Presa

Mindy abriu os olhos tentando entender o que estava acontecendo. Ela tentou olhar a volta, mas a escuridão era tanta que ela não tinha certeza se olhos estavam de fato abertos. E, como se não bastasse, até o vazio da escuridão estava rodando.

Ela podia não saber onde estava ou como havia chegado ali, ela não sabia nem para que lado era a direita ou esquerda, mas ela sabia que sua cabeça doía. Muito. Tentava se mexer, mas seu corpo, quando respondia, parecia fazê-lo contra vontade. Cada movimento causava uma nova dor e, por isso, ela permaneceu parada por muito tempo.

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Aos poucos, alguns dos sentidos voltavam, e ela pôde perceber que estava deitada, e que seus pulsos e tornozelos estavam firmemente amarrados. O atrito das cordas estava ferindo sua pele. Percebeu também irregularidades na superfície dura onde estava, e o cheiro denunciou que ela estava em um chão de terra.

Algum tempo se passou enquanto ela se acostumava com a dor e com a falta de mobilidade. Sua visão ainda estava embaçada, mas ela já conseguia perceber pequenos feixes de luz, vindo das bordas de uma figura retangular, num canto da escuridão, o que ela deduziu ser uma porta. Não parecia ter nenhuma outra entrada de luz, nenhuma outra janela para melhorar a visão dentro do local, e pela própria fresta da porta entrava pouquíssima luz, o que dificultava muito determinar o que realmente era aquele lugar.

Ela conseguia ouvir pequenos ruídos que pareciam vir do lado de fora, perturbando o silêncio sereno do que parecia ser uma noite calma. O som do vento em folhas das arvores, alguns insetos e pássaros, mas nenhuma voz humana. Isso parece ser uma floresta– deduziu a menina - mas está tudo tão quieto. Como foi que eu cheguei aqui?

Então as lembranças começaram a voltar a sua mente e ela assistiu a tudo como se assistisse a um filme borrado. Ela se lembrou da invasão e das demandas dos seqüestradores de quem ela não conseguia lembrar o nome. Eles queriam que ela os levasse até o campeonato para que eles pudessem pegar um eevee. Ao entender de que se tratava do Eevee de Dave, ela se recusou e lutou contra eles. Mas quando sua amiga foi atacada, ela se distraiu e foi vencida. Ela só conseguia se lembrar de ter recolhido seu Charmander antes que o Doduo o machucasse mais. Ao se lembrar do Charmander ela rolou no chão procurando sentir sua pokebola na cintura, mas seu cinto estava vazio. Onde está o Charmander?! O que fizeram com meu Charmander?!

Mindy ficou deitada por muito tempo, desesperada, rolando de um lado para o outro, tentando se desprender para começar a procurar seu primeiro companheiro pokemon, mas tudo foi em vão. Se foram dias ou horas ela não sabia dizer, mas no fim, o cansaço e a dor a venceram e, sem forças, ela voltou a dormir.

Acordou de repente com mais ruídos vindos do lado de fora do que agora parecia ser uma cabana. Tudo estava bem mais claro e ela conseguia ver que a cabana era feita de madeira. Sua cabeça ainda doía, mas não tanto quanto antes, e seus sentidos pareciam ter voltado definitivamente.

Os ruídos continuaram. Eles pareciam vozes humanas, mas era impossível compreender o que estava sendo dito. Se ela estivesse em condições normais, muito provavelmente ela não teria feito o que fez, mas o desespero da situação fez com que ela agisse irracionalmente.

– SOCORRO! ALGUEM ME AJUDA! – gritou, esperando que quem quer que fosse que estivesse do lado de fora a conseguisse ouvir.

Mal ela acabou de gritar e a porta se abriu com um ruído forte e duas pessoas entraram: um homem de cabelos brancos como a neve e uma mulher com o cabelo roxo em dois rabos de cavalo.

–Parece que nossa convidada especial acordou. – Disse Jody com um pequeno sorriso no canto da boca.

– Por que vocês mulheres tem que ser tão barulhentas e escandalosas?! – perguntou Jack recebendo um olhar desaprovador de sua companheira.

