– Motorista! Mudança de destino.

***

– Eu sabia que o Cobra não prestava! - Exclamou Wallace, assim que a notícia da desclassificação do Cobra saiu. - Agora ta aí, ó! Manchando o nome do Brasil!

– Pega leve, Wallace! - Tentou Gael.

– Eu tenho que concordar com o Wallace, Mestre. - Intrometeu-se o Duca. - Tava na cara que isso ia acabar acontecendo... O Cobra é um moleque completamente perdido! Por isso que eu me surpreendi tanto quando ele resolveu nos ajudar, naquele lance da Khan!

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– Vão deixar eu continuar ou não? - Gritou o Mestre, fazendo com que todos se calassem. Mais calmo, Gael continuou a leitura da nota. - "O atleta, que era tido como a maior promessa do Muay Thai para este ano, foi pego no exame anti-doping realizado poucos dias antes do campeonato, baseado em uma amostra de urina. A substância encontrada era usada por quem precisava ganhar massa muscular rapidamente..."

– Preguiçoso! Era só treinar mais, imbecil!

– Iou! - Gael lançou um olhar mortal para Wallace. - Eu ainda tô lendo!

– Sim, Mestre... - O lutador baixou a cabeça.

"O que será feito a partir de agora ainda é um mistério. O caso do brasileiro irá a julgamento e a pena pode ir do afastamento provisório do rapaz do mundo das lutas, até a exclusão total sobre os direitos esportivos do mesmo. Será o fim de mais um taleto por causa dos anabolizantes? Só o tempo irá dizer."

A Academia ficou em silêncio, como se estivesse de luto. E estavam, de certa forma. Ninguém ali era muito próximo do Cobra, mas todos tinham o mesmo sonho que ele e sabiam que poderia ser qualquer um deles passando pelo mesmo.

– É uma pena, pessoal... - Começou Gael, quebrando o silêncio. - Mas é isso o que as escolhas erradas fazem com a gente: elas nos destroem. Vejam o exemplo do Cobra... Tinha tudo pra ser um grande campeão, mas escolheu jogar tudo fora. Agora, ele só é digno disso: pena.

***

"De: Karina

Para: Cobra

Eu até ia pro apartamento agora, mas eu tô com tanta raiva de ti que sou capaz de te meter a porrada!! Onde você tava com a cabeça, idiota?! Você jogou tudo fora!!! Agora eu entendo a Jade... Eu também não ia querer ficar do lado de um covarde que nem você, que não tem a capacidade de fazer as coisas do jeito certo. Você é uma decepção gigante, Cobreloa!

Eu não volto hoje, por isso fique bem a vontade para fazer as tuas malas. Como você sabe, quem nos cedeu esse apartamento é o pessoal da Academia, os mesmo que você tentou passar pra trás, então, provavelmente, você não tem mais onde morar."

– Como se eu ainda não tivesse me dado de conta disso. - Falou Cobra, jogando o celular sobre o sofá.

Tinha chegado a poucos minutos, mas ainda não tinha feito nada. Estava completamente paralisado. Tentou ligar o computador, mas não se falava em outra coisa a não ser o mais novo caso de doping no mundo das lutas.

Estava ocupado sentindo ódio do Benjamim quando ouviu o barulho da chave na porta.

– Mudou de ideia, Karin...? - Ele travou quando viu quem estava plantada na porta. - Jade?

– Oi vagabundo... - Ela caminhou lentamente na direção do rapaz e sentou-se ao seu lado no sofá. - Eu detesto ter que te dizer isso, mas eu te avis...

– Por favor, cala a boca! - Cobra não aguentaria que ela terminasse a frase.

– Como é que é? Ninguém me manda calar a boca, Cobra! Ficou maluco? - Revidou a bailarina, indignada.

– Olha Jade, eu já tô acabado, com uma dor infernal de cabeça, cansado pra caramba... Então me responde, por que você tá aqui? É pra rir da minha cara? Porque se for entra na fila!

– Não, não foi pra rir da tua cara, embora bem que tu mereça! Nem eu sei o que eu vim fazer aqui... Quer saber? Eu vou embora! - Ela se levantou num salto e foi na direção da porta.

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– Espera... Fica. - Ela ouviu ele dizer, baixinho. - Fica comigo.

– Me dê um bom motivo pra isso, Cobra. - Ela se voltou para o rapaz e cruzou os braços. - Me convença de que vai ser diferente de todas as outras vezes.

Ele respirou fundo e ficou alguns instantes em silêncio, pensando no que iria dizer. Quando pareceu confiante, ele se levantou e ficou frente-a-frente com a dançarina.

– Olha Jade, eu sei que você merece alguém muito melhor. Eu sei que eu não tenho bom-humor, principalmente quando acordo. Eu sei que eu nunca escolho as roupas certas e que o meu cabelo insiste em andar desarrumado. Eu sei que eu sou ciumento, agressivo e machista. Eu erro, eu atraio confusões, eu brigo e eu não sou nem um pouco responsável, eu sei. Eu não sou romântico como você gostaria que eu fosse e muito menos carinhoso como você merece. Eu não sou delicado e não sei falar aquele monte de baboseira que faz com que as meninas chorem nos cinemas. A probabilidade de um dia você ganhar flores de mim é mínima e eu não entendo nada de dança. Eu sou completamente do avesso e não consigo encontrar um jeito de colocar os meus argumentos em palavras, mas mesmo assim... Se tudo o que a gente viveu junto não foi uma grande mentira... Fica. - Ele passou as mãos pelo rosto da menina e respirou fundo novamente, tentando evitar que a sua voz ficasse embargada. - Não desiste de mim.

Jade não conseguiu se controlar mais e o beijou. Tamanha era a saudade que os dois só pararam quando o ar já lhes era escasso.

– Cobra... Eu já disse que... - Ela tentava normalizar a respiração. - Eu não consigo resistir?

– Algumas vezes... - Eles sorriram. - Mas eu confesso que tava com saudade.

Ele se sentaram no sofá novamente e Jade apoiou sua cabeça no colo do lutador. Após alguns instantes de silêncio, a bailarina perguntou:

– Como você tá?

– Preocupado. Esse apartamento é da empresa que me patrocinava e agora eu acho que não tenho mais onde ficar.

– Se precisar, a gente aluga outro... Eu tô ganhando uma grana boa agora...

– É... Esse era o meu interesse. - Disse ele, com um sorriso brincalhão.

– Idiota! - Ela ia protestar, mas foi coberta por pequenos beijos do lutador.

Ele a segurou nos braços e a levou na direção do quarto.

– Mas enquanto esse apartamento ainda for meu, a gente pode aproveitar, né?

***

No dia seguinte, os dois foram acordados pelo toque do celular do lutador.

– Eu nunca odiei tanto essa música! - Resmungou Cobra, enquanto se esforçava para encontrar o celular de olhos fechados.

– Então atende logo, pelo amor de Deus! - Suplicou Jade, cobrindo o rosto com o travesseiro, em uma tentativa falha de fugir do som.

Cobra viu no visor quem estava o acordando, levantou-se da cama rapidamente e saiu do quarto. Jade achou estranho, mas estava tão cansada que nem comentou.

Minutos depois, Cobra voltou para o quarto com uma cara de poucos amigos.

– O que aconteceu? - Perguntou a dançarina, já preocupada.

– O Mike... Ele quer falar comigo. - Ele suspirou e se atirou na cama. - É, minha dama... Parece que eu vou ouvir muito!