As Mulheres de James Sirius Potter

Dione Psique Michaedelis


Aterrissamos num lugar estranho. Quero dizer, eu nem sabia em que lugar eu estava. Sim, sabia que era na Grécia, mas não onde na Grécia.

Não reparei em nada. A tristeza me abateu de uma maneira que nem mesmo consegui aproveitar a paisagem. Ali ainda era pôr-do-Sol, mas tudo o que se passava na minha cabeça era: porque raios Giulietta decidiu ficar com aquele crápula? Ela não queria se livrar daquela vida? Ela estava com medo de deixá-lo? Eu não conseguia entender e aquilo estava doendo mais do que deveria.

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A sensação de abandono quase não me deixou perceber que todos estavam empolgados e felizes. Tudo estava bem para eles, mas eu só queria deitar e ficar pensando nos porquês. O que a vida queria de mim? O que Giulietta quis de mim? Eu não entendia.

— Hey, James — chamou Guadaluppe. Eu balancei a cabeça e foquei em seu rosto.

— Oi, Luppe. O que foi?

— Nós vamos num bar bruxo aqui perto, quer ir também? Sook pesquisou muitas coisas sobre a Grécia bruxa.

— Tá bem. Ok, vamos — respondi sem muito pensar no caso e nem mesmo notei os olhares que meus colegas trocaram entre si enquanto começava a acompanhá-los.

Já passava das oito da noite na Grécia, mas o céu ainda estava naquele crepúsculo entre o dia e a noite, então, apesar de não conseguir absorver os detalhes da paisagem, podia notar, por exemplo, que muitas das casas eram brancas; apenas algumas tinham alguma coloração em tons pastéis ou azuis.

Quando chegamos ao bar, parecia que estávamos numa casinha branca, mas com uma tenda e mesas e cadeiras do lado de fora. Como era um vilarejo bruxo, tinha bruxos com roupas peculiares e outros com roupas trouxas, como nós.

Antes de irmos, o responsável pelo intercâmbio nos deu papéis sobre onde ficava a república que ficaríamos, a faculdade bruxa e o que faríamos nesse ano. Assim que chegamos e nos acomodamos em nossas cadeiras li tudo com mais atenção, ainda que a minha cabeça voltasse para Giulietta. Esse ano tinha mais matérias em minha grade, como Princípio Básico de Ensino de Poções e Didática Bruxa. Se eu não estivesse tão mal por causa de Giulietta teria pensado: "Finalmente".

— Um suco, não é, James? — Perguntou Guadaluppe quando o garçom veio nos atender.

— Um Firewisky, por favor. O mais forte que vocês tiverem. — falei e todos na mesa me olharam. Como eu era o último o garçom saiu, assentindo.

— James, você está bem? — Luppe perguntou, demonstrando uma genuína preocupação. Eu a encarei, fornecendo o melhor dos meus sorrisos.

— Brilhante. Agora... vamos ou não comemorar essa nova etapa?

Mesmo estranhando por eu ter pedido uma bebida alcóolica o pessoal começou a conversar. Eles estavam animados por terem passados com boas notas — eu também deveria estar, já que minhas notas estavam maravilhosas —, mas eu só conseguia pensar em Giulietta e em como meu coração estava partido... de novo.

Àquela altura as bebidas já estavam em nossas mesas. Eles tentavam puxar conversa comigo, mas eu dava respostas monossílabas e não me esforçava tanto para participar. Fazia dois anos que eu não colocava uma gota de álcool em meu organismo e eu nem me lembrava mais o gosto, entretanto, assim que eu tomei o primeiro gole, senti uma queimação gostosa da qual eu me lembrei no momento e, dali em diante, era tudo em que eu me concentrava.

Eu estava sentindo meu coração afundar outra vez. Eu vi nos olhos dela que ela queria fugir comigo, que ela queria uma vida nova longe daquela família tóxica, mas minha mente sempre voltava para a mesma pergunta: por que então que Giulietta não viera comigo? Eu sabia que ela conseguiria me encontrar, mesmo estando sob vigilância. E ela era uma bruxa inteligente! Tinha certeza que sabia lutar.

Eu ouvia a conversa ao meu redor, mas não a assimilava. Não queria assimilar. A única coisa que eu queria era esquecer que, mais uma vez, eu não consegui meu final feliz. Eu perdi a noção de por quanto tempo eu havia bebido, ou quantas doses, até que senti uma mão impedir que eu tomasse o restante da caneca. Olhei para cima e vi Guadaluppe com a expressão resignada.

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— O que está acontecendo com você, James?

Então eu percebi. Percebi que eu estava fazendo a mesma coisa quando perdi Saphira e meu filho. E podia sentir o álcool entorpecendo meus sentidos novamente. Larguei a caneca e olhei para Guadaluppe, que esperava uma resposta.

— Eu... eu preciso ir. Desculpe — Respondi, me levantando. Deixei galeões em cima da mesa para ajudar na conta depois e saí do bar. Ouvi Luppe gritar meu nome, mas acelerei meus passos e me escondi no breu da Grécia noturna.

De repente eu não sentia mais aquele torpor que o firewisky causava. Perceber que eu estava me afundando de novo em algo que me fizera ficar no escuro por anos acabara me deixando irritado comigo mesmo. Eu estava me afundando novamente por coração partido e aquilo era injusto. Comigo e com Viola. Eu simplesmente não podia fazer aquilo de novo. Sabia que a situação de Saphira fora diferente, mas também era decepção amorosa. Ela me deixara cedo demais e partira com um filho meu, mas não deixava de ser minha paixão, assim como Giulietta também se tornara. Eu me permitira sentir algo e vi que me fazia bem. Contudo, eu não podia voltar a beber. Portanto, enquanto cambaleava por ruas e vielas da Grécia, eu fiz um pacto comigo mesmo: eu não me afundaria mais por um amor perdido.

A noite estava fresca e resolvi olhar o mapa para a república. Eu precisava ir para algum lugar que não me fizesse querer beber. Eu não queria (e não podia) aparatar para a república pois, além de estar embriagado, eu não fazia ideia de onde era o local exato. Portanto, fui a pé mesmo, tentando não cair para os lados, perguntando para os bruxos onde era o caminho certo, porque considerando que eu não conhecia muito bem o local e não estava com minhas funções cognitivas perfeitas não deu muito certo olhar o mapa.

O lugar era bonito, pude apreciar enquanto estava bêbado; a lua brilhava intensa no céu, mas eu sabia que logo iria amanhecer; as casas pareciam ser feitas de pedra e pintadas de branco, com janelinhas quadradas e, como estava no que parecia ser uma encosta, dava para ver o mar. A água era tão clara que refletia direitinho o céu noturno acima. Se eu não estivesse tão preocupado em achar um lugar seguro teria ficado mais tempo. (Incrível como quando se está bêbado parece que a gente aprecia até uma lesma andando no asfalto e diz que é belo.)

Enquanto eu andava e perguntava como chegar em meu destino, encontrei algo que eu não esperava mesmo encontrar num vilarejo bruxo: um telefone público. Estranhei, mas fui até ele. O que eu pretendia fazer discando aquele número eu não sabia. Quero dizer, eu não sabia até ouvir a voz dela.

— James? — perguntou Viola quando eu disse seu nome. Então, comecei a chorar. — James, pelo amor de Deus, você está me preocupando.

— Ela... ela não veio... Vi — choraminguei entre soluços.

— Quem?

— Giu-Giulietta — falei e escutei ela respirando fundo do outro lado da linha.

— Eu sabia. Eu sabia que ela era má influência para você, James. Você bebeu, não foi? Eu não estou acreditando, James. Eu não estou. Desde o início, quando eu soube dela, eu tinha certeza que ela não ia fazer bem algum a você!

— Mas eu ama...

— Não. — Ela me interrompeu. — Você acha que estava amando. Mas você não estava. Não sabia nem quem era ela de verdade! Sim, eu soube. Você gostava dela, é diferente. — Ao ouvir aquilo, voltei a chorar.

Desde o dia que Viola me levou ao cemitério para me fazer despedir de Saphira estava fácil chorar, eu chorava feito um bebê faminto abandonado em algum beco, e o grande problema era que talvez eu fosse: Um bebê grande e chorão que tinha fugido dos pais e foi abandonado pela pessoa a quem resolver se apegar. Ouvi-a suspirar do outro lado da linha depois de um tempo. Viola suavizou a voz quando voltou a falar:

—Olha, não vamos voltar para quando nos conhecemos, tá bom? Eu quero que lembre do processo e o quanto lhe custou estar sempre bêbado.

— Eu... eu não quero voltar a beber, Viola.

— Então seja forte, como eu sei que você é. Ok?

— Ok. — Respondi, secando os olhos.

— Ela não merece você — disse Viola. — E eu tenho certeza que a pessoa certa pra você está em algum lugar. Apenas... seja você.

— Eu não quero alguém... — Resmunguei com minha voz de embriagado.

— Sim, você quer. — Viola disse com uma voz de quem estava rindo. — Você quer isso desesperadamente, não importa o quanto negue, você é o romântico mais sem-vergonha que eu já conheci, James. Você tinha 11 anos quando alguém partiu seu coração e você se convenceu que não ia amar de novo, mas eu conheci você, eu vi o que você nunca mostrou para ninguém e a verdade é que você quer mais do que qualquer coisa amar alguém que te ame na mesma intensidade. — Ela respirou fundo. — Só não precisa beber para aliviar a dor, você sabe. Viva. A dor é um aprendizado. Mas sofrer é opcional. Acho que não quer sofrer a cada coração partido, certo?

— Certo. — Fizemos uma pausa.— Me desculpe, Viola.

— Tudo bem, James. Só James. Eu estarei sempre aqui para te dar um sermão e para te ajudar.

—Até mais, Viola e isso é tudo o que precisa saber.... obrigado.

— Até mais, Jay.

Desligamos e eu pude sentir um alívio em meu peito. Ainda estava um pouco tonto, mas pensava melhor. Ainda doía ter sido rejeitado daquele jeito por uma mulher que estava na cara que queria ser libertada, mas não tinha a coragem. Eu não ia mais sofrer. Se eu me apaixonasse outra vez, seria ótimo. E se eu fosse magoado novamente, seguiria em frente.

(...)

Quando eu finalmente achei a república — sim, para cada pessoa que passava pela rua eu perguntava em qual direção ficava. Eu é que não ia aparatar sem saber onde ficava o lugar -, dormi no sofá que havia ali. Eu havia chorado, andado para cacete e estava exausto.

No dia seguinte, acordei com um jato de água gelada na minha cara. Levantei-me assustado, sentindo a água escorrer pelo rosto e assim que abri os olhos vi Guadaluppe com a varinha apontada para mim.

— O que diabos...?

— Você estava fedendo. — Ameaçou. — James, você está envolvido com a máfia? Eles te acharam aqui, é isso?

— O quê? Não! O que que você tá falando?

— Você nunca bebeu, e aí de repente... Além do quê tem aquele cara que quase te matou alguns meses para trás e, bem, definitivamente parece que alguém te deu uma surra. — Ela conseguia soar preocupada, desconfiada e ameaçadora ao mesmo tempo.

— Eu... tô... — Suspirei. — Tá tudo bem, Luppe.

— Não minta pra mim, niño. — Ela ainda empunhava a varinha e eu ponderei se deveria entender aquilo como uma ameaça real. Esfreguei meus olhos e passei as mãos nos cabelos, respirando fundo mais uma vez.

— Olha, eu vou ficar bem, de verdade. É meio que... pessoal.

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— Olha, sem querer ofender ou me intrometer, mas se torna assunto público quando você dorme na sala e faz a república feder igual a um cemitério de trasgos.

— Ok, desculpa por isso, vou tomar um banho. — Guadaluppe balançou a mão livre no ar e em seguida guardou a varinha.

— Já cuidei disso, é melhor você se apressar, o patrono da coordenadora veio avisar que precisa falar com você. — Ela se virou para ir embora, mas voltou a me olhar. — E... James, se você precisar de qualquer coisa, saiba que estamos aqui por você, ok?

Eu sorri e assenti com a cabeça, agradecendo-a. Luppe voltou a seus fazeres e então eu pude sentir a dor de cabeça infernal que estava me acompanhando, tinha me esquecido dos efeitos colaterais que a bebida causava.

Sentei-me novamente no sofá, na expectativa de afastar a dor por um momento, mas ao lembrar de uma das últimas palavras de Guadaluppe, tornei a me levantar, um pouco tonto e sentindo a cabeça girar e latejar ao mesmo tempo. Apesar disso, fui ao banheiro e tentei ficar mais apresentável para poder ir até a coordenação da faculdade.

Depois de tomar um banho, eu segui até a faculdade, que não era longe dali; demoraria uns cinco minutos a pé, pois a maioria dos intercambistas não saberiam chegar ao local nem aparatando, se fosse o caso.

O sol era bem intenso ali. Diferente da Itália e dos outros países em que eu estive, eu estava suando. Mas não me importava. Pelo que eu lembrava de Teresa comentar, o Brasil era bem mais quente. Queria que o intercâmbio fosse lá, assim eu poderia perturbá-la um pouco, tinha saudades. Depois da morte de Saphira nós nunca mais nos falamos.

A paisagem era mais bonita com a luz do sol. E, sinceramente, queria mergulhar naquelas águas transparentes da Grécia e visitar os templos abandonados dos deuses antigos. Talvez eu arranjasse alguém para me levar até alguns deles. Não vi nenhum pelo caminho até a faculdade, nem de longe, infelizmente.

Quando cheguei à faculdade, dei sorte de encontrar alguém que falasse inglês. Acho que eles sabiam que pessoas estrangeiras estavam vindo para a faculdade deles. Entretanto eu estava adorando a experiência de estar em vários países e aprender outras línguas, mesmo que um pouco. Acharia um máximo falar grego, graças a isso acrescentei à minha lista de afazeres que eu deveria aprender algo durante minha estadia ali. Perguntei onde ficava a reitoria e a moça me acompanhou até o escritório da reitora. Agradeci quando ela me deixou na porta o escritório. Ali era um lugar bem arejado e bonito; parecia de uma época bem antiga dos bruxos gregos, porém com toques bem modernos.

Esperei alguns minutos, vendo quadros se mexendo na parede, e ela finalmente abriu a porta. Entrei e vi uma mulher de cabelos pretos e postura não tão séria.

— Olá, senhor Potter. — Disse ela e eu realmente tinha que me acostumar com aquilo. — Meu nome é Leila Gianakos, sua reitora pelo próximo ano. E acredito que você saiba o motivo de ter sido chamado aqui.

— Hã... — Minha cabeça ainda doía bastante, maldita bebida e maldita falta de autocontrole. — Pelo fato de eu preferir ser chamado de senhor Evans? — Arrisquei.

— Bem, também. Me explicaram a sua situação. Sinceramente, eu não compactuo com esses tipos de coisas, mas, como suas notas são boas e seu desempenho também, manterei o seu sigilo. — disse Leila.

— Obrigado, senhora — Assenti, um pouco aliviado por não ter que repetir a minha história para ela.

— Contanto que não arruíne suas notas... — Ela sentou-se e mexeu em alguns papéis. — Mas tem outra razão para estar aqui, senhor Potter. — Ela me encarou e então semicerrou os olhos. — Evans. — Corrigiu a contragosto. — Recebi sua carta solicitando ficar com a família Michaedelis.

— Minha... carta? — Perguntei não conseguindo conter a confusão, mas logo tudo se fazia claro: Paolo.

— Sim. Gostaria de dizer, em nome dos organizadores do intercâmbio, que normalmente não permitimos que os alunos escolham as famílias, sorteamos para que seja mais justo. Porém, mais uma vez, seu histórico está lhe garantindo certo privilégio.

— Meu histórico ou meu nome? — Perguntei antes que pudesse impedir as palavras de saírem.

Leila largou os papéis que manuseava e me encarou, deixando claro que eu devia ter me mantido calado com aquele ato.

— Senhor P... James, isso aqui é o mundo de gente grande. Pouco me importa se seu sobrenome é Potter, Evans ou Le Fay. Você poderia ser filho de Zeus e isso não me faria servir suco de abóbora em uma bandeja dourada para você. Eu não sei como as coisas são na sua Inglaterra, mas por aqui as pessoas conquistam as coisas por mérito próprio, não por quem é seu papai. Posso continuar?

— Eu... eu sinto muito, Senhora, não foi minha intenção... — Ao mesmo tempo que me sentia um tanto quanto humilhado pela fala de Leila, me sentia absurdamente contente com aquilo. Uma vez Kristina me dissera palavras parecidas, mas agora parecia muito mais real. Leila dispensou meu pedido de desculpas e voltou a falar como se nunca tivesse sido interrompida.

— Assim, você tem a permissão para ficar com os Michaedelis. — Ela, então, abriu uma gaveta e pegou um pergaminho ali. Escreveu algumas coisas e, logo após pegar outros pergaminhos em cima da mesa, me deu. — Aqui estão seus horários e o pergaminho de apresentação, com endereço e tudo, para dar a... Héktor Michaedelis.

