Tiago encarava o teto de seu dormitório, imaginando quantas poções diferentes poderiam existir no mundo. Anteriormente, seu pensamento ocupava-se em pensar na quantidade de criaturas mágicas que ele já havia visto. Já antes desse pensamento, ele se lembrava vagamente de algo ligado a ovelhas. Tudo para não ter de pensar no assunto que ele mais tentava evitar em sua mente: o que diabos tinha de errado com Lílian Evans.

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Virou-se de barriga para baixo, remexendo-se desconfortavelmente na cama. Já deviam passar das três da madrugada. Ouvia Sirius e Pedro roncando sonoramente enquanto Remus suava e murmurava certas palavras sem nenhum nexo. Lua cheia se aproximando, lembrou-se Tiago.

Com um suspiro de impaciência, lembrou-se daquela manhã. Cada detalhe das exatas palavras que Lílian lhe havia dito.

– Você gosta de mim, não é mesmo? – perguntara ele, seus olhos ansiosos encarando a pulseira de Hufflepuff. Porém, nenhum brilho chegara a vir dos olhos do texugo.

Lílian encarava-o, desconfiada como nunca. Seu pulso estava seguro nas mãos de Tiago, mas ela o retirou imediatamente dali.

– Você não perde uma chance de ser um idiota completo – disse ela, seus olhos fervendo.

Tiago estava sem palavras. Ele conseguiria conquistar cada garota daquele imenso castelo e era por isso que Lílian Evans se tornara um desafio pessoal. Mas ter de encarar aquela verdade, havia lhe deixado completamente irritado.

– Você não quer admitir que gosta de mim? – perguntou ele novamente, ignorando os muxoxos irritados da garota. Mas, novamente, os olhos da pequena criatura não brilharam.

O que você está fazendo? – disse ela, irritada.

– Você gosta de quem então? Sirius? Pedro? Remus? – questionava ele, sua ira aumentando cada vez mais.

Lílian franziu as sobrancelhas enquanto encarava confusa a pulseira e os olhos castanhos esverdeados de Tiago.

– Escuta aqui, Potter. – começou ela, seus rostos a centímetros de distância. – Eu te acho muitas coisas. Arrogante, idiota e mulherengo são algumas delas. Mas não tinha percebido que você também precisava de terapia.

O rosto de Tiago ardia como se estivesse repleto em chamas, numa casa queimando num incêndio. Seus olhos a fitavam tão profundamente, que ela achava que somente com esse olhar, ele descobriria qualquer coisa.

– Do que você gosta? – resmungou ele, balançando a cabeça como se estivesse desapontado com as suas respostas nem mesmo ditas.

Lílian fez uma careta de descrença e revirou os olhos irritada.

– Livros – respondeu ela, curtamente.

– Você gosta de livros? – perguntou ele, como se não tivesse ouvido sua resposta. Virou-se para a pulseira enquanto Lílian o encarava como se fosse um completo maluco, que tivesse acabado de fugir do St. Mungus.

Porém Tiago, de repente, transformou-se de um garoto com raiva do mundo para um totalmente confuso. Sentiu cada molécula de seu corpo questionar a ele quem diabos era aquela garota parada a sua frente, com o semblante irritado e as bochechas avermelhadas. Porque, mais uma vez, nenhum brilho veio da pulseira.

Tiago desistiu de tentar inutilmente dormir e levantou-se de sua cama. Todos os seus ossos doloridos lhe diziam para voltar para aquele amontoado de cobertas mas sua mente estava a mil.

Desenterrou a caixinha de Helga em meio às suas roupas e agarrou-a firmemente entre seus dedos. Abriu-a e suspirou profundamente ao ver novamente a pulseira da fundadora da Lufa-Lufa. Abriu a porta do dormitório silenciosamente. Não estava preocupado em acordar Sirius nem Pedro. Sua preocupação maior era Remus. Remus conseguiria ouvir uma lente de contato cair no chão durante a noite. Era quase como uma audição sobrenatural. Aquelas que somente alguns animais têm. Como lobos. Tiago revirou os olhos ao perceber o quão estúpido era, para não ter notado a verdade antes.

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Desceu os degraus em direção à sala da lareira, suas calças de moletom arrastando no chão frio. Ele se sentou numa das poltronas, encarando a pulseira, detalhe por detalhe. Por que não funcionou logo com Evans?, pensou ele, seus dedos passando pelos olhos brilhantes do texugo.

