Dilema

Capítulo IX - Justiça


Justiça (義)

Seja honesto em todas as suas relações. Acredite na Justiça, não a que é dada pelos outros, e sim na sua própria justiça. Para um autêntico samurai não existem tons de cinza em relação à honestidade e justiça.

Eu sempre me perguntei qual a razão de tudo o que a vida impunha a mim, e de algum modo eu sabia que cedo ou tarde iria acontecer. Sakura descobriria meu passado amaldiçoado, mas quanto mais longe eu tentava mantê-la, mais perto ela estava. Naquele momento, quando senti minha energia “recuar” e meu poder se reduzido ao de uma mera ave, parecia que tudo tinha perdido o sentido, pois pela primeira vez eu não sabia o que fazer.

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Observei-a atentamente com meus olhos de falcão analisando cada detalhe daquela fase atônita. Parecia que cada reação dela poderia me machucar, mas ao contrário do que eu esperava, Sakura me envolveu gentilmente cobrindo minhas penas com seu calor terno e chorando lágrimas que eu não sabia definir o porquê. Talvez nem ela soubesse.

O clima voltava a tornar-se frio e logo a neve cobriria toda a montanha, assim lembrando o dia em que eu a encontrei, e recusei-me a entregá-la a morte. Parando para pensar, eu nunca soube o que me moveu aquele dia, a única coisa que eu sabia é que ela chamava por mim. De algum modo aquele encontro parecia predestinado, pois logo depois daquilo os nossos caminhos voltaram a se cruzar de uma maneira terrivelmente cruel.

— Sakura me solte. – Pedi calmamente e ela pareceu espantada e desacreditada de ouvir um falcão falar. Ela me colocou no chão e permaneceu me fitando, e com certeza não eram os únicos olhares sobre mim. Tomei o meu quimono que estava jogado no chão com os bicos e me afastei. — Eu preciso terminar isso.

Esforcei-me, e uma fumaça densa envolveu meu corpo quando assumi minha forma de Tengu, o estágio entre a natureza e o homem. Um meio termo que fazia de mim ambos, embora eu não me sentisse nenhum.

— O que você vai fazer? – Ela perguntou estática enquanto eu pegava minha espada. Eu não poderia permitir que ninguém descobrisse meu segredo, era pelo menos o que as trevas que me envolviam gritavam avidamente. Quando foi que cai tanto? E porque no fundo eu me importava? — Tentei evitar isso a todo custo, mas é exatamente o que sou. Um monstro fadado à destruição. Essa é a natureza amaldiçoada que eu carrego desde que nasci.

— E daí? – Ela pareceu brava. — Esse não é você! – Avancei e ela segurou meu braço se prendendo a ele com força. Minhas pernas travaram, tentei continuar, mas não consegui. Simplesmente hesitei. — Você me salvou! Você é uma pessoa gentil, e eu sei que não é isso o que realmente é. Não use o destino como desculpa para aceitar isso.

— Você é muito ingênua Sakura. – Por algum motivo um sorriso escapou de meus lábios. O que ela poderia realmente entender sobre mim? E porque isso me afetava? Era óbvio. Nós éramos iguais. Duas ondas que seguiam contra a maré, era isso o que éramos. Dois erros que permaneciam firmes buscando um futuro inexistente. — Você não pode entender um monstro como eu.

— Eu não preciso entender. Tudo o que eu sei é que eu estaria morta se não fosse por você, e antes de conhecê-lo eu acreditava que isso estava certo. Simplesmente porque eu não me encaixo no mundo e fugi como uma covarde. Você poderia ter me matado para não causar problemas, mas não fez. E isso é o que importa. Se você é a destruição então porque me salvou?

Aquelas palavras faziam sentido. Porque eu a salvei? Até então eu não sabia explicar, e esse foi meu primeiro erro. Desde aquele dia ela estragou todos os meus planos, e colocou minha identidade em evidência, mas ainda assim eu era incapaz de matá-la ou mantê-la longe. Não importa o quanto tentasse, Sakura era simplesmente insistente. Não tinha como minha vontade vencê-la, não importava o quanto meu instinto gritasse.

