Clara estava há duas semanas "dormindo". Eles resolveram levá-la para casa, pois no hospital não sabiam o que fazer com ela mesmo.
Enrico não saia de perto dela um minuto. Mesmo com o tempo passando, tinha esperança de que ela voltaria para ele e que todo o pesadelo acabaria. Ela era forte e não ia deixar que esse coma inútil a abalasse assim.
Hermione entrou no quarto. Enrico estava deitado ao lado de Clara e fazia carinho no rosto dela.
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— Não estou com fome...
— Você precisa comer, querido.
Enrico suspirou. Sem muita vontade ele comeu o que Hermione trouxe. Ela sentou ao lado de Clara e acariciou o rosto dela.
Na primeira semana, ela nem conseguia entrar no quarto, se sentia extremamente culpada com o que aconteceu, mas aos poucos Draco foi tirando isso da cabeça dela. Hermione saiu do quarto depois que o Enrico comeu e foi até a sala de estar. Draco estava lá vendo tevê com o Ethan.
Hermione se aproximou e sentou no sofá com eles. O loiro a puxou para mais perto e os três ficaram juntinhos vendo desenho.
***
Clara estava sentada no chão olhando as portas. Não sabia em qual entrar. Para ela as duas eram trevas...
— Então... Decidiu?
— Não. Parece que as duas são ruins.
— Mas não são.
— Não é o que parece.
— Você precisa decidir logo.
— Meu tempo está acabando? — Olhou pra trás.
O homem estava sentado em uma poltrona agora. Como aquilo foi parar ali?
— Bem. Como eu disse, você tem que entrar em uma das portas, pois se ficar aqui, vai morrer.
— Quando eu entrar, você vai tirar meus poderes?
— Eu ainda estou pensando nisso...
Clara suspirou.
— Quanto tempo mais eu tenho?
— A quanto acha que está aqui?
— Uma hora?
O homem riu.
— Um pouco mais...
— Mas quanto ainda tenho?
— Pouco. Você tem que entrar em uma das portas. Qual você entrará?
— Talvez na menos pior...
— E qual é a menos pior?
— Na que meu pai briga com o Enrico...
— E por que essa?
— Porque na outra o sentimento de raiva era tão forte... Nunca senti tanto ódio como ali. Então suponho que seja as trevas...
— E a outra?
— A outra meu pai queria matar o Enrico, mas eu não sei porque. Só sentia um desespero naquela situação.
— Entendo.
— Então acho que tentar amenizar a briga do meu pai é um pouco melhor do que ficar com sede de sangue. Na minha opinião as duas portas são ruins, mas acho que a segunda é menos pior mesmo.
— Se fez sua escolha, entre. O tempo acabou.
Clara engoliu em seco e levantou do chão. Ela seguiu até a porta e colocou a mão na maçaneta, logo a girou e empurrou a porta.
A menina foi forçada a fechar os olhos, pois uma luz forte brilhou na sua frente. Assim que abriu os olhos, percebeu que estava em outro lugar. Era a estação de trem. Só que tinham coisas bem diferentes... No lado onde ela estava era tudo branco e não tinha ninguém e do outro lado tudo era negro e parecia que umas sombras passaram rápido.
— Que merda...
Clara se aproximou da parte negra e percebeu um tipo de vidro separando a luz da escuridão. Ela procurou ao redor o velho senhor da outra parte e não viu nada.
O que fazer agora?
***
Enrico estava sentado ao lado de Clara na cama. Há dias que ela não estava mais tão quente como antes. Parecia que a temperatura estava voltando ao normal. Isso o deixava tão feliz. Sabia que ia voltar logo.
A porta abriu e Enrico olhou. Ficou um grande silêncio no quarto e o menino não desgrudou os olhos de quem estava ali. Era o Alex. Os dois ficaram se olhando por um longo momento, até que a Alyce passou na frente de Alex e entrou no quarto.
— Posso ver minha amiga?
— É claro. — Levantou e deu espaço a ela.
Alyce sentou na cama e segurou a mão de Clara.
— Não parece tão quente.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Acho que a temperatura finalmente está abaixando — respondeu olhando a menina.
Alex também a olhava, mas não falava nada.
— Então será que está melhorando?
— Eu acredito que sim. Acho que logo vamos ver ela acordada de novo. — Olhou Alex e ele o olhou também.
Os dois ficaram um tempo com ela e conversaram um pouco. Enrico e Alex trocaram meia dúzia de palavras e não foram ofensas.
Alyce se afastou de Clara e Enrico voltou a sentar ao lado dela. O loiro beijou sua mão e acariciou sua cabeça.
— Anda, Clara. Para de enrolar para voltar.
Clara apertou a mão dele e Alyce e Alex arregalaram os olhos. Já Enrico, sorriu largamente.
— Você está me ouvindo, Clara?
