Eu não durmo direito a dias. Deito na cama e o sono simplesmente não vêm, ou quando vêm, não tenho coragem de pregar os olhos. Aquela sensação de estar sendo observado está sempre comigo, sempre. Meu sangue gela sem motivo nenhum, pelo menos sem motivo aparente, eu me arrepio, sinto brisas geladas, tenho visões, não sei o que pode estar errado comigo.

Começou depois da morte de meu avô. Digo isso pois, éramos muito apegados, acho que de alguma forma a morte dele me afetou por completo, creio nisso, é menos doloroso do que pensar que posso estar ficando louca. Sinto falta da cidade. Após o velório, vim para a casa em que meu avô morava. É um lugar afastado da cidade, por aqui só ouço o barulho da agua do riacho que passa por trás de casa. Porém a noite, eu posso ouvir todo tipo de barulho. Não ache que estou sendo tola, se lhe disser que até cavalos eu ouço. Não seria de se estranhar se meu avô estivesse vivo, ele amava os seus cavalos, cavalos esses que vendemos assim que soubemos de sua morte. Como eu sinto falta dos momentos da infância, quando vinha a sua casa e o via, andando em seus cavalos, com seu inseparável chapéu, feliz, infinito, nada podia faze-lo parar. O câncer infelizmente conseguiu.

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Não sei por mais quanto tempo terei de ficar aqui, sinceramente, nem todas as boas lembranças que tenho desse lugar estão sendo suficientes para que eu queira passar mais tempo aqui. Estou amedrontada, sem ter a quem recorrer. As coisas que acontecem aqui, não podem ser coisa da minha cabeça.

A cadeira de balanço entrando em movimento sozinha, sem o menor sinal de vento, as portas que constantemente se fecham num estrondo amedrontador. Os cachorros que começam a latir no meio da noite e não param, como se alguém os provocasse. Não queria ter que incomodar ninguém da família, estamos todos abalados com a morte, mas ficar aqui está ficando insuportável para mim.

Acordo com os altos latidos dos cachorros, penso ser mais uma daquelas noites, mas aí reparo o barulho de passos. Salto imediatamente do sofá no qual eu adormecera, e vou espiar pela janela. Há três homens rodeando a casa, os cachorros estão a toda garganta. Não sei o que fazer, meu sangue gela, um vento gelado corre minha espinha. A casa não tem telefone, meu celular está sem área. Meus olhos viram de nervosismo e medo.

É então que ouço o estrondo na porta da sala, cômodo no qual eu estou. Eles devem achar que não há ninguém na casa desde a morte de meu avô. Tentam mais uma vez sem sucesso. Eu já estava chorando quando escuto os gritos do lado de fora. Não sei o que pode ter causado tamanho assombro nos três homens, que saem correndo em direção a porteira. Eu respiro aliviada. Por um instante somente. O que teria dado tamanho susto nos três indivíduos, ainda estaria lá fora, eu me livrara de um problema e ficara com outro. Fosse o que fosse, teria de ir checar.

Com todo o medo que acho que uma pessoa pode sentir, destranco a porta, e sai na área da varanda. Não encontro ninguém, os cachorros estão em silêncio, isso me tranquiliza um pouco. É então que ouço o barulho da cadeira de balanço. Rangendo, aquele barulho amedrontador.

Lentamente, me viro, esperando encontrar alguém sentado nela, mas vejo algo que me amedronta ainda mais.

Sobre a cadeira, estava o chapéu de meu avô, e juro com todas as minhas forças, nunca esteve ali antes.