Papercuts

IX - Haru


“Eu de fato estava tendo um dia melhor que o dele. Sai era extremamente engraçado e eu agradeci aos céus por ele ter aceitado ir comigo no evento, mesmo me conhecendo só de rosto. Nós tínhamos algumas aulas juntos, mas nunca nos falávamos, então foi extremamente bizarro quando eu me aproximei do nada e o chamei para ir comigo em uma festa de alguém que ele não conhecia. E ah, tinha o fato de que ele tinha que ir bem arrumado.

Fiquei surpresa com a sua aceitação e pensei que talvez ele fosse bem mais legal que aparentava. Porque até então, Sai sempre me pareceu estranho, frio e distante. Mas a verdade era que ele era só extremamente tímido. Quando comecei a conhecê-lo melhor, vi o quão hilário ele podia ser.

Nós estávamos sentados em uma mesa na qual umas mulheres bem vestidas tinham nos colocado e eu não parava de pensar em quanta frescura tinha naquela festa. Por que gente rica gostava de coisas complicadas? Mil talheres para trezentas refeições diferentes, cadeiras numeradas, guardanapos dobrados tipo origami... Me dá sono só de pensar.

Eu e Sai estávamos brincando de um jogo que eu gosto de chamar “julgues e não serás julgado” que é basicamente apontar para alguém muito rico e inventar uma historia de vida para essa pessoa.

– E aquela ali? Ela tem peitos caídos, deve ter tido quinze filhos com aquele velho só pelo dinheiro. – eu murmurei e ele riu. Sim, eu sei que essa é uma brincadeira extremamente preconceituosa e errada em todos os níveis. Mas os senhores tem que entender que se eu e Sai não fizéssemos isso, ficaríamos extremamente entediados e começaríamos a beber, o que não acabaria bem para ninguém.

– Eu acho que os peitos dela são caídos porque ela não usou sutiã quando era menor. Talvez ela fosse pobre e ficou rica ao casar com o velho. – Sai retrucou, era um bom argumento.

– Ou talvez o velho goste de peitos caídos e ela fez uma cirurgia para que eles ficassem assim.

Nós continuamos rindo e falando besteira, até Ino aparecer de repente e sentar-se conosco.

– Eu odeio politica. – ela reclamou e eu franzi a testa.

– Isso não é nenhuma novidade...

– É só que Sasuke é tão inteligente e sempre tem o que falar com essas pessoas e eu fico do lado dele parecendo uma completa idiota. – ela explicou finalmente e eu revirei os olhos. Uchiha não era inteligente e certamente não sabia nada a mais do que aprendia na faculdade, o que era básico.

– Cadê ele? – perguntei, tentando parecer desinteressada. Sim, ele estava definitivamente atraen... interessante com aquele smoking e sempre era divertido provocá-lo, mas a minha pergunta era completamente e puramente movida por curiosidade.

Ino apontou com a cabeça para uma outra mesa e lá estava ele, com um bando de adultos que pareciam importantes, falando de forma entusiasmada sobre algo que eu tinha certeza que ele não sabia nada sobre. O homem que eu julguei ser pai de Ino estava do lado dele, rindo alto e dando tapinhas em suas costas de forma encorajadora. Quis vomitar.

Lembrei-me então de que Uchiha era um Uchiha. Quer dizer, o herdeiro riquinho de uma das empresas mais influentes que existiam. Era óbvio que ele sabia se comportar nesses ambientes, ele tinha nascido neles.

Revirei os olhos, achando tudo extremamente patético.

– Sai e eu estamos brincando de uma brincadeira chamada “julgues e não serás julgado”, quer se juntar? – perguntei, por fim e ela acenou que sim. Ino era perfeita para essa brincadeira, ela iria soltar os comentários mais sórdidos e venenosos de nós três e provavelmente saberia umas fofocas verdadeiras também.

Continuamos nos divertindo até o fim daquele evento maçante. Para a minha felicidade, Uchiha ficou conversando com os adultos a maior parte do tempo e eu não precisei lidar com os seus comentários machistas e arrogantes.

Finalmente, estávamos os quatro voltando para casa, ou era o que eu achava. Porque pelo jeito, o imbecil do namorado dela tinha arranjado uma festa muito boa para irmos e nós estávamos a caminho não importava o quanto eu protestava.

– Eu tenho que voltar pra casa, tenho que estudar! – exclamei, incrédula com o sequestro. – Ino, a gente combinou que eu viria nessa coisa e só isso!

