Double face

Cap. 7: Inferno


LIPE

Estava prestes a embarcar no carro da policia, quando uma vã parou bem perto. Dela saíram vários homens encapuzados. Eles agrediram os policiais e me sequestraram. Não bastavam as algemas e agora também me puseram um saco preto na cabeça.

Levou algumas horas. Quando tiraram as algemas e o saco percebi que estava numa encrenca das grandes.

O lugar era sinistro. Parecia uma espécie de porão. A sala não tinha nem uma janela, no teto pendiam algumas luzes fluorescentes, o chão era imundo − as paredes também − e nele jaziam corpos de pessoas mortas, umas quatro ou cinco pessoas, também tinha pessoas vivas. Se é que isso é viver. Algumas fumavam atiradas no chão, mais magras que um cabo de vassoura; outras estavam gritando, chorando e até mesmo tentando se matar. Os caras que me sequestraram saíram por uma porta de ferro e a trancaram. Ao lado da porta tem um vidro enorme. Que não dava pra se enxergar nada porque algo tapava a visão. A única pessoa que parecia mais ou menos normal era um velho que estava sentado na única cadeira tomando sopa. Na verdade ele quase engolia o prato.

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Decidi falar com ele. Aproximei-me. O velho tinha cabelos grisalhos pele enrugada e usava um macacão cinza.

− com licença? Posso troca uma palavrinha contigo?

Ele levantou a cabeça. Pulei pra trás ao perceber. Seus olhos eram de um verde intenso. Como os de Amanda. Lipe também tinha olhos verdes, mas nem de longe tinham aquele toque mágico.

− qual seu nome? − perguntei.

− Afonso. E você quem é? Novato?

− é. Eu acho que sim. Que lugar é esse? Por que estou... estamos aqui?

− você irritou um cara muito poderoso... todos nós irritamos. Por exemplo. Tá vendo aquela mulher ali fumando? A que tem um lenço azul claro na cabeça? Ela queria denunciar esse cara... o malvado. Mas teve que passar o resto da vida aqui.

− a quanto tempo ela está aqui?

− uma semana...

Fiquei pasmo.

− só uma semana e ela já está nesse estado péssimo.

− não. Não. Ela sobreviveu bastante. Poucos chegam a uma semana... coitada. Não sei por que ela não tenta se matar. Seria tão mais fácil. Eu bem que avisei.

− se matar? Por quê?

− se você não morre aqui, é levado pra sala.

Ele apontou para o vidro ao lado da porta.

− então moleque... quem é você e o que você fez pra ele?

− Lipe... Ele quem?

− o nome... é Leandro Senchill. Eu acho, faz tantos anos!

− você disse que eles mal ficam uma semana! Espera aí. Leandro Senchill?

− é. E eu ainda estou vivo porque ele quer uma coisa que eu tenho.

− o que é? − perguntei rápido de mais.

− a verdade. Mas o que você fez pra ele?

− nada. Eu não fiz nada.

Afonso riu. Depois atirou o prato no chão.

− é o que todos dizem. Bem então... o que ele fez pra você?

Franzi a testa.

− nada. Comigo nada. É que ele maltratava uma amiga minha...

Afonso se mexeu desconfortável em sua cadeira.

− ele maltrata crianças? Dessa eu não sabia.

− é ele maltrata, maltratou e maltratará... se eu não sair daqui para salva-la. Tem alguma maneira?

− de sair? Não. Mas você disse que quer salva-la... é só uma? Ela não tem família ou amigos além de você para fazer isso?

− O Leandro é a família dela. Bom não de sangue, mas...

Perdi a fala. O velho arregalou os olhos e abriu a boca de surpresa. Pensei que ele estava morrendo. Afonso não se mexia.

− Afonso? Está passando mal?

Mas ao invés de responder a minha pergunta ele disse apenas um nome. Que fez meu coração parar.

− AMANDA.

− o Senhor a conhece?

− se conheço? Segurei-a quando criança. Seus cabelos dourados, olhos verdes... assim como a mãe. Ah! Ela era linda, e muito adorável. Era impossível não sorrir perto daquela criatura divina. Lembro-me que quando ela roubava chocolate da geladeira ou usava as roupas da mãe... Sheila xingava ela dando risadas. Assim ela sempre voltava a fazer bagunça. Ela é minha neta. Conte como ela está.

Achei melhor falar sobre as coisas boas e não as ruins. Por que capaz o velho ter um enfarte.

