O vento... ah, esse vento! O único que tem várias personalidades, um amigo que afaga o seu cabelo, um namorado que esfria as noites mais quentes, um pervertido que levanta as saias das mulheres, um gatuno que produz a trilha sonora perfeita para o momento de "invasão de propriedade"... Ah, esse vento! Pode-se sentir os corpos tremerem com o seu toque, arrepiar com sua doçura na calada da noite. E, naquele anoitecer miraiano, embelezava a cena que corria no fatídico festival agora, acariciando o vestido branco da dama se apresentava.

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Aosora Assumi tamborilava seus dedos pela flauta, promovendo um som doce e rítmico que abraçava a colônia. Seu cabelo solto e liso era acariciado pelo pervertido vento, que o jogava para lá e cá, alisando-o, beijando-o, seduzindo-o de todas as formas. Esta força da natureza apenas fazia com que os espectadores, sem exceção, definissem que a garota era a Julieta e o instrumento, o seu Romeu. Os dois eram um só.

Todavia, um homem sentia ódio daquela garota ou talvez não seja esse o adjetivo correto. A desarmonia dos dois era evidente... opa, esta pessoa é uma exceção. Uma desatenção do autor e quase que mentiras foram escritas.

Esse homem é Utiyama Hiroshi, o patriarca de uma das grandes famílias de Keega do Futuro. O modo de como a garota lembrava a sua avó, Kaya Aosora, só dava mais motivos para o coração daquele idoso regar a semente do repúdio. Ora, pode-se ficar curioso quanto aos outros motivos dele, contudo, grossos portões de grafeno postavam-se em alerta contra intrusos.

Tendo a apresentação acabado, os Aosora, Kara Aosora, a mãe, e os primos foram parabenizar o talentoso membro da família. Porém, para a surpresa de todos, a felizarda sumira do local da apresentação.

Ora, ora, não é de se espantar que a garota já tivesse sumido. Afinal, tinhas assuntos a acertar com um certo miraiano.

O Festival do Décimo Ano da Fundação de Keega no Mirai era enorme, ocupava setenta porcento da cidade-colônia miraiana. Havia principalmente barraquinhas de jogos e dangos, o que sempre levava a pequena população a passar a madrugada ainda aproveitando aquela festa toda. E, por entre várias barracas animadas, uma jovem corria.

Então, alguém parou a corredora.

– Ei, sensação da noite, acalme-se! - disse Utiyama Tairo, sarcástico. - Me procurando?

A garota bufou.

– Mas é claro, gênio. Combinamos algo e eu espero que os Utiyama tenham palavra.

Ele riu, mas com um tom sombrio circundando sua voz.

– Eu gostaria... se você soubesse, gostaria também que não tivéssemos.

– Então, me diga o que é.

– Só saiba que eu não tive participação nenhuma na maquinação desse plano...

Diga!

– As famílias planejam se unir. Ou seja, como manda a tradição, casamento.

– Entre...?

– Não seja burra.

Bem, a garota não ficou tão surpresa, na verdade. O anúncio da tortura que se abateria sobre os dois a nocauteara por dentro, sim, mas não que já não tivesse ouvido algo do tipo por esses dias. Cochichos entre as empregadas e a sua mãe, seus primos e suas risadas tímidas misteriosas.

Tairo ficou confuso com a aparente calma dela.

– Por acaso... você já sabia?

– Eu suspeitava. - ela lamentou. - E você, em momento algum, teve a decência de se postar contra?

– Não tenho muita voz naquela casa.

– Então admite ser apenas um fantoche do seu avô.

– Sim. E que tem apenas uma perspectiva de vida: crescer o bastante para lhe dar netos fortes e vigorosos. Que triste ter que decepcioná-lo quanto a última parte.

– Afeh. - murmurou, ríspida. - Tenho que fazer algo. Tenho que falar com a minha mãe. Digo, ainda temos força o suficiente, mesmo depois da morte do meu irmão, para calar a boca do seu avô.

– A esperança é a última que morre.

– Idiota. - disse, já se afastando. - Não é atoa que seu avô não lhe dá ouvidos.

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E então a garota sumiu na multidão, arrebatada com as previsões do futuro.

É estranho como tudo pode mudar com uma notícia e mais estranho ainda quanto atinge apenas o seu interior. O ambiente, de animado torna-se caótico, sons de felicidade tornam-se barulhos excessivamente altos, o mundo gira a sua volta e todos os rostos lhe parece desconhecido. Contudo, nada tinha mudado realmente. Mas a sua expressão torna-se cada vez mais conturbada, até, então, desmoronar.

Uma morte repentina a frente da garota torna-se o gatinho da arma da roleta-russa que se iniciou e o vento começa a uivar, choroso.

A recém-falecida chama-se Kara Aosora.