— Ok. Obrigado, senhora Gianakos.

— Bem vindo ao Centro Universitário Bruxo Abnara, senhor Potter... Evans.

— Agradeço. — Assenti com a cabeça e saí de lá, a fim de procurar a casa dos Michaedelis.

(...)

Depois de muito andar finalmente encontrei o lugar certo. E, pelo o que eu vi, era um lugar bem cheio.

Não era um restaurante, ao que parecia, a entrada para a casa era um lugar onde se vendia... ervas. E estava lotado. Eu via pessoas diferentes entrando e saindo da loja, e sabia que ali não vendia ervas somente trouxas, como aquela loja onde eu havia marcado de me encontrar com... Impedi o pensamento de se concretizar. Reconheci um chifre de dragão autêntico pendurado na porta e pele de araramboia em um balde no canto. Dando de ombros, entrei na loja.

Havia quatro pessoas atendendo e uma quinta, que estava no balcão, amassando o que parecia ser, pelo cheiro, lavanda e pernas de grilo. Ele era um homem de setenta anos, mas eu daria uns sessenta e cinco, e era o mais velho ali. Esperei até que a cliente fosse embora e fui até ele.

— Olá, em que posso ajudá-lo? — perguntou em inglês, com um sotaque carregado.

— Hã... como sabe que eu não falo a sua língua? — perguntei, sendo o maior idiota possível.

— A gente reconhece um estrangeiro quando vê um. — Ele sorriu, ainda simpático. Mesmo com todos aqueles sorrisos, percebi que a postura dele era bem ereta e ele estava alerta o tempo todo. — Então, como posso ajudá-lo?

— Ah, meu nome é James P... Evans e eu soube que o senhor abriga intercambistas. E fui recomendado para vir até o senhor. O nome Paolo lhe é familiar?

O homem parou para pensar por alguns segundos e pareceu se lembrar.

— Paolo! Claro, claro. — Disse ele, tirando o avental. — Meu nome é Héktor Michaedelis, mas acho que já sabe. Lembro-me de Paolo, sim. Ele estava entrando para a academia de aurores quando eu me aposentei. Tem os documentos que precisa? — perguntou e eu lhe mostrei o pergaminho que a senhora Gianakos me dera. — Ótimo. Apollo! — ele chamou em grego e um garoto de aproximadamente vinte anos o olhou. — Cuide da loja por favor, eu volto já.

O menino assentiu e Héktor me indicou com a cabeça para que eu o acompanhasse, abrindo o balcão com a varinha. Eu passei e o segui para os fundos da loja. Ele abriu a porta com um feitiço e eu fui atrás dele, parando em uma enorme cozinha.

Não havia ninguém ali, mas me lembrou muito a cozinha da vovó Weasley, pois a louça se lavava sozinha e a carne estava sendo dourada também sozinha. Devo confessar que o cheiro me deu fome. No meio da cozinha, assim como n'A Toca, tinha uma gigantesca mesa, onde Héktor pediu para que eu me sentasse. A única coisa que diferia da cozinha da vovó era o tamanho.

Héktor revirou os papéis e assinou outros. Quando terminou, olhou-me.

— Faz algum tempo desde que eu hospedei um intercambista — disse-me ele. — Mas vai ser um prazer abrigá-lo, James. E...

Uma menina, então, nos interrompeu, falando em grego. Não passava dos quinze anos, mas, ainda assim, tinha uma beleza sem comparação a nenhuma outra. Ela tinha cabelos louros, olhos azuis e lábios carnudos. Quando me viu ali, parou de falar e ficou me olhando, como se tivesse visto... bem, meu pai.

Héktor respondeu em grego, mas ela não saiu dali. Eu acenei e ela pareceu lembrar o que ia fazer ali.

— Minha filha, Dione. — Disse Héktor, quando a filha desapareceu por uma porta.

— Ela não se parece muito com o senhor, desculpe falar.

Héktor riu e dispensou meu comentário com as mãos.

— Tudo bem. A mãe dos meus filhos é bem mais bonita que eu. — Ele riu outra vez. — Creio que está tudo certo, rapaz. Pode trazer suas malas que seu quarto será separado na hora do jantar. Em que, aliás, minha esposa adorará recebê-lo.

— Oh, obrigado, senhor Michaedelis.

— Me chame de Héktor, rapaz. Logo, logo perceberá que não precisa nos tratar formalmente.

Ele se levantou e me deu um pergaminho.

— Entregue isso para a diretora no primeiro dia de aula. É a minha assinatura de que eu o estarei abrigando. — Instruiu ele, ainda muito simpático. Lembrei-me do meu pai.

— Claro, claro.

Héktor, então, me acompanhou de volta a loja e me guiou até a saída.

— Esperamos você mais tarde, James.

Eu sorri e acenei, voltando para a república, onde tinha deixado minhas coisas.

(...)

Eu ainda pensava em Giulietta. Mesmo tentando evitar, ainda demoraria um pouco para esquecê-la, pois, toda vez que eu fechava os olhos, eu a via dançando em frente ao chafariz. Com toda aquela beleza italiana e com o suor escorrendo pela testa... me lembrei de quando fizemos amor e em como sua expressão me deixara com tesão e ao mesmo tempo extasiado.

Balancei a cabeça enquanto reunia as minhas coisas. Havia tomado uma poção para dor de cabeça no caminho para a república e percebi que eu não fora o único que pensara em ficar abrigado em casa de família.

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— O custo de ficar aqui é mais caro. — Ia dizendo Guadaluppe. — Não que a gente não deva contribuir com a família que ficarmos, mas vai ser um certo alívio no meu bolso com algumas coisas.

— Sim! — concordei. — A comida principalmente. E a lavagem de roupas...

— E banheiros que não são coletivos... — Guadaluppe suspirou e eu assenti com a cabeça. — Vocês vão ficar aqui?

— Meus pais... me bancam, sabe — Disse um menino que eu não sabia o nome, mas sabia ser da Alemanha. Eu não o julguei, pois eu sabia que se não tivesse acontecido o que aconteceu Harry Potter não se incomodaria de pagar as minhas contas. E nem eu me incomodaria.

Mas hoje em dia... naquele momento eu soube que era bom não estar sempre contando com meus pais. Eu sabia cozinhar, eu não precisava que meu pai me guiasse em uma cidade diferente, eu sabia um pouco de escocês, búlgaro e italiano... a vida estava me ensinando a viver sem meus pais. Era bom. Mas, ainda assim, eu sentia falta de alguns mimos.

Sook falou que iria ficar e alguns outros também. Como era para eu estar na casa dos Michaedelis na hora do jantar, eu decidi ficar um pouco ali, conversando. Já havia gravado como e onde era a casa da família, era só aparatar um pouco antes.

Era engraçado em como aqueles três não falavam sobre quem eu era. Eles sabiam quem era o meu pai, mas agiam como se eu fosse... James Evans de verdade. Eu havia pensado que todos iriam cochichar sempre que eu passasse ou iriam me dedurar para meu pai. Mas acho que todos estavam ali para focar em seu futuro. Com certeza se houvesse outro inglês ali minha mãe já teria aparecido com três aurores mais o meu pai para me buscar. Ou, talvez não. Um mundo de gente grande, como Leila tinha pontuado.

Quando faltava apenas alguns minutos para o jantar na casa dos Michaelides eu me despedi do pessoal e, levando as minhas poucas malas, desaparatei. Ainda ficava enjoado com as viagens, mas vendo o Boticário de Héktor notei que eu poderia experimentar alguns ingredientes dele — se ele deixasse, claro — para a minha poção. Não ia desistir dela.

Eu entrei pela loja mesmo, que estava prestes a fechar.

— Hey, James! — disse Héktor, enquanto acenava com a varinha para vários pergaminhos, que se enrolaram e voaram para dentro de um cofre, que também foi selado por magia. — Chegou bem na hora! Vamos, entre... vou te ajudar com as malas. — Héktor acenou a varinha para a porta e ela desapareceu, dando lugar a uma parede. Isso era o que eu chamava de fechar com estilo e segurança.

— Boa noite, Héktor. — Eu ainda estava meio sem graça. Ele sorriu e minhas malas se moveram sozinhas. Eu tinha várias perguntas, mas decidi não fazê-las por hora.

Ele fez o mesmo caminho que mais cedo e eu o segui. Como o acesso para a casa dava para a cozinha, eu vi todos os filhos de Héktor e sua esposa colocando a mesa para o jantar. O cheiro da comida estava maravilhoso e, de repente, lembrei-me de como a casa da vovó Molly ficava quando todos os netos iam para A Toca nas férias. Tentei não focar na saudade, que aumentou depois de ver toda aquela comida sendo posta na mesa.

A mulher de Héktor percebeu o movimento e olhou para nós dois entrando, nos recebendo com um sorriso. Ela era realmente bem bonita. Tinha cabelos louros e olhos azuis, como os da filha que eu vira mais cedo. Elas eram bem parecidas, e ela aparentava ser alguns anos mais nova que o marido.

— James! — Ela sorriu, largando o que estava fazendo e vindo em minha direção, segurando meu rosto entre as mãos e dando dois beijos estalados em minhas bochechas. — Héktor me avisou que você viria hoje! Estamos tão felizes com sua presença! — O sotaque dela era um pouco menos carregado, como se tivesse aprendido desde cedo outra língua e a praticasse com frequência. — Eu sou Helena, seja bem-vindo.

Eu estava envergonhado por tanta hospitalidade. Não que em casa não parecesse essa agitação toda, mas ali era com certeza mais... caloroso.

— Er... obrigado, Helena. — Falei e a mulher sorriu, voltando a terminar de colocar os pratos na mesa.

Eu observei todos à mesa. Eram oito filhos, ao todo, e eu não achei aquilo tão esquisito, já que vovó Molly teve sete. Era como se eu estivesse em casa, só que com mais pessoas de cabelos louros.

— A casa não fica mais tão cheia assim, James, você deu sorte de todos estarem aqui hoje. — Brincou Héktor dando tapinhas em minhas costas. — Aquele ali é o Alexandre. — Disse apontando pra um homem alto de cabelos escuros que ajudava Helena com um assado. — Meu primogênito, já está casado e tem dois filhos, quase não visita mais os seus velhos.

— Fale por você! — Helena gritou risonha em resposta.

— Pai, eu trabalho na loja com você lembra? É um prazer, senhor Evans. — Alexandre disse com um acenar de cabeça e eu sorri em resposta.

— Aquelas ali são Leonor e Catarina. — Héktor apontou para duas loiras que conversavam animadas em grego numa ponta da mesa, mas pararam ao ouvirem seus nomes. — Elas costumavam ser mais gêmeas antes de Leonor engolir uma goles.

— São seus netos! — Uma das gêmeas resmungou, a que estava grávida. — Você deve ser o James, certo? É um prazer! Qualquer coisa que eu puder fazer por você enquanto estiver aqui é só me chamar.

— Ela pretende ir embora assim que meus filhos nascerem. — Catarina entrou na conversa. — Só porque seu marido volta depois do nascimento deles você não precisa levar eles embora. — Resmungou a não-grávida.

— Hã... eles são meus filhos?

— Tenho certeza que vão nascer com minha cara.

— Porque nós temos a mesma!

— Você não pode levar meus bebês! — As próximas palavras foram direcionadas para a barriga de Leonor e ditas com aquela típica voz usada para falar com bebês e filhotes de gatos. — Vocês vão ficar com a titia, não vão? Vão sim. A titia é tão mais legal que o papai. Eu posso levar vocês pra viajar o mundo todo.

— Não entendo porque ela insiste em ficar com os gêmeos, ela é magizoologista, só vem pra casa no verão. Eu sou o Theo e eu moro aqui mesmo. — Disse um rapaz de cabelos e olhos castanhos surgindo na minha frente e estendendo uma mão. O reconheci como uma das pessoas que estavam atendendo na loja quando eu fui ali mais cedo.

— James. — Disse em resposta enquanto apertava sua mão.

— Eu também tô na faculdade, Herbologia, vamos nos ver bastante por lá, acho até que temos algumas matérias juntos...

— Mas não mais do que eu! Apollo. — Um cara loiro entrou no espaço entre Theo e eu e apertou minha mão ainda estendida. — Faço Poções também, soube que você trabalhou em uma fábrica na Itália, correto? Você precisa me contar tudo que eles fazem lá, é meu sonho trabalhar em uma dessas, mas eu continuo ajudando aqui na loja, sabe como é, negócios de família.

— Deixem o garoto! — Uma menina, um pouco mais nova que eu, disse, empurrando os irmãos enquanto empunhava garfos contra eles. —Sou Íris! Seja bem-vindo. — Disse com um sorriso radiante.

— Vocês poderiam tentar não parecer trasgos pelo menos na primeira impressão. — A garota que aparecera na cozinha mais cedo resmungou, revirando os olhos, enquanto servia alguma coisa que eu não soube identificar o quê. Theo e Apollo implicaram em grego com ela.

Como eu sei que eles estavam implicando? Huh... bem, você sabe quando tem irmãos.

— Essa você já conhece, Dione, James. — Héktor retomou as apresentações e a menina sorriu ao longe, colocando uma mecha de cabelo para trás da orelha.

— Dione, razão do seu viver. — Apollo zombou do pai

— A menininha dos olhos de Héktor. — Alexandre entrou na brincadeira.

— Quer dizer, qual é! Não é como se você não tivesse mais três meninas! — Catarina revirou os olhos.

— Ela é a única que tem os olhos da mamãe. — Leonor justificou.

— Ah qual é! Os meus são verdes! Os únicos verdes! Os mais bonitos! — Íris protestou de seu canto e eu ri, na minha terra aqueles de olhos verdes eram os reis.

— Ela é a bebê da família. — Resmungou uma voz nova, subindo na mesa.

— Eu não sou a bebê, bebê! — Dione acusou emburrada para... bem, para o único ali que realmente aparentava ser um bebê.

— Esse é Denis, nosso anjinho. — Helena apresentou o rapazinho de cabelos escuros e olhos tão azuis quanto os dela, de Dione e de Apollo, enquanto o pegava no colo, tirando-o da mesa e o sentando na cadeira.

— Diga por você. — Outras oito vozes bradaram, fazendo-me rir.

— Jantar servido! — Helena decretou, como se não estivesse contente com a oposição.

Uma coisa sobre os gregos: eles falam. Muito. Mais um motivo para lembrar de casa. E eu não queria me lembrar de casa... não que eu não tivesse superado o que acontecera, mas ainda era cedo e eu só pretendia voltar quando tivesse o meu diploma de professor. E, para isso, eu precisava estar preparado e concentrado.

— James, é muito nublado de onde você veio? — perguntou Denis. Todos riram, inclusive eu.

— É, é sim. — Respondi, ainda sorrindo. — E faz frio.

— Legal. — Disse o menino.

Eu fiquei o olhando por alguns minutos. Descobri que Denis tinha 5 anos, aproximadamente a idade que meu filho teria se... era melhor deixar aquele assunto para pensar depois.

— Então, James... poções? — perguntou Helena, me servindo de mais salada de legumes.

— Poções... mais para aprender a ensinar a usá-las. — Respondi. — Tive experiência em prepará-las e agora quero aprender a prepará-las e ensiná-las.

— Então quer ser professor? — quis saber Héktor impressionado.

— Sim. Quero dar aulas em Hogwarts. — Falei, com um sorriso.

— Ouvi dizer que é uma boa escola — comentou Dione, a filha que eu vira mais cedo.

— Sim, é ótima, quando não se tem um super vilão querendo invadi-la. — Eu brinquei e todos riram.

— Bem, não é melhor que Durmstrang. Os vilões são feitos lá. — Íris veio, defendendo a escola em qual acabava de se formar.

— Eu tomo o crédito por Voldemort. — Disse e Íris me mostrou a língua.

— Gostaria de conhecer Hogwarts. — Dione retomou a palavra.

Ela me lembrava Lily. A última vez que vi minha irmã ela tinha exatamente a idade que Dione tinha agora, 14 anos. Lily já devia ser uma mulher. Tinha saudades dela e do jeito que gostava de segurar minha mão como se eu fosse o papai. Ela provavelmente não gostaria mais de segurar minha mão assim, como se precisasse ser protegida. Aparentemente todos ali tinham uma característica da minha família. Seria um ano... difícil.

— Dizem que Harry Potter a visita de vez em quando. — Ela comeu um pedaço de seu frango. Ouvir o nome do meu pai, fez meu estômago dar um salto.

— Ele é muito legal mesmo. Sabe dar conselhos sobre a Defesa Contra As Artes das Trevas mais do que ninguém.

— Ah, então você o viu lá? — perguntou Apollo, curioso.

— Ah, inúmeras vezes! — mais do que eu podia contar; eu o via desde recém-nascido!

— Maneiro. — Ele assentiu.

— Quantos países faltam agora? — perguntou Alexandre.

— Espanha e França. — respondi. —Depois eu volto para a Inglaterra.