Era verdade, depois de eu perdoá-la por ter agido de forma absurda, nós combinamos que eu só iria ao evento e mais nada porque estava ocupada demais com os meus estudos e ela tinha concordado.

– Já estamos arrumadas e dentro do carro, Haru. Se estiver tão ruim assim, você vai embora. – ela me disse e eu bufei, francamente...

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– É, não seja estraga prazeres. – Uchiha completou e eu o encarei como se tivesse lasers saindo dos meus olhos.

Encarei Sai, que apenas deu de ombros e resolvi dar uma chance para a festa, afinal, o que podia dar de errado?


Eu sei, eu devia parar de me perguntar isso. Porque sempre, sempre, alguma coisa podia dar errado. E dava. Toda vez.

A festa era ótima, de fato. Do tipo que eu gostava, escura, com música boa e bebidas de graça. Dançar com Sai era divertido e Uchiha parecia menos insuportável quando estava com Ino, porque tinha que ficar fingindo ser o namorado perfeito que todos sabiam que ele não era.

Começamos a beber demais e eu perdi a noção do tempo ou de onde estava. Vi Sai indo engolir outra mulher, o que surpreendentemente não me afetou nem um pouco, só me fez rir e até fiquei um pouco feliz por ele. Eu não me sentia daquela forma por Sai de qualquer jeito, era bom saber que eu não era a única. Éramos só amigos, afinal.

– Sinto muito! – Ino exclamou e eu balancei a cabeça.

– Não sinta! – retruquei e ela me encarou confusa. Ino estava muito bêbada para falar com propriedade sobre qualquer coisa e nada mais que aquilo faria sentido para ela, então nem tentei explicar minhas razões.

Ela estava dançando com Uchiha e eu fiquei de lado para dar-lhes privacidade. Senhores, sei que não devem mais se lembrar dos seus tempos festeiros, mas é fato que uma mulher sozinha em qualquer festa é sinônimo de homens circulando-a.

Eu podia ter três olhos e careca, desde que tivesse peitos e bunda. Diversos caras vieram soltar alguma cantada batida para mim, para as quais eu respondia com comentários sarcásticos que normalmente os deixavam bem irritados. Não que eu ligasse, eu estava me divertindo. Era um dos meus hobbies dar fora em caras como aqueles.

Conforme ficava menos bêbada, as cantadas irritavam mais e chegou uma hora que eu estava simplesmente cansada e queria que Sai voltasse a ficar comigo. Olhei em volta e vi que ele estava muito concentrado em beijar a outra, então suspirei e fui para o bar corrigir a questão da embriaguez.

Vi Ino completamente louca, dançando em cima do balcão e gritando qualquer coisa que eu não entedia. Uchiha tentava em vão tirá-la de lá, mas ela parecia determinada em fazer uma memória da qual iria se arrepender no dia seguinte. Do nada, Ino caiu e começou a passar mal.

Para a sua sorte, não foi no chão, mas nos braços do barman, que apenas olhou para mim com uma expressão conhecida que dizia “se ela é sua amiga, é sua responsabilidade” que eu entendi na hora. Levei Ino para o banheiro, onde ela vomitou até as suas tripas e depois simplesmente caiu desmaiada.

Com muito esforço, levei-a para um sofá escondido no andar de cima e a deitei, me certificando que estava em um lugar seguro, antes de deixá-la. Não podia levá-la para casa assim, ela teria que acordar, não tinha como eu descer e subir escadas até o nosso alojamento com ela naquele estado e eu também não estava nas melhores condições.

– Porra! – foi a primeira coisa que eu disse quando vi Uchiha no andar de baixo.

Ele me encarou e deu de ombros, como se a namorada dele ter passado mal e desmaiado não tivesse sido culpa dele. Cretino.

– Eu avisei que ela estava bebendo demais. – se justificou e eu revirei os olhos. À essa altura, eu já estava completamente bêbada. Acreditem, isso é uma proeza, mas eu tinha conseguido.

– Você é tão... Tão...

– Irresistível? Charmoso?

– Insuportável.

Uchiha de repente parecia especialmente de bom humor, porque apenas riu e se aproximou. Não era um sorriso de alguém que tinha rido de uma piada, mas sim do tipo “eu sou tão melhor que você” o que o tornava ainda mais irritante.

– Insuportável, mas ainda extremamente sexy.