De repente, um barulho de passos surgiu por trás do garoto. Ele se virou rapidamente, olhos desconfiados e a mão escondendo rapidamente a caixa dentro de seu casaco.

Evans? – disse ele, incrivelmente embasbacado por tê-la encontrado àquela hora da noite no mesmo momento em que ele havia decidido descer. Seus cabelos ruivos estavam presos num rabo de cavalo volumoso e seus olhos estavam fixos nas chamas queimando o carvão da lareira. Parecia nem mesmo ter ouvido Tiago.

O garoto a encarou confuso enquanto ela se aproximava da lareira e sentava ali, completamente hipnotizada pelas chamas. Tiago agachou ao lado dela passando uma das mãos na frente de seu rosto. Ela nem se mexeu. Ele congelou ao lembrar-se do que Lílian havia lhe contado, sobre não fazer ideia do que estava acontecendo com ela durante as noites em que acordava na manhã seguinte sem saber o que estava fazendo ali. Segurou os ombros da garota, balançando-a urgentemente, mas os olhos verdes ainda estavam focados na lareira.

– Evans, acorda – disse ele, suas mãos apertando cada vez mais forte seus ombros. Lílian retirou a varinha do roupão de dormir sem que ele nem mesmo tivesse tempo de perceber e apontou para ele. Com um estalo, Tiago foi lançado para a parede oposta, seus ossos quase gritando com o impacto. Ele xingou um palavrão que, se Lílian estivesse consciente, ela com certeza o teria repreendido. – Evans! – protestou ele.

– O que está acontecendo? – perguntou Belle, surgindo de repente ao lado do garoto e ajudando-o a se levantar. A garota estava com olheiras cercando seus olhos e com os cabelos tão bagunçados que pareciam uma enorme moita. Tiago apontou para Lílian, que começava a suar da cabeça aos pés e a tremer incontrolavelmente.

– Ela está fazendo aquilo – respondeu ele, não conseguindo encontrar uma resposta suficientemente adequada para aquele estranho comportamento de Lílian.

Belle se aproximou da amiga, porém antes que pudesse chegar mais perto da garota, novamente Lílian ergueu a varinha e lançou um feitiço em direção a Belle. A garota desviou por pouco, enquanto encarava Tiago incrédula.

– É como se ela estivesse possuída…

– Temos que fazer alguma coisa… cercá-la ou algo do tipo. – disse Tiago, sentindo a caixa dentro de seu uniforme escorregar de seu bolso e quase cair, porque Belle a segurou com um rápido reflexo.

– O que é isso? – perguntou ela, curiosa.

– Algo da minha avó. Uma meia ou algo assim – mentiu ele, dando de ombros e arrancando a caixa das mãos de Belle. –, certo, acha que consegue distraí-la?

– Distraí-la como? Os olhos dela estão fixos na lareira! – protestou Belle.

– Só dê um jeito!

Belle suspirou e assentiu energeticamente. Tiago foi para longe disfarçando o máximo possível, enquanto Belle começou a conversar com a amiga lentamente.

– Líly… lembra quando você fez aquele dever de poções? – começou ela, observando Tiago revirar os olhos, logo atrás da garota. – Foi… muito engraçado, não é? Quando Pedro derrubou o tinteiro em todo o seu trabalho… lembra?

Lílian nunca parecera tão estranha. Seus olhos estavam tão focados, tão abertos e ela não parecia ouvir nada nem ninguém.

– E quando… e quando o Tiago azarou o Snape semana passada? Lembra?

Tiago bufou silenciosamente, enquanto agachava-se por trás de Lílian, suas mãos erguidas em direção à garota.

– E quando você disse que achava que concorreria ao teste de quadribol? Mas que achava que ainda não estava preparada?

Nesse ponto, Tiago esboçou um semblante confuso, franzindo as sobrancelhas de modo surpreso. Mas no segundo seguinte, um de seus braços voou para o ombro de Lílian e o outro para seus pulsos, imobilizando-a completamente. Lílian remexeu-se, tentando livrar-se do garoto, mas não disse nada. Continuava completamente hipnotizada. Mesmo com o estranho comportamento, ela continuava sendo muito menos forte que Tiago, e ele rapidamente, conseguiu arrastá-la para longe da lareira.

No meio do caminho, porém, Lílian desabou totalmente em seus braços, parecendo ceder diante da força de Tiago. O garoto tentou enxergar seu rosto, mas decidiu recorrer a uma Belle paralisada.