— Sente falta de casa? — Leonor perguntou.

— Sinto... — eu olhei para o meu prato sentindo um aperto no coração.

— E sua família? Eles gostaram da ideia desse intercâmbio? — eu sabia que Helena só estava sendo educada, mas falar da minha família era a última coisa que eu queria fazer.

— Vamos dizer que... foi um processo complicado. — Respondi e ela sorriu.

— Sei como é. Estava acostumada com todos meus filhos bem debaixo da minha asa, quando Catarina resolveu desbravar o mundo eu fiquei internada um mês! Se ela não me escrevesse todos os dias eu a trancaria no quarto na primeira volta. — Ela riu, balançando a cabeça enquanto limpava o canto da boca de Denis. — Mães... — Sorriu, revirando os olhos. — Vi que você não tem nenhum bichinho, sinta-se à vontade para pegar alguma de nossas corujas sempre que quiser mandar uma carta para a sua, ok? O correio aqui é uma droga.

Eu tentei sorrir, mas não tive muito sucesso nisso. Eu não me correspondia com minha mãe. Ela me mandava cartas, inúmeras. Tudo que eu fazia era provar que eu as havia recebido. Teria ela ficado um mês inteiro internada depois que eu fugi? Bebi meu suco para justificar meu silêncio, mas Theo pareceu perceber que eu estava desconfortável pois logo contornou o assunto.

— Como é a adaptação nos países, Jay?

— Ah é... não posso reclamar. Digo, claro que não é como estar em casa, mas já me acostumei com o pessoal e eles ajudam. Quero dizer... agora eu não sei, não estou mais com eles o dia todo e tudo mais. — Ri.

— Eu posso te ajudar a se adaptar. — Dione se ofereceu, sorrindo. — Eu estudo em casa, sabe? Papai não me deixou ir para Durmstrang e eu não quis ir para Beauxbatons, tenho muito tempo livre. — Ela sorriu ainda mais.

— Vou te ajudar a se adaptar também. Sou bom em poções e saberei te ensinar bem. Também, ensinarei um pouco de grego. Muita gente fala inglês, mas nem todos falam. Gostam de manter a língua original, portanto vão pedir os ingredientes ou a poção em grego.

— Agradeço muito, Héktor! — exclamei, feliz. — É muito legal passar por países diferentes. Eu já aprendi um pouco de escocês, búlgaro e italiano.

— Oh, italiano?! — Dione parecia ter brilho nos olhos.

— Sim. — Sorri amigavelmente.

— Você acha que seria possível me ensinar um pouco? Sempre quis saber...

— Hummm... claro. Mas eu não sou fluente — falei.

— Perfeito! Você ensina a Dione um pouco de italiano e ela cuida das suas aulas de grego. — Héktor disse empolgado

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— Perfeito! — Dione repetiu a palavra do pai, batendo palminhas.

— Dione quer ser modelo. — comentou Helena.

— Ah, chega de Dione! Vamos voltar a embaraçar o James fazendo perguntas sobre a vida pessoal dele. — Íris impediu a mãe e eu ri, fazendo um gesto para que ela fosse em frente.

Comemos a sobremesa e conversamos mais um pouco. Era uma família bem unida, apesar dos irmãos encontrarem um motivo para brigar a cada dois minutos, e eu gostei dessa sensação, apesar de sentir falta da minha.

Quando terminamos, Helena não permitiu que eu a ajudasse com a louça, dizendo que, além de ter uma varinha, tinha muitos filhos para aquilo. Eu tentei convencê-la, pois eu era o convidado, porém ela bateu o pé e disse que um dos seus filhos mostraria meu quarto. Prontamente, Dione se ofereceu.

Ela me conduziu pelas escadas e aquele lugar realmente me lembrou d’A Toca. Eram vários andares, com dois quartos cada um. Dione me levou até o último andar, onde ficava o sótão. Eu não queria dizer nada, mas esperava do fundo do meu coração não encontrar um vampiro ruivo com varíola de dragão. Ao perceber que eu estava meio receoso, Dione deu uma risadinha.

— Aqui é onde geralmente ficam os hóspedes, ou o pessoal do intercâmbio. — Ela disse, continuando a andar na minha frente, porém virando-se para me olhar. Dione me olhava intensamente. — Não precisa ter medo. — Ela sussurrou.

— Não tem nenhum vampiro aí, tem?

— Por que teríamos um vampiro? — Dione franziu a testa, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha e voltando a voz normal, olhando para trás como se procurasse o motivo que me fez pensar que ali tinha um vampiro.

— Por nada não — respondi e a segui. Dione abriu a porta do sótão, entrou e estendeu os braços.

O cômodo era grande. Maior que o quarto em que eu dividia com Fred e Albus n'A Toca quando passávamos as férias. Tinha um armário e uma cômoda em um canto, uma janela com tamanho considerável e, em frente a ela, havia uma escrivaninha. O piso era de tábua corrida e as paredes eram de pedras brancas. No canto oposto ao armário, havia uma cama de solteiro que caberia eu e o espaçoso do Fred. Eu fiquei bem impressionado.

— Os quartos de vocês são grandes assim também? — eu quis saber, ainda chocado. Era melhor que o dormitório da república!

— Sim... quer ver?

Estranhei a pergunta, mas deixei para lá, dizendo:

— Er... quem sabe um dia. Vou me acomodar. Obrigado por me trazer, Dione. — Eu agradecei, lhe dando um sorriso.

— De nada... Ah, as toalhas ficam nesse armário. Qualquer coisa é só me pedir, gatinho. — ela deu uma piscadela e saiu do quarto, fechando a porta em seguida e me deixando surpreso com a investida.

Por precaução, tranquei a porta.

Balancei a cabeça e comecei a tirar as coisas que eu tinha em minha mala pequena. Desde a Escócia eu havia adquirido mais roupas do que aquelas com as quais eu fora embora da casa de Viola. Entretanto, ainda não era o suficiente para encher o armário e a cômoda. Portanto, preferi apenas colocar as minhas coisas na cômoda.

Depois de tudo arrumado, eu me lembrei de que não sabia onde ficava o banheiro. Queria tomar um banho e relaxar na cama. Quero dizer, tentar. Porque eu sabia no que meus pensamentos iam girar naquela e nas próximas noites que viriam. Eu me conhecia muito bem.

Abri o armário, peguei uma toalha e depois escolhi uma roupa para dormir. Iria até a cozinha, perguntaria a alguém onde ficava o banheiro... se estivessem lá. Saí do quarto e desci as escadas. Já quando eu estava no segundo andar, uma porta se abriu. E, de lá, saiu Dione. Enrolada numa toalha lilás. Quando me viu, sorriu. Mas não era um sorriso constrangedor do tipo: "Oh, Merlin! Não me olhe!" e sim do tipo: "Eu posso tirar a toalha se você quiser." Por Merlin, que isso seja da minha cabeça.

Obviamente não era. Pois Dione encostou-se na parede e disse em tom de flerte:

— Desculpe. Eu esqueci de dizer onde o banheiro ficava.

— Hum... tá tudo bem. Descobri. — Eu dei um sorriso sem graça. — Posso entrar?

— Claro, gatinho. — não era só o fato dela insistir em me chamar de "gatinho", mas o jeito que ela o fazia e o sorriso que ela me dava estavam me deixando desconfortável.

Ela saiu lentamente da frente da porta, parecendo levar meu constrangimento para algo que ela entendeu "estar interessado". Meu Merlin, eu só me fodia! Para mostrar que não queria nada, falei:

— Seu pai não ia gostar que você andasse só de toalha para um desconhecido. Não é legal... Não é ele subindo aí? — coloquei a mão na orelha, fingindo estar ouvindo alguma coisa subir as escadas. Dione rapidamente arregalou os olhos e entrou na porta ao lado, trancando-se lá dentro.

Eu suspirei aliviado e entrei no banheiro. Por Deus, o que essas crianças tinham na cabeça? Fechei os olhos, sabendo que a minha estadia ali não seria fácil mesmo, como nada na minha vida.

Eu estava lascado.

(...)

Dito e feito. Fui dormir tarde da noite, com aquelas perguntas sem respostas sobre Giulietta. Eu não podia ficar sozinho ou parar para relaxar que tudo voltava com mais pressão. Os "e se?" passando pela minha cabeça, com várias imagens, todas elas consistindo meu final feliz com Giulietta.

Agora eu tinha que lidar com Dione, que ainda não parara de se insinuar para mim. E, como um bom ator que sou, soube disfarçar muito bem e me desviar também.

Fiz amizade com os filhos de Héktor e Helena. Eles eram legais. Certo dia Apollo, com seu sotaque, me perguntou se havia muitas gatas na Inglaterra. Eu respondi que sim e ele tornou a me perguntar se eu havia me apaixonado. Respondi que mais de uma vez. Fazer o quê? Eu sou James Sirius!

Depois de outra semana agitada e com mais pensamentos em Giulietta, Dione começou um assunto que eu não lembrava desde que eu estava com Viola? Ou seria Holly? Mas que eu não ligava tanto assim.

— Temos que fazer algo para o James semana que vem, papai. — disse ela.

— Por quê, querida?

— Oras, é aniversário dele!

— Meu... meu o quê? — perguntei, me engasgando. Como raios ela sabia do meu aniversário?!

— Seu aniversário, bobinho — estranhamente lembrei-me de Luna quando ela disse isso. — Devíamos fazer uma festa.

— Por que não disse que faria aniversário, James? — quis saber Helena. Ela estava ofendida?

— Ah... é porque eu esqueci. Tenho feito tanta coisa, que até quantos anos eu farei eu esqueci — dei uma risada nervosa.

— Quantos anos você vai fazer? — Dione perguntou, me forçando a calcular.

— Hã... 21, eu acho.

— Pois muito que bem. — Disse Héktor depois de um momento em silêncio. - Iremos fazer uma festa. Chame seus amigos do intercâmbio. Merece uma comemoração. Você tem adiantado um bocado na loja e merece algo.

— Não precisa...

— Precisa, sim.— interrompeu-me Helena. Eu me calei e ela continuou a falar. — Todo aniversário merece uma comemoração. E um grande bolo. Faremos, sim. Chame sua família também!

— Helena eu agradeço, mas...

— Use nossas corujas, temos nove, deve ser o suficiente.

— Não é isso! É que... minha família... eu, eu só... — Respirei fundo. — É complicado.

— Oh! James eu... ah querido... — Ela veio até mim e me abraçou, beijando minha cabeça. — Tudo bem então, chame apenas seus amigos, nós seremos sua família. — Eu sorri e ela segurou meu rosto entre as mãos. — Você é igualzinho o seu pai.

— Eu... meu pai? — enruguei a testa, era Albus quem detinha esse título. Helena riu.

— Sim, Héktor seu bobinho! Você tem os olhos dele. — Brincou, apertando minha bochecha e então me dando as costas. — 21 anos, vocês crescem tão rápido!

Como eu não tinha outra escolha, eu concordei. Algum tempo atrás, eu teria amado a atenção. Mas agora... isso era só mais alguma coisa para que os outros descobrissem que eu era filho de Harry Potter. Entendam, eu não sentia vergonha de ser filho de quem eu era. Sempre amei ser filho de Harry Potter, mas isso era apenas uma desculpa para ter mais privilégios e mais um motivo para meu pai aparecer com dez aurores na casa de Héktor.

— Ok... vamos fazer uma festa.

Eles sorriram e começaram a planejar a minha festa. E eu deixei. Não que eu não fosse gostar. Mas também não queria me envolver. Mais tarde eu poderia até voltar a gostar. Só que não naquele momento.

Quando subi para o meu quarto mais tarde, descobri como Dione ficara sabendo do meu aniversário: Dimitri havia me mandado uma carta no dia anterior. Eu a abri, mas não pude ler, pois Héktor me chamara para ajudá-lo com uma poção e a deixei em cima da escrivaninha.

"E aí, Evans? Adivinha? Vamos para Grécia! Estou levando a minha parceira para o seu aniversário. Você vai adorá-la! Lembra da brasileira que eu te falei? Estamos indo preparados para umas cervejas amanteigadas e você seu chá de pêssego. Até dia 28!.

Beijos do seu Dimitri Zkovsky"

Eu finalmente conheceria a tal brasileira que Dimitri vinha falando então. E poderia aproveitar para conseguir algumas informações sobre a gangue que ele investigava na Itália, aquela que a família de Giulietta estava envolvida.

Suspirei e dobrei a carta, guardando na minha mala com um feitiço de proteção para que Dione não mexesse nas minhas coisas outra vez.

Troquei de roupa e deitei na cama. Olhei para o teto e mais uma vez meus pensamentos voaram para Giulietta. Pensamentos tristes e preocupados. Será que eu jamais saberia o que acontecera com ela? Por que ela não havia vindo comigo? Por que ela jogara fora a liberdade que eu lhe daria? Eu estava disposto a dizer para o meu pai onde eu estava para protegê-la. Eu, simplesmente, ia desistir de tudo que eu construíra por ela...

Eu precisava afastá-la da minha mente, como disse Viola. Eu precisava seguir em frente e me focar no que eu deveria me focar: que era nos meus estudos.

Fechei os olhos, mas a primeira imagem que veio à minha cabeça foi a de Giulietta dançando perto da fonte. Assim ficaria difícil de seguir em frente.

(...)

A semana correu bem e eu voltei a me focar na minha poção anti-enjoo para antes de aparatar. Héktor ficou encantado com as minhas anotações e progresso e resolveu me ajudar a fazê-la nas horas vagas. Era bom ter uma ajuda de alguém que não queria apenas o resultado.

Eu ajudei bastante na loja e não pude chegar perto do que as meninas preparavam para a minha festa. Eu protelei até o último minuto, porém não tive escolha e chamei o pessoal que eu conversava do intercâmbio. Mandei uma carta para Dimitri, dizendo onde ele me encontraria no dia do meu aniversário e eu tinha certeza de que ele ia tirar sarro depois.

Passado algum tempo, eu vi que Helena e Dione — cujas investidas ainda não haviam cessado e eu não sabia o que fazer — estavam muito empolgadas e eu pensei que uma festinha não teria nada demais. Fazia muito tempo em que meu aniversário não era comemorado direito, então não haveria como dar errado... meu segredo estava intacto mesmo.

Ah... como eu queria ser outra pessoa, mas eu era James Potter e algo com certeza ia dar errado.

Quando chegou o dia da festa a família de Héktor tinha armado tudo no quintal da casa. A vista era deslumbrante e o sol brilhava com intensidade nas águas lá embaixo. A decoração era colorida e mesas compridas enfeitavam o local. Havia uma outra mesa grande com as comidas e bebidas, em que o centro era ocupado com um enorme bolo de aniversário. Eu tinha adorado

— Espero que goste, gatinho — disse Dione atrás de mim e, antes que eu pudesse falar alguma coisa, os meus convidados chegaram.

Primeiro, o pessoal do intercâmbio. Eles estavam animados, pois nem sabiam que eu comemorava meu aniversário. Nem sabiam quando eu fazia. Bom, quase ninguém sabia. Até agora.

Depois, veio a surpresa.

Eu estava conversando com Guadaluppe e Sook sobre o semestre que começaria em breve, quando Helena disse pra mim que havia um cara gigante, com um sobretudo preto, na porta, acompanhado de uma bela mulher de beleza exótica. Eu ri e falei que ele era meu amigo. Helena assentiu e alguns segundos depois que ela sumira, apareceu primeiro a figura grandalhona de Dimitri. Atrás dele, segurando sua mão estava... Ah, puta que pariu! Não!

Era uma brasileira, como eu me lembrei e, bom, estaria tudo bem, se eu não conhecesse cada centímetro do corpo daquela brasileira.

Teresa tinha um sorriso no rosto... até ver quem era o aniversariante. (Fiquei ofendido por ela não ligar os pontos e saber que era meu aniversário.) Seu sorriso se tornou surpresa, então passou para raiva. Logo ela estava avançando para cima de mim.

Ela me dera um soco tão certeiro, que eu instantâneamente senti meu rosto inchar. Eu caí para trás e a senti subir em cima de mim, socando cada parte do meu corpo. Estava doendo, se querem saber. E a roupa que eu me dedicara a escolher já estava manchada com meu próprio sangue.

Eu ouvi, então, gritos — principalmente de Dione. Depois, senti que a tiravam de cima de mim. Eu abri o olho que eu ainda conseguia e vi Dimitri totalmente chocado com aquela cena. Eu dei um sorriso de dentes quebrados e tentei me levantar.

— O que foi isso? — perguntou Héktor, indignado. — Tirem essa louca daqui!

— Não me chame de louca! — gritou Teresa, se debatendo no colo de Dimitri.

— Dei... deixe ela, Héktor. — Eu intervi, tossindo um pouco de sangue. — Eu... — olhei para Dimitri — a conheço.

— O quê?! — todos ao redor perguntaram, a não ser Apollo.

