Seddie, a história continua
A reação de Eddie
Sam entrou ventando no Ridgeway. Viu um grupo de crianças com idades próximas a Eddie e perguntou:
– Quem é Bruce?
Os pequenos apontaram para um garoto moreno.
Bruce aproximou-se de um garoto loiro, menor que ele, pegando-o pelo colarinho, enquanto alcançava a lancheira dele e pegava o lanche.
Sam aproximou-se e puxou Bruce pelo colarinho, fazendo-o soltar o menino loiro, que pegou a lancheira e saiu correndo.
– Gosta disso? - perguntou Sam, fuzilando Bruce com o olhar.
– Isso é covardia! - insurgiu-se Bruce.
– É sim, mas você faz isso com as outras crianças o tempo todo. Viu como é bom? Eu poderia te bater agora e você não poderia nem se defender, exatamente como faz com os outros.
– Socorro!
– Eu não vou fazer isso. Só vou te dar um aviso. O Eddie tem uma mãe louca e se mexer com ele de novo vai se ver comigo – ameaçou Sam, soltando o menino no chão com força – Agora vai trocar essas suas calças borradas – disse Sam com uma risada irônica, enquanto deixava o Ridgeway.
Quando Sam contou a Freddie, ele não recebeu muito bem:
– Você o que? Ameaçou uma criança?! É isso mesmo?
– Foi por uma boa causa. Aquele bunda mole do Diretor Franklin não fez nada para resolver, então tive que dar o meu jeito. Não vou permitir que façam isso com o meu príncipe.
– Tem noção do que pode acontecer se o garoto contar para os pais? Eles podem te denunciar.
– Eles não têm provas.
– Assim espero.
No dia seguinte, no colégio, Eddie e Nick foram para a sala de aula. Bruce puxou a cadeira quando Eddie ia se sentar e começou a rir, seguido pela turma inteira, com exceção de Nick, que foi recolher o irmão do chão e empurrou Bruce, que revidou. A troca de agressões cessou quando a professora entrou e os garotos correram para os seus lugares.
Na hora do recreio, Bruce puxou Eddie e o jogou em direção ao armário, prendendo-o:
– É bom parar de bancar o bebê chorão e não fazer mais queixa pra sua mãe. Se isso acontecer eu conto o que ela me fez pros meus pais e meu pai é delegado, daí sua mãe vai ser presa. Quer que isso aconteça?
– Não.
– Ótimo. Foi o que eu pensei Benson – jogando Eddie no chão.
Nick aproximou-se:
– Tá na hora de darmos uma lição nessa cara, mano.
– Não! Ele vai denunciar a mamãe.
– Quanto mais medo a gente tiver, mais ele vai aprontar e ficar se achando.
– Já disse não! - falou Eddie, correndo para o banheiro, assustado e segurando o choro.
Chegou o dia do casamento de Pamela Puckett e Coronel Steven Shay.
A noiva arrumava-se em casa na companhia das filhas e da enteada Carly.
– A senhora está um arraso! - elogiou Carly.
– Não vejo o menor sentido numa mulher na sua idade, mãe e avó, casar-se de noiva – cirticou-se Sam.
– Para Sam, mamãe tá linda – elogiou Melanie.
– Ninguém perguntou a sua opinião Sam e ninguém se importa com ela – falou Pamela, grosseira, mas Sam apenas deu de ombros.
Freddie entrou trajando um terno cinza chumbo e estendeu o braço para Pam, dizendo:
– Está na hora.
– Que honra ser conduzida ao altar por esse gatinho – apertando a bochecha de Freddie, que riu sem graça.
– Pensei que preferia que meu avô estivesse aqui para te levar – falou Sam.
– Mas ele não está – disse Pam, engolindo a angústia ao se lembrar da morte do pai há um ano – Vamos logo – puxando o genro pelo braço – Não vou arriscar que Steven desista.
– Se ele fosse esperto faria isso – provocou Sam.
– Quem não foi muito esperto casando-se com você foi o gatinho aqui – disse Pam apontando para Freddie.