Mindy se assustou com a entrada inesperada dos dois e ficou calada enquanto eles falavam. O desespero que ela sentia começava a voltar e ela tentava ao máximo continuar calma.

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–Me soltem! Por favor, me deixem sair! O que vocês querem de mim? – Perguntou Mindy, tentando sem sucesso manter sua voz sob controle.

– De você nós não queremos nada querida. – debochou Jody – Só queremos que você fique aqui e se comporte como uma boa menina. Logo, logo tudo isso será passado.

–Como assim vocês não querem nada de mim? Por que vocês me trouxeram até aqui? O que vocês vão fazer comigo? ONDE ESTÁ O MEU CHARMANDER?! – Disparou Mindy em uma velocidade incrível. Ela tentava falar direito e controlar os seus pensamentos, mas estava tendo dificuldades. Seus olhos lacrimejavam, mas ela prometeu a si mesmo que iria manter a compostura frente aos dois bandidos.

–Nossa! Quantas perguntas! – disse Jack sorrindo. – Se eu fosse você menininha, eu ficava quieto. Não sei se você percebeu, mas quem está no comando aqui somos nós. Quanto a seu pokemon, fique tranqüila. Ele está sob cuidado da Equipe Rocket agora e nós estamos nos encarregando de seu treinamento. Logo, logo ele estará nos obedecendo e fará parte de nosso grupo.

Nessa hora Mindy não agüentou e suas primeiras lágrimas escorreram pelo seu rosto. A imagem de Charmander fazendo parte de uma organização criminosa lhe trouxe uma mistura de desespero e raiva que tomou conta de seu corpo. Ela não conseguia mais pensar em nada, apenas em se soltar e acabar com essa tal de Equipe Rocket. O que eles querem comigo? Por que logo eu? O Charmander não merece fazer parte de uma organização como essa! Isso não pode estar acontecendo!

–Bem menininha, nós não podemos ficar aqui por muito tempo. Agora fique aqui quietinha e não saia da cabana – disse Jody sorrindo, enquanto Mindy continuava incessantemente lutando com as cordas, as lagrimas ainda escorrendo de seu rosto.

–Como se ela tivesse opção – completou Jack sussurrando.

Com isso, os dois saíram deixando Mindy aos prantos. Seus pulsos e tornozelos começavam a sangrar, mas nada mais importava naquele momento. Ela estava desesperada para salvar seu pokemon e ao mesmo tempo se sentia completamente impotente. Mais uma vez ela voltou a gritar, dessa vez, o mais alto que pôde, não por que tinha esperanças de quem alguém a ajudasse, mas por que o desespero, cada vez mais, tomava conta.

– ME TIRA DAQUI! ME TIRA DAQUI AGORA! ALGUEM ME AJUDA POR FAVOR!!

As lágrimas escorriam enquanto ela gritava e se debatia no chão. Sua voz foi perdendo força e as lágrimas não paravam de escorrer. Já exausta, ela parou de gritar e ficou no chão, tentando entender o que estava acontecendo. Nada disso fazia sentido.

Foi então que ela conseguiu entender o que estava sendo dito pelos bandidos, aparentemente sentados ao lado de fora da cabana.

– Parece que ela cansou de gritar – dizia a voz de Jody, ao longe – Se nada acontecer hoje teremos que provocá-la mais uma vez.

– Ela é uma menininha Jody – Disse Jack – Não se preocupe, logo ela volta a gritar e alguém vai escutar.

– Tomara Jack, quanto mais rápido recuperarmos aquele Eevee, mais rápido nós seremos o braço direito do chefe. Desde que ele fugiu o chefe não fala de outra coisa.

– Sorte nossa que ele resolveu fazer amizade com um menininho qualquer. Nossa promoção está prestes a acontecer. – Disse o Jack – Fique de guarda Jody, eu vou tirar um cochilo.

Foi ai que Mindy começou a entender o que estava acontecendo. As peças do quebra-cabeça começavam a se encaixar. E ela não gritou mais. Ela precisava pensar.