— Ah James... — Ele disse. — Você devia ter prestado atenção na letra de Billie Jean. — Brincou enquanto balançava a varinha e fazia a dita música tocar bem na parte que o cantor dizia que não se devia quebrar o coração de garotas jovens. Eles não tinham ideia.

(...)

— Pronto, gatinho. — disse Dione, depois de passar um pano molhado em meu rosto.

— Não me chame de... obrigado, Dione. — Desisti do sermão e ela sorriu contente com meu agradecimento. Sorri de volta depois de Helena ter restaurado meus dentes.

Me levantei, ainda dolorido e fui até Héktor.

— Eu posso falar com eles a sós?

Héktor olhou para Teresa, que batia as pernas, ainda com os olhos flamejantes de raiva.

— Tem certeza? — ele perguntou e eu assenti. — Tudo bem. Podem usar meu escritório.

— Muito obrigado — falei e fiz sinal para que eles me seguissem. Teresa bufou, mas foi no colo de Dimitri.

O escritório de Héktor ficava no segundo andar e era bem espaçoso. Havia um sofá, uma escrivaninha, estantes com livros e uma poltrona perto da janela. Eles entraram e eu enfeiticei a porta com o Abaffiato.

Olhei para Teresa.

— Sinceramente, Teresa... — Mas ela não tinha me deixado falar.

— Seu babuíno idiota! — Ela gritou, segurando o objeto mais próximo e lançando pra mim, que por muito pouco consegui desviar. — Eu pensei que estava morto! — Gritou mais uma vez, tentando lançar um outro objeto, que Dimitri conseguiu conter o arremesso.

O grandalhão certamente queria saber o que estava acontecendo ali, e eu adoraria explicar, se Teresa me permitisse.

— Depois que eu soube o que aconteceu eu fiquei arrasada! Principalmente depois de ter falado mal dela e tudo o mais, eu escrevi, mas você não me respondeu e então eu fui ver como você estava e... — Ela aproveitou um momento de distração de Dimitri e avançou contra mim, disparando socos contra meu peito. — Você tinha desaparecido. Seus pais não sabiam onde você estava, seus amigos não sabiam onde você estava, você nunca mais escreveu. Três anos, Potter! Três anos! — Ela esperneou quando Dimitri a afastou mais uma vez e, então, começou a chorar. — Eu pensei que tinha se matado. — Soluçou, virando-se para se agarrar a Dimitri, que a abraçou.

— O que diabos...? — Encarei Dimitri e ele parecia bem contrariado, porém ergueu as mãos pro céu e liberou Teresa do abraço, que já parecia se recuperar do choro, pronta para voltar a me atacar.

— Eu não me matei, mas cheguei bem perto disso. — Disse e ela me encarou, ponderando se deveria ou não fazer meu status de falecido prevalecer.

— Você poderia ter escrito! Apenas um "estou bem". Eu esperei, James! Por meses! Enviei centenas de cartas, todas elas voltaram com as corujas que foram! Eu pensei que nunca mais te veria de novo! — A voz dela misturava raiva e choro e então eu fui em sua direção, a abraçando.

— Eu não podia, eu apenas... eu precisava de um tempo.

— Três anos!

— Descobri precisar de mais tempo do que eu imaginava.

— Achei que estava morto.

— E ainda assim olha eu aqui, fazendo 21 anos hah?

— Eu vou te matar.

— Assim que alguém quiser falar, tô aqui. — Dimitri se pronunciou e então nos separamos do abraço, Teresa enxugando as lágrimas e indo até ele com um sorriso. — De onde diabos vocês se conhecem ?

— Ela... ela... bem, lembra quando eu comentei que também tive uma namorada brasileira?

— Também? — Teresa ergueu uma sobrancelha para Dimitri.

— Eu estou fazendo as perguntas aqui. — Ele ignorou o olhar mortal dela, o admirei por isso. — Sim, o que que tem?

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— Ah, qual é! Seu cérebro devia ser relativo a seu tamanho. Eu sou a namorada brasileira dele. — Teresa disse sem paciência e então Dimitri alternou o olhar entre mim e ela. — Ex... ex-namorada brasileira dele.

— Ah, cara... Sua primeira vez? — Dimitri perguntou olhando para mim e eu assenti. — Ah, cara...

— Já fazem anos... — Comecei.

— Nós nunca voltaremos, foi bom enquanto durou, mas já acabou.

— Hey! — Protestei.

— James! — Ela gritou para mim.

— Me desculpa, é muita coisa para assimilar aqui, ok? Meu primeiro amor e meu homem estão juntos?

— Seu o quê? — Teresa perguntou.

— Meu homem, Durmstrang, tira as mãos dele.

— Não precisa ficar com ciúmes, docinho. — Dimitri sorriu

— Você pode começar a falar James, antes que eu te esbofeteie de novo. O que aconteceu com você depois da morte da Malfoy?

Eu a olhei e ela viu o efeito que aquelas palavras causaram. Dimitri enrugou a testa, pois eu não havia contado para ele sobre Saphira. Doía, mas já não era uma ferida aberta.

— Desculpe. — pediu ela e depois amenizou a voz. — Eu...

— Tudo bem... eu mereci. Provavelmente, todo mundo está querendo fazer isso lá em casa. Mas eu precisava fugir, Teresa. E aconteceram tantas coisas...

— Eu ainda não estou entendendo, James. E quem é Malfoy? — interrompeu Dimitri. — Você sabe que ele é um Potter?

— Sim. — Respondemos juntos.

— Já namoraram?

— Sim.

— Ok... posso lidar com isso. — Ele fez uma pausa. — Não sentem mais nada um pelo outro?

— Se sentíssemos, eu não estaria com você. — respondeu Teresa.

— Eu não sabia que a brasileira era ela, cara. Você não deu nomes. — Dei de ombros. Dimitri assentiu lentamente.

— Ok. E quem é Malfoy?

— Ela... ela... ela foi... minha namorada. Saphira Malfoy. Um dos motivos pelo qual eu vim fazer intercâmbio, foi porque eu não aguentava mais ficar na Inglaterra. Porque tudo me lembrava ela. Cada lugar e pessoa. — Despejei de uma vez. Não queria que eles soubessem que Saphira também esperava um filho meu. Aquilo era algo que eu queria guardar para mim.

Eles ficaram em silêncio e eu continuei.

— Lamento por não ter continuado com as cartas, Teresa. Imagino que todos queiram me matar. Mas eu não posso... não estou pronto para dizer a eles onde eu estou.

— Argh! Odeio quando você me faz... simpatizar com as suas situações, James Sirius. O que me fez lembrar... Você está usando o sobrenome de solteiro da sua avó?

— Sim.

— Isto está errado! Dimitri! Você deixou?

— Ele é grande, Melikov.

— Não me chame de Melikov. — Ela apontou o dedo para ele. Eu ri. Ela quase não mudara nada. — Como eu ia saber que o James Evans era esse James?! Mais uma vez, eu achei que ele estava morto.

Antes de continuarmos, entretanto, ouvimos um bater na porta. Ao atender demos de cara com uma Dione não muito feliz, que fuzilou Teresa com os olhos por um instante antes de virar aquelas metralhadoras azuis contra mim.

— Sua filha está lá embaixo.

— Minha... espera, o quê?

Ao voltarmos para primeiro andar todo mundo parecia já ter esquecido do episódio com Teresa, os Michaedelis pareciam aterrorizados, enquanto o pessoal do intercâmbio se divertia com uma garotinha de uns dez anos com cabelos castanhos trançados e riso fácil.

— Papai! — Gritou ao me ver.

— Paisley!!! — Viola ralhou do meio da confusão de pessoas que tinha ali.

— Noel! — Concluiu risonha e correu para me atacar.

— Só falta você aceitar, Viola. — Brinquei, puxando Paisley para o colo e notando que não era mais tão fácil fazer isso. — Você cresceu, hein, garota? — Ela exibiu um sorriso enorme para o comentário.

— Vou mês que vem para Ilvermorny! — Declarou orgulhosa de si mesma.

— Não! Era para ser Hogwarts.

— Minha filha, minhas regras. — Viola disse, tirando-a do meu colo para poder me abraçar. — Feliz aniversário James, só James.

— Então... ela é ou não sua filha? — Dione quis saber. — Porque, tipo... vocês realmente não tem idade para ter uma filha desse tamanho.

— Ele é meu papai noel, é sempre engraçado ver minha mãe morrendo de vergonha quando eu chamo ele de pai em público. — Paisley explicou e Dione pareceu olhar de modo mais simpático para ela.

— Ah! Perfeito! — Declarou e logo saiu, indo arrumar alguma coisa que eu não consegui entender o quê.

— Dimitri! — Viola sorriu, cumprimentando o grandão. — Você deve ser a Teresa, estou certa? Ele só fala de você. — Disse sorridente cumprimentando minha ex-namorada atual amante do meu namorado de brincadeira.

— Vocês se correspondem? — Perguntei para os dois que me encararam com uma expressão que dizia que aquilo era óbvio.

— James? — A voz de Denis soou próximo a mim e olhei para o baixinho. — Por que você só beija pessoas que andam de metrô?

— O quê?

— Paisley disse que você só beija pessoas que andam de metrô...

— Paisley! — Viola gritou para onde a filha estava, rindo descontroladamente em um canto. — Eu já te expliquei o significado de metrossexual!

— Ela tem o humor do pai. — Disse, orgulhoso, estufando o peito. Viola me fuzilou com os olhos. — Noel!

— Ah, pelo amor de Deus! — Revirou os olhos, mas ao voltar a me olhar o fazia com carinho e preocupação. — Como é que você está? — Eu soube o que ela queria saber com aquela pergunta e ergui os ombros.

— Eu tento me manter distraído durante o dia, mas a noite ela sempre volta.

— Saphira? — Teresa quis saber, parecendo compartilhar da preocupação de Viola, mesmo sem saber o que acontecia.

— Ah! Como eu queria que fosse ela! — Viola bufou. — Não, depois de meu trabalho de meses pra ajudar esse brutamontes a dormir sem que a loira que não deve ser nomeada o assombrasse ele me fez o favor de ir atrás de outra e cá estamos de novo.

— É culpa dela. — Me defendi, apontando para Teresa.

— Como é que é? — A brasileira desafiou, arqueando uma sobrancelha.

— Se você não tivesse me abandonado nada disso teria acontecido. — Justifiquei e Teresa parecia ofendida demais para formular uma resposta, assim Viola falou antes dela:

— E nunca teria me conhecido. — Pontuou e eu sorri.

— Obrigado por ter me abandonado. — Disse para Teresa, que me deu um soco no braço.

— Eu que agradeço. — Dimitri se fez presente e rimos. — Ah! Kristina não pôde vir, mas mandou felicitações.

— Quem é Kristina? — Teresa exigiu saber.

— Uma... hã... amiga.

— A professora gostosa com quem James costumava ter aulas particulares. — Dimitri entregou e dessa vez ele levara o soco. — Desculpe.

— Hey, eu contei que encontrei com a Alisson? — Perguntei para Viola, que negou.

— Quem é Alisson? — Teresa realmente precisava ser atualizada.

— Uma das namoradas dele da Austrália. — Viola dera a resposta.

— Caramba, James! Com quantas mulheres você ficou enquanto eu achava que você estava morto?!

— Eu não sou tão bom com contas grandes... — Resmunguei, ganhando mais um soco de Teresa, cujos se repetiram incansavelmente ao longo da noite.

Já era madrugada quando o último dos convidados foi embora. Helena fechou a porta sorridente e então virou-se para mim com expectativa.

— Então? — Quis saber e eu sorri.

— Foi maravilhoso, Helena. Obrigado! Tinha me esquecido o que é celebrar com os amigos. — Disse sincero e vi seu sorriso se alargar.

— Ah, querido! — Ela veio e me abraçou, dando beijos em cada uma das minhas bochechas, como no dia em que nos conhecemos. — Eu vou subir e descansar um pouco, pode deixar a bagunça como está, amanhã eu dou um jeito nisso! — Era mais uma ordem do que um conselho e eu ri, assentindo.

O silêncio, após o barulho da porta do quarto de Helena e Héktor se fechar, durou apenas alguns segundos.

— Ei, gatinho. — Dione surgiu, sentando-se na mesa e sorrindo para mim.

— Dione... você poderia não me chamar de gatinho? — Pedi, incomodado, e ela riu.

— Como quiser, lindinho. — Ela ainda sorria e eu suspirei, passando a mão nos cabelos.

— Bem, acho melhor eu ir dormir.

— Não! — Ela pulou da mesa e veio até mim, segurando minha mão e me impedindo de ir para as escadas. — Eu ainda não dei seu presente. — Justificou, puxando-me até a mesa e me fazendo sentar em uma cadeira.

— Isso não é necessário, Dione, você já preparou a festa e...

— Feche os olhos. — Ela me interrompeu e eu a encarei. — Fecha os olhos! — Insistiu e eu revirei os olhos, mas cedi ao pedido. — Certo, não os abra! — A voz dela soou um pouco mais distante e eu resmunguei concordando.

Após alguns segundos ouvi Dione se aproximar e, então, senti uma pressão contra meus lábios. Não durou mais do que dois segundos, arregalei meus olhos, assustados, e vi Dione pressionando seus lábios contra os meus. Antes que eu pudesse reagir decentemente, porém, ela se afastou, sorrindo

— Feliz aniversário, gatinho. — Desejou e então disparou escadas acima.

Eu estava na mesma posição, encarando o buraco na parede sem conseguir esboçar qualquer tipo de reação. Depois de alguns minutos eu suspirei, bagunçando meus cabelos enquanto concluía, mais uma vez, que minha estadia ali seria difícil.

(...)

Minhas aulas começaram na semana seguinte e eu não pude ficar mais grato por isso. Eu ficava quanto tempo era possível na faculdade, isolava-me em um canto da loja o restante do dia livre e focava no desenvolvimento da minha poção, contando com a ajuda de Héktor e Apollo, que se interessaram bastante no desenvolvimento dela e sempre davam ótimas dicas com possíveis ingredientes que ajudariam no sucesso da poção.

Toda a movimentação me rendia algumas boas noites de sono, sem visitas inadequadas em meus sonhos e me permitia passar o máximo de tempo longe de Dione, comigo fazendo questão de só estar na presença dela quando estivéssemos acompanhados de seus pais ou irmãos.

Mas, ah, vocês sabem... Depois que Clarisse me envenenou minha sorte nunca mais foi a mesma.

— Essas coisas nunca vão sair daqui? — Leonor estava sentada em uma cadeira acolchoada brigando com a própria barriga, eu ri.

Apesar do que Héktor tinha dito quando cheguei, que a casa normalmente era mais vazia, depois do fim do verão aquele lugar ficou muito mais cheio do que eu esperava. Catarina tinha realmente voltado a suas viagens e levara Íris consigo na bagagem, pois a menina afirmava que queria conhecer o mundo antes de decidir se passaria a vida inteira trancafiada naquela loja. Entretanto, passamos a receber novos hóspedes.

Alexandre morava na casa vizinha, mas ia com frequência na casa dos pais principalmente pelo fato de trabalhar na loja e, graças a isso, sua esposa, Atena, e filhos, Pandora, de 9 anos e Orfeu, de 6, ficavam o dia quase todo na casa dos Michaedelis. Além deles, mesmo com a volta de seu marido, Leonor se recusava a sair da casa dos pais, usando como justificativa o fato de a gravidez estar no fim, assim, seu marido Ícaro era figura presente na casa.

— Não são coisas, são nossos bebês. — Ícaro disse docemente para a esposa, que, literalmente, rosnou para ele.

— Porque não estão na sua barriga.

— Quando eu estava grávida de Pandora eu também não via a hora dela nascer, mal posso imaginar você que está com dois. — Atena disse se compadecendo da dor da cunhada.

— Obrigada pela genética, mãe. — Leonor resmungou e Helena riu.

— Piora quando eles começarem a andar. — Disse gentilmente para a filha.

— Não escute eles, papai! Eu estou me dando muito bem até aqui. — Dione, Héktor, Theo e Apollo entraram na cozinha aparentando estar no meio de uma discussão. — Mãe, diga a eles!

— Dizer o quê?

— Que ela precisa ir para uma escola. — Apollo explicou.

— Bobagem! Vocês nunca cogitaram isso antes, pra quê isso agora?

— Na verdade... — Helena suspirou. — Nós sempre fomos a favor da sua ida para Durmstrang, mas seu pai foi irredutível ao não permitir.

— James sugeriu. — Héktor disse aos olhares indagadores de todos ali sobre o porquê da súbita mudança de idéia. Eu sorri amarelo.

— É uma ótima experiência... — Dei de ombros.

— Seu... — Dione bufava e eu não entendi do que ela tinha me chamado, pois ela o fizera em grego. Héktor havia imposto uma regra de que enquanto eu estivesse em casa só conversariam em inglês, mas a loirinha parecia ter a intenção de eu não saber o que ela falava.

— Dione! — Grande parte dos adultos ali brigou com ela, que apenas bufou.

— Eu não preciso dessa experiência, não agora! As aulas já começaram, eu não vou conseguir acompanhar. — Tentou, virando-se para o pai.