– Já estamos atrasados! - alertou Freddie, puxando Pam para fora do local antes que Sam iniciasse uma discussão.
Na igreja, Coronel Shay esperava ansioso.
– Nunca me imaginei nessa situação – comentou o Coronel com o filho Spencer.
– Nem eu imaginei o senhor nessa situação – falou Spencer.
– Está me ajudando muito filho.
– De nada pai, tô aqui pra isso. Se sentir vontade de desmaiar levanta a mão antes que eu te seguro antes de cair no chão.
– Espero não precisar disso.
A marcha nupcial começou a tocar. Pamela, segurando o braço de Freddie, preparava-se para entrar, mas Eddie empacou a sua frente.
– Anda garoto! - pediu a avó, ansiosa.
– Eu não quero! - respondeu Eddie, correndo do local.
Isabelle entregou a almofada com as alianças para a prima Mabel e correu atrás do irmão. Freddie teve o ímpeto de ir atrás do filho, mas Pamela o puxou:
– O garoto vai ficar bem. É só birra de criança. Me leva logo pro meu noivo porque eu nunca mais vou ter uma chance dessa.
No altar, Coronel Shay estranhou a demora.
– Por que ela não entra?
– Calma pai, lá vem ela – disse Spencer, apontando para a noiva que começava a caminhar em direção ao altar, com Mabel e Nicolas na frente.
Freddie entregou a noiva para Coronel Shay e foi para o lado de Sam no altar. O Padre iniciou a cerimônia.
Do lado de fora, Isabelle encontrou Eddie encolhido a sombra de uma árvore.
– O que houve príncipe?
– Não gosto de gente e a igreja tava cheia de gente.
– Desde quando repete essa frase da mamãe?
– Desde que eu vi que ela tem razão.
– Tem muita gente que não vale o que come, realmente, mas também tem muita gente legal e amiga. Devemos saber separar umas pessoas das outras, mas não julgar uma por todas.
– É, pode ser que você tenha razão.
– Tenho sim. Eu sempre tenho razão, porque sou sua irmã mais velha e sei mais do que você.
– Você se acha garota.
– Não me acho, eu sou.
Eddie riu e Isabelle o pegou pela mão para voltarem para a igreja.
Após os votos e a troca de alianças, Coronel Shay beijou Pam e os noivos saíram da igreja sob chuva de pétalas de rosas brancas.
Sam e Freddie foram cumprimentar os recém-casados. A loira abraçou a mãe e desejou felicidades, enquanto Freddie conversava animadamente com o noivo.
– É uma pena que a minha felicidade não possa estar completa – disse Pamela.
– Por que? - quis saber Sam.
– Porque a minha filha não me apoia.
– Mãe, não é isso... eu desejo de coração que a senhora seja muito feliz com o Coronel Shay... sei que ele é um homem bom e que pode fazer a senhora feliz... mas, a senhora está disposta a abrir mão da sua vida livre para viver isso com um homem só?
– Ele é o homem que eu sempre procurei.
– Então, a senhora tem todo o meu apoio.
– Agora sim a minha felicidade está completa.
– Pensei que a miha opinião não importasse pra senhora.
– Importa muito, minha rolinha.
As duas abraçaram-se novamente.
A festa foi animada com boa música de uma banda, jantar e bebida da melhor qualidade.
Mabel contava a Cris:
– Minha mãe tá cada vez mais rica. Ela já é uma advogada famosa em Cambridge. Eu estudo no melhor colégio e ela me dá qualquer coisa que eu pedir. Até tá reformando meu quarto para deixar igual ao da Carly. Se você quiser alguma coisa é só me falar, que eu peço pra minha mãe comprar e te dou de presente.
– Bel, às vezes o maior presente é estar presente.
– Como assim?
– Minha mãe falou isso uma vez e agora faz todo o sentido pra mim.
– Eu não entendi.
– Um dia você vai.
Logo após a festa, Coronel Shay e Pamela foram passar lua-de-mel em Paris.
