Confronto Final

Filhos de Odin


Então era mesmo aquilo. Loki sentia como se seu destino estivesse, literalmente, em suas mãos. Não havia mais volta a partir dali. Ele destruiria Jotunheim, toda a raça sórdida dos Gigantes de Gelo, mas seria diferente do modo como Thor tentara fazê-lo. Loki salvara a vida de Odin. Aquele plano de destruição da raça inimiga era apenas a resposta pela audácia de Laufey.

Um sorriso singelo surgiu em seus lábios. Aquilo seria capaz de igualá-lo a Thor? Fazer com que Odin o amasse do mesmo modo devoto como sempre amou o Deus do Trovão? Ele acreditava que sim. Esperava que sim. Precisava do amor e da aceitação para sentir-se confortável, em casa, a despeito do fato de que estava destruindo o lugar de onde viera.

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― Por que você fez isso? ― Thor gritou para ele, interrompendo seus pensamentos.

Loki virou-se em direção à voz, encarando-o decididamente. Não deixaria que a volta do irmão ruísse seus planos, porque batalhara muito para isso. Apesar de tudo, a presença dele ali fazia com que seu triunfo tivesse mais sentido. Ele queria que Thor o visse como o rei de Asgard. Ansiava ver o brilho de admiração nos olhos dele.

― Para provar que eu sou um filho digno ― devolveu calmamente. ― E quando eu acabar, vou ser o herdeiro do trono.

― Você não pode destruir toda uma raça!

Foi naquele ínfimo instante que Loki percebeu a mudança. Thor estava diferente; empunhando seu martelo, sim, mas havia mais do que prepotência crua ali. Sentiu os olhos arderem. O que acontecera com ele durante o tempo de exílio? Teria sido aquela mulher que fizera com que o sempre impetuoso Thor se tornasse tão brando daquele modo?

O pensamento fez com que ele sentisse náuseas, ao ponto de tentar provocar Thor com alguma insinuação descabida. Mas não. Em vez disso, precisava trazê-lo de volta, fazê-lo enxergar que ele, o Deus do Trovão, não havia nascido para ser domesticado. Precisava fazer com a adrenalina causada pelo combate corresse por suas veias e, então, Thor voltaria a si, e a admiração pelo outro seria irrefreável.

Loki o traria de volta.

― Por que não? ― Loki riu em um som de esgar. ― As coisas mudaram ― apontou. Não era óbvio? A mudança mais gritante estava justamente no comportamento de ambos. ― Agora, enfrente-me!

A próxima coisa que Thor pôde discernir foi o golpe em seu rosto, arremessando-o para longe quando Loki veio sobre ele. O desnorteio não durou mais do que um breve segundo, e ele se levantou, escutando o irmão esbravejar.

― Eu nunca quis o trono! Tudo o que eu sempre quis era ser igual a você!

O Deus do Trovão recebeu as palavras com surpresa. Igual a ele? Igual a ele em que sentido? Com impulsos que poderiam desencadear uma guerra? Banido, sendo afastado de tudo o que conhecia, inclusive família e amigos? Jogado em um reino qualquer, mortal e indefeso? Não, isso não era o que Loki poderia querer.

Na verdade, a expressão no rosto de Loki dizia a Thor que ele não estava em seu estado perfeito. Nesse caso, cabia a ele manter o controle pelos dois.

― Eu não vou enfrentar você, irmão! ― o loiro berrou.

― Não sou seu irmão. Nunca fui! ― Loki gritou, em cólera. Os olhos ardiam enquanto o mais novo se aproximava, quase sorrateiramente, com paciência.

As palavras pareceram reverberar na cabeça de Thor. Do que diabos Loki estava falando? O que era tudo aquilo? A revolta e a loucura estampadas nos olhos dele eram atípicas, não combinavam em nada com o garotinho de cabelos escuros que cresceu junto a ele.

Sim, eles eram irmãos. Não seriam as palavras de Loki ditas no ímpeto que mudariam aquilo.

― Você não sabe o que está dizendo ― Thor sussurrou. ― Não sabe!

― Não? ― o outro provocou. ― Puxe pela memória, Thor! Quem dos filhos de Odin sempre foi mais amado, privilegiado e defendido?

― Loki...

― Qual deles ficou no canto enquanto o outro desfilava para se tornar rei? ― ele continuou, ignorando a tentativa de Thor de interrompê-lo.

― Loki... ― Thor voltou a chamar.

