Com Amor não se Brinca

Jogo confuso.


O final de semana havia acabado com um tratado simples de paz entre Brian e Letícia, conseguiram ficar pelo menos um dia sem se atracarem, tiveram discussões pequenas para não perder o costume, mas nada além.
Os ingressos para o show do Bullet for my Valentine já estavam comprados, só restava esperar com que a dura semana passasse e que o show finalmente chegasse.
- Syn? O que aconteceu com o seu rosto? – perguntou Juliana, se aproximando de Brian, lhe dando um beijo no rosto.
- Ahhhn... – Brian ficou focalizando Letícia ao longe. – A Letícia... me bateu. – admitiu por fim.
- O QUE?! COMO?! – Perguntou Juliana, em pânico. – Por que essa louca te bateu?! Você está com a cara toda roxa...
- Calma, calma... A gente passa o final de semana no mesmo prédio, o pai dela está morando onde eu moro, por isso... – Brian tentou acalmar Juliana.
- Por que não me contou isso? – Juliana se afastou cruzando os braços.
- Precisava? – Brian a olhou com um sorriso sem graça.
- Lógico! Estamos juntos, não estamos? – Juliana o encarou.
- Sim. – respondeu Brian, sem emoção.
- Então você deveria me contar.
- Está bem. – Respondeu Brian, revirando os olhos. – Você vai ao show do Bullet conosco? – perguntou na tentativa de mudar de assunto.
- Não. – respondeu Juliana, diretamente. – Você me disse que eu não precisava mais ficar fingindo ser quem eu não sou para me sentir incluída...
- Entendo...
- Por isso eu não vou. – Juliana esboçou um sorriso. – Acredito que... Vai ser melhor pra eu começar a mostrar quem eu sou de verdade, e eu devo isso á você. – Juliana o apertou em um abraço, encostando a cabeça em seu peito.
Brain simplesmente retribuiu o abraço sem muita emoção.
- De nada. – respondeu, sem graça, se sentindo completamente perdido.
- Agora eu vou dar uma bronca na Le por que ela te bateu... – Juliana se afastou rapidamente e saiu andando.
- O QUE?! ESPERE! – Brian saiu correndo atrás de Juliana desesperado.
Juliana foi até Letícia, cutucando-a pelas costas.
- Oi Ju. – Letícia que estava conversando com João e Mariana, se virou para Juliana. – Oi Syn. – o cumprimentou com uma milagrosa educação.
- Por que está chamando ele assim? – Juliana a encarou. – Você bateu nele!
De repente, todos estavam encarando Letícia, boquiabertos.
- PARA! – resmungou Letícia, percebendo os olhares assustados.
- Calma, calma. – Dizia Brian, interferindo. – Ela não me bateu. – mentiu, claramente.
- Você acabou de me falar...
- Sh. – Brian silenciou Juliana. – Não literalmente... Foi sem querer, a Letícia é tão burra coitadinha... Ela estava... – Brian tentava encontrar alguma história que não deixasse claro de que ele apanharia de mulher com facilidade.
Letícia simplesmente cruzou os braços, focalizando Brian.
- Ela... Estava chorando... Por que ela ficou sem chicletes no final de semana e então... Ela começou a se jogar no chão, chorando, em prantos e eu fui ajudar, e acabei levando alguns golpes, mas tudo por que a Letícia é uma chorona.
João também cruzou os braços e franziu o cenho, estava obvio em sua face que ele não acreditou em nada que Brian dissera.
- QUE MENTIRA! – Dizia Mariana, gargalhando. – Eu não consigo imaginar a Letícia fazendo isso...
Letícia apenas o encarou, com a face alegre, talvez fosse melhor Brian dizer aquelas coisas do que contar a todos como a jovem era bruta.
O sinal tocou, todos se viraram em direção aos corredores para ir até a sala.
Letícia e Brian caminhavam mais atrás.
- Você não costuma ser muito criativo, não? – Letícia zombava.
- Que milagre... Você não está brava comigo...
- Estamos quites, eu te bati, e você me fez passar papel de lunática... Eu nunca te falei que eu era viciada em chicletes.
- Não precisa nem falar, Le. – Brian esboçou um largo sorriso, olhando a jovem com os olhos brilhantes.
- Bom, a sua história favoreceu a nos dois pelo menos, as pessoas não vão ficar com medo de mim por que o seu rosto está cheio de hematomas, e você não vai ser zoado por que uma menina é mais esperta que você...
- Da onde você tirou que é mais esperta do que eu? – Brian cruzou os braços, se posicionando á frente da jovem, impedindo sua passagem.
- Isso é fato. – Letícia o empurrava para trás, tentando passar.
