O hospital estava praticamente vazio, exceto pelos funcionários que transitavam entre os corredores carregando instrumentos de cirurgia ou documentos aos montes, seus passos ecoando nos corredores desertos.

Valka estava sentada tomando o seu segundo copo de água e Soluço tentava enxergar através das cortinas azuis da sala de emergência.

–Conseguiu ver alguma coisa? –Valka perguntou, tremendo as mãos.

–Não. –Soluço sentou ao lado da mãe e apoiou a cabeça às mãos.

–Isso não deveria ter acontecido.

–Não fale assim, não é sua culpa, tudo isso é culpa do Drago, ele não tem coração, ele prejudicou muita gente.

–Tem razão, todas aquelas pessoas, eu queria ter ajudado-as.

–Olha, depois que tudo isso acabar, podemos ir até lá com policiais e libertá-las.

–Talvez... Mas, agora, é melhor você ir para corrida, não vai adiantar nada você ficar aqui.

–Mas é meu pai!

–Eu sei, e também sei que ele ficará furioso se souber que você não foi para corrido por causa dele.

Soluço abriu e fechou a boca várias vezes a procura de uma resposta mas esta não veio, então ele apenas disse:

–Certo, está bem, eu vou. Mas se acontecer alguma coisa...

–Não se preocupe, eu estarei aqui, se preocupe com a corrida. Estarei torcendo aqui por você.

Soluço sorriu. O pouco tempo que passará com a mãe já o mostrou como ela era uma pessoa doce e fraternal, assim como já sonhara muitas vezes.

–Está bem, obrigado. –Eles se abraçaram, e depois Soluço se despediu e foi embora.

A caminho da Arena, Soluço observou muito o céu e suas nuvens, a procura de um sinal qualquer, mas era praticamente impossível, o céu estava claro e ao mesmo tempo nublado, o que, há um tempo, passou a ser um sinal preocupante.

Loki agora tinha a posse do Mjonir, da Gungnir, e das outras armas de todos os prisioneiros de Asgard, e isso eliminava quase toda chance de derrotá-lo.

Ele é um deus, e possuí as mais poderosas armas do universo, enquanto somos apenas mortais, que sabem mais do que deveriam realmente saber.

–Soluço, eu fiquei pensando muito nisso. – Disse Astrid, depois de lhe relatar a “travessura” de Loki. –E acho que descobri o que pode nos salvar.

–Ei vocês, a corrida já vai começar! O que ainda estão fazendo seus preguiçosos, venham, venham! –Bocão passava pelos competidores que estavam se arrumando, quando chegou até Soluço e Astrid. –Preciso dar uma palavrinha com os dois.

–Claro, pode falar. –Astrid respondeu.

–Aqui não, venham. –Ele os conduziu para um canto afastado do vestiário, e começou. –Eu sei o que está acontecendo, acreditem –Ele olhou para os lados – Eu sei do segredo do anel. –Soluço e Astrid se olharam espantados, e depois voltaram a olhar para Bocão. –Mas, por mais que isso seja difícil, tentem afastar seus pensamentos de qualquer outra coisa que não seja a corrida. Ele vai tentar alguma coisa contra você Astrid, e irá usar sua mente para isso. Mesmo tendo suas táticas ele é previsível, mas é bom se precaver também Soluço, talvez seja você quem ele irá atingir, para prejudicar Astrid, não temos como saber, então eu lhes peço: Fechem suas mentes. É questão de vida e de morte. –A essa altura ele cochichava, mas alto o suficiente para que os dois pudessem ouvir. -Boa sorte.

Soluço e Astrid conseguiram dar um mero sorriso, e feito isso Bocão se virou para os outros e gritou:

–ANDEM SEUS CABEÇAS DE BAGRE! SEREMOS DESCLASSIFCADOS POR ESTÁ LENTIDÃO!

Minutos depois, o locutor anunciou que a corrida começaria em instantes, e que os corredores deveriam se posicionar em seus lugares.

Os telões marcaram 15 horas e foi dada a largada.

–Hofferson e Jorgenson estão ombro a ombro! A dupla Strondus Hofferson consegue ultrapassar Jorgenson. E agora entramos na última corrida.

Astrid sorriu. Eles iriam vencer.

Porém, de repente, o sorriso sumiu de seu rosto. Ela vislumbrou Loki em sua frente. Ele sorria. Aquele sorriso que a irritava mais do que tudo.

–Astrid! - Soluço gritou para ela. Seu coração acelerou.

–O que está com acontecendo com a dupla que está na primeira posição? - o locutor perguntou. Astrid tentou frear a moto, mas ela não a obedecia. Ela acelerava cada vez mais.

–Astrid, pára! - Soluço gritou desesperado.

–Eu não consigo! - ela gritou de volta.

Ela se aproximavam cada vez mais da figura de Loki. E para Soluço tudo foi como se eles estivessem movimentando-se em câmera lenta.

Uma explosão.

Astrid.

Soluço freou bruscamente e desceu da moto, caiu de joelhos. A fumaça não deixava ver nada. Ele apenas vislumbrou um vulto negro embaçado. As lágrimas embaçavam sua visão.

Ele mataria Loki com as próprias mãos se o visse agora. Ele não podia ter feito tudo que havia feito. E para Soluço não importava se ele estava sobre o efeito do Éter. E então ele viu.

O vulto negro era um dragão, era Banguela.

Esse dragão envolvia um corpo em seus braços. Banguela continuou protegendo Astrid com suas patas e asas.

Soluço se aproximou e encostou sua mão nas escamas negras de Banguela, o dragão pareceu acordar lentamente e então abriu os olhos, e ao ver Soluço abriu as asas e afrouxou as pernas. Soluço deitou Astrid em suas pernas.

–Obrigado amigo – Agradeceu olhando nos olhos de Banguela, sua voz abafada pelo capacete.

Soluço fitou o corpo de Astrid imóvel em seus braços. Tirou o capacete. Suas lágrimas caiam no rosto de Astrid. Ela havia rasgado suas roupas e sangrava muito. Ele fitou seu rosto gélido e então aproximou sua cabeça lentamente para seu colo.

Estava viva.

–Astrid... –Ele sussurrou com a voz embargada.

Ninguém ousava se aproximar, todos observavam a cena pasmos. Soluço deitou Astrid cuidadosamente no chão e foi até Banguela, correndo para abraça-lo.

–Muito obrigado por salvá-la. –Soluço olhou para as pessoas então disse à Banguela:

–Volte a Asgard, precisam de você lá. –Ele acariciou o focinho do dragão e ele ronronou carinhosamente. Soluço então se afastou e Banguela voou no mesmo instante para o alto, e logo, desapareceu.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.