Hunter
Infiltrada
Quando acordei de manhã, estava sozinha. Fiquei confusa, não esperava que o Tristan fosse embora sem se despedir ou algo do tipo.
Levantei-me e coloquei meu amuleto no pescoço. Fui até o espelho para me olhar. Eu estava um caco, talvez tenha sido por isso que ele foi embora.
– Bu. – Tristan apareceu atrás de mim, dando-me um susto.
– Que droga! – coloquei a mão no peito – O que houve?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Eu fui tomar um banho e trocar de roupa. Eu trouxe isso – ele estendeu uma caixa de isopor da padaria.
– Pão de queijo!
– Seu café-da-manhã favorito.
– O que você lê mentes agora, também?
– Ainda não.
– Como assim “ainda não”? – sentei na minha cama com as pernas cruzadas e peguei um pão de queijo.
– Bom, nós espectros, conforme vamos ficando mais fortes, adquirimos certos poderes, de acordo com jeito que matamos. Ler a mente é um deles.
– Legal! – exclamei e comi um pedaço da panqueca – Mas então, por que você tá aqui?
– Quero te levar a um lugar.
– Ah, ok. Eu só preciso tomar um banho, me arrumar...
– Eu volto em meia hora então. Pela porta da frente!
Eu ri.
– Tudo bem.
Ele pulou pela minha sacada e eu fui para o meu banheiro tomar um banho. Avisei meu pai que eu iria sair e Tristan chegou logo.
– Nós vamos a pé? – perguntei.
– Claro, não é muito longe.
Ele passou a mão no meu ombro, como costumava fazer. Achei que dessa vez eu tinha mesmo recuperado o Tristan.
Paramos no meio da calçada, num lugar assustadoramente perto da minha casa. No chão, logo abaixo de nós, havia algo parecido com um alçapão. Tristan o abriu e descobri que levava a um corredor mal iluminado.
– Eu tô ficando com medo.
Ele riu.
Andamos por mais uns quinze minutos até chegarmos numa porta. Tristan a abriu. Lá dentro havia uma enorme sala circular com cozinha americana ao fundo. Descendo dois degraus, havia vários pufes e sofás com uma mesa de centro. Num canto, uma TV LCD com vários vídeo fames. No fundo, havia mais algumas portas. Nem parecia que aquilo ficava no subsolo.
O local não estava vazio e logo reconheci alguns rostos.
– Oi, Emilia. – disse Rique, caminhando na minha direção e olhando para Tristan. Pude senti-lo assentindo ao meu lado.
– Rique.
Ele parou e ficou me encarando. De repente eu pulei e o abracei.
– Desculpa por tudo! – exclamei!
– Não, eu que tenho que pedir desculpas! – ele me abraçou de volta.
Acho que eu nunca tinha abraçado o Rique daquele jeito e, mesmo agora que eu não gostava mais dele, ainda era muito bom. Eu me sentia segura.
– Então, o que é aqui? – perguntei ao soltá-lo.
– É tipo o nosso quartel general. – explicou Tristan. – É aqui que tomamos decisões importantes, como se devemos ou não contar a você sobre sermos espectros.
– Ou se devemos ou não colocar uma máquina de fliperama aqui dentro. – Rique semicerrou os olhos para Tristan.
– O que ela tá fazendo aqui? – perguntou uma voz conhecida. Olhei por cima do ombro de Rique e vi Carol sentada em um dos sofás. Enquanto todos ali vestiam roupas normais como jaquetas de couro e calças jeans, ela vestia um vestido rosa com sapatos de salto rosa e ouvia música com fones rosa. Seus cabelos pretos já lisos estavam com chapinha. Parecia uma propaganda de perfume ambulante.
– Eu contei tudo a ela. – respondeu Tristan. Carol ficou emburrada e voltou a ouvir música. Eu tinha a leve impressão de que ela me odiava, mas não sabia porquê.
– Ela votou contra. – sussurrou Rique para mim. Não sei se ele se referia a mim ou à máquina de fliperama. Provavelmente aos dois.
Olhei em volta. Luís, Natasha, Vitória, Marina e Mia estavam lá. Marina nem parecia notar Tristan na sala. Isso era um tanto estranho. Não que os dois tenham algum dia tido o melhor relacionamento do mundo, mas mesmo assim...
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Bom, mas por que você me trouxe aqui? – perguntei ao Tristan.
– Ah, você é uma de nós agora. – respondeu. Fiquei confusa e ele pareceu percebeu – Emilia, nós... Bom, a maioria de nós confia em você. Você é uma caçadora, nós matamos espectros maus. Então, por que não nos unirmos?
– Não acho que meu pai vá gostar muito da ideia...
– Esse é o menor dos nossos problemas. – disse Rique.
– Ahn... Tudo bem, eu acho. Podem contar comigo. – sorri de leve.
–
Passei a tarde toda no QG dos espectros enquanto o pessoal me explicava tudo sobre o lugar e contava experiências passadas com espectros do mal. Quando estava quase anoitecendo, Tristan me levou de volta pra casa.
– Bom, tchau então. – comentei, mas ele não respondeu. Estava distraído mexendo numa pedra com a ponta do pé – Tristan?
– Ah, oi! Desculpa, eu tava meio distraído pensando em algo que vou fazer segunda...
– O que você vai fazer?
– Nada importante.
– Ah, qual é! Você não pode dizer uma coisa dessas e não terminar.
– Calma, não é nada! Sério!
– Então por que você não me conta?
– Por que tenho medo de que você comente alguma coisa com alguém e estrague tudo.
Respirei fundo.
– Não é nada que vá me machucar de algum jeito?
– Claro que não!
– Tem certeza?
– Tenho. Não vai afetar ninguém. Pelo menos ninguém importante.
– Tá legal. Boa noite, então. – abri a porta de casa.
– Ei! – virei para olhá-lo – Eu te amo, viu?
– É, é, eu também. – não estava para gracejos naquele momento. Tristan havia conseguido me estressar com aquele mistério todo.
Poxa, quando estava tudo ficando bem de novo, ele conseguiu me preocupar. O que afinal ele iria fazer na segunda-feira? As possibilidades eram infinitas. E de algum modo, eu sabia que era algo que me machucaria, mesmo ele dizendo que não.
A única coisa da qual eu tinha certeza era de que mal dormiria nas próximas duas noites.
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