Papercuts

XI - Haru


“Certo, obrigada, deixa a parte difícil pra mim. Ótimo.

Senhores, quando eu acordei no dia seguinte, eu não lembrava de absolutamente nada. O beijo que eu relatei -tão bem, obrigada- anteriormente, só veio a tona muito depois, por isso pude descrevê-lo com detalhes. E quando eu lembrei dele, foi um momento bem desastroso, devo dizer, mas chegaremos lá depois.

Quando abri os olhos –com muita dificuldade- naquele dia, a luz parecia me cegar e a minha cabeça parecia querer sair do meu corpo. Eu estava com uma ressaca infernal e quis voltar a dormir imediatamente.

Mas infelizmente eu tinha aulas e dever e trabalhos e responsabilidades e...

– Haru? Você ainda está na cama? – Ino perguntou ao chegar e eu me escondi debaixo das cobertas. Mas era tarde demais, ela já tinha entrado no meu quarto.

– Estou e pretendo ficar. – murmurei baixinho e minha cabeça rodou.

– Já são três horas da tarde, amiga. – ela respondeu e eu levantei rápido demais, só para cair novamente. Com uma dor de cabeça infernal e o meu quarto girando, eu me sentei na cama, dessa vez lentamente.

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– Três horas?! – exclamei, quando ela sentou-se do meu lado. – Por que você me deixou dormir tanto?

– Eu só voltei agora, Sasuke me deixou aqui. – explicou e eu pousei a mão na cabeça.

– O que aconteceu ontem? – perguntei, já sabendo da minha reputação quando ficava bêbada.

– Aconteceu que você é super festeira e eu não sabia! – a expressão de Ino se iluminou e eu a encarei sem entender.

– Eu não sou! Quer dizer, eu era, mas...

– Nem vem Haru, eu vi como você festejou ontem. Você é a alma da festa! Nunca mais me deixe ir em algum desses eventos sozinha! Porque você é tão careta e tem esses papos nerds se você realmente podia ser popular?

Sim, esse era o tipo de coisa que eu tinha que ouvir da minha colega de quarto.

– Por que não posso ser os dois? – perguntei, seca e ela deu de ombros e levantou-se.

A verdade era que eu era o que chamam de “popular” no ensino médio, ia em todas as festas, ah, ok... Eu dava as festas. Mas eu quis entrar para medicina e sabia o que isso significava para o meu futuro, então simplesmente tive que dar uma parada naquela vida e me dedicar de verdade. Perdi muitos dos meus amigos e fiz outros que admiravam mais o meu novo modo de vida.

Depois de um tempo, admito que senti muita falta de beber e dançar e simplesmente enlouquecer e percebi, tarde demais, que uma coisa não impedia a outra. Porque eu não podia ser festeira e estudiosa? Que estereótipos ridículos, não é como se já não fosse difícil ser mulher por si só.

Então, quando entrei na faculdade, decidi que iria tentar mediar os dois e ser quem eu era, sem me privar de nenhuma parte de mim mesma, se isso faz sentido. Senhores, eu estou falando isso porque faz sentido no próximo tópico da conversa.

Vou explicar.

A fraternidade de Naruto estava planejando uma festa que eles diziam ser para arrecadar dinheiro para reparação do refeitório, mas todos sabiam que era só uma desculpa para beijar mulheres e encher a cara. Era uma festa a fantasia que Naruto insistiu que eu fosse, então me deu um ingresso de graça.

Eu não fazia questão nenhuma de ir e deixei isso bem claro para ele. Foi só depois do que aconteceu no dia anterior que mudei de ideia.

Por alguma maldição jogada em mim que eu não sei explicar, resolvi me encontrar com Rock Lee novamente. Eu ainda tinha um pingo de esperança que ele fosse o meu correspondente, mesmo meus instintos dizendo que era impossível.

Acabou que o rapaz até era interessante quando não falava das coisas que fazia em seu curso e nós nos divertimos no nosso almoço. Minha esperança renovou quando ele mencionou o assunto do livro e eu me perguntei se ele tinha memorizado tudo ou algo assim.

Mas Lee era mais legal do que eu esperava, porque quando estávamos indo embora ele disse:

– Eu preciso confessar uma coisa!

Suspirei, eu sabia o que viria a seguir, então o salvei do problema.

