Lovezone

O plano.


Armin e eu continuávamos andando sem rumo algum. Eu não fazia ideia do que ele estava pensando sobre o que aconteceu minutos atrás, mas mesmo assim, eu resolvi esclarecer as coisas:

– Hm, Armin... Sobre o... Hm, beijo, não significa nada. O que aconteceu lá fica lá. Não se lembre disso.

– Eu sei, foi pra contrariar sua mãe, certo?

– Apenas pra ela saber que eu tenho minha própria consciência.

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– Ok. Não se preocupe. Eu não vou comentar e nem lembrar de nada.

– Que bom que foi fácil, eu pensei que ia ter que te dar uns tapas.

– Falando em tapas... – Ele colocou a mão na minha bochecha, que ainda ardia.

– Não doeu. – Menti.

– Você estava chorando.

– Claro que não. Meus olhos estavam suando.

– Aham, sei.

– É verdade.

– E eu sou o Batman.

– Psiu!

– O que foi?

– Eles podem saber que você é o Batman. Em público você é Bruce Wayne.

Ele riu e depois ficamos em silêncio por um tempo, ainda andando. Eu estava pensando sobre a infância dele. Devia ter sido boa até o divórcio dos pais deles.

– Como foi sua infância?

– Foi ótima... Até... Você sabe, eles se separarem. Eu me lembro de tudo. Mamãe deu a ideia de uma irmã. Alexy ficou pedindo durante uma semana pra ter uma. Eles resolveram nos levar junto para vê-las. Quando vimos a Katie, nós sabíamos que íamos ser irmãos logo a primeira vista. Ela não podia ser considerada uma garota, jogava videogame comigo, aí Alexy a raptava pra fazer dela uma boneca. Ela se debatia muito. Uma vez subiu uma árvore inteira pra fugir de Alexy com um batom e um vestido rosa, mas depois não conseguiu descer.

Eu não consegui deixar de rir. Imagine uma pequena Katie subindo em uma árvore e depois não conseguir descer.

– Desculpe, mas não consigo imaginar Katie subindo em uma árvore.

– Você não conseguiria imaginar nem metade do que ela fazia ou faz.

– Ela não tem cara disso.

– Ela mudou muito desde o divórcio – ele suspirou.

– Aposto que continua a mesma.

– Nem tanto. Quer dizer, quase, mas parece mais madura.

Ok, já entendi. Ele não amadureceu. Realmente, ele parecia mais criança que o resto dos adolescentes, mas mesmo assim era legal.

– Mas então é você quem está igual. – eu sugeri.

– Sim! Eu nunca mudaria.

– Você não muda. O mundo que muda você... Eu já sofri isso.

– Nossa, que profundo.

– Não era pra soar profundo, era pra soar verdadeiro.

– Você está poética.

– Eu sempre sou poética. Por dentro.

– Aham, sei.

Rimos baixinho e de repente uma ideia muito louca me veio à cabeça.

– Armin, o que acha da Katie e do Kentin?

– Eles são amigos desde muito tempo. Estudávamos todos juntos, sabe? Ela gostava da sinceridade dele quanto aos sentimentos. Até onde eu sei era só isso. Ela não o amava, tipo, daquela forma que os namorados se amam, mas ainda sim eram muitos amigos. Então eu fui morar com minha mãe e ela com eu pai. E eu não sei mais.

– Parece que ele a seguiu até aqui, mas depois de um tempo o pai o mandou pro exército, ele não queria um filho daquela aparência. – completei.

– Foi isso? Ela nunca me disse nada.

– É, foi sim. Mas a personalidade dele mudou muito, e ela não gosta que as pessoas mudem, ela não se importou com o físico, se importou com o caráter. Ele começou a sair com várias garotas e deixa-la sozinha.

– E você acha que ele ainda gosta dela?

– Ele fica atormentando ela, é provável.

– E você acha que ela gosta dele?

– Você sentiria ciúmes?

– Sim! Quer dizer, não!

– Hm, eu não sei. Ela não demonstra sentimentos facilmente.

– É, eu entendo.

– Eu tive uma ideia, mas pra isso você precisa concordar, Bruce.

– Meu Deus, eu tenho medo de você.

– Você não precisa ter por enquanto. Mas enfim, eu vou contar a ideia.

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Eram basicamente três passos. Chamamos Katie para ver algo em uma sala de aula no segundo andar. Depois disso atraímos Kentin. Então os trancamos lá e assistimos tudo pelas câmeras de segurança, já que a maioria dos funcionários estará de folga hoje.

– Acha que vai acontecer o que lá dentro? – ele perguntou inocentemente.

– Não sei, por isso temos as câmeras.

– Como vamos coloca-los lá? Tem alguma desculpa?

– Não. Por isso você vai colaborar comigo.

–... Por isso eu tenho medo de você.

______

Armin disse a Katie que queria lhe dizer algo mega-importante, mas teria que ser no porão, para ter certeza de que ninguém iria ouvir. E eu chamei Kentin, dizendo que uma garota estava a fim dele em segredo, e que a encontraria no porão. Ambos caíram feito patinhos.

A segunda parte foi fácil. Roubei a chave da secretaria e apenas a girei na fechadura. Depois disso corremos até a sala onde checavam as câmeras e nos trancamos lá.

Eles discutiam, mas não emitia som algum.

– COMO LIGA A PORRA DO SOM? – Eu disse, desesperada para ouvir.