A menina apertou a mão dele de novo.
— Por que não abre os olhos hein?
Os três ficaram em silêncio a olhando um tempo. Então Enrico suspirou derrotado. Mesmo assim eles continuaram olhando.
A menina mexeu as pálpebras e os três ficaram em alerta.
— Ela está aqui! — disse Alyce.
— Eu sabia! — Enrico falou sorrindo.
Clara ouvia bem longe as vozes. A menina mexeu a cabeça e sentiu algo apertar sua mão. Ela fez força para se mexer e não conseguiu. Seu corpo parecia pesado. Então as pálpebras foi a única coisa que conseguiu mexer.
Aos poucos a luz do lugar ofuscou seus olhos e ela os fechou de novo.
— Clara pode me ouvir?
A menina abriu os olhos lentamente e encontrou o portador da voz. O sorriso dele era contagiante. Extremamente feliz. Fez ela sorrir junto, mesmo se sentindo pesada.
— Ela está bem! Vou chamar os pais dela! — Alyce saiu correndo do quarto.
Alex se aproximou e os olhos dela se mexeram na direção dele. A menina sorriu levemente.
— Vocês... Vocês precisam mesmo um do outro. — Enrico o olhou surpreso. — Eu achei que você era um aproveitador e que faria tudo de ruim com a Clara, mas.... Você mostrou o contrário. Agora tenho certeza que a ama.
— É claro que eu amo, mas eu só sabia fazer besteira atrás de besteira, por isso você tinha toda a razão do mundo para desconfiar de mim.
Os dois ficaram em silêncio se olhando. Clara os olhava em silêncio e um pouco confusa.
— Eu realmente desejo tudo de bom a vocês. Eu gosto muito da Clara e quero ela feliz. Se você proporciona isso a ela, fico realmente contente.
— Obrigado. Eu acho...
Hermione e Draco entraram no quarto cortando a conversa dos dois. Hermione apertava Clara e não parava de beijá-la. Parecia um sonho o que estava acontecendo. Draco fazia a mesma coisa.
— Por que estão assim? Eu fiquei fora por uma hora...
— O que? — Draco perguntou.
— Fiquei fora por uma hora...
— Você não...
Hermione segurou o braço dele.
— Mesmo assim a gente morreu de saudade.
Clara sorriu.
— Podem chamar o Albern?
— Claro.
Hermione mandou uma coruja ao bruxo e em pouco tempo apareceu na casa deles.
— Posso falar a sós com ele?
— Pode — respondeu Hermione.
Todos saíram do quarto e deixaram os dois.
— É bom te ver acordada.
— Mas eu não dormi muito.
— Dormiu por quase três semanas.
Clara ficou de boca aberta.
— O que? Mas...
— O que aconteceu do outro lado?
— Eu fiz minha escolha.
— E qual foi?
— Foi estranho porque parecia que as duas eram trevas, mas eu escolhi a luz.
O homem sorriu.
— Que bom. E quanto a tirar seus poderes?
— Bem... Encontrei Merlin por lá.
— É mesmo? Como foi?
— Ele é maluco.
O homem riu.
— Mas é legal.
— O que aconteceu quando escolheu a luz? O que viu?
— Eu fui parar na estação de trem e tinha duas partes dela, separadas apenas por um vidro.
— Sei...
— Passou por isso?
— Sim.
— Hum... E conversou com Merlin?
— Não tive o privilégio.
— Pois ele me encontrou lá.
— Depois da escolha?
— Também.
— Como foi?
***
Clara ficou parada olhando o local sem saber o que fazer ou para onde ir. Até que resolveu andar em frente. Tudo era branco no lugar, a não ser o lado esquerdo. Caminhou até que encontrou um banco e se sentou. Será que morreu? Se morreu, ficaria sozinha?
— Acho que entrou na porta da luz.
A menina deu um grande pulo quando o homem falou. Estava sentado no banco com ela. Quando foi que ele apareceu?
— Eu morri?
— Não.
— E o que faço agora?
— Já vai voltar.
— Você tirou meus poderes?
— Por que quer tirar?
— Não quero ser do mal.
— Mas você escolheu a luz.
— Não tem como mudar?
— Não.
A menina respirou aliviada.
— Achei que nenhuma das portas seria a luz...
— O que vai enfrentar agora não será fácil, mas fez a escolha certa.
— O que vou enfrentar?
— Saberá em breve — disse sorrindo.
— Tem a ver com o que ouvi na porta?
— Talvez.
Clara suspirou. Não queria mesmo seu pai e Enrico brigando.
— Como saio daqui?
— Seu corpo ainda está voltando a temperatura normal.
— Ah sim.
— Já vai ver sua família.
A menina sorriu.
— Espero que aproveite o poder.
— Como farei com as pessoas que não entendem?
