Afundas em teu fosso de silêncio

em teu abismo de orgulhosa cólera


Afundas em teu fosso de silêncio

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Dá-me amor, me sorri

e me ajuda a ser bom.

Não te firas em mim, seria inútil,

não me firas a mim porque te feres.

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Pablo Neruda

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Os olhos dele são verdes. Não um verde comum, não um verde simpático. São verdes como um mar muito velho cujo fundo é coberto de musgo. O tipo de verde que te chama para escorregar e cair, e, nessa eterna queda livre, se arrepender de ter tentado mergulhar. É claro que quando você o viu pela primeira ou quinta ou centésima vez, e olhou naqueles olhos, e viu o modo como eles te puxavam e repeliam puxavam e repeliam como uma eterna maré, você não sabia que estava perdido. Não sabia que andando em direção à ele você estava andando em direção ao mar. Ao oceano. Não sabia que as ondas e as correntes iam te afogar. Não sabia que seu corpo ia ser encontrado há quilômetros de distância, preso e infeliz entre rochas pontiagudas. Você não sabia mas mesmo se soubesse teria continuado em frente, areia entrando em seus chinelos, tsunamis de afeto e dor.

Os olhos dele são verdes, mas os seus são azuis. Porque ele pode ser o mar e as ondas e as marés, mas você é como um céu limpo. Observando sem nunca interferir. E às vezes, quando o céu se fecha e cai rios de águas que alagam o mundo, ainda sim você é calmaria. Ainda sim você é a paz onde o oceano termina. Você é o mais infinito horizonte e ele, ele caminha direto para lá. Você sabe que ele nunca vai alcançar. Você está muito além de qualquer tentativa. E, enquanto você se afoga nas águas verdes e frias do mar, ele cai direto no abismo entre você e o vácuo.

Os olhos dele são verdes e os seus são azuis. Mares e céus não se misturam. Mas, de vez em quando, eles se tocam — dois corpos afogados que são capazes de se abraçar.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.