Brian apenas ria, enquanto eles caminhavam até a sala de aula.

Pela semana, não acontecera nada de novo, além do fato de todos perguntarem o que Brian fez para aparecer pela escola com hematomas por todo o rosto, e cada hora o jovem inventava uma desculpa diferente, tentando ser cada vez mais convincente, porém a cada história, Letícia interpretava a jovem inocente, indefesa, papel que não lhe fazia muito o estilo, e obviamente, poucos que acreditavam.
Letícia apenas se divertia com as histórias estranhas que Brian contava, porém Brian, não era o único que tinha historias para contar.
- Ju. – Letícia se aproximou de Juliana, em um dos intervalos. – Posso falar com você?
- Pode... – Juliana respondia, sem emoção.
- Ju... Você está gostando mesmo do Syn?
- Por que a pergunta? – Juliana olhou para a jovem, assustada. – Ele te disse alguma coisa?
- Não... – Letícia se aproximou da amiga, para olhá-la nos olhos. – Eu te conheço, e sei que você não vai me dar ouvidos, mas mesmo assim preciso fazer meu papel de amiga... Cuidado com o Syn, ele pode ser legal, pode ser o que for... Mas toma cuidado para ele não te machucar, a antiga Juliana, já teria dado um fora dele há muito tempo e procurando uma nova vítima, isso sim.
Juliana apenas ficou encarando a amiga, pensando naquelas palavras.
- Por que está me perguntando isso? – Juliana franziu o cenho.
- Eu percebo as pessoas, e eu percebo o Syn... Só estou te pedindo para tomar cuidado com ele está bem?
- Le... Talvez eu esteja gostando dele sim. – Admitiu Juliana.
- O que?! – Aquela frase era a que Letícia mais temia. – Ju...
- Eu vou tentar tomar cuidado com ele... Prometo. – Juliana lhe dava um meio sorriso.
Letícia retribuiu o sorriso, se sentindo completamente culpada pelo pequeno beijo do qual Brian lhe dera, principalmente suas palavras, ele não considerava o que tinha com Juliana algo sério. Juliana tinha que se cuidar.

Sexta-feira. O sinal anunciava a saída.
- Alo? – Letícia atendia o telefone.
- Oi Le.
- O que foi, Priscila?
- Não vou poder buscar você e o Brian no colégio hoje... Tenho que ficar na faculdade, arrumando meu portfólio...
- Entendo. – Letícia respondeu, tediosa. – Terei que ir andando...
- Desculpe, vou ficar te devendo essa...
- Tudo bem, não se preocupe, beijos.
Rapidamente, Letícia foi procurar Brian, que estava sentado, conversando com Juliana, suas faces não estavam muito boas.
- Desculpa interromper... – Letícia se aproximava lentamente. – Syn, minha irmã vão virá nos buscar, teremos que ir embora andando... A menos que você tenha outras formas para se locomover... Até lá, já estou indo embora, estou faminta.
- Não, tudo bem, eu já estou indo. – Brian dizia sério, se levantando do banco e se despedindo de Juliana como se eles fossem simplesmente amigos.
Letícia apenas observava a cena, boquiaberta.
- Tchau, Brian. – respondeu Juliana.
Letícia sentiu um forte aperto no peito, vendo o olhar triste da amiga, rapidamente se aproximou para se despedir.
- Quero falar com você depois. – sussurrou em seus ouvidos.
Juliana, porém, nada respondeu, simplesmente se despediu de Letícia e foi embora.
Brian e Letícia começaram a caminhar pelas ruas, em silencio total.
- ESTÁ BEM, CHEGA EU NÃO AGUENTO MAIS ISSO! – resmungou, Brian.
- O que foi, seu louco? – Letícia o olhava.
- Olha só quem fala de loucura. – Brian, revirou os olhos. – Por que você não me xinga? Não me chama de idiota? Ou implica comigo?
- Como é? – Letícia se virava para ele franzindo o cenho.
- É por causa da Juliana? Eu já terminei com ela...
- O QUE?! – Letícia fitou os olhos no rapaz.
- Como?
- POR QUE VOCÊ TERMINOU COM ELA, BRIAN?! – O tom de voz de Letícia, de repente se alterou.
- Brian? – Brian olhava assustado. – Não me chama assim, vai...
- Por que você terminou com a Juliana?
- Ela me disse... “Eu te amo”.
- E você tem algum problema com isso? – Letícia continuava encarando o jovem.
- Você fala como se eu tivesse cometido um assassinato, e eu sei que você me tratava bem por causa dela e tals... Letícia, eu percebo as coisas.
- Como é?
