Sobreviva Ao Seu Destino

Basta um segundo para ser passado.


O despertador agudo foi usado novamente no Abrigo onde os órfãos estavam. Ross se levantou, sentando-se na cama, e observou os preguiçosos do quarto que apenas se moviam perturbados com o som. Então saiu da cama e arrumou suas coisas para um banho digno antes do acontecimento marcado para as próximas horas.

Quando estava em uma das cabines do banheiro do seu andar, aproveitando o toque da agua sempre morna, ouviu um chiado diferente e uma voz que orientava os jovens a pegarem suas coisas, mas precisamente as roupas que conseguissem levar em um tipo de saco que ia ser distribuído. Ele teve que adiantar sua arrumação atenciosa de cada dia e retornar ao quarto. Encontrou o cômodo parecendo que um furacão havia se agitado ali no tempo que ficou fora. E os seus colegas de quarto tinham desaparecido, já prevendo que ele buscaria alguém para reclamar, principalmente de sua cama, que tinha deixado em ordem, e agora tinha blusas, meias e até uma bota rasgada que não eram dele, tudo largado sobre a coberta amassada.

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Ross fechou os olhos e suspirou tentando não pensar em todas as coisas que não estavam em seu lugar naquele espaço. A seguir foi ao armário separar as roupas que pretendia levar, mas lembrou-se que não tinha a tal bolsa. Olhando o quarto logo achou o objeto desconhecido sobre sua cama: um saco cinza de tecido impermeável e um pouco cintilante, por volta de 30cm por 40cm; E não cabia muita coisa nele. Objetos pessoais e alguns conjuntos de roupas foram exprimidos até o limite da bolsa e puxando uma corda a abertura estava fechada. Buscou e vestiu uma jaqueta grossa que tinha e saiu do quarto. Alguns dos órfãos que encontrou mal haviam acordado e iam ao banheiro com passos lentos, outros como ele já tinham arrumado as coisas e iam para o café da manhã no subsolo.

No fim do corredor, em direção as escadas, havia uma mesa simples de pernas de tubo de ferro e dois homens com distintivos ao lado, parando cada um que carregava a bolsa e as vistoriando. Assim que se aproximou um dos oficiais o chamou, e sabendo o que era entregou logo a bolsa e ficou encarando o senhor sem muita paciência.

–Nada de objetos cortantes, - narrava o homem revirando as coisas sobre a mesa e analisando outras – livros, revistas ou coisas desnecessárias.

–Serio? Mais alguma coisa que eu não possa levar para deixar a viagem menos pior?- disse ele sarcástico, e com um leve fingimento de interesse na reposta.

A garota de cabelos loiros atrás de Ross riu, olhando a expressão dele e a do oficial pasmo, que não fez nada para tal resposta, era apenas o trabalho dele. Ross observou a garota com o sorriso ainda presente na face, não entendia bem a felicidade claramente estampada, então o soldado lhe entregou a bolsa e ele continuou em direção as escadas.

Alice deixou o sorriso sumir um pouco, vendo o rapaz alto e de aparência organizada se afastar. Sarcasmo era uma coisa que ás vezes chamava sua atenção, e ela acabou rindo. O oficial não esperou que ela desse a bolsa e a puxou, repetindo a frase e analisando as coisas espalhadas na mesa.

Pouco depois de passar pela vistoria, Alice já chegava ao refeitório. Ainda no alto da escada, que dava visão para o tipo de galpão/porão do lugar, notou que o aglomerado de gente estava concentrado na bancada com os alimentos, sem nenhuma organização definível. Um garoto magrinho e conhecido dela passou descendo os degraus rapidamente e informou com um leve sorriso que hoje todos iam comer e podiam repetir se quisessem.

–Corre então, que você tem que passar na bancada umas dez vezes para ganhar um peso. - e Alice riu para o garoto, que apenas balançou a mão em sinal desdenho da piada.

Porém, mesmo informada, ela continuou descendo os degraus sem pressa, pensando no motivo de liberarem a alimentação: para os governantes não sentirem tanto remorso, sabendo que alguns resistirão alguns dias com algo a mais no estômago. Ah, o pensamento lhe tirou qualquer fome, mas infelizmente seria útil aproveitar a oportunidade.

Subitamente quem ia à frente dela deu uma meia volta brusca e já ia subindo sem nota-la, cortando os pensamentos dela, e eles quase trombaram.

–Desculpe. -Ele falou a segurando nos ombros para que se aprumasse, já que ela se desequilibrou com o movimento.

