As vantagens do silêncio
Prólogo
Eu já havia escrito muitos poemas em minha vida, mas aquele foi diferente. Talvez tenha sido um pouco revelador demais, mas senti que precisava escrevê-lo mesmo assim. Geralmente, não escrevia sobre sentimentos muito profundos, pois não queria pensar sobre eles, e escrever me exigia refletir sobre o que estava sentindo. Mas decidi parar de mentir para mim mesmo e encarar minhas próprias emoções.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Em uma folha de papel amarelo com linhas verdes
Ele escreveu um poema
E o intitulou “Chops”
Porque era o nome de seu cão
E era o que estava em toda parte
E seu professor lhe deu um A
E uma estrela dourada
E sua mãe o abraçou à porta da cozinha
E leu o poema para as tias
Era o ano em que o padre Tracy
Levava todas as crianças ao zoológico
E ele deixou que cantassem no ônibus
E sua irmãzinha tinha nascido
Com unhas minúsculas e nenhum cabelo
E sua mãe e seu pai se beijaram tanto
E a garota da esquina mandou para ele
Um cartão de dia dos namorados assinado com vários X
E ele teve de perguntar ao pai o que significava X
E seu ai deixou que ele dormisse na sua cama à noite
Era sempre lá que ele dormia
Em uma folha de papel com linhas azuis
Ele escreveu um poema
E o intitulou “outono”
Porque era o nome da estação
E era o que estava em toda parte
E seu professor lhe deu um A
E o pediu para escrever com mais clareza
E sua mãe não o abraçou à porta da cozinha
Por causa da pintura nova
E as crianças disseram a ele
Que o padre Tracy fumava cigarros
E largava as guimbas no banco da igreja
E às vezes elas faziam buracos
Que era o ano de sua irmã usar óculos
Com lentes grossas e armação preta
E a garota da esquina riu
Quando ele pediu para ver Papai Noel
E os garotos perguntavam por que
A mãe e o pai se beijavam tanto
E seu pai não o cobria mais na cama a noite
E seu pai ficou furioso
Quando ele chorou por isso
Em um pedaço de papel de seu caderno
Ele escreveu um poema
E o intitulou “inocência: Uma questão”
Porque a questão era sobre uma garota
E isso estava em toda parte
E seu professor lhe deu um A
E um olhar muito estranho
E sua mãe não o abraçou à porta da cozinha
Porque ele nunca o mostrou a ela
Foi o primeiro ano depois da morte do padre Tracy
E ele esqueceu como terminava
O creio em Deus pai
E ele pegou a irmã
Se agarrando na porta dos fundos
E seu pai e sua mãe nunca se beijavam
Nem mesmo conversavam
E a garota da esquina
Usava maquiagem demais
O que fez ele tossir quando a beijou
Mas ele a beijou mesmo assim
Porque era a coisa certa a fazer
E às três da manhã ele se aninhou da cama
Seu pai roncava alto
É por isso que no verso de uma folha de papel pardo
Ele tentou outro poema
E o intitulou “absolutamente nada”
Porque era o que estava em toda parte
E ele se deu um A
E um corte em cada maldito pulso
E se encostou na porta do banheiro
Porque nessa hora ele não pensou
Que poderia alcançar a cozinha
Dei uma cópia do poema a Charlie, esperançoso de que ele talvez compreendesse. Não apenas o que estava escrito, mas os sentimentos que eu tentava transmitir. E de que aquela tentativa não fosse em vão.
Fale com o autor