Acordei e olhei para meu relógio. Nele marcava três e meia. Da tarde. Se eu fui dormir muito tarde ontem? Na verdade não, fui dormir duas e meia da manhã, mas acho que o cansaço acumulado da semana fez com que eu dormisse até essa hora.

Desci as escadas e meu pai e Finn estavam vendo TV, enquanto minha mãe brincava com Dany.

– Bom dia, dorminhoca.

– Bom dia mãe, pai e companhia.

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– Então, a que horas você vai sair?

– Umas oito e meia, mãe.

– A que horas vai ser a peça?

– Nove horas – respondi pegando suco na geladeira.

– Mas não é muito tarde? Os ingressos podem acabar.

– O Percy já comprou nossos ingressos, mãe. Pela internet.

– Hum.

E ela parou. Me sentei no sofá, ao lado de meu pai. Fiquei lá até umas quatro e meia e depois fui tomar banho. Que tipo de roupa se usa em um teatro?

Ás cinco e meia já estava tomada banho, secando o cabelo e perguntando para Tris e Mione que tipo de roupa se usava por aqui para ir ao teatro. Não sei o que é pior: não saber que roupa usar ou ter duas amigas com opiniões totalmente distintas. Optei por colocar um vestido e salto. Como estava meio frio, peguei um cardigã mais leve.

Oito e meia em ponto Percy estava em casa, batendo na porta. Meu pai atendeu e perguntou se não queríamos carona até o teatro. Percy disse que seu pai já estava nos esperando do lado de fora. Quando Eric parou o carro, descemos do carro, nos despedimos e escutamos um juízo dele. Acho que todos estavam pensando que isso era um encontro, principalmente minha mãe e a mãe dele. Constrangedor.

Quando estávamos passando pela entrada, o homem que recolhe os ingressos nos olhou de forma estranha, não faço ideia do porquê.

Íamos entrar no teatro até que vimos a lanchonete. Olhamos um pro outro e meio que fomos andando, meio que correndo até ela. Chegando lá, a fila se dividia em duas: coisas salgadas de um lado, doces e refrigerantes do outro.

Fui para a fila dos doces e ele para a das coisas salgadas. Quando minha vez já estava quase chegando, um garoto veio falar comigo.

– Oi. Está sozinha?

– Hã, na verdade não. Por que?

– Porque se estivesse gostaria de saber se me acompanharia.

– Desculpe, não posso.

Dei um meio sorriso, pensando que ia acabar por ai. Mas o garoto pareceu não perceber meu pequeno fora.

– Tem alguma coisa que eu possa fazer pra você mudar de ideia?

– Não, desculpe. Já estou muito bem acompanhada.

– Bom, eu não vejo ninguém acompanhando você por aqui.

– Por que não dá uma olhada na fila ali do lado e ... – olhei para a outra fila e onde estava Percy? Boa pergunta. – Onde se meteu aquele Cabeça de Alga?

– Talvez você só estivesse inventando isso porque estava com medo. Mas pode relaxar e vir comigo.

– Sai daqui, garoto.

– Por que, gatinha? Não tente negar que quer sair comigo.

– Olha, pra sua informação eu tenho namorado, só que ele resolveu desaparecer nesse exato momento.

– Então por que você não larga desse seu namorado e me acompanha hoje?

– Porque o tal namorado dela já chegou e está dispensando seus serviços. Obrigado.

O garoto olhou para trás. Para sua surpresa, um lindo garoto alto de jaqueta de couro estava ali com uma expressão intimidadora.

– Sério que você tá me trocando por esse punk esquisito?

– Bom antes um punk esquisito do que um mauricinho metido a besta. Vaza.

O garoto saiu e, segundos depois foi dar em cima de outra menina. Quando ela olhou pro lado, fiz sinal negativo com a cabeça e ela entendeu e, pouco depois, ele saiu cabisbaixo.

Compramos os doces e só quando já estávamos sentados nas poltronas é que Percy voltou ao assunto.

– Então, aquele seu amigo, simpático, né?

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– Ah, para com isso. Ele veio dando em cima de mim, não tenho culpa de ser linda.

– Mas que podia ter dispensado ele antes, podia.

– Ah, você tá com ciúmes?

– Mas é claro que não.

– Uhum, sei. Bom, mas isso não teria acontecido de você não tivesse sumido de repente.

– Mas eu só tava conversando com uma pessoa.

– Quem?

– A Hazel.

– A Hazel tá aqui?

– Tá sim.

– E ela sabe que eu tô aqui?

– Sabe sim. Inclusive ela disse que sua roupa estava muito bonita.

– Ah, que fofa. Agora ela vai lá falar pra amiguinha dela que vai vir e tornar minha vida mais insuportável.

– A questão é que, depois que ela viu você e perguntou se nós estávamos juntos, eu disse que sim e perguntei se ela ia contar pra amiguinha dela. Ela me disse que elas brigaram feio porque a Isabella achava que a Hazel tava dando em cima de mim e tentando “me roubar” dela.