– Desmaiou? – perguntou ele.

Belle assentiu e ajeitou a poltrona para que Tiago depositasse uma Lílian inconsciente ali.

– O que diabos foi isso? – perguntou ele, após terem ambos desabado no chão. Tiago pingava suor, seus cabelos grudados na testa. Já Belle, parecia assustada. Como se tivesse acabado de presenciar um assassinato.

– Eu não sei. Mas ela não está nada bem…

Tiago assentiu, tentando recuperar o fôlego. Tentava raciocinar, da maneira mais prática possível, a saída para aquele beco, a resposta para aquela situação. Fitou Lílian mais uma vez, seu pensamento dando voltas e mais voltas.

– Não. Não está – disse ele, quase que para si mesmo. –, mas irá ficar.

***

Belle entrou no Salão Principal, o cheiro de café da manhã percorrendo todo o seu corpo com um arrepio. Estava imensamente cansada e seu estômago roncava como nunca. Lílian só acordara na manhã seguinte após a estressante noite na sala comunal da Grifinória. Devido ao fato dos meninos não poderem entrar no dormitório feminino, Tiago teve que ajudar Belle a carregar Lílian com um feitiço de levitação, enquanto Belle tentava guiá-la até a sua cama. Na manhã seguinte, a amiga não se lembrara de nada.

Virou-se para a mesa da Corvinal. Lá estava Thomas, sendo importunado por Andressa. Ela lhe abraçava com um sorriso de orelha a orelha, enquanto o garoto fechava a cara. Zac chegou e sentou-se ao lado do amigo. Com um sorrisinho brincalhão, catou um pouco de geleia de morango e derramou todo o conteúdo nos cabelos lisos e loiros de Thomas.

Belle riu levemente, mas no mesmo segundo Thomas encarou-a. Quase como se tivesse a ouvido rir. Ela acenou e ele lançou-lhe um sorrisinho, levantando-se da mesa em um salto e indo em sua direção.

– Olá srta. Farah – disse ele, abraçando-a, enquanto uma quantidade considerável da geléia em seus cabelos caía no casaco da garota. –, está pensando em me abandonar? Já não a vejo há dias!

Belle riu e segurou a mão do… seja lá o que Thomas fosse dela.

– Desde quando precisa tanto de mim? – perguntou ela. – Sou só uma amiga. Tenho certeza que você tem várias. Tipo a Andressa.

Thomas ficou escarlate e o canto de seus lábios subiu levemente, num pequeno sorriso brincalhão.

– Está com ciúmes? – questionou ele, levando-a para o corredor mais próximo do Salão Principal. Antes que ele saíssem de lá, porém, Belle reparou o olhar fuzilante de Andressa recaindo sob dois.

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– Claro que não! Por que uma amiga teria ciúmes de um amigo? – retrucou ela, assim que eles alcançaram um corredor vazio.

– Talvez porque nós não saibamos exatamente se o conceito de amigo aplica-se a nós dois… – murmurou ele, aproximando-se e depositando um beijo em sua bochecha, num lugar extremamente próximo aos seus lábios. Belle arrepiou-se e, quase xingando a si mesma por isso, desvencilhou-se de Thomas.

– Preciso te perguntar uma coisa - disse ela, determinada. –, você tem notado alguma diferença no comportamento de Zac nos últimos meses? Desde junho passado ele vem agindo…

– De forma estranha – completou Thomas. –, a escola toda sabe.

– Jura?

– Vive se agarrando pelos corredores com Mia. Mas ele não gosta mais dela. Pelo menos, não gosta desde que Evans apareceu ano passado. Além disso, parece um bipolar esquisito… muda de ideias e de personalidade de um segundo para o outro. – continuou Thomas, franzindo o cenho.

– Tem alguma ideia do que pode ter acontecido? – indagou Belle, inquieta.

Thomas encarou-a, seu rosto contraído de dúvida. “Ele sabe de algo…” pensou Belle, mordendo o lábio inferior e torcendo para que o garoto confiasse nela.

– Tenho que te contar uma coisa. – disse ele, segurando seus pulsos. – Aconteceu há algum tempo.

– Quando foi exatamente?

Thomas encarou seus olhos. Azuis contra azuis. Essa era a única característica física que compartilhavam. A imensidão azul em seus olhares.

– Junho passado. – respondeu ele.

