Meu nome é Hiccup. Há quinze anos vivo aqui, numa ilha fria coberta de gelo na maior parte do ano onde as pessoas parecem não apreciar muito coisas como diversão, ou ao menos mudar um pouco suas rotinas. Por mim, o pior lugar da terra, mais conhecido como Berk.

A verdade é que nosso povo vive cercado pelo medo. Pelo medo do desconhecido além da água que nos cerca, medo de em algum momento ver tudo perder a vida e acabar coberto no gelo. Isso tudo aos meus olhos, é claro, porque eu tinha de tirar algo de todas aquelas horas ouvindo sermões intermináveis de meu pai. Às vezes, e por ''às vezes'' quero dizer sempre, só desejo que não tivesse nascido filho do chefe da ilha.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Não há muito o que fazer por aqui - tirando treinos para lutas sem motivo, caça e pesca e a produção de armaduras, todos bem sem graça principalmente para gente da minha idade -, e o que nos deixa realmente animados são algumas histórias contadas pelo povo. Entre um jovem e outro, é comum passar e ouvi-los trocando alguma ideia sobre o assunto, mas é durante a noite, quando temos a chance de observar a lua e aproveitar a brisa fresca do mar antes de tudo cobrir-se em névoa, que as pessoas mais velhas se reúnem para contar suas histórias.

Não sabemos o que é verdade e mentira, se são apenas lendas ou alguém realmente viu de fato um dragão sobrevoar nossos rebanhos de ovelhas e coisas do tipo. Eu nem sei se sou o único que realmente consegue ver uma essência real nisso tudo, mas já está claro que é a nossa parte favorita de viver em Berk.

Quando eu tinha cerca de oito anos, ouvi meu pai, Stoico, contar uma história num fim de tarde durante o inverno rigoroso. A neve cobria os telhados de nossas casas numa camada grossa e pesada, e eram necessários vários casacos de pele porque só o calor da fogueira não fazia muito mais do que assar um peixe até termos de acendê-la novamente. Lembro-me de como ele sorria e parecia esquecer-se do frio por uns instantes. Eu me agarrava aos seus braços enquanto a vila à nossa volta prestava atenção a cada palavra.

Ele disse que antes dele, seu pai havia contado que seu pai havia lhe dito que o povo de Berk, assim como de outras ilhas vizinhas eram protegidos pelo que chamavam de guardiões. Ele dizia que cada pessoa possuía um guardião, eram como anjos, conselheiros, amigos. Mas com o tempo, não foram capazes de impedir desentendimentos e guerra, e o povo caiu na descrença daquelas criaturas. Eles não sabiam se os guardiões tinham ido embora, mas seja o que fosse, não conseguiam mais vê-los. Papai disse que Berk não fora sempre assim, e foi depois do medo entrar na vida da população que o gelo cobriu nossa ilha.

Não sei bem o quê, mas a partir desse dia, fui encantado por nossas histórias. Muita gente as usavam para explicar fenômenos da natureza e outras perguntas que não tínhamos certeza de como responder, o que acontece muito por aqui, mas de algum modo, foi o conto mais real que já me contaram. Existe algo nessa história que faz com que até hoje eu implore para meu pai que me conte só mais uma vez, e algo que deixa um frio correndo por minha espinha. Há um motivo para não conseguirem mais vê-los, eu não acredito que uma briga faria guardiões desaparecerem, com certeza eles ainda estavam por aqui. Têm de estar.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.