– Eu sei que você não é o meu correspondente de livro. Não importa... Eu gostei muito de sair com você hoje e...

– Eu te amo! – ele soltou de repente e eu o encarei com puro choque. Oi? Me ama? Que?

– Nós só nos falamos duas vezes! – foi tudo o que eu consegui responder, enquanto me afastava lentamente.

– Desde que eu te vi, eu soube que...

Mas eu já tinha ido embora. Sim, me chamem de sem coração, insensível ou qualquer coisa, mas isso simplesmente não era normal. Depois de correr sem olhar para trás até o meu quarto, eu fiquei um tempo pensando em como pediria desculpas e como o encararia novamente, mas não soube.

Admito, fui covarde, devia ter olhado em seus olhos ofuscados por suas enormes sobrancelhas e falado que eu nunca, em nenhum momento da minha vida, iria retribuir os seus sentimentos e que eu achava incrivelmente estranho que ele me amasse sem nem me conhecer. Mas não, em vez disso eu corri.

De qualquer jeito, foi por isso que eu resolvi que no dia seguinte eu ia esquecer dos meus problemas ficando bêbada em uma festa a fantasia onde poderia beijar quem eu quisesse sem saber quem era e tudo estaria bom novamente. Claro, porque isso sempre ajuda.

Enfim, vocês queriam saber qual era o meu exato envolvimento com Sasuke Uchiha. Até então, os senhores ouviram sobre os nossos desencontros e troca de insultos, mas tudo começou a se complicar de verdade na tal festa mencionada que chamamos hoje de “pior erro das nossas vidas”.

Na noite antes da festa, depois de deixar Lee plantado após uma confissão de amor, eu e Ino estávamos decidindo o que usar. Eu sempre uso o meu cabelo rosa como vantagem, então escolhi ser a Princesa Jujuba –eu não espero que os senhores saibam quem é-, enquanto Ino escolheu ser uma dançarina de cabaré. Porque obviamente, Ino sempre arranjava uma desculpa para se vestir vulgarmente. Nem vou começar a falar sobre como as fantasias são extremamente machistas, mas enfim...

Eu me vesti da forma menos vulgar possível, mas nem assim ficou respeitável. Coloquei um vestido rosa emprestado de Ino que era relativamente curto e um pouco apertado e usei um cinto que ela tinha também. Então fiz uma coroa vagabunda de papelão, coloquei na cabeça e esperei que as pessoas entendessem quem eu era. Imaginando, ingenuamente, que as pessoas tivessem dez anos e ainda assistissem desenhos. Em minha defesa, Hora de Aventura é extremamente maduro! De qualquer forma...

Quando chegamos no prédio da fraternidade, a festa já estava em seu auge. Música alta, pessoas com bebidas para todos os lados, gente se pegando em todos os espaços remotamente confortáveis e o meu favorito: jogos de bebida.

Ino foi procurar Sasuke, enquanto eu me juntei em uma roda de “eu nunca”, que pra mim era um passe direto para ficar bêbada. Enquanto estava lá, muitas pessoas passaram por mim. Eu vi Naruto e sua namorada vestidos de Julio César e Cleópatra, o que seria fofo se não fosse extremamente brega combinar fantasia. Vi Sai vestido de bombeiro “sexy” e preferi ignorar. Além de outros conhecidos que só me decepcionavam com suas criatividades.

Então, vi Uchiha sentado no outro canto da sala, com Ino em seu colo. Ele estava vestido do que parecia ser um gangster dos anos vinte e até tinha uma arma grande de plástico ridiculamente apoiada na poltrona. Apesar de odiar admitir isso, principalmente aqui, agora, com ele ao meu lado, eu tenho que aceitar o fato de que ele fica muito bem de terno. A sua roupa séria fez com que ele parecesse mais maduro do que era e certamente mais inteligente, o que não era difícil.

Ele me encarou por alguns segundos de longe e eu desviei o olhar imediatamente, bebendo um gole na rodada do jogo, sem nem saber o que tinha sido dito. Algum bêbado gritou pra mim:

– Quem você é?