***

Tiago encarava o relógio da sala tediosamente. História da Magia estava longe de ser uma matéria que realmente prestasse. O restante dos alunos não parecia estar mais interessado sobre o que o professor Binns tinha para falar do que ele. Ele pensava no jogo de quadribol, faltando ainda alguns dias para o grande dia. Não podia acreditar que havia perdido sua chance de fazer parte do time. Pela Evans.

Não que ele a culpasse. Mas parecia que toda a sua vida estava conectada a uma garota que só estava ocupada em revirar os olhos quando ele aparecia e em gritar seu sobrenome quando fazia algo que não a agradasse. E agora, essa mesma garota, estava enlouquecendo completamente.

– Professor? – chamou Tiago, levantando o braço. Binns levantou os olhos na direção do garoto e ele sentiu um arrepio da cabeça aos pés, encarando o fantasma do professor. – Não estou me sentindo muito bem… posso ir à enfermaria?

O professor encarou-o desconfiadamente e deixou-o sair, contanto que não demorasse a retornar. Mas Tiago tinha certeza de que, no momento em que ele saísse pela porta, Binns esqueceria completamente de sua existência.

No corredor, ele apoiou a cabeça na parede e suspirou cansado. Mal tinha dormido naquela noite.

Ouviu passos no corredor e quando se virou para ver quem vinha em sua direção esbarrou com uma garota. Por sorte, ela segurou bem a tempo seus livros e cadernos, não deixando que eles caíssem no chão por pouco.

– Desculpe – murmurou ele, transtornado.

– Ah, não. Tudo bem - disse ela, sorrindo levemente. –, er… foi minha culpa. Atrasada para a aula, sabe?

Tiago assentiu encarando a garota. Seus cabelos estavam presos num rabo de cavalo. Eram castanhos e ela tinha mechas loiras como Miandra, mas não poderia ser mais diferente desta. Tinha um sotaque carregado na voz, mas o garoto não sabia dizer de onde era. Seu sorriso era simpático e parecia não carregar nenhuma preocupação em seus ombros, diferentemente de Tiago.

– Tudo bem… isso está parecendo muito aquelas cenas de filmes quando não sabemos o que dizer para um completo estranho que barramos no corredor – disse ela, com um sorrisinho amarelo.

– O que são files? – perguntou ele, confuso.

Filmes, na verdade. É só um… artefato trouxa. – murmurou ela, balançando a cabeça como se houvesse acabado de perceber que ele não fazia ideia do que ela estava falando. – Sou Paloma Fretcher, por acaso.

– Que nome estranho – disse ele, sem perceber que estava falando.

– É espanhol. Nasci lá, mas meu pai é inglês e acabei de ser transferida de uma das escolas de Magia de lá para cá… – explicou ela, rapidamente.

– Não lembro de você…

– Eu cheguei há pouco tempo. Dumbledore abriu uma exceção, mas… estou na lufa-lufa.

Tiago assentiu, impressionado. Espanha. Já havia ido para lá algumas vezes com os pais.

– Tiago Potter – disse ele, seu peito subindo levemente de orgulho.

– Espera… eu já ouvi falar de você - disse ela, arregalando os olhos. –, Lílian Evans tem alguma relação com você?

O rosto do garoto ardeu levemente e ele deu de ombros com um sorrisinho maroto formando-se em seu rosto.

– Muitas - respondeu ele.

– Ouvi boatos… – disse ela, parecendo notar com clareza o sarcasmo de Tiago. – dizem que vocês são aqueles que salvam o dia junto com um grupo de amigos, mas que também se odeiam.

– Nós salvamos o dia mas nós não nos odiamos. Quero dizer, ela me ama. – retrucou ele.

Paloma balançou a cabeça e apontou para o corredor adiante, seu sorriso simpático ainda presente em cada frase.

– Estou atrasada para a aula então…

– Certo, claro. Até mais – disse ele, acenando levemente enquanto a garota se afastava.

Aquela garota definitivamente era estranha. Mas simpática. Ele deu de ombros para seus próprios pensamentos, como se estivesse discutindo consigo mesmo. Precisava voltar à aula de História da Magia, mas tudo o que ele queria fazer naquele momento era jogar quadribol. Viu então, uma luz de diversão passando diante de seus olhos. Severo Snape caminhava apressado próximo a ele. Com um sorrisinho animado ele catou a varinha de seu uniforme e mirou na direção do garoto.

Severo esquivou-se por pouco da azaração lançada por Tiago, fuzilando-o com o olhar.

– Você vai pagar Potter – resmungou ele, seu rosto vermelho de raiva.