– Calma. Parece que só tem um headphone. E se ligarmos sem ele vai chamar muita atenção. – Ele colocou o fone na minha cabeça e encostou-se a um dos lados para ouvir também. – Se importa?

– Agora você já fez!

– Ouça.

Ficamos atentos ouvindo a discussão que parecia ser resolvida na porrada em poucos minutos.

– Kentin, eu já disse, não estou a fim de você. – Ela disse com calma.

– Mas a Rachel disse...

– A RACHEL?

– Sim, ela disse que alguém estava gostando de mim em segredo e que estaria aqui.

– EU VOU ABRIR ESSA FUCKING PORTA E PROCURAR A RACHEL PARA MATA-LA. FIQUE AQUI.

Eu estava rindo muito com isso. Ela não conseguiu abrir. Estava quase arrombando a porta quando Kentin perguntou:

– O que foi?

– ELA NÃO ABRE. DESGRAÇA DE PORTA.

– Xingar uma porta não resolve problemas. Deixa eu ver.

– EU XINGO AS PORTAS QUE EU QUISER.

– Katie, fique calada.

– ME OBRIGUE.

– Essa merda não abre – ele chutou a porta.

– NOSSA NÃO ME DIGA. EU NEM PERCEBI, INTELIGÊNCIA RARA.

– Katie, você está alterada.

– Sim. Sua cara também quando eu bater nela.

– O que eu fiz?

– NÃO SEI.

– Está de TPM, é?

– NÃO TE INTERESSA.

Caramba. Eu vou correr bastante quando Katie sair de lá. Armin ria loucamente.

– Katie, senta aí – Ele apontou uma das cadeiras amontoadas ao lado de uma mesa.

– O que vai fazer?

– Tentar tirar a gente daqui, “inteligência rara”.

– Pretende chutar a porta até abrir?

– Sim, tem alguma ideia melhor?

– Não.

– Então vai ser isso.

Ele chutou a porta por um bom tempo enquanto Katie bocejava constantemente. Não deviam ter percebido ainda que fomos nós.

– Eu estou com sono.

– Não posso fazer nada.

– Não estava falando com você.

– Só tem eu aqui.

– Posso falar sozinha em paz?

Ela definitivamente estava a ponto de explodir. Armin murmurou algo como “isso não vai prestar, ela está ficando com sono”. Eu me pergunto por quê.

– Por que estava aqui? – Kentin perguntou.

– Porque Armin falou que ia me dizer algo e... EI, AQUELES DOIS FEIOSOS. ELES NOS TRANCARAM AQUI.

– Porque eles fariam isso? E que raio de xingamento é “feiosos”?

– Não importa. Vamos esperar alguém abrir a porta, já que você é imprestável o bastante para não conseguir arrombar. – A cada duas palavras soltava um bocejo.

– Tente você então.

– Não dá, estou com sono.

– E daí?

–... Eu fico meio diferente quando estou com sono.

– Tipo como?

– Digamos que eu falo coisas como se estivesse bêbada.

– Ainda não vejo problemas.

–... Olha um abacaxi – ela pegou a fruta de plástico da tigela de enfeites antiga da diretora. – Bob, está em casa? – Ela bateu onde seria uma porta.

– É o que?

– Bob, não precisa se esconder, eu sou amiga. A-M-I-G-A, ok? Kentin também, ele não vai fazer mal á você. – Lançou um olhar feio para Kentin e depois voltou a falar com o abacaxi. – BOB ESPONJA CALÇA QUADRADA, SAIA JÁ DAÍ. KENTIN, MANDA ELE SAIR.

– Katie, solta esse abacaxi.

– Eu só vou solta-lo quando o Bob sair.

– Santo Cristo.

Agora eu estava rindo muito. Armin também ria. Ela falava e parecia real, como se realmente Bob estivesse falando com ela.

– Kentin, ele não quer sair – Lágrimas saiam de seus olhos, talvez de tristeza. Era impossível saber com ela naquele estado.

– Você está chorando?

– TÔ! Ele me odeia – ela se jogou nos braços de Kentin dramaticamente. Tive a impressão de que ele também se divertia, apesar de estar assustado.

– Meu Deus. Ele não te odeia, ele está... Dormindo. Por isso não te ouviu. Quando ele acordar eu falo com ele. Com o Bob Esponja.

– Obrigada – Ela sorriu instantaneamente. – Kentin, eu sou a princesa do reino dos arco-íris encantados. No meu reino existem muitas fadas e unicórnios.

Ele bateu a mão na testa.

– Senta aí e para de falar isso.

– Mas é a verdade.

– É, e eu sou o cavaleiro que vai te salvar da bruxa má. – ele ironizou.

– Você vai ter que se casar comigo, então. – Ela ergueu as sobrancelhas e falou tudo isso naturalmente.

– É, vou sim. – ele corou mesmo sendo sarcástico.

– Que bom que já sabe. E então vamos ter oito filhos. Os nomes vão ser Ryan, Sebastian, Nico, Jason, April, Ariane, Reyna e a pequena Sophie.

– Você não está bem mesmo. Quem tem oito filhos hoje em dia?

– ESTÁ ME TRAINDO, É?

– Não! Eu nunca te trairia – Ele murmurou baixinho.

– Pois já traiu. – ela disse. Talvez uma parte dela ainda estivesse consciente, parecia bem sincera.

Resolvemos solta-los, o clima não estava mais engraçado, e rendeu umas boas piadas futuras contra eles. Sinceramente? Eu shippo.