A Seleção Semideusa

Passeios e Joelhadas


P.O.V America

Maxon apareceu pontualmente no meu quarto às cinco da tarde do dia seguinte.

Ele me levou ao jardim, onde andamos agora.

– Em nome das aparências, poderia, por favor, segurar meu braço? – ele pede, enquanto passamos pela frente de um grupo de selecionadas, que param de falar enquanto passamos, mas quando vamos embora – posso ver pelo canto do olho – começam se aproximam novamente e começam a fofocar freneticamente, quase dá para ouvir o leve zumbido de suas vozes.

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– Sinto muito que ela não tenha chorado. – diz, após alguns segundos de um constrangedor silêncio.

– Não, não sente. – tentava deixar claro que não estava chateada em ter perdido.

– É verdade. – admite, sorrindo. – Nunca havia apostado antes. É divertido ganhar.

– Sorte de principiante. – eu sorrio para ele e ele retribui o sorriso.

– Talvez na próxima possamos apostar se ela ri.

– Acho que as reações de minha irmã a coisas da mansão não estão em questão. – digo, querendo não soar rude, porém, mentalmente fico me perguntando o que na mansão faria May se dobrar para a frente de tanto rir.

– Se você diz. – ele não parece muito contente com a minha resposta.

E o silêncio reina novamente e nenhum de nós parece muito disposto a mandá-lo para longe, dessa vez. Então simplesmente caminhamos lado a lado em silêncio, eu pensando em minha família, já com tantas saudades deles e Maxon perdido em seus próprios pensamentos.

Novamente, é ele que fala primeiro:

– Como é sua família?

– Como assim?

– Só isso mesmo. Imagino que ela seja bem diferente da minha.

Sorrio.

– É. Lá não podemos incinerar pessoas no almoço.

– Mas podem no jantar, certo? – ele diz, com falsa seriedade, sorrindo.

– Claro. – digo, revirando os olhos, porém sorrindo.

Ele sorri e eu penso que talvez, só talvez ele não seja realmente o esnobe que eu imaginei que fosse.

– Bem, para começar, eu sou a filha do meio em uma família de cinco irmãos.

– A irmã do meio de cinco! – ele exclama, parecendo surpreso.

– É... – digo, meio desanimada, não esperava que ele reagisse assim ao saber o tamanho da minha família. – Algumas famílias tem mesmo muitos filhos. Eu se pudesse teria vários.

– Sério? – ele ergue suas sobrancelhas.

– Sim.

Aquele era um sentimento muito íntimo. Eu mal o conhecia. Uma sensação de mal-estar e incerteza me ocorre, mas eu a afasto.

– Voltando à conversa: Kenna, minha irmã mais velha, está casada com um rapaz chamado James. Ele é legal... – paro, como se estivesse me esquecendo de algo. Então eu lembro: – Ah! E eles estão esperando um filho.

– Que bom! – ele fala, parecendo genuinamente feliz com isso. – Já sabem o sexo da criança?

– Infelizmente ainda não. Está muito no começo da gravidez ainda, mas menino ou menina, tenho certeza que será aceito e amado mais até do que cabe no coração deles.

Faço uma pausa e depois continuo:

– Depois vem Kota. Ele é um artista, saiu de casa cedo, sempre foi muito independente. Antigamente, éramos até ligados, mas hoje em dia mal o vejo. Ele nem sequer foi se despedir de mim quando fui ao Acampamento!

– Deve ser bem chato para sua família. – ele comenta.

– Você nem imagina o quanto. – eu respondo. – Depois de Kota venho eu.

– America Singer, minha melhor amiga. – ele completa alegremente.

– Isso. – sorrio.

Passo a mão em meu vestido. Ele é azul, feito para o fim da tarde, acetinado e de alcinhas. Continuamos a caminhar de braços dados o contato de meus braços nus com o fino tecido do terno de Maxon era levemente estranho, até porque, mesmo sem querer, dava para sentir os músculos por debaixo da roupa. Me perguntei porque malhava tanto, parecia o tipo de rapaz que passava seus dias no quarto, fazendo nada além de... nada. Talvez lendo, ou no computador, ou até mesmo jogando videogames, mas é claro que ele não deve fazer nada disso. Ele é um deus.

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– E depois?