No colégio, Eddie continuava tenso e tentava sempre passar despercebido por Bruce, mas raramente conseguia. Em casa, negava sempre que o bullying persistisse, mas tinha pesadelos a noite, acordava gritando e até começou a fazer xixi na cama, o que não fazia nem quando menor, ao contrário de Nick.
Sam e Freddie decidiram levar Eddie à terapia, mas o menino não se abria nem mesmo com a psicóloga.
Nick resolveu tomar uma atitude e chamou Bruce para conversar:
– Você vai ter que parar de incomodar meu irmão, se não...
– Se não o que? Pensa que tenho medo de você Benson?
– Eu acho que sim.
– Pois está muito enganado.
– Pode ser que você seja mais forte que eu e pode ser que não. Por que não tiramos essa história a limpo numa briga no pátio na hora do recreio, amanhã.
– Os inspetores vão ver.
– Tá com medinho?
– Claro que não. Espero que não chore depois que eu acabar com você.
– Digo o mesmo. E se eu ganhar, você deixa o Eddie em paz.
– Fechado.
Os meninos apertaram as mãos.
No dia seguinte, Eddie usava o banheiro quando ouviu a voz de Bruce, ele estava acompanhado de outros garotos e dizia:
– Repassando o plano... Eu vou pra cima do Nick e vocês me dão cobertura. Se ele começar a me bater, vocês vão pra cima e podem bater sem dó...
– Entendido – falaram dois garotos.
– Agora eu vou usar o banheiro e já vou pro pátio, podem me esperar lá.
Eddie ouviu o som da porta batendo e saiu rapidamente, interceptando Bruce:
– O que vai fazer com o meu irmão é covardia!
– É sim! E você não vai poder fazer nada pra impedir. Sabe por que? Você é só um nerd bobalhão, um bebê chorão, um filhinho de mamãe, um covardão! Seus irmãos têm fama de valentões, já você, é o fracote da família! Seu irmão vai apanhar hoje que nem um cachorro vira-lata e tudo porque o bobão aí não sabe se defender. O irmãozinho vai sangrar por causa do mariquinha. Até a sua mamãe deve te achar um idiota, tanto que veio até aqui te defender.
– Não! A minha mamãe me ama!
– Ela deve se perguntar todo dia como pôde ter um filho tão panaca!
Eddie sentiu o sangue ferver, juntou toda a sua força no punho, fechou a mão e acertou um soco em Bruce, que fez o menino cair no chão. Sem pensar, sentou-se por cima dele e começou uma sessão de socos. Parou ao ver o sangue escorrendo do nariz de Bruce e se assustou, saindo de cima dele e sentindo-se empalidecer.
Bruce levantou-se e saiu correndo do local. O garoto não apareceu nas aulas até o final daquela semana.
Na semana seguinte, Bruce apareceu e chamou Eddie num canto.
– Vai recomeçar com isso cara? - perguntou Eddie, nervoso.
– Não. Quero um acordo.
– Que acordo?
– Você não conta pra ninguém que me bateu e eu paro de te incomodar.
– Como posso acreditar na sua palavra?
– É a minha reputação que tá em jogo. Eu não tenho nada cara, só a minha reputação de mau – com lágrimas nos olhos.
– Tá bom, não vou contar. Amigos? - estendendo a mão.
– Aí já tá querendo demais Benson – falou Bruce, afastando-se.
O tempo foi passando e Bruce não voltou a perturbar Eddie. Aos poucos, o garoto foi conseguindo voltar a respirar normalmente, embora a terapia estivesse sendo essencial no processo da cura do trauma.
Certa manhã, a família Puckett Benson tomava café da manhã reunida, com exceção de Isabelle que sempre era a última a chegar à mesa devido ao sono matinal.
De repente, ouviu-se um grito vindo do quarto da menina:
– Mamãe!!!
Sam quase se engasgou com a panqueca que mastigava. Depois de uma tosse que fez o pedaço da comida ser expelido da sua glote, correu para o quarto da filha, seguida pelos homens da família.
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