– A Princesa Jujuba! – gritei de volta e é isso o que eu lembro daquela festa. Sim, essa festa não voltou para mim como a outra, eu não sei de nada o que eu fiz, como fiz e porque fiz. Então tudo o que eu contarei agora foi o que Naruto me jurou que aconteceu, então saibam que pode ser tudo mentira e que ele não estava me vigiando a festa inteira, então não tem como saber de outras coisas que eu possa ter feito. Tipo alimentar os pobres ou algo assim...
Ele disse que Ino teve que ir embora por causa de problemas familiares e eu não quis ir embora com ela e que eu dancei muito e beijei vários homens. Disse que bem no fim da festa, quando tocou “Misunderstood” do Bon Jovi, eu comecei a cantar bem alto e de forma desafinada, junto com Uchiha, que se juntou a mim.

Vejam bem, eu não acreditaria nisso nem em um bilhão de anos, porque primeiro: eu não gosto de Bon Jovi, e segundo: eu não sou amiga de Sasuke Uchiha o suficiente para cantar loucamente com ele. Mas, infelizmente, eu procurei por outras testemunhas que juraram que isso aconteceu. Prefiro não me prolongar muito no assunto.

Depois disso, Naruto disse que nos viu nos beijando e indo para o quarto de Uchiha, o que eu posso afirmar que aconteceu mesmo, porque foi onde eu acordei no dia seguinte.

Novamente com uma dor de cabeça infernal, eu acordei com os olhos ardendo. Mas dessa vez eu acordei bem rápido ao notar que não estava no meu quarto. Olhei para o lado com medo do que encontraria e é claro que eu estava certa em temer.

Ali, deitado do meu lado apenas com um lençol cobrindo suas partes íntimas, estava um pacífico Sasuke Uchiha, respirando lentamente, enquanto seu peito subia e descia de forma uniforme.

Então, como um sonho esquecido, as memórias daquela primeira festa surgiram em minha mente e eu lembrei de nosso beijo e de como eu vomitei em seus pés logo depois. Tudo voltou com um soco no estômago. Eu tentei não surtar ao ver que embaixo do lençol eu estava completamente nua, mas não adiantou, eu já estava gritando.

Demorou apenas alguns segundos para Uchiha acordar em um susto e me encarar com seus olhos sonolentos. Se vocês achavam que ele iria sorrir e soltar algum comentário irônico de como tinha conseguido transar comigo ou sei lá, estão errados, porque ele começou a gritar comigo.

– O que você está fazendo aqui?! – exclamou, me encarando de cima a baixo, enquanto eu puxava o lençol para me cobrir e ele fazia o mesmo, transformando a ação em um cabo de guerra.

– Não é óbvio?! – gritei de volta e ele negou com a cabeça, enquanto eu fazia o mesmo. Eu não podia acreditar que tinha beijado Uchiha e agora tinha acordado ao seu lado, Não era possível que eu tivesse feito aquilo com ele, não era possível, nem mesmo se eu tivesse bêbada.

– Você me colocou aqui? – continuei, histérica.

Ele revirou os olhos e puxou um pouco mais o lençol.

– Claro que não, por que eu iria querer você na minha cama? – a parte boa era que ele parecia tão confuso quanto eu.

– Nós nos beijamos naquela outra festa? – perguntei ao mesmo tempo que ele disse:

– Nós ouvimos Bon Jovi ontem?

Revirei os olhos, tentando absorver a besteira que eu tinha feito e puxei o lençol com toda a força, fazendo-o se sobressair e colocar as mãos em seu... Bem, vocês sabem.

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Eu totalmente não fiquei encarando-o seminu por uns segundos antes de ir pegar as minhas roupas. Não achava o meu vestido em nenhum lugar, então coloquei um moletom que eu achei jogado no chão que cobria a minha calcinha de forma decente.

– Ei! Isso é meu! – ele exclamou e eu dei de ombros, tentando achar o meu vestido. – Escuta aqui, não pense que eu queria que isso acontecesse porque...

– Poupe-me. – afirmei, antes de qualquer coisa. Eu estava pronta para dar um discurso de como aquilo não significava nada, quando eu vi um caderno aberto com o nome de Ino bem grande no topo. No começo, achei que fosse alguns poemas ou coisa do tipo, mas então lembrei quem era o dono e reconsiderei. Peguei o caderno e comecei a folheá-lo. Senhores, vocês sabem melhor do que eu exatamente o que eu achei.

E é claro que eu não fiquei feliz.