- Eu te beijei, você ficou com a consciência pesada, quis ficar minha amiga pra ver a Juliana feliz, pra ela não sofrer comigo... – Brian agora, era quem encarava Letícia. – Mas mesmo assim você ficou com o pé atrás... Eu sei que você disse pra ela tomar cuidado comigo... Por quê?
- Você não é confiável... – Letícia não hesitou o olhar. – Eu percebi que ela estava gostando de você, e aquela sua boca nojenta na minha só me fez me sentir mal.
- Aposto que você gostou. – Brian dava um sorriso descarado.
- Brian, não tenho mais motivos pra tentar ser legal com você, então agora eu posso voltar a te odiar á vontade.
- Para com isso... Você ficou com remorso por que me bateu também... E até que a gente estava se dando bem.
- Mas eu não estou falando da gente, Brian, eu estou falando da Ju...
- Devia ter avisado ela antes. – resmungou Brian. – Eu fiquei com ela por que eu quis te provar que não era gay, e depois falei que ia ficar com ela por que ela era gostosa, a culpa é sua se você deixou ela ficar se iludindo...
- EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO UMA COISA DESSAS! – Letícia, novamente voltou a berrar, irritada. – Você é nojento!
- Para! Se eu fosse tão nojento assim, ainda estaria com ela.
Letícia se calou.
- Eu não sou tão monstro assim, não fiquei com ela por causa de sentimentos e muita gente é assim, você também deve ser... Ela quis ficar comigo, eu fiquei, a culpa não é minha que todas se apaixonam por mim.
Letícia caiu na gargalhada.
- O que foi?
- Acabo de descobrir que eu sou NINGUÉM!
- Vai falar que não ficou encantada comigo quando me viu? – Brian deu um sorriso meigo, não falava como se estivesse provocando, e sim como se estivesse espreançoso.
- NÃO! – Letícia falou, claramente. – Nenhum pouco, você me chamou de nerd, isso me irrita.
- Você lembra... – Brian continuava sorrindo.
- Eu lembro por que isso me irritou...
- Sei...
- Brian, a Juliana está chateada agora...
- Não sei por que se preocupa tanto com ela... Ela disse que você trata as pessoas como bem entende, que ela se sente sufocada perto de você... Você é inacreditável sabia...
- Não duvido que ela diga coisas assim... – Letícia baixou a cabeça. – Mas eu sou assim...
- Pare de se preocupar á toa, se eu fosse tão monstro assim, ainda estaria iludindo ela...
- Pelo visto você estava com saudades deu te xingando...
Brian, porém apenas ficou olhando para o horizonte, paralisado.
- Brian? – Letícia tentava chamar sua atenção.
- Droga, isso que dá ficar no meio da rua conversando, tem dois caras nos encarando, melhor a gente andar. – Brian abraçou Letícia, pelos ombros e começou a caminhar.
- Não precisa bancar o protetor... – resmungou Letícia, tentando se soltar.
- SH!
Letícia continuou caminhando com Brian, que às vezes se virava para trás caminhando mais rápido, até que os dois caras, começaram a correr atrás deles, barrando-os.
- PASSA A GRANA! – berrou o mais alto.
Letícia apenas encarava os rapazes, sem se mover.
- Letícia, sai andando, não tem problema, eu fico aqui com eles. – Sussurrou Brian, nos ouvidos da jovem.
- Cala a boca, eles nem estão armados. – disse Letícia, sem se intimidar.
- Eu tenho que te proteger...
- Vai proteger a sua avó. – resmungou Letícia.
- Ainda bem que a educação existe. – agora eles não sussurravam mais.
- EXISTE SIM! – disse Letícia.
- DÁ PRA PARAR DE GRACINHA?! ISSO É UM ASSALTO PORRA!
- VAI SE FODER! – berrou Letícia.
De repente, o rapaz mais baixo, tirou um canivete do bolso.
- PASSA A PORRA DA GRANA! SUA RUIVIDA ESCROTA!
- Ei! – Brian se posicionou. – Tomem meu dinheiro, levem tudo.
- SAI! NINGUÉM ME CHAMA DE ESCROTA!
- Olha cara, melhor você conter a sua namorada, se não eu passo esse canivete em vocês! – berrou o mais baixo.
- EU NÃO NAMORO ELE! – Letícia berrou irritada. – Que raiva...
- Toma! Já estou dando o dinheiro. – Brian jogava o dinheiro nos assaltantes.
- NÃO INTERESSA, ESSA MENINA FOI MUITO FOLGADA COM A GENTE!
- EU?!
- CALA A BOCA! – berrou o mais alto. – PASSA O TENIS, A CALÇA, A CAMISA, A BOLSA...
Letícia começou a encarar um dos assaltantes, irritada, conforme ele gritava e empurrava a moça, foi se irritando cada vez mais.
