O Garoto que Roubava Canetas

Megan Fox, esmalte azul e quase-suicídio


Já eram sete horas e João Neto estava em casa relaxando depois de um longo dia de absolutamente nada. Como ele previra anteriormente, seu pai confiscou sua mochila (como sempre) e acabou vendo que todas as canetas do filho haviam desaparecido. E é óbvio que nossa tartaruga obesa preferida levou uns porres do Papi Soberano.

– Caralho, João - seu pai gritou, fazendo múltiplos gestos de ‘’eu te avisei ‘’ e ‘’eu sou seu pai, porra’’. - É para isso que eu gasto todo o meu dinheiro? Para você perder as merdas dessas canetas?!

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– Pai - João tentou acalmá-lo (em vão) - Não foi minha culpa! Cataram! Foram no meu estojo e cataram!

– Quer saber? - seu pai argumentou - Eu nunca mais vou gastar meu dinheiro com teu material da escola. Da próxima vez, pede para puta da sua mãe!

Quando Neto ouviu as palavras do pai, seus olhos marejaram. Nunca pensou que ouviria isso do pai, mas parecia que o álcool realmente tinha surtido efeito.

– A mamãe morreu pai... - ele choramingou - E ela não era puta, não!

– Quem disse? - o pai fez pouco caso - Eu a conheci num puteiro e olha que ela nem era das melhores de lá! Além do mais, nem queria ficar grávida mesmo.

– Eu fui um acidente? - ele gritou, com os olhos mais marejados ainda - Eu te odeio pai! Queria ter morrido com a mamãe!

O garoto saiu correndo e fechou a porta de seu quarto com força, o que fez um ruído bem alto.

’’O ruído do meu ódio e da minha fúria’’, ele pensou.

Foi correndo para o banheiro e a primeira coisa que viu foi a loção pós-barba do pai. Ops, objeto errado. A primeira coisa que viu foi, na verdade, um canivete suíço. O pequeno objeto de uns cinco centímetros estava aberto bem na parte onde tinha a faquinha. ‘’É a hora‘’, ele pensou. Vocês, leitores, devem estar pensando na pior das hipóteses. ’’ Puta que pariu, ele vai se matar ‘’ ou ‘’Vixe Maria‘’ mas, na verdade, ele QUASE se matou.

Ele pensou bem duas vezes seguidas, revirou os olhos para o objeto umas, não sei... Cinco vezes? E aí! Aí ele percebeu que seria estupidez se matar por causa do pai. Além do mais, aquele carrasco não merecia nem um pedaço de unha quebrada dele. Ao invés disso, ele viu o lubrificante e decidiu bater uma pensando na Megan Fox. Isso é que é sonhar alto...

***

Nessa mesma hora da noite, Pedro estava em casa olhando para suas preciosas canetas, obviamente. Ele sabia o que tinha que fazer: a coisa certa, claro. Mas era tão difícil! Se sentia culpado por não devolvê-las, mas se sentia mais culpado ainda por se desfazer delas. Não podia simplesmente jogá-las fora, dá-las para pessoas que iriam pouco se fuder para elas.

– Tá tudo bem, Pedro ? - sua irmã mais velha perguntou, entrando devagarzinho no seu quarto.

– Tá tudo beleza, só tô pensativo, sabe - ele respondeu, se sentando na sua cama.

– Que estranho, você não fica pensativo... - ela disse com ar desconfiado. - Bem, vou te deixar sozinho, então.

– Pera, pera, Lara! - Pedro a impediu de sair - O que você faria se tivesse que tomar uma decisão e não soubesse o que fazer?

– Meu irmão querido, eu seguiria o meu coração - ela pausou a fala dramaticamente - Brincadeirinha, eu pediria conselho para mamãe e pro papai.

– Tá bom, valeu - ele riu - Love you, sis.

– Own, love you, too. - ela soltou um beijinho no ar e saiu do quarto finalmente.

Pedro estava determinado a fazer o certo, então decidiu seguir o conselho da irmã e tomar uma decisão cautelosa: pedir ajuda para mamãe e pro papai.

***

Maria Clara discava o número de João Neto às pressas enquanto pintava suas unha delicadamente de um tom azul claro, que é uma das cores preferidas de nossa heroína.

Caixa-Postal.

Ela discou o número novamente, agora perdendo a paciência.

Atenderam ao telefone.

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– Quem é? - uma voz bêbada berrou do outro lado da linha. Ela podia até sentir o cheiro da cachaça. Eca, que nojinho.

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– Ô, queridinho, eu quero falar com o João Neto, por favor.

– Ele deve tar no banheiro fazendo qualquer merda aí ou batendo uma - ele disse, despreocupado. Finalmente, o homem tinha baixado o tom de voz.

– Tá, só manda ele parar e me atender, então ! - Ribeiro se descontrolou e logo ouviu uns berros vindos da outra linha. Era João Neto.

– Que invasão de privacidade da porra, viu - ele gritou - Tava batendo uma, tá?

– Cara, é sério, a gente precisa falar sobre o Pedro. - ela respondeu - Foi ele quem roubou as suas canetas.

– Mas que ladrãozinho... - ele soltou - Filho da puta.

– E não devem ser só as suas, não. Ele deve ter várias, de várias pessoas.

– Tá bom, ué - Neto se acalmou - Segunda, eu peço as minhas canetas de volta. Fazer o que, né...

– É esse problema, idiota - ela grunhiu - Ele ta com uma obsessão por elas, não quer devolver!

– Ele precisa devolver, ele não tem escolha, cara.- ele disse - Se acalma aí, Ribeiro.

– Eu estou calma - ela protestou - Mas a gente tem que fazer alguma coisa, de qualquer maneira. Ele não vai devolver.

– Hm... Me deixa pensar, só uns minutos ? - ele perguntou.

– Beleza - ela bufou - Te ligo depois.

Ela desligou o telefone e voltou a fazer as unhas. Do jeito que ele era, não iria pensar em merda nenhuma, então era bom que ela mesma botasse a cabeça para funcionar.

Meia hora depois, ela recebeu uma nova ligação:

– Ribeiro. – fez uma pausa dramática. - Tive uma ideia.