— Vamos pensar nisso depois.

— Por favor, papaizinho. Se quiser mesmo que eu vá para Durmstrang eu posso ir ano que vem. — Era incrível como eu acreditaria que ela era uma criança adorável se eu não soubesse o que sabia.

— Depois, Dione. — Decretou Héktor.

— Eu posso até ir para aquela escola italiana que abriu há pouco tempo, é menos grotesca que Durmstrang. Vou me sair bem se James me der as aulas de italiano.

— Realmente, como estão indo as aulas? — Helena quis saber e Dione fez uma expressão desolada.

— Não tivemos nenhuma ainda. — Respondeu.

— Eu estou um pouco sem tempo... — Tentei justificar e Héktor concordou

— Você precisa pegar mais leve rapaz, e já lhe disse que é bom saber um pouco de grego.

— Eu... sim, senhor... É que... — Suspirei. — Vou arrumar uma brecha, podemos começar amanhã? — Perguntei e Dione sorriu, radiante.

— Perfeito!

— Peça desculpas a James pelo que disse. — Helena ordenou, severa. Dione assentiu para a mãe e se aproximou de mim, ela era alta para sua idade, porém ainda era mais baixa que eu, por isso olhou para cima a falar.

— Eu sinto muito, Jamie. Eu não quis realmente dizer aquilo. — Pediu com uma voz meiga.

— Hã... tá tudo bem. Eu nem entendi mesmo. — Ri meio nervoso e Helena pareceu satisfeita.

Dione aproveitou a oportunidade para ficar na ponta dos pés e me abraçar.

— Vai ter que fazer melhor se quer se livrar de mim, gatinho. — Sussurrou em meu ouvido antes de sair saltitante de volta para a loja.

— Saiam daí! — O grito desesperado de Leonor para os gêmeos me puxara de volta para o ambiente e eu apertei meus olhos, tentando pensar em alguma maneira de sobreviver a Dione.

(...)

Eu juro que tentei fugir. Mas, ainda assim, Dione estava lá, esperando-me na noite seguinte. A sala de estar estava cheia de cadernos em cima da mesa de centro e Dione estava sentada no sofá, com um vestidinho cinza de cetim, com os olhos azuis maquiados levemente e cabelos ondulados. Será que se eu ficasse sem tomar banho ela sairia correndo?

— Hey, gatinho — ela disse quando eu passei, fingindo que eu não a tinha visto.

— Dione, eu já falei que não é para me chamar assim. — suspirei, tirando a mochila das costas.

— Por quê? Você é mesmo — ela deu um sorriso "inocente". — Além disso, sei que tem tempo livre hoje antes de trabalhar na loja e que, por incrível que pareça, todos estão fora, então... — Dione apontou para os cadernos. — Vamos estudar.

Eu estreitei os olhos e fui lentamente até ela. Sentei no chão, do outro lado da mesa de centro. Dione deu um sorriso e foi para o chão também, querendo sentar-se ao meu lado. Balancei a cabeça e apontei para minha frente.

— Se quiser mesmo isso, vai ter que ser ali — falei.

Dione bufou e revirou os olhos, mas se levantou e sentou à minha frente. Fiquei um pouco aliviado. Dione estava sempre querendo ficar perto demais.

— Eu não sou fluente em italiano. Não sei muita coisa, sei apenas o básico para sobreviver quando estiver na Itália, já que a maioria do intercâmbio fala inglês — comecei e Dione assentiu veemente.

— Mas grego é difícil — disse ela. —Vamos ficar aqui por um booom tempo... — deu um sorriso que eu considerei muito adulto para uma adolescente.

— Dione... sabe que eu tenho uma irmã mais nova? — perguntei e ela negou com a cabeça. — Ela me lembra muito você...

— E o que isso tem a ver?

— Nada. Vamos começar a aula — peguei um caderno. Ela assentiu.

Eu tentei ensinar. Contudo, Dione sempre arranjava alguma coisa para chamar minha atenção. Colocava o lápis na boca, no que eu entendi ser uma tentativa de ser sexy, colocava os cabelos para trás e se apoiava na mesa para que o decote aparecesse... e tudo que acontecia comigo era suar de nervoso.

Olha, se ela fosse mais velha, eu a teria agarrado ali mesmo. Mas a questão era que ela, para mim, era uma criança. Eu via Lily nela. Sem contar que era extremamente errado perante a lei e perante a minha moral. Qual é, eu podia ser muitas coisas, mas não era um pedófilo. Ainda mais com a filha do homem que me acolhera.

Mas Dione aparentava estar nem aí. Ela queria minha atenção. E ela conseguia, mas não do jeito que gostaria. Mas, se tratando daquilo, eu não conseguia repeli-la. Por Merlin, por que essas coisas só aconteciam comigo? Estava começando a me arrepender de não ter ficado na república.

Eu fiquei muito relaxado quando ouvi as vozes de Denis com Helena e o resto da família. Dione rapidamente sentou-se mais comportada no chão, arrumando os cabelos. Eu estreitei os olhos para ela.

— Bem, isso é tudo por hoje, Dione. Até quarta — disse eu, arrumando minhas coisas e subindo para o meu quarto, cumprimentando Helena e os outros ao subir.

(...)

— É sério, cara. Isso tá acabando com a minha sanidade — eu disse, enquanto caminhava até o campus da faculdade com Dimitri e Teresa. Ele ria, Teresa me olhava como se eu fosse um idiota.

— Dá um fora nela — rebateu a brasileira, sucinta.

— E magoar os sentimentos da pupila do cara que me abriga. Sim, isso vai dar muito certo. — respondi, erguendo os polegares para ela.

— Melhor que do que ele ver a filhinha dele com os beiços grudados em um marmanjo — falou ela, dando de ombros e eu rangi os dentes. Ela também estava certa.

— Saia de lá! O ministério alugou uma casa para a gente, você pode ficar conosco.

— Okay, aí tem dois problemas: 1. Eles podem achar que eu sou ingrato se sair assim sem explicações, além do quê é bom para mim estar em uma loja de ingredientes e 2. Apesar da idéia de morar com você de novo me agradar muito eu dispenso a ideia de ter que ouvir você e minha ex... vocês sabem. — Teresa me bateu, mas era verdade. Eu bem sabia que ela não costumava ser... silenciosa.

— Resumindo: vai dar merda do mesmo jeito — disse Dimitri, ainda rindo. Eu mostrei o dedo médio para ele, que piscou um olho para mim.

— Alguma notícia sobre o caso? — indaguei, parando perto da porta da faculdade. Muitas pessoas entravam e saíam dali.

Dimitri olhou para os lados antes de responder.

— Parece que a família Belucci está mais envolvida do que parecia. Coincidentemente, eles vieram para cá, tentando despistar. Mas Teresa aqui é muito inteligente e interligou algumas coisas. — Ele sorriu para ela, com orgulho.

— E... Giulietta? — perguntei, meio receoso. Dimitri fechou a expressão e eu vi que a resposta não seria a que eu queria.

— James, escuta o conselho do seu namorado de brincadeira e esqueça Giulietta — disse Dimitri, sério. — Siga em frente, meu amigo.

Eu suspirei, olhando para as pessoas, minha esperança indo para o ralo. Talvez ele e Viola tivessem razão. Era hora de esquecer. Como eu bem sabia, eu iria me apaixonar outra vez — e provavelmente me lascaria de novo.

— Acho que eu não tenho escolha, tenho? — eu os olhei e Dimitri fez uma cara de triste, batendo amigavelmente em meu ombro.

— Sinto muito, cara.

— Já estou acostumado. Acho melhor eu entrar. Vejo vocês depois — disse eu e eles assentiram.

— E, por favor, deixe bem claro que você não pode e não quer ter nada com Dione. Ela provavelmente acha que você corresponde e só é... — Teresa deu uma risada — tímido.

Eu assenti, dando um sorriso de desgosto para Teresa, e entrei.

(...)

Tudo era tão puxado e eu quase morria quando chegava na casa dos Michaedelis. E ainda tinha que lidar com as investidas de Dione. Parecia que tinha se estabelecido uma rotina naquele lugar.

Provas chegaram, provas passaram. Minha alma já tinha sido sugada por um dementador há muito tempo e, ainda assim, Dione ficava no meu pé. Isso chegou a um ponto extremo quando eu cheguei em casa e fui direto para o meu quarto, afim de me trocar e descer novamente para loja, onde Apollo me esperava com algo novo que talvez ajudasse na poção.

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Assim que eu abri a porta, tirei a minha camisa e olhei para onde ficava a minha cama e... quase gritei. Fechei os olhos, querendo morrer de verdade naquela hora.

Dione estava parada em frente a minha cama, seminua. De verdade, faltando bem pouco para ficar do jeito que veio ao mundo. Eu entrei em pânico.

— Dione, pelo amor de Merlin! Cubra-se — mandei, ainda de olhos fechados.

— Abra os olhos, gatinho. Vai gostar do que vê. É nova, o que achou? — disse ela, com a voz manhosa. Aquilo só me fez ficar com o estômago embrulhado.

Virei-me para o armário e abri os olhos. Peguei uma toalha e voltei para onde Dione estava, com o rosto virado para o outro lado, colocando a toalha nela rapidamente. Ela tentou passar a mão na minha barriga, mas eu desviei, ouvindo as risadas dela. Olhei para a porta e graças a Merlin, eu ouvia que todo mundo estava lá embaixo.

— Você ficou maluca?! — sibilei, ao ver que Dione havia se coberto, mesmo a contragosto.

— Pensei que ia gostar, Jamie.

— Pois eu não gostei. — Falei e ela me olhou de uma forma esquisita. — Escute, você tem a idade que a minha irmã tinha quando eu fui embora. Eu vejo você como minha irmã! E, além disso, você é menor de idade, Dione. Eu sou muito mais velho que você.

— Mas idade é só um número — retrucou Dione. — Me olhe, James.

— E eu olho, Dione. — Podia ouvir meu desespero em minha voz. — Mas não do jeito que quer. E se o seu pai chegasse aqui e agora? O que ia acontecer? Você é muito nova, ainda vai se apaixonar por alguém que seja da sua idade e que lhe corresponda. Eu não sou essa pessoa.

— Mas e se eu fosse mais velha?

— Seria outra história — respondi.

— Isso é besteira, James! Minha mãe é vinte e muitos anos mais nova que meu pai e eles se amam mesmo assim. — Ela sorriu, se aproximando, eu andei para trás. — Nós podemos ser felizes.

— Dione!! — Chamei, com medo que a qualquer momento alguém entrasse ali. — Escute-se!

— O que tem demais? Eu gosto de você, James. — Confessou com a voz manhosa e eu a encarava como se ela fosse louca, porque ela era.

— Você não gosta!

— Sou eu quem gosto, eu quem sei.

— Dione, você só está encantada porque eu sou um cara diferente, é por isso que você deveria ir para a escola e conviver com caras da sua idade.

— Eu não quero caras da minha idade, eu quero você!

Para minha sorte eu ouvi a voz de Apollo me chamar lá de baixo.

— Já vou! — gritei. Voltei a olhar para Dione. — Olhe, eu gosto de você, mas como uma irmã. Então, por favor, não entre mais aqui enquanto eu não estiver. — Fui até a minha cômoda e peguei uma camisa. — Vista-se e desça. — Saí do quarto, com o coração mais do que acelerado esperando que ela tivesse entendido.

— Cara, você ta bem? — Apollo perguntou assim que eu cheguei na loja, percebi então que suava e respirava com dificuldade.

— Eu... é... Sim, eu vi uma... aranha e me assustei.

— Bem, então acho que não vai ficar muito feliz com o novo ingrediente. — Ele riu. — Veneno de acromântula, vi suas anotações e percebi que não tentou nenhuma vez e isso pode ser decisivo.

— Mas veneno de acromântula não é... hum... venenoso?

— Mortal... — Ele concordou. — A não ser que você saiba como manipular, aí ele vira benéfico e medicinal. — Explicou e começou a me detalhar como manipular e como poderia entrar na poção.

— Eu queria poder ir a praia antes do inverno. — a voz de Dione preencheu a loja, me desconcentrando do que Apollo falava.

— Não irá sozinha. — Héktor decretou e ela suspirou.

— James, você já foi em alguma praia aqui na Grécia? — Perguntou sorridente, ao olhá-la vi que ela estava vestida com uma jardineira e, bem, minha camisa. Estava sentada na bancada, balançando as pernas e eu ainda conseguia me surpreender em como ela fazia bem o papel de criança perto dos familiares e longe deles... bem, se trancava no quarto de um estrangeiro apenas de lingerie.

— Não eu... não. — Respondi e ela bateu palminhas.

— James pode me levar. — Sugeriu animada e eu vi o erro em ter respondido a pergunta sinceramente.

— Você não sabe se ele quer. — Theo foi a meu socorro e eu agradeci mentalmente, mas não por muito tempo.

— Você não sabe se ele não quer. — Dione retrucou.

— Vocês poderiam perguntar para ele. — Héktor interveio, mas eu soube que preferia que ele não o tivesse feito. — Você tem vontade de ir a praia rapaz?

— É... claro, quem não gostaria certo? Mas eu não tenho tido tempo para esse tipo de coisa e tudo o mais.

— James, James... já falei que você devia pegar um pouco mais leve. Vai enlouquecer com tantos afazeres. — Eu sabia o que estava por vir. — Por que você não vai com Dione à praia neste fim de semana, huh?

Vejam bem, Héktor fazia tanto por mim que eu quase me sentia na obrigação de retribuir do jeito que estivesse a meu alcance, por isso, eu apenas sorri e disse:

— Parece uma ótima ideia. — Não era.

— Héktor! — Helena abriu a porta da cozinha para a loja aparentando nervosismo. — Feche a loja, Theo, vá buscar Ícaro. Os gêmeos estão vindo. — Anunciou, causando uma comoção instantânea.

(...)

Ver toda aquela agitação para irmos ao hospital bruxo da Grécia, me fez ficar feliz e triste ao mesmo tempo. Se Saphira estivesse viva e não tivesse perdido o bebê eu tinha certeza de que seria mais agitado ou igual a todos da família Michaedelis. Mas também sabia que ia amar... Como deveria ser a sensação de segurar um filho seu?

Meus olhos encheram-se de lágrimas quando eu pude pegar os pequenos Helio e Diana, sabendo que eu jamais seguraria meu filho. Tentei não focar nisso e consegui sorrir entre algumas lágrimas.

As crianças nascerem numa terça de novembro. E depois disso, tudo virou uma bagunça naquela casa, que parecia menor, pois até Catarina e Íris voltaram para ver os bebês. Eu segui o ritmo deles até que chegou sábado.

Nós estávamos sentados à mesa para o café da manhã. Leonor estava amamentando um dos filhos na sala de estar e o resto estava na cozinha — a mesa fora magicamente ampliada — quando Dione resolveu falar.

— Oh, não!

— O que foi, meu bem? — perguntou Helena com carinho. Dione era muito fingida, por Merlin!

— Esquece...

— Diga, Dione. — Insistiu Helena.

— É que... eu queria ir à praia... mas vocês estão tão ocupados com os gêmeos que nem mesmo lembraram do meu aniversário. — Ela fez uma expressão triste.

— Isso é mentira! — Denis falou, parecendo indignado. — Eu te acordei com parabéns e te dei um presente.

— Você deu, não é o mesmo? — Dione sorriu para o irmão caçula e lhe bagunçou os cabelos. — Tenho certeza que assim que eu descobrir o que é não poderei viver sem ele — garantiu e Denis sorriu, orgulhoso

— Ah, querida! — Helena lamentou-se. — Nós não esquecemos do seu aniversário, é só que… as coisas com os gêmeos estão tão agitadas que…

— Vocês não lembraram, é, então, eu notei isso. Nada de praia pra mim. — Ela parecia realmente chateada com aquele detalhe, o que me fez sentir até um pouco mal por ela, mas não por muito tempo, pois em segundos eu estaria me sentindo mal por mim mesmo.

— Ei. Por que James não vai com você? — sugeriu Héktor. — Pelo o que eu lembro, ele merece uma tour pelas praias daqui. Tudo bem para você, James? Acompanhar Dione e aproveitar para conhecer as praias?

Entendam, eu poderia dizer um belo de um "Não", soletrando ainda, mas eu não conseguia. Eu praticamente era sustentado ali, ninguém deixava eu comprar um arroz. Eu tinha que comprar escondido algumas coisas para poder dizer que eu ajudei em algo. Minha avó estaria morrendo se soubesse que eu não ajudava em nada, mesmo que fosse obrigado a não ajudar. Isso me incomodava, afinal, eu não fui criado assim. Portanto, eu não podia dizer não. Além do fato de que todo mundo tinha esquecido o aniversário da coitadinha - coisa que todos tentavam resolver agora com abraços e beijos e felicitações.

— Claro. Perfeito — eu falei, esperando que meu sorriso parecesse sincero.

