Origem

Capítulo 1 - Eu viria por você.


A chuva havia engrossado, em poucos instantes as roupas estavam encharcadas, grudando no corpo, e o penteado completamente desfeito. Irritada, puxei a presilha do cabelo junto com alguns fios e a lancei no chão, pisoteando. O frio ignorado antes começava a incomodar com o anoitecer e meu corpo uma vez ou outra tremia quando o vento soprava mais forte. Parei os movimentos, abraçando o corpo, ainda chorando.

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Por que... Por que mentiu pra mim, mama?

Ergui a mão materializando uma pequena chama, mas a constante água e a força do vento não a deixaram queimar mais que um minuto, logo se esvaindo, me jogando novamente na escuridão daquela mata.

Nem me pergunte como vim parar nesse lugar repleto de árvores, arbustos e outras coisas, que unidas à obscuridade tomavam formas espectrais assustadoras. Pois, o que fiz foi correr o quanto pude. Fugir para bem longe de todos.

— Nashi... – Chamou Joy, um pequeno gato branco que conheci recentemente na Fairy Tail. Filhote da Charles e do Happy.

Assim como a mãe, ele possuía o dom da previsão - pelo que entendi -, e acabou me seguindo ao prevê minha fuga.

— Para onde está indo?

Interrompi os passos com a pergunta que tanto procurei evitar, do contrário não teria tomado uma iniciativa como aquela, ou qualquer outra, por medo do desconhecido. Meus pés e parte do vestido estavam sujos, pretos da quantidade de lama que caiu sobre eles. Isso pouco me importou. Mas, quando virei para fitar o bichano senti pena da imagem que vi. A bola felpuda de pelos alvos que conheci e até me fez confundi-lo com uma fêmea, havia perdido por completo o volume e ganhado uma tonalidade encardida, que a pequena gravata borboleta já não se destacava como antes em seu pescoço.

— Não sei! – O ergui, aninhando em meus braços. Ele espirrou. – Mas primeiro precisamos de um abrigo para passar a noite.

Sem que me desse conta da aproximação pela distração de uma mente conturbada - a minha -, folhas, assim como os galhos finos ligados a elas, do arbusto ao lado foram cortadas violentamente por um ser três vezes o meu tamanho.

— Veja Baau o que temos aqui. – Anunciou para o que vinha em seguida. Apertei o felino contra o peito, movida pelo pavor. As pernas se recusando a mexer e se afastar. – O que uma menina linda estaria fazendo por essa redondeza? – Questionou, irônico, despreocupado se o responderia. Um sorriso ameaçador se formando e somando a fisionomia mal-intencionada de ambos à medida que encurtavam a distancia passo-a-passo.

Aquele seria o meu fim! Era visível se considerando o tamanho e a força que aparentavam ter. E não culpo ninguém mais que os meus próprios pais por isso!

... ... ...

Crocus - X803

Os ponteiros do relógio de cabeceira de sua mãe marcavam oito horas da manhã quando a jovem Heartfilia, inquieta, desordenava a enorme cama na tentativa frustrada de abafar o barulho insistente do despertador. Uma obra maléfica da loira para impedir seus planos de dormir por mais horas. Como ultima opção lançou o travesseiro que lhe restava no objeto com tanta força que o mesmo se chocou contra a parede lateral do quarto perdendo alguns pedaços, mas não o suficiente para afetar no alarme.

— Eu desisto! – Declarou em voz alta para o ambiente vazio, assumindo a derrota.

Contra vontade chutou as cobertas para longe, levantando-se do leito e marchando na direção do aparelho vibrando no chão. Recordou-se da data que aquele dia representava num curto lapso de memoria e com um sorriso praticamente cortando seu rosto ao meio, mudou o percurso para fora do cômodo, ignorando os trajes de dormir ao passar apressada por entre criados e pessoas que trafegavam pelo corredor.

No segundo piso, andar de baixo, frente a longas portas de madeira escura talhada meticulosamente no centro o símbolo da realeza, elevou a mão na intenção de bater, preferindo nos instantes sequentes invadir, pois já tinha noção da posição dos que ali dentro estavam se antes solicitasse permissão para entrar.

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— Princesa Hisui! É hoje! HOJE! – Pronunciou entusiasmada, interrompendo a reunião.

— Nashi?! – Lucy se revelou dentre os rostos incomuns para a rosada ao levantar-se no fundo da sala. Carregava no semblante um misto que ia da preocupação e surpresa a reprovação.