- PARA DE BERRAR QUE EU NÃO SOU SURDAAAA! – berrou Letícia, virando um soco no olho de um dos assaltantes, que caiu para trás.
Brian olhou boquiaberto, o assaltante mais baixo aproximou, apontando o canivete para Letícia que estava se recuperando do soco que dera, antes mesmo do assaltante lançar a facada em Letícia, Brian segurou o braço do rapaz por trás, arrancando o canivete e suas mãos.
- VÃO EMBORA! – berrou Brian, apontando o canivete.
O assaltante mais baixo, rapidamente começou a recuar, até finalmente sair correndo. Enquanto isso o outro assaltante, já havia recuperado a consciência, se erguendo lentamente, pronto para atacar Brian, porém Letícia, tentou lhe dar outro soco, porém o assaltante segurou seus braços.
Brian tentou ajudar, porém antes mesmo que conseguisse, Letícia deu uma cabeçada no rapaz, ficou um pouco zonza, mas não pode deixar de finalizar com um chute no estomago, Brian a ajudou chutando as costas do assaltante com força, que ficou desmaiado.
- AI MEU DEUS! – Letícia berrou assustada.
- CORRE! – disse Brian, pegando sua mão.
Letícia e Brian correram em silencio, feito loucos, até a chegada no prédio.
- VOCÊ É LOUCA! – berrava Brian, pálido. – VOCÊ QUASE MATA A GENTE!
- Des...
- DESCULPA?! E SE ELE ESTIVESSE ARMADO? – Brian se aproximou bruscamente, segurando o rosto da jovem com força, obrigando-a olhar dentro de seus olhos. – SE TIVESSE ACONTECIDO ALGUMA COISA COM VOCÊ, LE... – Brian tentava recuperar o fôlego.
- Calma! Não aconteceu nada, está bem? Eu vi que eles não estavam armados, e não pensei que você fosse tão frouxo assim... ELES NÃO ESTAVAM ARMADOS! – Letícia tentava se defender.
- Canivete é uma arma... MATA E MACHUCA! – Brian dizia histérico ainda segurando o rosto de Letícia próximo do seu. – Eu deixei um cara inconsciente no meio da rua...
- Ele nos deixaria da mesma forma e nem ligaria. – Letícia deu de ombros.
- Eu não sei o que você tem na cabeça... – resmungou Brian, largando seu rosto e a puxando para um abraço forte. – Nã... Não faz mais isso. – Brian estava tremulo.
- Desculpa. – Dizia Letícia retribuindo o abraço. – Sério, eu não pensei, eu nunca fui assaltada e eu odeio essas coisas, é muito injusto, a gente trabalha pra conseguir o que tem, se não for a gente, nossos pais e esses caras vem e roubam tudo...
- Concordo, mas você não pode fazer isso Letícia... Como você poderia ter certeza de que eles não estavam armados? Se não fosse por mim, aquele cara te acertava com o canivete.
- Brian, eu sei me defender, eu bati até em você...
- Não, você é só uma nanica de muita sorte, essa coragem toda pode acabar te prejudicando... Tem aqueles caras metido a machão que só ferram com os outros, você quer ser metida a machona?
- Não. – disse Letícia, se reprimindo à voz de autoridade de Brian, como se estivesse dando bronca na jovem, porém ainda assim, segurando-a em um forte abraço.
- ENTÃÃÃO! Pelo amor de Deus! Não faz mais isso... Eu não sou frouxo, eu sou esperto... Eu te disse que era mais esperto...
- Ai Brian, não começa, esse seu sermão já me deixou com medo do que poderia ter acontecido...
Brian rapidamente se afastou do abraço, segurando a maça do rosto de Letícia.
- Está tudo bem agora. – garantiu. – Tudo bem que eu tenho medo de você... Mas está tudo bem.
- Eu sei. – Letícia o olhava. – Eu que devia falar isso pra você, está tremendo mais do que eu. – Letícia dava uma leve risada.
Brian finalmente já se recuperou da tensão, um sorriso meigo se estampou em seu rosto pálido, notava-se ele estava feliz por ter Letícia bem à sua frente, como uma garotinha levada que precisava de cuidados, o sorriso se apagou para uma face levemente relaxada, era impossível entender o que se passava em sua cabeça naquele momento, então Brian simplesmente abraçou Letícia novamente.
- Você me surpreende. – Sussurrou mais para si mesmo do que para a jovem. – Você realmente não é como as... – Parou por ali. – NÃO! – berrou se afastando de Letícia, e jogando os pensamentos para fora.
Ele não podia se render, não podia ter terminado a frase, não podia perder, por mais que seu coração pulsasse.

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