Dione bateu palmas e se levantou, dizendo que ia se arrumar e dispensando todo o carinho atrasado dos familiares. Helena sorriu e nos preparou uma cesta com coisas para comer, pois ela odiaria se ficássemos com fome. E eu lá, sorrindo de nervoso.

Depois que eu terminei de comer, fui colocar uma roupa de banho e olhei pela janela. O tempo não estava muito bom para ir à praia. As nuvens estavam ficando pesadas e cinzentas e essa era a desculpa perfeita.

Eu a encontrei ao pé da escada e ela já carregava a cesta no braço.

— Dione, o tempo está ficando péssimo — falei.

— E daí?

— E daí? Tem certeza de que quer ir? — terminei de descer as escadas e parei em sua frente.

— Claro que tenho! Um aniversário tem que ser comemorado em grande estilo! Sabia que na América do Sul os 15 anos de uma garota são os mais importantes da sua vida? Além do mais nem está tão feio assim. Acredite em mim, morei aqui a vida inteira. Vamos!

Inconformado, fui atrás dela. Passamos pela cozinha e o pessoal nos desejou bom divertimento. E eu queria chorar e pedir ajuda. Será que se eu mandasse uma coruja para Dimitri ele me sequestraria?



Dione me fez andar muito. Passamos por várias praias boas e que eu realmente queria conhecer, mas ela insistia que ainda não tinham chegado na praia que era melhor do que aquelas.

Quando, enfim, chegamos, Dione entrou por umas grutas, atravessando uma cortina de plantas. Eu a segui e, quando vi a praia, meu queixo caiu. Era deserta e parecia que só ela sabia que a praia estava ali. Era cercada por enormes rochas e ninguém podia vê-la. Mesmo com o tempo nublado, era lindo de se ver.

Dione sorriu ao me ver embasbacado. Disse que os pais dela iam sempre ali com todo mundo, pois a família era muito grande para ir a uma praia normal. Eu assenti e fui colocar as coisas da cesta na areia. Dei as costas para Dione, sentindo alguns pingos de chuva na minha camisa. Sabia que ia chover!

Levantei-me para falar isso a ela e, quando eu a vi, Dione estava completamente nua. Nua mesmo. Do jeitinho que Deus enviou ao mundo. E eu não conseguia arranjar palavras para falar. Nem desviar os olhos, pois eu estava totalmente chocado, separando todas as sílabas.

Dione deu aquele sorriso que ela considerava sexy e caminhou para dentro d'água, virando-se para mim.

— Vem, gatinho. — Disse e voltou a entrar na água do mar, mergulhando em seguida.

Mas nem fodendo que eu entraria naquela com ela! Dione me chamou outra vez e a chuva apertou. Começou a chover, com gotas de água pesadas e logo eu estava ensopado.

— Dione, volta já para areia! Vamos embora! — gritei, tirando os cabelos molhados do rosto para poder enxergá-la.

Mas ela me ignorou e me chamou para entrar outra vez.

Então o vento começou a agitar as ondas e, de repente, Dione começou a pedir ajuda. Eu fiquei parado olhando-a erguer os braços, pensando que aquilo só podia ser mais um truque. Oras, ela sabia nadar mais do que eu!

Mas eu poderia estar errado. Afinal, estava ventando e chovendo muito. Ela poderia estar mesmo com problemas e eu conhecia casos de correntezas que arrastaram pessoas que sabiam nadar para o fundo do mar. Eu não podia deixar que isto acontecesse com a filha preferida de Héktor. Logo, eu tirei a camisa pulei na água.

Nadei o mais rápido que pude e consegui, a muito custo, chegar até Dione, que se debatia e afundava de vez em quando. Ela gritou meu nome e eu a peguei pela cintura, colando seu corpo no meu. Voltei para a areia, com ela em meu colo.

Assim que pisamos na parte segura, Dione se agarrou ainda mais no meu colo e eu pude sentir cada parte sua encostando na minha pele. Minha primeira reação quase fora de jogá-la na areia. Mas não tive coragem. Ela tinha se debatido muito.

— Eu sabia que você ia vir — disse ela, começando a rir.

— Como assim? — perguntei e ela deu outra risada. — Você fez de propósito? Puta que pariu, Dione! — soltei-a na areia e ela caiu sentada. — Não acredito nisso! — E joguei o vestido que ela estava usando. Todo molhado, mas eu não me importava, e depois joguei a toalha que trouxemos, pois o vestido estava colando em seu corpo e eu ainda podia ver tudo.

— Você não teria ido nadar comigo! — ela tinha uma voz chorosa, enquanto ela se enrolava na toalha.

— Obviamente que não! — gritei, ainda muito puto. Peguei as coisas e a levei para a parte da gruta, onde era seco e a gente não pegaria mais chuva. — Não se brinca com esse tipo de coisa, Dione! Você estava pelada!

— E qual seria outro jeito de você me notar? — eu não sabia se ela estava chorando, já que a água escorria pelos seus cabelos e rosto molhados.

— Já disse que eu não notaria você do jeito que você quer! — exclamei, levantando as mãos para o alto e depois as abaixando e batendo ao lado do corpo.

— Você nunca quis que lhe dessem atenção, James? Já gostou de alguém mais velho que você?! — Dione estava realmente chorando. — Eu gosto de você, James!

E foi então que eu me lembrei. Lembrei de Ruby. De quando eu a perturbava e até havia feito o seu par do baile ficar doente. E entendia agora o seu lado. Aquilo era errado... Eu fui um pirralho muito idiota mesmo. Eu sentia na pele o que Ruby passou comigo! Eu só não estava sabendo lidar com aquilo.

Suspirei e passei as mãos nos cabelos.

— Dione — falei e ela me olhou. — Você é uma garota muito bonita. Muito mesmo, não vou negar. Mas quero que entenda uma coisa: eu sou mais velho que você. Na minha concepção isso é errado, ainda que você tenha seus pais de exemplo. E mesmo assim, eu não gosto de você desse jeito. É algo que eu não posso evitar, você entende?

Dione assentiu, ainda com o rosto vermelho.

— Vamos esperar essa chuva passar e vamos para casa — decretei e Dione ficou silêncio.

Será que dessa vez ela tinha compreendido o que eu havia dito? Ruby ainda tinha me dado uma esperança, esta que eu perdera há tempos, mas não havia para Dione. Giulietta ainda rondava meus pensamentos de vez em quando; eu iria embora dali a alguns meses e não voltaria nem tão cedo à Grécia e eu não iria conseguir gostar dela do mesmo jeito que ela gostava de mim. Eu sabia que não.

A chuva finalmente cessou depois de algum tempo. Dione pediu para que eu esperasse do lado de fora, vestiu o biquíni que havia vindo no corpo e fomos embora.

Assim que chegamos em casa, Dione me parou na porta. Ela olhava fixamente para mim.

— Eu não vou desistir de você, James Evans. Eu sempre consigo o que eu quero!

E foi desse jeito que ela entrou em casa, me deixando com cara de tacho no batente da porta. Algo me dizia que ela não havia entendido o que eu havia dito. Suspirei mais uma vez e entrei na casa

(...)

Como sempre, a faculdade estava me matando. Só que agora uma tortura bônus: listar cinco poções feitas com, pelo menos, três ingredientes trouxas. E você acha que era fácil encontrar cinco poções com TRÊS componentes trouxas?! Geralmente, tinham apenas um.

Entretanto, se eles pediram, é porque existia.

Eu passava muito tempo na faculdade, por causa de Dione. Depois que ela dissera que não ia desistir, as cantadas dela e as insinuações estavam começando a ser mais frequentes e descaradas. Aquilo me incomodava e parecia que nada do que eu dissesse faria aquela garota largar do meu pé.

Minha pesquisa para a faculdade me ajudava a ver alguns ingredientes para a minha própria poção, mas nada adiantava. Continuava tão difícil que nem dormir direito eu estava conseguindo. Eu me desdobrava entre minha poção, trabalho da faculdade e o meu estágio na loja de Héktor e, às vezes, deixava um ou outro de lado para dar conta.

Então, finalmente, a sorte voltou a sorrir para mim. Héktor tinha recebido um pedido para produzir uma Felix Felicis e pediu para que eu a fizesse. Logo, depois das aulas e quando a loja fechava, eu comecei a fazê-la. Foi naquele momento, lendo as instruções, que algo em minha mente estalou.

Os ingredientes para a poção da sorte eram muito... leves. Não podiam ser pesados, pois aquela poção era para causar sorte. Deixar a pessoa com sensação otimista. E, para que alguém se sentisse bem, precisava de um ingrediente simples e trouxa: camomila*. Toda vez que alguém aparatava, precisa estar focado e calmo e muitas pessoas não conseguiam se sentir calmos. Portanto, ao ficarem nervosos e serem sugados àquele vácuo o enjoo surgia com mais facilidade, além de outros efeitos colaterais. O destrumchamento ocorria em 77% das vezes pois o bruxo em questão estava disperso ou nervoso na hora de aparatar.

Eu quase dei um berro quando percebi que isso poderia fazer toda a diferença na minha poção e acabar com as explosões. Comecei a comparar todas as minhas anotações com a fórmula da Felix Felicis e me coloquei para trabalhar, até que consegui que a minha poção parasse de explodir na minha linda carinha.

— Eureca! — gritei, após passar os últimos dez minutos encarando o caldeirão e esperando que o conteúdo se revoltasse contra mim.

— O que temos aqui, Eisten? — Helena me fez pular onde eu estava, suspeitava que ela já estava ali há um tempinho, mas não havia notado sua presença, ela riu e eu me juntei a ela.

— Eu… acho que consegui. Digo, ainda tenho que testar e tudo o mais, mas ela não explodiu e parece estar perfeita! — Contei empolgado e Helena se aproximou, espiando o caldeirão.

— Posso? — Perguntou indicando a poção e eu assenti. Helena segurou a colher de madeira que eu usara para misturar a poção e levou a boca, experimentando. — Humm, está realmente muito boa, mas você ainda tem que deixar descansar por duas semanas.

— Como você sabe disso? — Perguntei realmente curioso.

— Anos de prática, querido. E é por isso que a felix felicis é tão difícil de ser produzida. As pessoas erram o tempo de descanso sempre! Coisa de minutos, mas que faz toda a diferença.

— Felix... Ah, não! Essa não é a felix felicis, é a minha poção. — Disse e Helena arqueou uma sobrancelha.

— Tem certeza disso? — Perguntou e eu assenti. Ela mergulhou a colher na poção mais uma vez e ao trazê-la de volta direcionou a minha boca. Sem tempo de dar para trás eu acabei provando da poção e então Helena aguardou minha reação.

— Droga! — resmunguei ao ver que tinha me enganado esse tempo todo, Helena riu e afagou meu braço.

— Você realmente precisa se dar um tempo, James. — Disse gentil e eu assenti. — E foi por isso que eu vim aqui. — Ela sorriu e eu a encarei, deixando a poção de lado. — Não pense que eu estou te mandando embora, de jeito algum! Porém eu vejo o quão esforçado você é e, bem, isso é algo bom e ruim ao mesmo tempo. Então, como o recesso de inverno está chegando, eu conversei com Héktor e nós concordamos que você deveria ir para casa no natal. Sabe, ver sua família, se desligar um pouco de tudo aqui para realmente descansar. — Ela sorria enquanto falava e eu não tinha dúvidas das intenções de Helena e Héktor ao quererem me mandar para casa por uma semana, mas, eles não entendiam..

— Eu… — Respirei fundo. Gostava dos Michaedelis como se eles fossem a minha família, as brigas entre irmãos, o amor de Helena e Héktor, o ambiente feliz e caloroso, tudo isso me lembravam a minha casa, por esse motivo eu sentia que Helena merecia uma resposta melhor e menos vaga do que as que eu normalmente dava. — Eu não posso ir para casa. — Disse, erguendo os ombros e ela me avaliou por um momento.

— Por que não? — Era como se ela soubesse que eu estava escondendo alguma coisa e eu não queria de modo algum que Helena pensasse mal de mim por qualquer razão que fosse, por esses motivos, comecei a falar.

— É uma longa história. — Informei e ela procurou um assento, acomodando-se e indicando que era todo ouvidos. — Quando eu tinha dezessete anos eu… tive uma namorada. E, ainda é difícil falar sobre isso, então, resumindo, ela morreu. — Puxei uma longa lufada de ar e encarei o chão. — E quando isso aconteceu eu… me perdi. Eu não sabia o que fazer, como seguir. Ela estava esperando um filho meu e ele morreu junto com ela. Tudo o que me rodeava, todos os lugares que eu ia, tudo me lembrava ela e eu apenas não conseguia lidar com isso. — Disse, meus dedos apertavam uns aos outros de nervosismo. — Então eu fugi. Eu não deixei uma carta, eu não avisei, eu apenas fui embora. Meus pais, meus irmãos, meus amigos, todos estavam preocupados comigo e cada um me lembrava ela de algum jeito. Eu não queria a pena deles, eu não suportaria ver o olhar vazio de Albus todos os dias porque perdera a melhor amiga. Eu não ia conseguir esquecer se eu continuasse lá. Tudo me causava dor. Então, como um covarde, eu fugi. — Fiz uma longa pausa, reparando que, agora, a dor que me abatia ao comentar sobre aquilo era exclusivamente a dor da saudade. Eu tinha lidado com a morte de Saphira, ela ainda era uma incógnita na minha vida e eu sabia que, de alguma forma, ela estaria comigo para sempre. Mas a saudade que eu sentia naquele momento era a saudade da minha família e amigos, daqueles que eu fugi sem explicações, daqueles que só queriam cuidar de mim quando eu precisava disso, mas negava.

— James… você pensa que não pode voltar porque eles não te aceitariam de volta? — A voz de Helena era suave como veludo e aparentava uma preocupação genuinamente materna, me apressei em negar.

— Não! Tenho certeza que não! Eles… eles me amam. São a melhor família que eu poderia querer, sem ofensas. Eu sei que no momento que eu pisasse na porta de casa minha mãe ia me puxar pela orelha e gritar comigo até começar a chorar e me apertar num abraço que eu não conseguiria sair pelos próximos três dias. — Eu enxuguei uma lágrima que escorrera sem que eu notasse e funguei. — Não é isso, é que… Bem, eu encontrei um anjo no meio do caminho e ele me ajudou a passar pela morte de Saphira e lidar com isso, e enquanto eu lidava com isso, eu entrei no processo do intercâmbio. — Esfreguei os olhos e ergui a cabeça, respirando fundo. — Meu pai é um cara… conhecido e, bem, eu sempre vivi à sombra dele, sabe? Quando eu entrei no intercâmbio eu vi que era a primeira vez que eu estava fazendo uma coisa como James, apenas James. Eu sabia que se continuasse assim ninguém me daria vantagens por ser filho de quem eu sou, minhas realizações seriam só minhas e o mérito seria meu por direito. Então, quando a dor passou, eu notei que ainda não podia voltar, mas agora por outro motivo. Eu tinha que… eu preciso provar para mim mesmo que eu consigo fazer isso. E eu tenho medo de que, caso eu volte agora, eu desista de tudo.

Helena ficou me olhando por algum tempo que, para mim, pareceu décadas. No fim, ela apenas assentiu e sorriu, afastando todo o assunto anterior com um abanar de mão.

— Muito bem, então. As tradições natalinas na Grécia não são muito exploradas, digo, nós não temos muita tradição para essa ocasião. Você sabe, o cristianismo basicamente destruiu a nossa religião então pode ser que no fundo tenhamos nos ressentido, mas o ponto é: Nós Michaedelis, como uma família que está constantemente aceitando alunos de intercâmbio temos nossa própria tradição. Que é basicamente quaisquer que seja a sua tradição. — Ela sorriu. — Então por que você não sai dessa loja por um momento e me conta como é o Natal na Inglaterra enquanto eu preparo a janta?

— Hã… — Eu encarei a poção que não era a minha e exitei, Helena notou minha reação e sorriu gentilmente. Puxando sua varinha do avental que usava e dando um ligeiro floreio, meu caderno de anotações e o caldeirão desapareceram.

— Você não tem outra opção. — Informou, retirando-se da loja em seguida. Eu encarei o espaço vazio por um tempo, mas acabei por sorrir e dar de ombros, indo atrás de Helena logo em seguida para contar-lhe sobre minhas tradições.

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(...)

Giulietta possuía hematomas por todo o corpo. Ela parecia pequena e assustada, não possuía mais aquele brilho que tinha quando eu a conheci. Seus olhos atentos e desesperados me encaravam enquanto lágrimas escorriam por seu rosto. Quanto mais eu tentava me aproximar, mais longe ela estava. Até que, em certo momento, gritei. O grito pareceu a despertar de uma espécie de transe e então ela se levantou, dando alguns passos em minha direção e então parando bruscamente ao notar que seus tornozelos e pulsos estavam presos por correntes. As orbes castanhas buscaram as minhas uma última vez, um sorriso triste aparecera em seu rosto. Eu sinto muito. Seu sussurro soou alto em minha cabeça, quase como um grito que me fizera perder todas as forças e desistir de correr. Giulietta desaparecera em frente a meus olhos, deixando-me para trás com um vazio, sem ter ideia do que teria acontecido.

