"Não se contratam mais empregados como antigamente" foi a ultima coisa que eu ouvi meu maldito chefe gordo gritando comigo, logo depois ele saiu de minha sala. Trabalho na área de finanças e digamos que esses ataques são meio frequentes. O dia de hoje foi um saco. Acho que mereço uma happy hour solitária.
Saio do trabalho e dirijo para um bar que conheço, desses a beira de estrada, onde ninguém te conhece e você não conhece ninguém, o lugar perfeito para um dia como hoje. Chego no bar e vejo carros e motos diferentes dos que estavam aqui na vez passada, isso é bom. Entro no bar e me sento no balcão. Peço o de sempre, com exceção das outras pessoas, o garçom lembra de meu rosto, mas sabe identificar quando eu não estou pra conversa, apenas me serve e vai cuidar de seus afazeres.
Tomando meu drink eu começo a reparar no bar, é uma forma de fugir dos pensamentos. Reparo coisas que para mim, não estavam ali antes, é estranho como não prestamos atenção em coisas que vemos quase que frequentemente, acho que estamos ocupados demais pensando em outras coisas, não mais importantes. Reparo na quantidade de mesas que o lugar tem, acho que em todas as vezes que vim aqui, nunca as vi completamente ocupadas, mas é de se esperar, afinal, esse não é o lugar ideal para um jantar em família. Reparo nas paredes do bar, é cheia de quadros com fotos de motoqueiros, questiono a mim mesmo se aqueles são os donos do bar, talvez. As paredes contam também com um guidão de moto, e um par de chifres, pendurado um em cada lado do lugar. É uma decoração um tanto quanto excêntrica, para não se dizer tola.
Peço uma segunda dose, e é quando um sujeito senta no banco ao meu lado, havia outros, mas ele sentou bem ao meu lado, isso quase me deixou puto. Ele pediu um Whisky puro, mas pelo jeito também não esta afim de papo, isso é bom. Continuo a observar o bar, e a curiosidade me força a observar o sujeito, mas não consigo ver muita coisa. Ele está com um chapéu preto, que lhe cobre todo o rosto, só o que é visível é uma cicatriz que ele tem na parte superior, que vai da parte de baixo do olho, até quase alcançar o pescoço. Não consigo ver seus olhos, nem o resto, a sombra do chapéu oculta tudo. Ele usa um sobretudo preto, botas pretas, sujas de lama, e respira calmamente, como, como se não estivesse respirando.
Aí o estranho acontece, o telefone do bar toca, o atendente atende e curiosamente chama o meu nome. Quem diabos saberia que eu estou ali? Eu não contei para ninguém, ninguém mesmo sobre esse bar, mas mesmo assim, vou adiante e pego o telefone. Silêncio, era só o que eu ouvia do outro lado da linha. Poderia ser um engano, ou uma pegadinha,mas não se ouvia nada do outro lado. Volto para o meu banco a beira do balcão. Percebo que o misterioso homem já sei foi. Mas espere, ele esqueceu sua carteira. Num gesto de bom caráter, deixo o dinheiro sobre o balcão e saio para fora para procurar o homem e devolver o que é seu. Assim que deixo o ambiente e saio porta a fora, o homem está saindo com sua moto, por uma pequena estrada de terra que fica atrás do bar. Pego o carro e o sigo.
Quando estava quase desistindo da "perseguição" o sujeito para, e desce da moto, mas deixa a mesma com o farol ligado. Deixo meu carro e vou em sua direção. Mas reparo uma série de coisas estranhas quando chego na moto. Primeiro,vejo o chapéu que o sujeito estava usando, jogado a frente, com manchas que no escuro, pareciam sangue. Depois, após caminhar um pouco mais a frente, vejo o sobretudo preto que o homem usava no bar, também com manchas de sangue. É quando olho mais a frente que vem o pior. O corpo do homem, já em decomposição, está a frente, não sei como aquilo era possível, mas pelo cheiro, já estava ali a dias, o mesmo homem, com a mesma cicatriz.

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