― Odin jamais deixaria o filho de Laufey ser o rei de Asgard!

Descontando sua ira, Loki se preparou para desferir mais um golpe em Thor. Este não revidou, não se defendeu, absorto demais pelo que acabara de ouvir. O punho cerrado atingiu o maxilar de um Thor catatônico, levando-o ao chão uma vez mais, porém, nem mesmo isso fez com que reagisse. Ele esperou, pacientemente, até que Loki notasse sua passividade, mas isso não aconteceu.

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O mais novo desferiu incessantes golpes no outro, mas não sabia se o gesto era para aplacar ou acender ainda mais a cólera dentro de si. Queria feri-lo, fazer com que o irmão sentisse a mesma dor que ele sempre sentiu ao longo dos anos. Ao menos uma vez, queria ser o primeiro e dar o segundo lugar a Thor.

Loki se preparou para um novo golpe, mas teve seu movimento barrado. O mais velho o desarmou, segurando-o firmemente pelos ombros para que olhasse em seus olhos. Talvez um pouco além deles para que, assim, percebesse a veracidade do que estava prestes a dizer.

Thor arfava pelos golpes recebidos, o torso levemente curvado ante a dor. Loki teve sua chance, agora era a vez dele.

― Você sempre... sempre foi amado, Loki ― Thor murmurou com dificuldade. O outro arregalou os olhos levemente, pego desprevenido. De todas as coisas que o irmão poderia fazer, aquela era a mais surpreendente, e também a mais certeira se o intuito fosse deixá-lo estático. Os olhos já úmidos pelas lágrimas contidas pareceram enternecer o suficiente para que ele, com maxilar trincado, escutasse o que Thor ainda tinha a dizer: ― Por nosso pai, por nossa mãe... por mim! Você não tem o direito de duvidar disso. Nunca teve.

― Não ― negou, por mais que quisesse se apegar àquelas palavras. Aquele era o modo de tentar pará-lo, dissuadi-lo. Não tinha nada a ver com real afeição, por isso não podia fraquejar, muito menos agora que estava tão perto de tudo o que sempre quis. ― Eu sou filho de Laufey, um jotuns ― informou.

O choque da informação não abalou a confiança de Thor no que dissera nem mesmo por um ínfimo instante. Quando voltou a falar foi com convicção: ― Você é filho de Odin ― o loiro retrucou. ― Meu irmão. ― As mãos de Thor subiram pelos braços de Loki, até alcançarem os lados de seu rosto e segurá-lo entre elas. ― O irmão que eu amo, Loki. Que sempre amei, desde que consigo me lembrar.

Ele não esperou por resposta alguma. Os lábios esmagaram a testa de Loki e permaneceram ali por alguns segundos. O mais novo suspirou enquanto suas defesas ruíam, uma por uma. Não podia fingir ser imune àquele toque, por mais que quisesse ou precisasse. Aquele momento era o que ele sempre almejou. Aquele brilho no olhar de Thor era o que ele precisava.

Loki sentiu quando os braços de Thor o rodearam, puxando-o para mais perto. Sentiu o peito forte comprimindo o seu próprio e então suas mãos foram parar na nuca de Thor, incitando-o a continuar com o contato. Ali, entre aqueles braços fortes, era onde ele gostaria de estar. O peito inflou, se aqueceu. Era como se aquele tivesse sido seu verdadeiro propósito desde sempre. Como se tudo o que fizera tivesse sido programado para acabar ali, naquele abraço apertado, naqueles lábios cálidos e macios tocando sua pele novamente.

Já fazia tanto tempo...

― Eu também amo você, Thor. Sempre amei ― ele confessou, porque não fazê-lo, agora, parecia impossível. Levou seus olhos para encarar a imensidão azulada que eram os olhos do irmão, perdendo-se ali por um momento. Não poderia haver vitória maior que aquela... Nada poderia ser melhor do que aquele olhar terno sobre si. ― Tudo o que eu queria era ser amado de volta.

― Você é. Eu correspondo esse amor, Loki. E vou sempre corresponder.

As mãos de Thor acariciaram as maçãs do rosto de Loki delicadamente, e ambos suspiraram, as testas grudadas uma à outra.

Ambos enfrentaram um turbilhão de emoções e, por um momento, lutaram em lados opostos. Não mais. Eles entrelaçaram os dedos e se olharam fixamente, um sorriso brotando nos lábios. Eles tinham vencido, enfim. Talvez não como pensavam ou mesmo desejaram, mas, sim, eles venceram.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.