— Tudo bem, você venceu. – Assumi novamente minha forma de homem e senti meu corpo dormente caindo no chão. Estava incrivelmente cansado e mal conseguia me mover. Fitei o céu nublado e tingido de cinza, sem saber o que aconteceria dali em diante. A sensação de perigo passou, e logo ouvi a voz da herdeira dos Hyuuga gritando repetidas vezes o nome “Naruto”. — Qual a sua ligação com uma criatura dessas? – Questionei curioso pela reação da senhorita Hinata.

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No início pensei que essa pudesse ser uma armadilha do clã Hyuuga, depois aquilo deixou de fazer sentido. Meu corpo permanecia imóvel, pois lutar com o tal “Naruto” tomou muito da minha energia. Estava bastante dolorido pelos ferimentos que demorariam algum tempo para cicatrizar. Além disso um terrível sono me tomava. Senti a mão delicada de Sakura tocar meu rosto, e uma sensação de paz permaneceu por um momento. — Tem um antídoto no meu bolso. – Falei sem pensar e logo tudo se nublou com minha consciência caindo na escuridão.

...

Abri meus olhos e notei um ambiente familiar, estava quente, confortável e provavelmente já não estava mais na montanha. — Maldito! – Praguejei baixo, isso com certeza tinha haver com o Kakashi. Levantei-me e respirei fundo, já me sentia recuperado. Empurrei o cobertor e caminhei até a sala onde as refeições eram servidas, observei incrédulo, a figura do rapaz loiro sentado à mesa com Kakashi e a herdeira dos Hyuuga, enquanto comia avidamente uma tigela de lamém com a mão enfaixada. Sakura estava de pé servindo o chá e meus olhos cruzaram com os dela. Desviei o rosto e ela fez mesmo.

— O que significa isso? - Meu antigo mestre obviamente me devia uma explicação, pois não fazia muito tempo e eu tentava matar a Kitsune, agora ele estava comendo à mesa como se nada tivesse acontecido.

— Coma primeiro e conversamos depois. – A voz despreocupada me deixava impaciente. E todos continuaram a refeição como se fossem bons amigos.

Fui para a varanda e me sentei na beirada do chão de madeira, com meus pés descalços tocando a neve. Pude observar a lua brilhando cheia no céu, escondida por algumas nuvens. Respirei aquele ar gelado e fiquei algum tempo tentando entender o que aquilo significava.

Ouvi passos leves se aproximando, e logo uma bandeja com comida foi deixada do meu lado. A fumaça da sopa tomava forma com o vento frio, assim como hálito quente que saia dos lábios de Sakura. Ela se sentou fitando o chão meio hesitante, e eu não sentia como se aquilo fosse medo, talvez ela só não soubesse o que dizer.

— A senhorita Hinata veio até aqui pedir nossa ajuda e depois que ela contou a própria história, não tive como recusar. – Sakura começou a falar baixo, tentando detalhar o máximo as informações. – Talvez seja melhor que ela mesma lhe conte, mas o Naruto não é mau, assim como você também não é. E não se preocupe, ela não vai revelar seu segredo, pois seria o mesmo que expor o Naruto também. – Naturalidade dela em tratar do assunto me deixava pasmo.

— Hm. – Foi à única coisa que consegui responder. Ainda estava confuso.

— Me desculpe por me meter assim na sua missão, mas eu não poderia ignorar isso e... Bem. – Ela se levantou evitando me olhar. — Não era minha intenção revelar o seu segredo. Talvez algum dia você me conte o que aconteceu. Até lá eu continuarei te esperando.

Permaneci em silêncio, mas de algum modo me senti mais aliviado. Será que eu poderia acreditar naquelas palavras? Seria novamente o destino me empurrando para um abismo de sofrimento? Quando consegui comer a sopa já estava fria, mas aquilo não importava. Nada mais importava.