– Depois vem May, a mocinha que me traiu e não chorou. – finjo estar emburrada e ele sorri. – Ainda não acredito que ela não chorou!

– Mas... – ele começa.

– Eu sei. Estou brincando, Maxon. Relaxe.

– Depois dela vem Gerad, o caçula de apenas sete aninhos. Ele adora jogar bola e estudar insetos e é um fofo. Bom, são eles.

– E os seus pais?

– E os seus pais? – rebato.

– Ora, você já conhece meus pais.

– Não. Não mesmo. Só conheço a figura Zeus e Tiquê. Na verdade, nem conheço muito bem Tiquê, não se ofenda, por favor, mas ela nunca foi uma deusa muito lembrada, falada, etc... Isso não é algo ruim, só...

– Eu entendo. – ele me corta. – Minha mãe não tem... como é que se fala mesmo? Glamour. Minha mãe não tem tanto glamour quanto outros deuses. – ele faz uma pequena pausa. – Como Apolo.

Olho-o levemente irritada. Se ele está sugerindo o meu suposto pai, ele não deveria tê-lo feito. Não me lembro de tê-lo dito sobre meu pai, mas se eu tivesse dito, provavelmente teria deixado claro que eu não me orgulhava muito de meu pai divino. Tampouco do relacionamento dele com minha mãe.

– O que foi? – pergunta, provavelmente percebendo minha cara de poucos amigos.

– Como você sabe que sou filha dele? – pergunto a primeira pergunta que vem em minha mente, apesar de me arrepender logo depois. Eu preenchi uma ficha com isso para poder estar aqui e ele é o motivo por eu estar aqui, é óbvio que ele sabe.

– A maioria das garotas me disse de quem era filha. As poucas que não disseram, tive que me informar. Você é filha de Apolo. Ou é pelo menos o que escreveu na ficha... Estou errado? – ele parece levemente preocupado.

– Não. Ele é meu pai. Infelizmente. – murmuro, meio a contragosto.

– Por que “infelizmente”? – ele parece realmente curioso, agora.

– Bem, para eu ser... “concebida”, minha mãe teve que... trair meu pai.

– Oh. – ele solta, provavelmente sem querer. Não entendo seu choque, ele também é fruto de uma traição. – Desculpe. Sei como se sente, apesar de Hera nunca ter sido uma boa madrasta.

– Pois meu pai foi um pai maravilhoso e ainda não me conformo em não ser filha dele. Minha mãe não tinha o direito de traí-lo. Minha mãe não tinha o direito de fazê-lo sofrer. Minha mãe não tinha o direito de me ter feito não ser filha dele. – e sem perceber, algumas lágrimas rolam por minha bochechas.

Maxon parece bastante desconfortável. Talvez sejam minhas lágrimas ou meu desabafo íntimo demais para um “primeiro encontro”, devo estar assustando ele.

– Desculpe. – digo, enquanto limpo meu rosto. – Você está bem? –lhe pergunto quanto ao meu choro.

Você está bem? – ele replica.

“Não”, desejo dizer, porém...

– Você fica confuso confuso com choros de mulheres e eu com caminhadas ao lado de deuses. – digo, tentando fazer graça.

Maxon ri e continuamos a andar por alguns minutos. Caminhávamos para oeste, para onde eu gostaria de ter ido na primeira noite. O sol se punha, apesar de ainda ser cedo. Parecíamos estar realmente sozinhos, longe da mansão e dos ouvidos atentos das outras selecionadas.

– Por que eu a deixo confusa? – ele me pergunta.

– Seu caráter, suas intenções. Não sei realmente o que pensar dessa nossa pequena voltinha.

– Acho que você já deve ter percebido que eu não sou o tipo de homem que se esconde. Vou dizer exatamente o que eu quero de você.

Ele parou de andar e me encarou. Estávamos bem próximos. Ele deu um passo na minha direção.

Parei de respirar. Aquela era a situação que eu mais temia. Depois da inconveniente recomendação do Sr. D., havia ficado bastante receosa quanto ao príncipe...

Ele deu outro passo na minha direção e minha perna agiu por um impulso. Sim. Eu acabo de dar uma joelhada na coxa de Sua Alteza Real Olimpiana. Com força.

Seria mandada embora. Ou pior, incinerada viva.