— James, James, James! — O movimento do colchão somado aos gritos insistentes da criança que pulava em cima da minha cama me despertaram. Abri os olhos tentando assimilar o que acontecia, o sonho ainda fresco em minha mente, a imagem de Giulietta diferente de tudo o que eu me lembrava. — JAMES! — Denis gritou, sentando-se em um pulo e segurando meu rosto entre suas mãozinhas. — O Papai Noel veio! Assim como você disse! Ele comeu todos os biscoitos! — O garoto estava extasiado e logo voltava a pular. — Vamos logo! As meias estão cheias! Mamãe disse que só podemos abrir os presentes depois que você descer! — A afirmação tinha um tom de súplica e eu entendi que ele não sairia do quarto enquanto eu não o fizesse, apesar de suspeitar que Helena não o tivesse mandado me acordar.

— Okay, rapazinho! Me espere do lado de fora, só vou me vestir.

— Você pode ir de pijama! — Tentou, mas ao notar minha expressão apenas suspirou e desceu da cama, fechando a porta ao passar.

Era dia 25 de dezembro e a casa dos Michaedelis estava digna de uma casa inglesa nesta época do ano. Helena fizera anotações de toda a minha fala sobre a tradição natalina no Reino Unido e deu seu melhor para reproduzir tudo exatamente do modo como eu tinha dito. Todos estavam ali, inclusive Catarina e Íris, a quem Helena enviara dezenas de cartas exigindo a presença. Segundo ela, de acordo com meus relatos, a casa estava sempre cheia e aquecida por calor humano, desse modo, ela queria que fosse igual.

Na noite anterior corremos a toda a vizinhança com um coral de família mal ensaiado rindo mais do que cantando algumas cantigas de natal. A fachada da casa e da loja estava repleta de pisca-piscas, na cozinha Héktor tinha colocado o maior pinheiro de Natal que eu já vira e os enfeites foram todos feitos em casa, com bastante glitter e cola. A cabeça de um pobre e morto esquilo era a estrela da árvore, esquilo caçado por Denis, que havia insistido no destaque para sua preciosa conquista. Na sala de estar, acima da lareira, estavam espalhadas aproximadamente vinte meias, a maior de todas era inevitavelmente a do caçula. Tudo estava exatamente do jeito que deveria ser, e eu me diverti ajudando os Michaedelis a criar aquele ambiente, além de ter me sentido amado, de certo modo, ao notar todo o esforço que fizeram para me fazer sentir em casa.

Minha intenção não era a de torturar o pobre Denis, mas confesso que demorei um tempo considerável ao levantar da cama. As imagens do meu sonho vinham em flashes. Já tinha me acostumado com as visitas de Giulietta durante a noite, ela estava em cada um dos meus sonhos. Alguns eram bons, lembravam-me dos momentos felizes ao lado dela, as escapadas para o chalé, os olhares confidentes. Outros eram inquietantes, estes eram mais frequentes, meu subconsciente insistia em atrapalhar minha noite de sono ao continuar se perguntando o porquê. Mas, apesar disso, nenhum deles jamais fora como aquele. Ao me abandonar Giulietta parecia sempre decidida e… fria. Distante, uma escolha que ela tomara. Jamais largaria a vida que tinha para fugir com um estudante que mal conseguia se sustentar, mas, naquele, ela se desculpara por aquilo. Estava presa. Não conseguia mais entender se minha mente estava perdendo todo o senso e querendo me poupar de ainda mais sofrimento ou se aquele sonho vinha carregado de algum significado que, no momento, eu não conseguia decifrar.

— James! — A porta se abriu e Denis esperava emburrado, balancei a cabeça, livrando-me daqueles pensamentos e daquele sonho, como fizera com todos os outros, não tinha tempo para pensar naquilo, Giulietta tinha feito a escolha dela e eu não podia fazer mais nada quanto a isso. — Você vai de pijama! — Ordenou o rapazinho que segurou minha mão e me puxou escadas abaixo.

Toda a família já aguardava ansiosa na sala de estar, os presentes que originalmente estariam embaixo da árvore de natal já haviam migrado para o tapete em frente a lareira e as crianças esperavam ansiosas, enquanto a avó era irredutível sobre abrir qualquer coisa antes da minha chegada. Apesar disso, os gêmeos de Leonor possuíam um gorro cada, sendo Diana presenteada com um tricô de um pelúcio e Hélio o ganhador de uma cabeça de um erumpente.

— Hey! Por que eles abriram os presentes? — Denis perguntou indignado ao alcançar a sala.

— Porque esses presentes são da tia Catarina, não do Papai Noel. — Catarina mostrou a língua para o irmão caçula, que respondeu mostrando a língua de volta.

— James chegou, já podemos? — Dione disse com uma voz quase sonolenta e as crianças no ambiente pareciam que iriam explodir de ansiedade, Helena sorriu para mim e acenou brevemente com a cabeça, provocando gritinhos entusiasmados ao longo do cômodo para que, em seguida, papéis de presente e meias voassem por toda a sala.

No meio da agitação de presentes e risadas e gritos alegres, Dione se aproximou sem que eu notasse, enquanto eu ainda abria um presente que Apollo me entregara e agradecia meu novo amigo o kit de frascos para poções que eu ganhara.

— Hey, Jamie! — A loirinha saudou e eu me esforcei bastante para conter o som de descontentamento ao notar o quão próxima ela estava. — Eu deixei um presente para você na sua meia, mas, você sabe… — Ela riu baixinho, olhando para baixo quase que fingindo estar tímida. — Eu deixaria para abrir somente quando estivesse sozinho. — Aconselhou, saltitando para o colo de seu pai logo em seguida.

Passei a mão no rosto, tentando me concentrar e não surtar ali mesmo. Puxei a meia com minhas falsas iniciais para perto e revirei alguns presentes até encontrar aquele que era obviamente de Dione: uma peça de calcinha preta rendada, tão pequena que parecia ter sido feito em uma única linha. A cara de satisfação da garota sumiu no mesmo instante em que eu joguei a lingerie na lareira e a encarei, soltando um “Opa”, antes de continuar a abrir os presentes.



Para a ceia a noite Helena me surpreendera com a presença de Viola, Paisley, Teresa e Dimitri. Eu não conseguia esconder o quão feliz estava com tudo aquilo. Mesmo sabendo que tinha uma peça no quebra-cabeças faltando, a presença, o carinho e a felicidade que eu sentia com todas aquelas pessoas ali quase me faziam esquecer do fato de que eu não estava com minha família biológica. Tive sucesso durante todo o dia em evitar as provocações de Dione, que, com a proximidade do pôr-do-sol, desistiu de tentar e adorei cada minuto do dia, rindo com as crianças, curtindo os presentes e contando e ouvindo histórias de outros natáis, inclusive o primeiro e único que passei com Teresa.

— Você realmente tentou bancar a Elsa? — Paisley apontou e eu ergui os ombros. — E você realmente quase matou a tia Teresa como a Elsa quase matou a Anna. — A garotinha parecia indignada, eu me apressei em me defender.

— Ela só caiu!

— Se não fossem os especialistas em amor eu não sei o que eu faria… — Teresa fingiu enxugar uma lágrima.

— Você disse que estava bem!

— Bem, agora que eu encontrei o meu Kristoff eu certamente estou. — Afirmou, selando seus lábios nos de Dimitri, que ficou rindo feito um bobo por um longo tempo depois disso.

— Bem, eu diria que encontrou o seu Sven.

— Sem ciúmes, docinho. — Dimitri me acalmou. — No final do dia você sabe que meu coração é seu. — Prometeu, recebendo, como esperado, um tapa de Teresa.



O Natal passou e logo veio o Ano Novo. Comemoramos no estilo da Grécia com muito champanhe trouxa, que eu devo admitir que era bem gostoso.

O tempo passava e eu pensava cada vez menos em Giulietta, os sonhos vinham, mas eu realmente andava tão ocupado que não conseguia pensar mais neles. Talvez meu coração finalmente estivesse aprendendo a viver sem ela. Como eu bem me conhecia, eu iria arranjar outra para quem sofrer. Mas, pelo menos, eu estava melhor e menos abatido. Se Merlin ou Deus não queria que eu ficasse com ela... Esperava que Ele tivesse algum plano para mim.

As investidas de Dione diminuíram relativamente depois do Natal e eu esperava do fundo do meu coração que ela tivesse compreendido o que eu havia dito naquele dia da praia.

Provas vieram e provas se foram. Minha poção havia parado de explodir na minha cara, a minha receita mesmo desta vez, e eu estava progredindo, apesar de ainda estar distante do resultado. O trabalho na loja estava tranquilo e eu quase conseguia respirar. E foi aí que a coisa desandou. Como tudo na minha vida.

Apollo e Theo caminhavam ao meu lado e não se ouvia nada além de nossos passos, a respiração pesada devido o caminhar apressado e o farfalhar do pergaminho que cada um segurava em mãos como se a vida dependesse disso. Cada pergaminho continha as notas finais de seu respectivo dono e nenhum de nós três tivemos coragem para espiar nota alguma.

Era a última semana de junho e, pelo menos pelos próximos dois meses eu estaria oficialmente livre das obrigações acadêmicas. O grande mistério ali era o de se eu teria que passar um ano a mais na Grécia ou se poderia seguir com o intercâmbio, visto que, segundo o regulamento, caso eu reprovasse em uma matéria teria que refazer todo o ano. Os Michaedelis tinham se unido a mim na expectativa de entrega do boletim, claro que cada um à sua maneira.

Na semana de provas finais Denis fez todo o possível para garantir que minhas anotações pegassem fogo (ele estava começando a demonstrar magia e dizia entre risadas que não podia controlar) e que eu não dormisse bem a noite. Segundo Helena, aquele era o jeito carinhoso dele de dizer que queria que eu continuasse ali. Porém, ao notar a dedicação de Dione em ajudar o irmão caçula a me sabotar em uma semana que poderia colocar todo meu ano escolar em risco, eu decidi que tinha que passar naquelas provas de qualquer maneira. Não que eu não quisesse ficar mais um ano com os Michaedelis, mas que… bem, vocês conhecem a história.

De uma forma ou de outra Theo e Apollo se solidarizaram com minha situação e tomaram as dores para si, compartilhando comigo aqueles momentos de tensão e tentando não rir da minha expressão desesperada no caminho da faculdade para casa. Assim que ultrapassei a porta da cozinha — a loja estava fechada naquela manhã — deparei-me com todo o restante do clã Michaedelis a minha espera. Dos cunhados e noras aos netos e, claro, Dimitri e Teresa que tornaram-se visitas frequentes durante minha estadia ali. Helena sobressaltou-se com minha chegada e então todos que conversavam pararam para me olhar, em expectativa. Àquela altura minhas mãos já tremiam e eu não conseguia mais conter a ansiedade. Apollo apoiou uma mão em meu ombro e então olhou o próprio boletim.

— Bem, como esperado. — Ergueu os ombros pomposo e recebeu um olhar carinhoso da mãe por isso.

— Igualmente. — Theo disse às pressas, tendo checado as suas notas enquanto o irmão se exibia. — Agora a grande atração da noite. — Instigou, olhando-me como o restante das pessoas ali fazia.

— Okay! — Disse em um sopro e então, quase que em câmera lenta, ergui o pergaminho em frente a meus olhos.

Didática Bruxa — O

Herbologia Aplicada ao Ensino de Poções I — E

Manipulação de Ingredientes Orgânicos VI —O

Metodologia do Ensino de Poções I — E

Preparo de Poções Avançado — E

Princípio Básico de Ensino de Poções — O

Venenos e Antídotos III — A

Por motivos já conhecidos eu deveria ser um mestre na matéria de Venenos e Antídotos. Mas por esses mesmos motivos todo mundo sabe que eu não sou lá a melhor pessoa para identificar venenos. Graças a isso minha maior preocupação girava em torno daquela matéria. Então, assim que identifiquei o “A” de “Aceitável” em frente a matéria que eu mais temia, não pude conter o grito de satisfação.

E os Michaedelis me acompanharam na comemoração. A não ser Denis, que começou a chorar. Íris balançou a varinha e da ponta desta voaram confetis e surgiram bandeiras com frases… motivacionais. No meio do auê, pausei minhas comemorações para contemplar cartazes escritos “Você vai se sair melhor no próximo ano”, “Será um prazer ter você conosco mais uma temporada” e “Bem-vindo de volta, gatinho”. Dione notou minha reação e não tardou a reparar nos cartazes também, revirando os olhos em seguida e cutucando a irmã mais velha.

— Decoração errada!

— Aquilo não foi um grito de desespero? — Íris parou de pular e me encarou com o cenho franzido.

— O melhor grito de “Eu passei, graças a Merlin!” que eu consegui produzir. — Confessei e ela arregalou os olhos verdes, floreando a varinha e alterando toda a decoração para algo mais contente e mensagens de “sabíamos que você conseguiria” e “sentiremos sua falta”.

— Não duvidamos do seu potencial nem por um minuto. — Catarina garantiu e eu ri junto a ela. O importante mesmo era que eu tinha conseguido.

— É a despedida do nosso James! Isso merece uma comemoração de verdade! — Héktor bradou, fazendo surgir um barril de cerveja amanteigada e copos para todos. — Denis seu pestinha, afaste-se daí! — Gritou para o filho que já preparava sua caneca para pegar o primeiro drink.

O dia inteiro foi dedicado a comemorações. Bebemos, rimos, contamos histórias, bebemos, transformamos os ossos de Pandora em borracha e em seguida uma pessoa mais sóbria que Alexandre e eu (quem eu não consigo lembrar) resgatou a garota para fazê-la voltar ao normal. Comemos pratos deliciosos feitos por Helena e talvez tenhamos bebido uma ou duas poções de sabe Merlin o quê. Bebemos um pouco mais, firewhisky, hidromel e, claro, cerveja amanteigada. Depois de Héktor conjurar o terceiro barril eu não me lembro muito bem do que aconteceu. Não lembrava de quanto além tinha bebido e tão pouco quanto tempo ficara festejando. Mal me lembrava de ter ido dormir, mas soube que o havia feito quando acordei na manhã seguinte.

Meu cérebro em ressaca ainda não tinha processado a dor, o que me despertara naquele momento foi o grito alto e agudo de Dione perfurando o meu tímpano. Claro que em uma questão de segundos o grito seria o menor dos meus problemas. Uma vez acordado, senti um soco muito bem dado tirar meu maxilar do lugar em que ele deveria ficar e, bem, eu teria gritado se isso não me causasse ainda mais dor.

— Você vai matá-lo! — Dione tornou a gritar quando minha cabeça tombou para o lado. — Bampá¹!

— Essa é a intenção. — A voz eu reconheci como sendo de Apollo e estava carregada de um ódio que eu não achei que ele fosse capaz de sentir.

Em meio a toda confusão eu consegui abrir meu olho esquerdo (o direito estava inchado) e entender mais ou menos o que acontecia. Eu estava deitado na cama, apenas de cueca e se os movimentos de Apollo indicavam algo eu não permaneceria deitado muito tempo. Na verdade o que aconteceria em seguir explicava perfeitamente o motivo de eu sentir que estava voando enquanto acordava. Dione segurava um lençol rente ao corpo, mas ao que parecia estava nua e se postava ao pé da minha cama, de onde, em movimentos desesperados, tentava impedir o irmão e manter-se coberta ao mesmo tempo. Apollo me ergueu da cama e naquele momento eu não sabia explicar como ele fizera aquilo e, com o terceiro soco, eu senti meu nariz começar a sangrar, ao mesmo tempo que Dione começava a chorar.

— O que está acontecendo aqui?! — A voz alta, brava e autoritária era de Héktor, mas a movimentação indicava muito mais pessoas por ali. Meu corpo caiu de volta na cama ao mesmo tempo que Dione corria pros braços da mãe e Theo e Catarina seguravam Apollo um de cada lado.

Eu adoraria responder, se eu tivesse a mínima noção do que estava acontecendo ali. Na verdade era uma curiosidade que eu compartilhava com Héktor. Eu só conseguia entender que Apollo estava bravo, Dione nua e meu maxilar quebrado.

— Esse bastardo! — Apollo gritou, ele fazia força para se livrar dos irmãos, mas estava controlado o suficiente para não machucar nenhum dos dois enquanto tentava tal coisa. Seus movimentos cessaram assim que Héktor entrou no caminho entre ele e eu.

E minha cabeça doía. Héktor e Apollo começaram a discutir em grego, Dione chorava e gritava alguma coisa, dentre elas a única que eu consegui identificar, das aulas que tive e das inúmeras poções que tive que fazer, foi a palavra “amor” conjugada no presente. Helena parecia horrorizada e, em meio a tudo aquilo, Catarina soltou o aperto de Apollo e veio em minha direção, a varinha foi sacada no curto caminho e logo estava apontada contra meu rosto enquanto ela cuspia palavras que eu não conseguia entender.

