o passado mora ao lado

Capítulo Único


O céu se acende com os fogos de artifício. Ao longo da praia, gritos e comemorações me fazem lembrar de que não estou sozinha. Só por essa noite, pela virada do ano, me permiti deixar o apartamento, descalça, e sentar-me na areia para observar.

A vida? Os fogos? As desconhecidas pessoas alegres ao meu redor? Não sei ao certo. Você nunca gostou de multidões, mas costumava fazer isso por mim. Todo fim de ano dávamos as mãos e caminhávamos pela praia; conforme anoitecia, escolhíamos um ponto estratégico para nos escondermos e observarmos as luzes sem sermos incomodados.

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Observo o espaço vazio ao meu redor, e meu coração parece apertar por um instante. Ainda lembro como se fosse ontem: seus cabelos escuros e sorrisos suaves guardados apenas para mim. Sua pele pálida, macia e quente sob o toque de meus dedos trêmulos. Seus lábios rosados e finos traçando padrões que eu nunca pude entender, gravando memórias como cicatrizes em meu corpo. As sensações ainda permanecem. Constantemente me encontro voltando as costas para a porta, pensando ter ouvido o som de sua voz. Pensando ter tido um vislumbre, visualizado uma sombra, persigo por ruas desconhecidas e esquinas o que creio ser uma recordação sua. Encontro-me sempre sozinha ao fim da noite, encolhendo-me em lençóis frios e esperando sua presença para me aquecer.

É vazio sem você. E ainda assim, ainda que o escuro permaneça, você nunca volta. Nunca responde. Seus olhos escuros carinhosos nunca me observam pela fresta da porta.

É triste sem você. Mesmo as luzes, embora tenham me empolgado no começo, não mudam isso. Queria você. Queria me afogar no oceano que é você; só mais uma vez, queria poder respirar seu amor. Venerá-lo, beijá-lo, tocá-lo. A saudade nunca vai acabar? Porque não sinto como se pudesse viver mais um minuto sem você. E o sentimento de não pertencer? Dizem que casa é onde o coração está; meu coração estava com você, e foi levado embora — um lugar distante onde não posso alcançá-lo. Você era fogo, Uchiha Sasuke, e eu me entreguei às chamas de você. As queimaduras permanecem; eu não consigo acreditar que serei capaz de me livrar delas algum dia.

O Ano Novo deveria mudar isso. Deveria fazer com que eu me sentisse melhor, segura, completa. É hora de recomeçar, não é? Nos primeiros minutos após a meia-noite: devo me desconstruir e me permitir que os novos ares me transformem. Devo deixar de ser quem era, e me tornar uma nova garota; um novo eu.

A única coisa que muda é a falta que você faz. Antes havia esperança — talvez mais um minuto, uma hora, um dia. Eu acreditava que você apareceria a qualquer instante, sorriso presunçoso em lábios e olhos brilhantes. Eu acreditava que voltaríamos a ser as pessoas que sempre fomos juntos. A verdade é que eu não sei viver sem você. Desaprendi a solidão. Apeguei-me ao calor, aos abraços, à seus dedos segurando os meus.

E agora não me resta nada além de lembranças amargas.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.