How to Be Free

Dragon Attack!


“Essa é Berk. Fica a doze dias ao norte de Desânimo, e alguns graus ao sul de Morrendo de Frio. Ela é enraizada no Meridiano da Tristeza.

Minha aldeia. Em uma palavra: sólida. Ela existe há sete gerações, mas todas as casas são novinhas em folha.

Temos pesca, caça e um pôr do sol encantador. O único problema são as pragas. Sabe, a maioria dos lugares costuma ter ratos, mosquitos. Mas nós temos... Dragões.”

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É entardecer. Minha mãe está tentando me convencer a ajudá-la a fazer o jantar, mas eu não quero. Não há nada que eu odeie mais do que ser tratada como uma caseira.

Eu sou um viking. Eu deveria estar lá fora, conquistando ilhas, lutando contra inimigos, mas nãão. Esse é um daqueles dias em que você não tem nada pra fazer.

Então eu escuto as pessoas gritando. Eu olho pela janela e vejo Hoark avisando: “Ataque de Dragões”!

Beleza. A distração que eu precisava. Minha mãe corre pra fora com um machado. Eu pego o meu e entro no meio da confusão.

O vilarejo está em chamas de novo. Eu não preciso correr muito para encontrar os outros adolescentes vikings. Quando eles me vêem, Melequento logo solta uma cantada.

- Ei, Astrid. Está muito quente aqui ou é você que está me dando todo esse calor?

Eu reviro meus olhos. Cabeçaquente deve ter notado o meu desgosto, porque eu vejo um pequeno sorriso se formando em seus lábios.

Ultimamente, os garotos têm tentado muito ficar comigo e eu não sei por quê. Eu sou bonita? Bem, eu não sou feia, mas eu tenho certeza de que não sou uma beldade.

Na verdade, eu sou uma garota viking completamente normal. Eu tenho cabelo loiro, olhos azuis, força, determinação, boa aparência física. Sabe, coisas normais. Mas eu tenho que confessar que sou muito teimosa e cabeça dura. Então por que os garotos me idolatram? Eu nunca vou entender.

Um grito quebra o momento. Alguém está dizendo: “FOGO!” É a nossa vez.

- Anda galera. – eu os incentivo.

Eu e meus amigos Melequento, Perna-de-Peixe, Cabeçadura e Cabeçaquente passamos pela ferraria e vamos para o barril. Enchemos nossos baldes de água e corremos para a casa em chamas. Quando eu me viro após despejar a água sinto uma explosão de lava de dragão bem atrás de mim. Mas não me importo. Eu sorrio porque estamos bem.

Nosso trabalho não terminou ainda. Ainda há outras casas em chamas também. Eu conto os dragões que passam por mim enquanto corro para a próxima casa. 6 Nadders, 5 Gronckles, 1 Ziperarrepiante.

Acabamos com o fogo de pelo menos outras duas casas quando escutamos outro grito. É alto e agudo. É o Soluço.

Ele está correndo pela ponte enquanto um Pesadelo Monstruoso o persegue. Será que ele pensou que poderia derrotá-lo sozinho? Tão previsível.

A vila inteira para o que está fazendo para olhar aquela cena. Soluço corre para trás de uma tocha para se esconder. O Pesadelo cospe fogo no poste. Stoico o Imenso, chefe de nossa tribo e pai de Soluço ataca o dragão para fazê-lo ir para longe se seu filho.

O Pesadelo tenta cuspir fogo em Stoico, mas seu “gás” acabou. O chefe não falha. Ele acerta a criatura bem no nariz, na cara. O demônio vai embora.

Mas mais uma coisa tem que dar errado. Afinal, é o Soluço. Ele nunca anda por um lugar sem causar uma confusão completa.

O poste despenca no meio da praça. Para piorar a tocha se solta e rola pelo vilarejo, deixando um rastro de fogo e destruição. Algumas redes que seguravam dragões são queimadas e os répteis vão embora com nossa comida.

- Foi mal, pai. – Soluço diz.

Stoico assiste à confusão, desapontado com seu filho.

- Mas eu acertei um Fúria da Noite. - ele completa.

Stoico agarra Soluço pela gola da camisa, tirando ele de perto dos outros. O garoto tenta:

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- Pai, pai, não foi como das outras vezes, pai. Dessa vez eu acertei ele mesmo. Vocês tavam ocupados e eu tava com ele na mira. E-ele caiu perto do Penhasco do Corvo. Tem que mandar um grupo de busca antes que ele acabe indo embora...