– Então ela não vai falar nada?

– Não.

– Uau – bebi um pouco de minha coca. – Ela não é tão má assim.

– Acho que ela só é má quando mexem com ela. Como não fizemos nada, ela tá de boa.

– Ela tá de boa até desenvolver uma queda por você.

– Ciúmes?

– Nem sonha, Cabeça de Alga. Xiu, que a peça já vai começar.

A peça começou. Minha opinião? Achei ótima. Os caras eram ótimos na arte do improviso, além da de atuação.

Saindo do teatro, vimos o carinha que deu em cima de mim mais cedo. Pra você ter uma ideia de como os fatos se seguiram, vou explicar: ao sair do cinema, Percy, que estava segurando minha mão, viu que eu estava com frio e me deu sua jaqueta (ele estava com uma outra blusa de frio por baixo que ele jurou que estava dando pro gasto) e colocou o braço em minha cintura. Ok, saímos do cinema e vimos o tal carinha. Percy fez menção de ir até ele, mas eu o impedi e o arrastei até uma pequena praça.

– Por que ia fazer isso?

– O cara tava dando em cima de você, bem na minha frente.

– Tecnicamente, eu estava sozinha na fila e não conseguia localizar você.

– Agora a culpa é minha?

– Para de ser crianção, Percy. A culpa não é sua e nem minha. A culpa foi que houve um desentendimento de encontros, só isso.

Ele ficou quieto. Andamos até um banco ali perto e nos sentamos. Ele não colocou a mão nem em meu ombro e nem segurou-a, ao contrário, até se afastou um pouco de mim.

– Você tá bravo?

– Tô.

– Comigo?

– Não, tô bravo comigo. E com aquele cara.

– Para com isso, Cabeça de Alga. Foi só um incidente.

– Ok, mas e você? Tá brava comigo?

– Não. Só não gostei do fato de você achar que precisa ter ciúmes de mim, Percy.

– Eu sei, desculpa – ele se virou para mim. – Não que eu desconfie de você ou coisa do tipo, mas ele bem que podia ter tentado assediar você ou coisa assim.

– Lembra-se da regra do acampamento? Menos de dez centímetros sem permissão, técnicas de auto proteção.

Ele sorriu ao lembrar-se disso. Acho que é porque havíamos escutado isso desde os cinco anos, mas só aos dez fomos entender.

– Não, eu não esqueci. Mas na hora só me deu um ataque de ciúmes e eu não consegui controlar, ok?

– Ok, Percy. Mas foi desnecessário, admita.

Acho que ele se estressou um pouco.

– Sim, Annabeth! Foi desnecessário, eu admito! Me desculpe se minha namorada é necessariamente linda e veste roupas que lhe favorecem a silhueta e por isso os outros ficam reparando muito nela!

Ele me encarava furioso. O problema é que eu estava envergonhada demais para me defender. A questão é que: ele disse isso diretamente. Às vezes me mandava uma indireta ou brincadeira e eu entendia e ficava envergonhada, mas agora ele disse na minha cara.

Ele, que estava virado para mim se recostou no banco, com o braço apoiado no mesmo.

Me levantei e me sentei em seu colo. Poderia ser uma coisa bem mais pornográfica, não fosse a atual situação. Ele não me encarava nos olhos, então segurei seu rosto e lhe dei um beijo. Ele não negou e o respondeu de bom grado, me puxando mais para perto dele. Depois que nos separamos, ele ficou me encarando.

– Desculpa – eu disse.

– Ok, me desculpa também.

Sorri e ele retribuiu.

– Vamos comer?

– Onde você quer ir?

– Mione disse que tem um restaurante ótimo por aqui. Com rodízio de peixe, eu acho.

– Ok, vamos lá. Mas antes ...

Eu já estava em pé e ele ainda estava sentado. Ele ficou de pé e tateou o bolso da calça. De lá ele tirou um pequeno saquinho prata, com uma fitinha azul amarrada.

– Desculpe.

– Mas o que ... Percy! Você prometeu!

– Mals – peguei o embrulho de suas mãos, ainda com uma expressão brava, mas sabia que não tinha jeito.

Abri o embrulho. Diferentemente do que eu pensava dentro não havia outro colar, mas sim um pingente. Era uma pequena coruja dourada com duas pedrinhas que eu não sabia o que eram, mas eram azuis escuro, no lugar dos olhos.

Olhei para ele com um olhar reprovador, mas tirei meu colar mesmo assim e coloquei a coruja junto da solitária pedrinha. Recoloquei o colar.

– Obrigada, Cabeça de Alga – disse de mal grado, mas ele sabia que eu estava feliz e sorriu.

– Não foi nada, Sabidinha.

E fomos para o tal restaurante. Ou melhor, tentamos ir para o tal restaurante. A questão é que nenhum dos dois sabia onde o restaurante e “alguém” estava se recusando a pedir informações, por puro orgulho. Até que por fim, conseguimos perguntar pra uma senhora que passava por ali e fomos até o restaurante.