— Arketá²! — A voz de Héktor soou grave e alta o suficiente para que todos se calassem e eu sentia como se fosse explodir. Considerando a varinha apontada para meu nariz, talvez eu fosse mesmo.

Mais algumas palavras em grego pelo patriarca da família e Catarina regrediu com a ameaça, deixando o quarto junto a Theo e Apollo que saíram sob o olhar de Íris - que mesmo sendo a mais nova dos quatro parecia a mais controlada. Dione jogou-se aos pés do pai, chorando e implorando alguma coisa, mas, pela primeira vez desde que eu pisara naquela casa, Héktor não olhou em direção a ela. Leonor foi até a irmã, enrolando-a decentemente no lençol e a arrastando para fora do quarto. Até que por fim sobraram apenas eu, Helena e Héktor. O casal trocou olhares e palavras curtas e ríspidas, até que Héktor deixou o ambiente e Helena caminhou em minha direção. Quando eu pensei estar tudo bem, a mulher de voz doce que me acolhera e me consolara desde o dia que eu cheguei ali, deu-me o soco que me fez apagar de vez.

— Ele nem sabia o que estava acontecendo! — A voz era feminina e sussurrava para uma voz masculina e esganiçada.

— Eu também não sei.

— Você é novo demais.

— Mas eu consigo escutar desde o dia que eu nasci. — Denis resmungou e eu apostaria que ele estava mostrando a língua. — Você acha que ele morreu?

— Já disse que não! Mamãe curou ele.

— Para o papai matar? — A garota tentou conter uma risada, mas falhou.

— O destino dele vai ser bem pior que a morte.

— Nós podíamos matá-lo. Dar um final digno a ele.

— Denis!

— Acho que ele está acordando. James?

Minha cabeça doía, mas eu considerava mais uma dor psicológica do que física. Por algum motivo eu acreditava que deveria estar me sentindo um pedaço de estrume, porém eu me sentia relativamente bem. Aos poucos os acontecimentos passados foram voltando a minha cabeça. Em fragmentos. Lembrei-me do soco de Helena, da ameaça de Catarina e da surra de Apollo. Da confusão em meu quarto e dos gritos em grego. Depois apenas da festa e das bebidas. Tinha motivos para acreditar que eu tinha perdido um grande pedaço entre a festa e meu quarto. Abri os olhos lentamente e descobri que meu olho direito não estava mais inchado. Teria tudo sido um sonho? Íris e Denis me encaravam ansiosos do pé da cama e eu pisquei algumas vezes, acostumando meus olhos a luz.

— O que aconteceu? — Perguntei e Íris exibiu o maior e mais largo sorriso que eu já vira.

— Estava contando que você perguntasse isso. — Ela se ajeitou na cama e coçou a garganta. — Certo, ok. Semana passada na sua festa de despedida você ficou muito bêbado. Tipo, muito.

— Semana passada?

— É, nós o mantivemos assim até que estivesse... você sabe, em condições de falar. Quero dizer, não foi culpa sua, certo? Todo mundo ficou bêbado naquela festa, papai não parava de aparecer com bebidas e eu suspeito que até Orfeu bebeu um pouco, se quer mesmo saber.

— Ele não bebeu. — Denis foi em defesa do sobrinho/amigo. — Mas eu bebi, não tinha ninguém olhando. — Confessou sem aparentar vergonha.

— Enfim! Alguns ficaram mais loucos que outros e eu não sei muito bem como fomos parar aí, mas na manhã seguinte Apollo foi até seu quarto por eu sei lá o motivo e não acho que ele se lembre, mas quando ele chegou lá se deparou com a cena de, como explicar… Ok, é simples, Dione estava toda enrolada em você e você sabe… — Ela moveu a boca mas não emitiu som ao dizer a palavra “nua”. — Ela acordou com o barulho da porta abrindo e se assustou quando viu Apollo, começou a explicar alguma coisa, mas deviam ter te avisado que meu irmãozinho é meio… explosivo. Ele não quis saber o que aconteceu e partiu direto para agressão. Aí Dione começou a gritar igual uma bezerra desmamada e…

— Eu… essa parte eu lembro. Eu… dormi com Dione?

— Você tira a virgindade da minha irmã e não lembra? Olha, eu sei que ela não é santa, eu estava tentando te defender Evans, mas agora até eu quero te bater.

— Eu não estou lembrando de muita coisa agora. Dione é virgem?

— Passado. Graças a você. Claro que era! Ela nunca tinha saído de casa, não conhece pessoas de fora assim. — Eu queria dizer que tinha minhas dúvidas, mas sentia que devia permanecer calado.

— Mas isso é impossível!

— Denis, conte para ele.

— Quando um menino e uma menina se gostam…

— Não isso! — Exaltei-me, pedindo para que ele parasse. Se querem minha opinião, Denis era para frente demais para sua idade. — Eu quero dizer que… olha, eu não estou acusando sua irmã de nada, mas Dione já tinha me procurado outras vezes. Me provocado e… eu nunca… eu jamais faria isso! Ela é uma criança, sabe? Tem a idade da minha irmã, eu não poderia…

— Cara… — Íris se levantou e caminhou até onde eu estava, dando tapinhas em meu ombro. — Você estava bêbado e… eu sei como Dione é persuasiva, você não deve ter nem pensado.

— Mas eu…

— Permita-me continuar a história. Então aconteceu tudo aquilo. Papai não tinha reação na hora, ele apenas estava tentando controlar tudo, dizia que precisava enviar algumas coisas e não queria nem olhar para você, ele teria o matado. Então mamãe disse que cuidaria de você, eu soube que ela te deu um soco, mas, você sabe… é a filha caçula dela, virgem! Como você pôde? Mesmo assim ela cuidou de você e, bem, você estava bem ruim, então entre feitiços e poções e você melhorar te deixamos descansando um pouquinho. Os ânimos de todos se acalmaram, papai gritou com Dione e isso desistabilizou nossa família por uns dias, ninguém sabia exatamente o que fazer com a nova informação de Héktor brigando com Dione, mas ela se manteve irredutível e do seu lado independente de quantas pedras jogássemos nela. Não literalmente, apesar de que eu não reclamaria. Ela disse que na festa você e Apollo dormiram na cozinha e como ela era basicamente a única pessoa sóbria ali…

— Orfeu também estava sóbrio. — Garantiu Denis

— Ela subiu com vocês pro quarto. Por magia, claro. Primeiro ela deixou Apollo e depois você. Mas ela disse que quando foi te colocar na cama você acordou e vocês começaram a conversar. Sinceramente eu tentei, mas falhei em todas as vezes que tentei imitar Dione explicando como você é lindo e charmoso e inteligente e…

— Princípe, alma gêmea e alguma coisa de ser o destino… — Denis completou e Íris riu, agradecendo a participação do irmão.

— Eu não consigo acreditar que fiz isso…

— Acredite, querido. Ela se manteve ao seu lado como Julieta morreu por Romeu. E é aí que entra a parte animadora: você só está vivo porque minha irmãzinha decidiu que você é o amor da vida dela e ela seria incapaz de viver sem você. E bem, apesar das broncas e gritos Dione ainda é a felicidade da vida do meu pai, e ele não iria acabar com a razão de viver da razão de viver dele. Então… você está preparado? — Ela não me esperou responder. — Meus parabéns! Você está noivo!

— Eu tô o quê?

— Noivo! O casamento é hoje ao pôr-do-sol, já está tudo arrumado, seus amigos estão aqui, enviamos convites de padrinhos para eles como se fosse você. Dimitri enviou uma carta que confirma o que você disse sobre Dione já ter te provocado antes, mas nós apenas insistimos que você abriu os olhos para o verdadeiro amor. Viola se negou a vir. Teresa disse que queria ver isso com os próprios olhos e… acho que é isso. Você tem que convencer a todos que ama Dione mais do que ama sua própria vida. O engraçado é que uma coisa depende da outra. — Ela riu como se realmente fosse engraçado. — E não case aparentando estar sendo forçado a isso. É o dia mais feliz da sua vida! Enfim! Como Denis é o único homem dessa família que não quer te matar ele vai te ajudar a se arrumar, não saia desse quarto até que eu venha te buscar, é bom para sua saúde! Te vejo em breve, cunhado. — Ela piscou e então deixou o quarto. Eu soltei o ar que não sabia que estava prendendo e encarei Denis, que me sorriu evidenciando que da festa para aquele dia ele tinha arrancado seu primeiro dente de leite.

— Estou feliz que você vai ficar aqui para sempre. — Declarou e então pulou da cama, começando a chamar e dar ordens logo em seguida.

Algumas horas mais tarde eu estava de banho tomado e completamente arrumado para... me casar com uma garota de 15 anos, desistir dos meus estudos e ser odiado eternamente por uma família a quem eu devia tanto.

— Ninguém sabe, mas eu consigo abrir o estoque de poções e eu sei que eles guardam alguns venenos lá. Você sabe, é uma boa saída... — Denis sugeriu e eu sinceramente não me surpreendi com o fato de não ter me surpreendido.

— Meus pais não me criaram para isso. Já fugi como um covarde uma vez, acho que esse é o famoso karma. Tenho que ficar e assumir a responsabilidade pelos meus atos.

— Você quem sabe. — O menino disse com um dar de ombros.

— Nosso noivo está pronto? — A porta do quarto se abriu revelando uma Íris em vestes formais. — Perfeito! — Concluiu ao me ver arrumado e deu um passo para o lado, dando-me passagem.

— Última chance, James. — Denis avisou e eu fechei os olhos, respirando fundo e seguindo Íris dali em diante.

Tudo estava arrumado nos jardins da casa. Os convidados eram poucos e eu conseguia sentir o ódio de muitos deles por mim, além de Teresa, sentada na primeira fila, e Dimitri, a minha espera no altar, o restante das pessoas ali eram os integrantes da família Michaedelis e uma espécie de padre. A decoração, estava simples e inegavelmente bonita. O lugar e a paisagem ajudavam e se as circunstâncias não fossem como eram, eu estaria feliz de me casar em um lugar daqueles. Mas, bem, vocês sabem.

Íris me acompanhou até o altar e ordenou para que eu esperasse, juntando-se ao restante da família enquanto Teresa caminhava com um sorriso gracioso em minha direção e se unia a Dimitri.

— Ah, querido. — Ela disse em português. — Eu iria acabar com sua cara se não tivesse certeza que o restante da família já lhe agrediu o suficiente.

— James… Se você quiser… Eu achei que você nunca… O que caralhos você fez? — Dimitri parecia confuso demais para conseguir colocar os pensamentos em ordem.

— Eu sei tanto quanto você.

Casar com ela? Você tem noção do susto que eu levei? Você sumiu e toda vez que eu vinha te procurar diziam que você não estava. Aonde raios você se meteu? Eu quase chamei… a polícia. — Ele tentava não se exasperar e falar baixo, mas era evidente a preocupação e nervosismo que o búlgaro sentia. Eu sorri e puxei Dimitri para um abraço.

— Eu estava desacordado. Não tenho ideia do que aconteceu, só sei que se eu fiz isso eu mereço esse destino.

— James, a garota já ficou nua na sua frente outras vezes, ela pode estar mentindo!

— Ela nunca deixou os familiares desconfiarem. Teresa, você nunca me viu bêbado… não depois da morte de Saphira… eu… eu apenas não consigo me controlar e eu realmente não lembro de nada.

— Que abraço demorado! — Íris surgiu risonha e eu larguei Dimitri, notando o olhar mortal que Teresa lançava à loira.

— Estava comentando com meus padrinhos como esse é o dia mais feliz da minha vida. — Forcei um sorriso para ela e ela riu.

— Meus pêsames, James. Eu juro que tentei te dar outras opções, mas eles foram irredutíveis. Enfim! Dione e papai estão descendo. — Íris avisou e retornou ao seu assento. Teresa bufou irritada e logo se postou ao lado de Dimitri que se inclinou em minha direção para dizer que, se eu quisesse, ele e Teresa davam conta do resto da família para eu correr.

Dione chegou naquele exato instante. Seu sorriso era tão branco e brilhante quanto seu vestido, que parecia ter sido feito para combinar com a decoração e com o crepúsculo que tomava o céu. Héktor, em oposição, mantinha a expressão fechada e da gravata à sola do sapato vestia preto.

— Última chance. — Dimitri sussurrou e eu lhe dei uma última olhada antes ajeitar minha postura e aceitar o meu destino.

Os olhos azuis de Dione estavam fixos nos meus e eu não conseguia desviar. Além da alegria que a garota aparentava eu podia enxergar algo como… vitória. Dione estava triunfante, era quase como se as sobrancelhas loiras gritassem “eu disse que sempre conseguia o que queria”. Ah… eu deveria ter ficado na república.

Minha noiva alcançou o altar e Héktor a entregou a mim sem proferir uma palavra. Eu realmente estava me casando, a felicidade de Dione era sonora, uma vez que ela girava o pescoço para encarar os familiares e deixava escapar risadinhas. Segurei sua mão e a trouxe para perto, voltando-me para o padre. Eu estava me casando. Sem minha família, sem meus antigos amigos, sem ninguém saber, com uma pessoa que eu não amava.

— Senhoras e senhores, estamos aqui reunidos para unir em sagrado matrimônio estes jovens. — Com uma criança que nunca tivera a oportunidade de conhecer o mundo ou outras pessoas. Criança que eu tinha removido o resquício de pureza que lhe restava enquanto bêbado. — Dione Psique Michaedelis. — O homem chamou, eu me sentia transpirar. — Você aceita James Evans como seu legítimo esposo, para amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, todos os dias da sua vida, até que a morte os separe? — O sorriso brilhante de Dione vacilou.

— Até a morte? — Perguntou, todos seus familiares riram. Os olhos azuis perderam toda a prepotência e alegria de segundos atrás e demonstraram medo. Apertei sua mão, tentando confortá-la, mas Dione a puxou para a longe. — Eu… não. — Disse, levando seu braço próximo ao tronco e se abraçando.

— Dione? — A voz era de Catarina, que parecia ter sido a única a conseguir reagir. A caçula buscou os olhos da irmã que não parecia contente.

— Não! — A menina repetiu, mais alto e com maior convicção.

— O que é que você está fazendo? — Héktor levantou-se de seu assento, parecendo nada contente.

— Eu não posso me casar com ele! Bampá¹! Eu tenho 15 anos! — Justificou e eu observei a cena, sem realmente conseguir reagir ao que acontecia.

— Ele… o que ele fez com você! Eu não o matei porque você pediu, mas não posso aceitar que…

— Ele não me fez nada! — Ela gritou, a garota dava pequenos passos para trás e então me encarou, puxando com força o véu de seus cabelos. — James não fez absolutamente nada.

— Denis, a pipoca! — Íris gritou o irmão, que correu para a cozinha da casa e voltou em pouco tempo com um balde de pipoca para ele e a irmã.

— Querida, o que você está falando? James falou alguma coisa com você? Ele te…

— Mamãe, ele não fez absolutamente nada! Não vejo James desde aquela manhã, como ele poderia ter dito qualquer coisa? Eu… nada aconteceu! James nunca me tocou eu… não posso me casar com ele!

— Dione… eu… — Tentei me pronunciar, mas ela me calou.

— Não! Eu menti, para todos vocês. James nunca fez nada. Ele estava sim muito bêbado aquela noite, e eu o levei para o quarto, assim como Apollo e, sim, nós conversamos. Mas James não me tocou. — Ela engoliu em seco, parecia escolher as palavras, mas apenas abaixou a cabeça, sentando-se no chão e encarando um ponto fixo no próprio vestido. — Não importava o quanto eu pedisse ou o provocasse, ele continuava falando que nunca faria isso, que eu era uma criança e o quanto eu o lembrava a irmã. — Dione enxugou uma lágrima. — Mais de uma vez, não só aquela noite, durante todo e ano e… argh! Ninguém nunca me disse não!

— Dione… — Era Helena quem se direcionada chocada e assustada à filha.

— Então eu fiz aquilo. James dormiu enquanto eu conversava com ele e eu fiquei tão furiosa! Ele nem mesmo conversava comigo. Eu sabia que Apollo iria lá pela manhã, tinha os ouvido conversar durante a festa e então… eu tirei as roupas de James e o deixei apenas de cueca e… me despi completamente e deitei com ele. James não tinha a menor ideia que eu estava ali, ele dormiu feito uma pedra e passou a noite chamando por uma tal de Giulietta, o que apenas me deixou mais irritada e, bem… quando Apollo chegou eu não precisei fazer muito…

— Sua vadia mirim! — Teresa disse em português e, mesmo ela tendo dito há minutos que tudo era um plano de Dione, ela parecia surpresa.

Héktor em todo seu traje preto começou a adquirir uma coloração vermelha peculiar, o restante da família parecia processar as informações que Dione tinha jogado ao ar quando eu senti um par de braços enormes me puxar para trás.

— Hora de dizer adeus. — Dimitri informou antes de desaparatar comigo dali.