–Tudo bem. Não tenho raiz, mas conseguido continuar de pé. - Alice disse sorrindo e encarando o ruivo que tinha uma expressão séria e levemente preocupada.

Ele concordou e ia sair do caminho dela, mas parou e perguntou:

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–Hãm, você não viu uma garotinha de gorro roxo por aí, viu?

Alice negou e sem esperar por mais, S-K desviou dela e continuo subindo as escadas.

Ele tinha dormido bem, o despertador o acordou no primeiro toque e ele não perdeu tempo em preparar suas coisas, mesmo que eles não permitissem ele ia levar algo. Depois de ter arrumado a sua bolsa que deram e que deixou no quarto, ele estava atrás de D-I. Não a encontro no andar das crianças da idade dela, e nem no refeitório onde ela poderia estar, já que a alimentação estava liberada. Ele queria resolver aquilo logo, se ia arrastar a menina com ele, e estava o perturbando não encontra-la.

No Hall principal do Abrigo, com oficiais vigiando a porta sem deixar que ninguém saísse, SK ficou de costas á uma parede e esperou um pouco olhando as pessoas e procurando a garotinha. Um grande relógio mecânico com ferrugem, preso na parede atrás da bancada, ainda marcava a hora certa apesar dos longos anos de idade; faltava meia hora para poderem sair e o ruivo não tinha idéia de como achar a menina desaparecida.

–Mesmo encarando o relógio o tempo não vai mudar – disse um garoto de cabelos castanho avermelhado e encaracolados, presos num rabo de cavalo, que Sk não tinha notado parado ao lado dele. -Mas da forma que também olha essas pessoas, acho que não é isso que esta fazendo. Quer alguma ajuda?

O ruivo sustentou a encarada dos olhos verdes escuros do menino, que mantinha um sorriso bonito e calmo, devia ter apenas doze anos pela altura. S-K negou com um gesto de cabeça, facilmente notando uma cicatriz um pouco recente que cruzava verticalmente a face do garoto. Claramente desapontado o garoto abaixou a cabeça desanimado.

–Claro, que vai querer a ajuda de um estranho... como eu. Ainda mais em um momento desses. – murmurou ele de uma forma que SK ouviu.

–Tá. Não me irrite com isso. -disse SK, não gostando da baixa estima do garoto gerada por ele. -Estou procurando uma garotinha de gorro roxo, por volta de oito anos. Tem alguma ideia de como acha-la?

O menino mudou o animo rapidamente e sorriu.

–Eu posso pensar. Meu nome é Richard O'Neil, mas pode me chamar de Dick. -estendeu a mão para SK, que com uma expressão desconfiada, não achando a apresentação necessária, segurou-a rapidamente.

–Bem, amigo, – Dick disse olhando as pessoas a frente junto com S-K - são muitas pessoas. Ficar aqui não vai adiantar muito. E não se preocupe se não a achar, ela provavelmente te acha... Ah, já sei! Para encontra-la é só ir ao portão em que ela vai estar. Com certeza ela vai estar lá e não vamos ter que espera muito para podermos sair.

O ruivo franziu o cenho, não tinha a menor ideia do portão de D-I. Vendo a expressão dele, Dick perguntou o que houve e ele se explicou.

–Ah, isso é fácil. – S-K encarou o garoto, estranhando-o. –Vamos! Tá vendo esses homens. – Dick apontou para os oficiais que vagavam por ali, e para onde estava arrastando o ruivo. - Eles têm essas pranchetas nas mãos e cada um deve estar com a lista dos órfãos de certa idade, provavelmente com a informação que precisamos. Então vamos pegar a prancheta que tem os nomes dos de oito anos, damos uma olhada, encontramos o nome da sua menina e vemos o portão que ela vai.

Depois do primeiro oficial, que S-K pediu para ver e o homem negou, ele passou a puxar a prancheta surpreendendo-os, olhando rapidamente o papel e volvendo a seguir sem dizer nada. Mas Dick e ele não encontravam a dos de oito anos. E quando acharam, o oficial foi rápido para reivindicar o objeto e S-K acabou batendo nele com a prancheta e se afastou para um canto, distraiu-se folheado as paginas, mas achou o nome de D-I e na mesma linha buscou o portão. Entretanto, ao mesmo tempo em que ouvia Dick falar algo, ele levou uma pancada de cassetete na costas/ombro e foi empurrado para a parede, depois que a prancheta foi arrancada de sua mão.

Dick o acompanhou se encostando à parede, e esperou a conclusão da breve missão. Mas SK, sem dar muita atenção à dor da pancada, estranhava o que leu: o nome de D-I não tinha um portão marcado, apenas um traço, diferente de todos os outros.