– Na verdade, eu não te acertei… acho que vou ter que esperar pelo momento certo – retrucou ele. E, com uma piscadela, abriu a porta da sala do professor Binns, soltando uma risadinha malandra antes de entrar novamente.

***

Lílian entrou pela porta do salão comunal, seus livros pesados na bolsa que carregava. Os professores decidiram pegar pesado com os trabalhos naquela semana e ela desabou na primeira poltrona que viu assim que o ar caloroso daquela sala a envolveu.

– Líly! – exclamou Belle, arrastando um Tiago pelo pulso ao seu lado.

Lílian franziu a testa e se sentou ereta na poltrona enquanto Tiago e Belle juntavam-se à ela nas cadeiras à sua frente.

– O que foi agora? – perguntou ela, sabendo que seu descanso de cinco minutos não duraria tanto quanto imaginava.

– Gostaria de saber – murmurou Tiago, tamborilando os dedos na mesa.

Naquele instante, Sirius, Abbey, Remus e Pedro atravessaram o quadro da Mulher Gorda e seus olhos recaíram diretamente sob os três.

– Ei, o que é isso? Reunião agora? – questionou Sirius, jogando-se em um sofá qualquer. Abbey juntou-se à Belle e à Lílian, enquanto Remus e Pedro procuravam qualquer lugar onde ainda sobrasse espaço para que pudessem sentar.

– Com certeza – disse Belle, levantando-se energeticamente. – Lembram que Miandra, Zac e Thomas apareceram naquela noite em que Tom Riddle invadiu o castelo?

– Sempre me perguntei o que eles estavam fazendo lá… – murmurou Tiago.

– Exatamente. – continuou Belle. – Thomas decidiu seguir Miandra e Zac, já que os dois vinham agindo estranho naquela mesma semana. Na noite do ataque, quando Thomas fingia que estava dormindo ele viu Zac sair do dormitório e o seguiu. Não ficou nada surpreso ao perceber que Miandra estava com ele.

Os outros pareciam bastante atentos em cada detalhe relatado pela garota.

“Thomas não faz ideia no que eles estavam envolvidos. Mas no dia seguinte, Zac já não era o mesmo. Se algo aconteceu com ele, eu tenho certeza de que a única que pode nos dar uma pista sobre isso é Miandra”.

Lílian suspirou profundamente, suas mãos apertando uma de suas penas com tamanha força, que a ponta quase a furou.

– Não posso acreditar – murmurou ela. – Logo naquela noite…

– E no dia seguinte… quando ele estava se agarrando com Miandra – disse Abbey, transtornada.

– Mas isso era ele mesmo. Ele só é um babaca, isso é fato – retrucou Tiago.

– Pare de ser arrogante – ralhou Lílian.

– Acham que devemos perguntar à Miandra se ela sabe de algo? – perguntou Sirius.

– Acho que não podemos fazer isso… sabemos como ela é. – disse Remus, coçando a própria nuca e encarando o relógio em seu pulso. – Mas alguma coisa temos que fazer. Talvez se seguíssemos Zac...

– E outros podem seguir Miandra – disse Pedro, parecendo feliz em poder ajudar.

– É. Mas Zac pode ser fácil de seguir. Mia é mais difícil – murmurou Abbey.

– E eu já sei como podemos tentar descobrir algo a partir dela – disse Belle, virando-se em direção à Tiago e Sirius. – Acho que todos sabemos…

***

Uma semana havia se passado desde a noite em que Frank e Alice haviam conversado com Miandra sobre suas suspeitas diante do caso “Zac”. Desde então, os dois amigos vinham esperando encontrar alguma maneira de incorporar-se ao grupo de alunos que se reuniam em datas pré-determinadas para algum plano envolvendo Artes das Trevas. Miandra também estava tentando ajudá-los. Claro, de sua própria maneira. Tentava descobrir sem chamar atenção para si, alguém que pudesse incluir Frank e Alice no “pacto”, como Frank gostava de chamar teatralmente.

Era sexta-feira, véspera de jogo da Grifinória contra a Corvinal. Seu time estava preparado, disso ele tinha absoluta certeza. Esperava a vitória no dia seguinte. Mesmo que tanto ele quanto Alice estivessem no time e se sentissem piores do que nunca, eles não iriam desistir até assistirem com os próprios olhos Everton Johnson, apanhador da Grifinória, alcançar o pomo de ouro.