Não foi preciso uma bola de cristal, muito menos de um dom místico para saber que com algumas horas depois ouviria alguns chatos sermões.

— Srta. Natasha está interrompendo... – Arcadios, capitão dos cavaleiros divinos, pausou a repreensão com o gesto silencioso de mão da princesa na sua direção.

— Sei que dia é hoje! Como poderia esquecer do aniversario de uma amiga tão querida. – A autoestima da jovem subiu ao seu nível mais alto. – E como prometido ele já esta a caminho.

Agradecida, lançou-se nos braços da bela mulher, utilizando da boa maneira que aprendeu ao longo da vida somente no final, ao se retirar.

— O que você fez? – A loira questionou temerosa.

— Meu presente de aniversario. – Limitou-se em dizer com uma piscadela de quebra.

Franzindo o cenho, Lucy retornou ao acento com cautela, como se algo fosse acontecer a qualquer movimento brusco. Estava com um mau pressentimento aquele respeito. Qual teria sido o presente para deixar sua filha tão eufórica? Tinha certeza que não era de valor material, pois nada a agradava como antes, afinal, ela possuía um pouco de tudo que seus esforços puderam comprar.

Em seu peito o coração contraiu as batidas ao recordar dos motivos que a fizeram se mudar para Crocus e conseguir emprego e moradia no Palácio da Flor Iluminada, Mercurius.

Não foi uma tarefa fácil desistir da vida anterior, mas pior seria conviver com olhares acusadores depois da descoberta do seu romance proibido com o Natsu, estando ele compromissado com a Lisanna. Ainda que desconsiderasse o receio e desapontamento da guilda inteira, embora não a tenham condenado ou excluído, pois ela havia reconhecido o erro, a decisão do Dragneel em ficar com a albina lhe atormentaria todos os dias.

Por essa razão em especial deixou Magnolia sem despedidas ou qualquer aviso. No percurso sem rumo definido encontrou com a princesa e graças inicialmente à amizade e lealdade do seu pai para com a família real, em segundo pela dedicação, conseguiu o que desfrutava hoje. Só não esperava pela gravidez, se propondo a esconder a identidade do pai da criança com curtas explicações sem fundamentos sobre sua origem.

... ... ...

Deixando a sala de reuniões, infelizmente com a cabeça cheia e sem no mínimo ter prestado atenção sequer nos assuntos de suma importância, seguiu pelo enorme corredor em direção ao pátio do castelo para refrescar a mente.

Lembrar do passado desencadeou sentimentos que preferiu trancafiar no mais profundo e remoto do seu ser. Sentimentos verdadeiros de sua parte que foram traídos após uma declaração tão fria de arrependimento do Natsu.

Falso. Seu subconsciente canalizou. De que maneira ela poderia aceitá-lo novamente como amigo e ignorar tudo que aconteceu? Um pedido insensível, indiferente! Como ele conseguia?

Chutou uma pedra solta em pleno campo esverdeado, os cabelos levemente agitando ao vento ameno da primavera. Sentiu o rosto esquentar do nariz as extremidades das bochechas e lágrimas turvarem a vista.

Estupido, idiota, egoísta...

E como punição divina pelo seu erro, sua fraqueza, a pequena Nashi nasceu à descrição perfeita do Dragon Slayer na aparência e atitudes, tornando uma missão impossível esquece-lo.

Ah se o encontrasse naquele momento... Com toda aquela fúria de anos contida a agressão não seria apenas verbal, mesmo que para isso violasse uma das regras ao solicitar ajuda de seus espíritos celestiais para quebra a fuça do individuo.

O Loke não se importaria. Permitiu-se brincar com a situação.

— Luce!

A loira parou de imediato seu dilema. A pulsação acelerada incomodando outra vez junto a um suposto frio na espinha.

Agora sim podiam interna-la, pois já tinha ultrapassado o limite da loucura ao ponto de começar ouvi-lo.

— Uhm... – Desconfortável com o silêncio da antiga nakama, o rapaz tentou de forma diferente as costas da mesma. – Quanto tempo!

Virando, desengonçada, a ansiedade alcançando igual patamar que a incredulidade, os olhos da maga se escancararam com notório espanto. Sua boca bateu repetidas vezes, porém sem formular palavra alguma, pelo menos nenhuma no idioma que o Dragneel conseguisse entender. Diferente dela, ele não aparentava surpresa em revê-la.