— Elas não precisam saber de nada. Faça magia com a varinha quando na frente de alguém.
— Mas e os que viram o que eu fiz?
— Como escolheu a porta da luz, todos esquecerão o que aconteceu.
— Jura? — perguntou feliz.
— Sim.
Clara desfez o sorriso.
— O Enrico também?
— Só os que te desejaram mal.
— Entendi...
— Bem. Tenho que ir. — Levantou do banco. — Boa sorte e faça bom proveito.
— Obrigada por me dar isso. Espero ter feito o que achou que eu faria.
O homem sorriu e passou a mão na cabeça dela.
Em um piscar de olhos ele desapareceu e Clara piscou assustada. A garota olhou para trás e tinha uma luz forte brilhando. E agora? Dizem que se for para a luz morre, não é? Ficou parada, mas a luz veio até ela.
— Então eu percebi que a luz era a luz daqui do quarto.
Os dois riram.
— Fico feliz por sua escolha.
— Eu também. Tive medo de ter errado. O que será que ele quis dizer com o que vou enfrentar agora não vai ser fácil?
— Eu realmente não sei.
— Bom. Deve ser melhor do que querer matar a todos.
— Com certeza.
Os dias se passaram depois que Clara acordou. Tudo estava como antes. Ninguém sabia dos poderes dela e não a viam como uma aberração. Clara estava mais calma do que nunca. Antes tinha que ficar controlando a raiva para não matar ninguém e agora nem raiva sentia direito, claro que irritação todos têm, mas raiva e ódio eram coisas que ela tinha esquecido o que eram.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Estou tão feliz que nossa filha está bem.
— Eu sabia que ela ia voltar. É uma menina forte! Claro que nesse quesito ela me puxou.
Hermione empurrou Draco para o lado e ele riu.
— Coragem não veio daí, querido! — disse cínica e Draco parou de rir.
— Está me chamando de medroso?
— Eu não disse nada. Você que está dizendo...
Draco a encarou feroz.
— Há tempos que não sou medroso!
— Então assume que já foi?
— Por que estamos falando disso?
Hermione se aproximou e o beijou quando percebeu que estava muito irritado.
— Não precisa ficar assim. Eu sei o quanto você mudou.
Draco ficou em silêncio a olhando.
— E posso dizer... — Se aproximou e cochichou. — Gosto mais do que você é agora... Virou um ótimo partido. Ainda bem que é só meu!
O loiro sorriu e a beijou.
— Por que não vamos comemorar que a Clara voltou?
— Onde?
— Um restaurante ou qualquer coisa assim. — Deu de ombros. — Só para comemorar. Podemos chamar seus amigos e os pais do Enrico.
— É uma ideia boa.
Os dois combinaram com o pessoal de ir em um restaurante trouxa de comida japonesa. Clara gostava muito.
— Você é uma menina que adora dar sustos na sua mãe sabia?
— Não faço de propósito. — Deu de ombros e Harry riu.
— Que bom que está bem.
Todos conversavam entre si sentados à mesa. Alessandra e Mark também estavam ali. A loira estava sentada ao lado de Clara.
— Tem alguma coisa errada?
— Não. Por quê?
— Parece incomodada com algo.
— Não é isso. É que nunca fiquei rodeadas de bruxos sabe... Não é uma coisa comum.
As duas riram.
— Mas você acha ruim?
— Oh não! Eu acho legal.
— Que bom.
— Fico feliz que tenha acordado. Enrico ficou tão desolado enquanto você dormia...
— Acho que todos ficaram abalados.
— Sim, mas ele não saiu do seu lado até você acordar.
Clara sorriu e o olhou. Conversava com Alyce e Alex. Depois de tudo que aconteceu, a briga entre os dois realmente tinha acabado.
— Ele te ama muito.
— Eu também o amo muito.
A mulher sorriu. Ela gostava muito de Clara e a relação dos dois era muito importante para ela, pois via seu filho feliz.
— Vamos fazer um brinde a volta da minha guerreira — Draco estendeu a taça de vinho.
— Pai... — disse envergonhada.
Hermione também levantou a taça e Clara suspirou. Agora a vergonha só ia aumentar.
Enrico também levantou e sorriu quando Clara o olha com cara de "abaixa isso ou morre!". Logo todos brindaram.
O jantar estava muito agradável. Draco e Hermione estavam realmente muito felizes em ter sua filha de volta.
— Eu queria um suco de uva desse.
— Isso não é suco, Ethan.
— Mesmo assim eu queria um...
— Você não pode beber isso, filho.
— Por quê?
— Porque é bebida de adultos.
Ethan cruzou os braços e fez bico.
— Quando vou virar adulto?
Todos na mesa riram quando ele perguntou isso muito irritado.
— Enrico não beba tantos copos! É um só e para brindar!
— Mãe!
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