− bom... ela continua linda. Cabelos dourados e olhos verdes. Ainda rouba chocolate... isso eu te garanto. É uma pessoa maravilhosa; um pouco... muito rebelde − os dois riram − mas a qualidade que eu mais admiro nela é sua força. Pra passar por tudo que ela passou. Ela mereceria medalha de ouro... mesmo assim não teriam dado o premio completo.

− que bom que ela é uma boa pessoa... mas que pena que está com o Leonardo. você quer salva-la, certo?

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Confirmo com a cabeça.

−Tem um jeito... mas é muito difícil. Bem, escute... você pode se rebelar. É claro que vai complica pro seu lado, mas, pelo menos vão te tirar daqui.

− mas pra onde vão me levar?

− vão te matar... eu acho. Já aconteceu antes... Sheila. Tiraram ela daqui.

− E a mataram?

Afonso baixou a cabeça, deve então ser um sim.

− mas... − hesito − eu... não vou ser morto?

Nesse instante varias coisas acontecem. Primeiro Afonso cai no chão imóvel, com um dardo em seu pescoço. Uma mulher ruiva que estava batendo a cabeça contra a parede começa a gritar. A porta de ferro se abre e dela surgem cinco caras fortões, malvestidos e feios. Dois deles pegam a mulher e a arrastam pra fora. Enquanto os outros três ficam de guarda.

A ruiva começa a gritar. Ela me lembra muito os Kunner; pois seu cabelo não é alaranjado, é mais um preto avermelhado, como o do Rick. E seus olhos são azuis tão intensos como os da Luli.

− NÃO POR FAVOR! NÃO! NÃO! − ela gritava tanto que sua voz saia embargada. Seus olhos já estavam vermelhos.

Eles a tiraram e trancaram a porta. Seus gritos de repente pararam. Pensei no pior. Mas, ai a coisa que tapava o vidro foi retirada. Do outro lado apareceram a ruiva sentada numa cadeira estranha, com travas e mordaça. Um homem ajeitava ela, outro estava perto de uma espécie de caixa de força.

Todos que estavam atirados no chão ou gritando pararam, e se reuniram na frente do vidro − exceto Afonso, que acredito estar bem. Eu me juntei a maioria.

− quem é essa? − perguntei a um fumante ao meu lado.

Ele deu uma bufada.

− essa é uma das antigas. Faz um tempão que ela está aqui. O nome dela é algo parecido com Mariola kotter.

− Mariana Kunner?

− é. Esse mesmo.

Foi como se tivesse levado um soco na barriga. É ou daqui a pouco era a mãe da Luli e do Rick. Ela estava aqui esse tempo todo.

Eu não posso deixar isso acontecer. Corri até a porta e comecei a bater e a gritar. Peguei uma espécie de bloco de concreto que achei no chão e atirei contra o vidro. Não quebro, mas deixou todo trincado. Os outros olharam pra mim com cara de espanto e raiva. Mas não liguei. Corri em direção ao vidro trincado. Mas alguém me interceptou. Olhei para a pessoa. Um homem com o dobro do meu tamanho. Não faço a mínima ideia de onde ele veio, pois não estava aqui a um minuto atrás.

− você é o próximo pivete. − dizendo isso ele me tirou da sala e me levou ao cômodo com a cadeira estranha e a Mariana.

Mariana olhou pra mim com curiosidade. Olhei para o vidro e descobri o porquê. Desse lado só da pra ver seu reflexo num espelho trincado.

Eles puseram uma mordaça em mim ainda me segurando. Me deixaram a uns dois metros de distancia da Mari.

O homem perto da caixa de força a abre e liga uma chave. Entrei em estado de choque ao olhar pra Mariana a mãe do meu melhor amigo. Seu corpo começa a contorcer. Percebi que havia fios saindo dele ligados a caixa de força.

Cadeira elétrica.

Eles também removeram a mordaça. Ela começou a gemer e gritar ao mesmo tempo. Sua pele ficou tão pálida que dava pra ver todas suas veias. Na verdade as veias estavam saltando pra fora. Seus olhos não estavam mais azuis e sim brancos. Olhei com mais atenção e percebi que seus olhos estavam não brancos, mas sim virados do avesso. Meu estomago começou a se contorcer, pois uma baba sangrenta saia de sua boca. E ela ainda gritava. Seus cabelos se enrolavam nos fios de corrente elétrica que se ligavam ao crânio de Mari. De repente tudo começa a escurecer. Estou perdendo a consciência... mas não antes de ver o coração de Mariana Kunner saltar pra fora de seu peito. Explodindo junto com todo seu corpo.

Aquilo parecia o próprio inferno.