Han Tae Joon, o Tae, sentado sobre o balcão do hall, assistiu a cena do ruivo sendo atingido pelo oficial que queria recuperar a prancheta. Em pensamento queria assistir uma continuação mais agitada, uma ação, talvez um revolta básica antes de poder sair daquele espaço do Abrigo ao qual estavam confinados. Mas logo depois um dos oficias com um megafone disse:

–Está quase na hora de saírem desse lugar! Peguem suas coisas em dez minutos! Sigam em ordem os comandante de cada portão! Não pensem em fugir disso, será pior se encontramos alguém que teve a idiota ideia de fugir do evento, pois será mandado sozinho para o outro lado e sem os itens que preparamos!

A seguir o homem apresentou os comandantes, que passaram a repetir de hora em hora e em voz alta as coordenadas do portão que era comandante para ajuntar seu grupo.

Tae apenas memorizou o homem que ia guia-lo, pôs a bolsa no ombro e caminhou para em uma passada rápida no refeitório para pegar algo a mais para comer. Aquele lugar tinha ainda tinha uma fila totalmente desorganizada e com certeza Tae passou na frente de muitos, chegando à bancada e pegando algumas coisas não tão perecíveis, e saiu da confusão ignorando os protestos de alguns, mantendo a expressão arrogante e séria, sem ser afetado.

–Devíamos ir atrás dele e mostrar como gostamos dos que cortam a fila assim. Estamos aqui a um maior tempão!- E-N disse vendo o rapaz de olhos puxados, seis anos mais velho, se afastando indiferente.

–Não valeria a pena. Estamos a poucos minutos de ter preocupações maiores. -D-L interveio em tom tranquilo e concentrado.

–Ah, Louis, eu acho queria ir também. -E-V disse um tanto confusa e triste, parada entre os dois garotos na fila.

–Ainda me chama de demente. Hm! - E-N encarou a menina. - E-V, você foi uma das poucas escolhidas para ficar, e eu não sei o que viram em você, mas ao menos não diga essas coisas perto de nós! Eu trocaria de bom grato de lugar.

Os amigos de Louis permaneceram em silencio depois. E-N não ia no mesmo portão que D-L, mas ambos tinha se conformado com o fato. E E-V tinha de alguma forma conseguido um carimbo no rosto, para ficar, mas no caso dela os planos eram usa-la para cuidar das próximas crianças que surgissem depois desse banimento.

–E-V, você que vai ficar, tem que continuar com isso. –Disse Louis encorajando a garota. -Plantar a ideia naqueles que ficarem e nos que vão chegar ao Abrigo, mostrar para eles que isso não é justo. Vai ser a nossa esperança de que essa situação mude. Então não fica falando que quer o mesmo que nós, pois se não fizer o que estou falando vai acabar indo em outro banimento... Agora, vamos sair daqui.

Louis e os amigos pegaram algumas coisas e seguiram com suas bolsas para o Hall. Cada um dos garotos se juntou ao seu grupo, diante do comandante que os guiaria para o portão no qual iam.

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O oficial parou de gritar após o termino dos dez minutos e reclamou para um dos soldados que iam acompanha-los de como aquilo perturbava sua garganta, rindo no fim, apesar do evento não ser muito feliz.

Uma corrente de ar fresco bagunçou os fios de cabelos loiros e levemente compridos de Yuki, tirando-os de sobre os olhos. Era cedo e ele raramente sentia essa sensação matinal e revigorante, o dia estava bom para ele. O comandante que guiava o grupo caminhava bem na frente dele, ou ele acabou na frente de todo mundo por alguma razão desconhecida.

Eles, um grupo grande de pessoas de diferentes idades, seguiam pelo meio da rua, que não era muito larga, atravessando a cidade em direção ao sul da colônia. E mantendo-os agrupados havia alguns soldados com distintivos, e até mesmo algum mecanismo de choque para contenção, que escoltavam e caminhavam pelas laterais do grupo. Por um momento, Yuki sorriu do pensamento que eles pareciam um grupo de ovelhas sendo levados para outro pasto verde, ainda mais com a maioria sendo obedientes diante dos cães pastores que os rodeavam.

Após vários minutos andando eles chegaram às bordas da colônia, ao lado sul. As muralhas crescendo diante deles até os vários metros de sua altura total, e o sol mal nascido conseguindo ilumina-la intensamente. Algumas máquinas, postas a cada vinte metros no topo do grosso paredão, geravam reflexos e pareciam estrelas brilhando em pleno dia e os espiando.