– Frank! – sibilou uma voz num dos cantos do corredor. Era fim de tarde, hora de tomar um banho após o longo treino e comer uma refeição merecida. Ele se virou e encarou os olhos ansiosos de Tiago. Ele estava escondido atrás de uma pilastra, varinha na mão e sorrisinho maroto presentes em seu conjunto.

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– O que está fazendo? – perguntou ele, juntando-se ao amigo.

– Snape irá passar por aqui a qualquer momento… estou esperando para lançar uma azaração. – contou ele, animado. – Mas então, como foi o treino?

– Espere aí! Irá lançar uma azaração no pobre coitado do Snape? Tiago, isso é totalmente antiético…

Tiago o fitou por alguns instantes, parecendo considerar o que Frank havia dito.

– Você não me colocou como apanhador do time – replicou ele, seu sorrisinho voltando.

– Ponto considerável…

– Então… o que exatamente vem acontecendo entre você e Alice… – Tiago começou sem um pingo de vergonha e provavelmente teria continuado a falar, se Severo não tivesse decidido aparecer naquele momento, salvando Frank completamente. Ele suspirou aliviado. Teria que agradecer Snape depois. – olha quem decidiu aparecer…

– Qual azaração?

– Uma sobre animais… supostamente, deve fazer com que Snape se transforme numa aranha, ou algo assim. – explicou Tiago, dando de ombros como se não desse a mínima importância para efeitos do feitiço. – Nunca fiz antes.

Frank arregalou os olhos, sua face tingindo-se de branco.

– E decidiu experimentar nele?

– Quem melhor? – retrucou Tiago e, agarrando a varinha com mais força, exclamou com toda a confiança possível. – Animales Criceto!

Tudo aconteceu numa velocidade inimaginável. No segundo em que o feitiço conjurado por Tiago espalhou-se, deixando sua varinha como fogos de artifício, Lílian apareceu. Seus livros seguros em suas mãos e seu sorriso feliz por ter encontrado Severo. Ela ouviu Tiago e virou-se transtornada, seus olhos mirando-o ferozmente. Mas, no segundo seguinte, sua expressão mudou para completo choque quando o feitiço que saíra da varinha de Tiago a acertou.

Severo virou-se indignado, mas tudo o que ele viu foi Tiago e Frank encarando o vazio embasbacados demais para dizer qualquer coisa. As roupas de Lílian estavam no chão, assim como seus livros e a faixa de seus cabelos. Severo encarou toda a cena bastante desconfiado, mas depois deu de ombros e saiu andando.

Assim que ele desapareceu no corredor vazio, Tiago e Frank se entreolharam horrorizados e correram para o local, o qual Lílian estava parada há dez segundos atrás.

Tiago ajoelhou-se no chão de mármore afastando as roupas da garota e a meia dúzia de livros para o lado e tateando o chão à procura de algo.

– É uma aranha, não é? – perguntou Frank, seu rosto branco como cera.

Tiago, de repente, parou. Suas mãos segurando algo bastante pequeno. Seus olhos estavam arregalados e ele abriu as mãos ligeiramente, deixando Frank ser capaz de enxergar o pequeno hamster em suas mãos. Os olhos do pequeno bichinho eram extremamente verdes e, apesar de seu pelo ser branco, tinha pequenas manchinhas avermelhadas percorrendo toda a extensão de seu pequeno conjunto.

Tiago soltou uma risadinha fraca.

– Céus… um hamster – murmurou ele, esboçando uma careta quando Lílian mordeu seu dedo agressivamente. –, parabéns Evans…

– O que você vai fazer com ela? – questionou Frank, paralisado.

Tiago ergueu as sobrancelhas e esboçou um sorrisinho maroto. O pequeno animal, que era na verdade Lílian, revirava-se descontrolavelmente em suas mãos e, teria quase fugido,se Tiago não a tivesse segurado com mais força, trincando os dentes fortemente.

– O que hamsters gostam de comer? Cenouras? – perguntou ele, confuso. Ele tinha depositado Lílian nas mãos de Frank enquanto juntava os pertences da garota e os enfiava de qualquer jeito em sua mochila.

– Ela não pode virar seu animal de estimação! Como revertemos isso?

Tiago virou-se para ele, seu sorriso murchando e seus olhos parecendo um tanto desesperados.

– Espero descobrir… – disse ele, agarrando o pequeno hamster raivoso novamente, levantando-se em um salto e desaparecendo corredor à frente, com Lílian ainda indignada, mordendo seus dedos o máximo possível.