- Chega! – Stoico grita para seu filho, perdendo a paciência – Agora chega.

Soluço abaixa a cabeça.

- Toda vez que você sai por aí acontece um desastre. Você não vê que eu tenho problemas maiores? O inverno está chegando e eu tenho que alimentar a aldeia inteira!

É incrível como nas piores situações o Soluço ainda consegue ser tão irônico. Ele diz:

- Eeh, cai entre nós, bem que esse povo podia comer um pouquinho menos, cê não acha não?

Todos se espantam.

- Eu não estou brincando, Soluço! É tão difícil assim pra você obedecer ordens?

- Mas é que eu não consigo me segurar, pai. Quando eu vejo um dragão eu tenho que... mata-lo. Que que eu vou fazer? É meu jeito de ser, pai.

Claro. Certíssimo. Stoico respira profundamente.

- Ah, você pode ser muitas coisas. Mas matador de dragão é que não é. Agora volta pra casa.

Ele olha para Bocão.

- Leva ele pra dentro. Vou ter que dar um jeito nessa bagunça.

Bocão acerta Soluço na orelha direita.

Quando eles passam por nós, meus amigos não perdem a chance.

- Você deu um show, hein? – diz Cabeçadura.

- Nunca vi ninguém fazer tanta burrada. Valeu hein?

Ah, vamos lá Melequento. Algumas vezes você podia só calar a boca.

- Brigado, brigado. Eu tentei... – Soluço responde.

Bocão tapa a boca de Melequento e o empurra, derrubando-o no chão e realizando meu pensamento anterior.

Eu sou a única que não ri, mesmo depois que ele vai pra casa. Por que eu faria isso? Não é engraçado. Será que eu sou a única aqui com bom senso? Oláá. A vila foi destruída. De novo. As casas estão em chamas. Nós temos casas para reconstruir, armas para restaurar, pessoas pra ajudar.

É nosso trabalho. Nossa responsabilidade. Nós não somos matadores de dragões ainda. Somos jovens, aprendizes. Algum dia nós iremos matar dragões e fazer tantas outras coisas que os adultos podem fazer. Mas não agora. Agora nós temos que voltar para nossas tarefas. É nosso dever.

*****

A reconstrução do vilarejo é terminada por volta do entardecer. Nossos pais foram chamados para uma reunião com Stoico no Grande Salão. Eu não faço ideia do que está acontecendo.

Eu vou pra casa tentar dormir um pouco. Estou muito cansada. Deixo meu machado em seu lugar favorito: embaixo de meu travesseiro. Eu sei, é esquisito, mas um viking deve estar preparado para qualquer situação.

Descanso minha cabeça no conforto de minha cama, mas não consigo parar de pensar nos eventos da noite passada. Os dragões queimando tudo, roubando nossa comida, e é tudo culpa do Soluço. Bom, nem tudo. Os dragões atacando nossa aldeia não foi culpa dele, mas contudo ele não ajudou.

Por que ele tem que ser um idiota o tempo todo? Como ele acha que vai crescer e matar um dragão com sua personalidade explosiva (literalmente)?

Soluço sempre foi diferente, mas ele não era tão destrutivo quando nós éramos pequenos e brincávamos juntos. Há poucos adolescentes em Berk. Nós conhecemos todo mundo e nós mesmos. Quando nós tínhamos seis anos Soluço e eu éramos grudados. Fazíamos tudo juntos. Eu até tentei ficar com ele por um tempo. Mas uma guerreira tem que fazer o que uma guerreira tem que fazer.

Eu o deixei. Sem dar nenhuma satisfação, eu o deixei. É claro que eu tinha minhas razões. Eu estava crescendo e tive que treinar muito duro para ser o que sou hoje. Mas me custou muitas coisas: gentileza, paciência, sinceridade, afeição.

Eu odeio admitir que eu escondo o que realmente sou ou quem eu gostaria de ser em quem eu deveria ser. Eu tento não mostrar essa parte de mim para que as pessoas pensem que eu não tenho fraquezas. Mas na verdade, eu tenho. Eu não sou perfeita, ninguém é. Então por que é tão difícil pra mim admitir isso?

Eu não choro. Nesses anos todos de treinamento árduo meus olhos devem ter aprendido que não há água neles. Não há luz em meu ser. Então eu apenas adormeço pensando em tudo isso.