E tliste..., pensava Kouko. Misao e Koji não faziam o mesmo que Kouko, eles apenas olhavam para a filha.
Eles deixalam o Kouta sozinho... Eles semple deixalam..., Kouko percebeu que seu irmão era sempre deixado de lado. Enquanto ela se divertia junto como os pais, Kouta sempre ficava sobrando.
Eles só gostam de mim..., a menina concluiu.
— Kouko, eu e sua mãe voltamos já já, certo? — disse Koji, enquanto ele e a esposa saíam do quarto.
— Cuidado com os aparelhos, querida. — disse Misao, que depois fechou a porta.
Kouko estava sozinha no quarto. Kouta havia saído do lugar que ele estava. Kouko olhou para um dos aparelhos ao lado. Era um inalador, que resolvia as constantes insuficiências de ar dela. A enfermeira havia dito que aquilo não deveria ser retirado até segunda ordem, senão, ela correria risco de morte.
Será que se eu moler, o papai e a mamãe vão gostar do Kouta?, pensou Kouko.

Depois de vinte minutos, Misao voltou ao quarto:
— Kouko, voltei! O seu pai está no banheiro, ele volta já! Enquanto isso vamos comer esse lan... — Misao derrubou a sacola que estava segurando, pois estava horrorizada com o que tinha diante de seus olhos. O inalador estava caído no chão.
A menina havia morrido.

...

— Eu achava que eles iam amar você do jeito que eles me amavam, você teria o carinho e amor que você precisava... Eu nunca imaginei que eles fossem ficar loucos a ponto de forçar você a ser eu... — disse Kouko.
— Por que você não conversa com eles? Pede pra eles pararem com isso!
— Não dá. A maioria dos adultos não pode ver ou ouvir espíritos. Eu não sei o porquê. Talvez seja porque jovens tendem a ter uma alma mais pura do que a dos adultos.
— Ah, tá certo...
— Eu queria muito a sua felicidade, mas só acabei trazendo tristeza. Então, eu queria fazer você ser mais feliz. Mas nenhuma das minhas tentativas funcionou...
Kouta estava impressionado o quanto a irmã parecia inteligente para a aparência de sete anos. Talvez inteligência de fantasma fosse diferente da dos humanos.
— Então, eu vou tentar minha ultima ideia! — exclamou Kouko.
— Que ideia é essa?
— Bem, sabe quando você tinha dito que você queria ser você mesmo, mas não sendo você? Eu meio que posso conceder esse desejo, mas... — ela parecia preocupada.
— Mas o quê?
— Minha alma vai desaparecer. Ela se tornará o seu desejo. Significa que eu não irei fazer mais parte deste nem do outro mundo. — ela disse tudo em um tom de receio.
Kouta estava prestes a chorar de novo.
— Mas... Você não vai poder ver como estou! E se esse desejo não funcionar? Eu vou continuar triste!
— Mas é melhor do que nada, Kouta. O que você prefere: Viver a mercê dos nossos pais com essa tristeza ou ter um poder capaz de trazer a felicidade até você, mesmo que não possa te livrar totalmente dessa vida de mágoa?
— Eu... Não sei...
— Não se preocupe! Tenho certeza que algum dia, seja este dia próximo ou não, você vai conseguir sua liberdade! — disse ela com um sorriso no rosto.
Kouta não queria fazer isso, mas decidiu concordar.

Um brilho começou a emanar da alma de Kouko. Ela começou a desparecer na frente de Kouta.
— Kouko... Eu... Eu... — Kouta não aguentava ver a irmã desaparecer, não depois dele descobrir tudo que ela havia feito por ele.
— Não chore... Eu não aguento ver você chorar tanto... — Ela estava tão triste quanto o irmão. — Ela estava tão triste quanto o irmão. Você promete pra mim que não vai mais chorar por causa deles... Certo?
Kouta enchugou as lágrimas.
— Kouko... Obrigado... Eu prometo nunca me esquecer disso.

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A garota disse suas últimas palavras:
— Adeus... Kou-kun.
— Adeus... Kou-chan. — Kouta se despediu da irmã, antes dela desvanecer completamente e deixar ele completamente sozinho no quarto.