A música estava alta demais e a minha cabeça ainda girava um pouco por causa da bebida, então eu não estava nas melhores condições de entrar em uma discussão argumentativa com ele naquele momento, então apenas mostrei-lhe a língua, tentando demonstrar todo o meu nojo.

Não sei dizer se era efeito da fumaça ou se eu estava mais bêbada do que imaginava, mas ele estava realmente muito perto de mim e eu conseguia sentir o seu calor se sobressair, mesmo estando extremamente quente ali.

– Extre... Extremamente... – tentei em vão formar uma frase, enquanto ele chegava mais perto. Uchiha estava claramente bêbado também, porque não vinha em linha reta e quando pegou na minha cintura, sua mão estava muito pra cima. – Cha-to.

Dei um soluço patético no meio das duas sílabas que o fez rir. Ele pareceu perceber seu erro e colocou sua mão na altura certa, bem na curva da minha coluna, na qual um centímetro abaixo estaria a minha bunda. Ele se aproximou mais e as cores começaram a se misturar, eu conseguia ver claramente a negritude do seu olhar fixando-se nos meus, via a leve curva do seu sorriso desdenhoso e o seu cabelo espetado de forma uniforme em sua cabeça. Tudo nele de repente pareceu tão sedutor...

Suspirei, por nenhum motivo aparente, e fechei os olhos, entrando em um estado de transe. Preciso ressaltar que eu estava bêbada e fora de mim. Eu nunca me sentiria atraída por Uchiha em sã consciência. No estado em que estava, eu me sentiria atraída até por um macaco, então não acho que devam considerar esse incidente para o caso discutido. Enfim, vocês pediram todos os detalhes possíveis e, apesar de eu ser contra, não posso me opor, certo? Não quero ser presa. Então, depois não me digam que não pediram...

Depois de alguns segundos que pareceram horas encarando a sua boca, ele me puxou ainda mais e nossos corpos tocaram. Eletricidade pareceu percorrer por todo o meu corpo e eu estremeci, não era mais o calor sufocante e abafado do ambiente, mas sim um tipo diferente, melhor. Era como se tudo se resumisse a troca de calores dos nossos corpos e tivéssemos encontrado o perfeito equilíbrio térmico.

Seu rosto estava perigosamente perto do meu e eu sentia o seu hálito de menta e álcool como se fosse o meu. Sua respiração confundia-se com a minha e eu já tinha me perdido no negro de seus olhos. Eu não sabia o que ele queria, mas o que quer que fosse, estava demorando demais.

Ele fechou os olhos, me possibilitando de encarar sua boca ainda mais e eu mordi os lábios de vontade, quando menos esperei, ele estava beijando o meu pescoço, subindo lentamente até o meu maxilar, brincando com os cantos da minha boca, mas sem tocá-la.

Eu, enlouquecida com aquela provocação, tinha as minhas mãos em seus cabelos rebeldes, enquanto tentava mantê-lo o mais próximo de mim possível, suas mãos se moviam com destreza pelas minhas costas e eu estremecia a cada toque mais profundo.

Quando achei que já não podia aguentar, ele finalmente encostou seus lábios nos meus. Primeiro, de forma lenta e hesitante, como se pedisse por abertura, e depois, ao separar os meus lábios, de forma agressiva e urgente, como se tivesse esperando por aquele momento desde sempre.

Com a mesma intensidade, eu retribui. Seus lábios encaixavam com os meus de forma prazerosa e eu percebia a cada segundo uma nova forma de explorar o beijo. Depois do que pareceram apenas alguns segundos de prazer, mas eras de ar roubado, nos separamos um milímetro para respirarmos.

Demorou apenas alguns milésimos para que estivéssemos nos beijando novamente. Aquilo era novo, era excitante, era diferente de tudo o que eu já tinha sentido. Eu não estava apenas beijando alguém, eu estava submersa em uma experiência completamente avassaladora.

Foi só quando nos separamos da segunda vez que eu me dei conta. Eu estava beijando Sasuke Uchiha. Sasuke Uchiha, o herdeiro da empresa mais corrupta do país. Sasuke Uchiha, o cara que eu desprezava. Sasuke Uchiha, o namorado da minha melhor amiga.

Meu estômago começou a embrulhar novamente, mas dessa vez de puro nojo. Me separei de Uchiha e dei um passo para trás, tonta. Tentei encarar seus olhos, mas tudo o que eu conseguia pensar era que tinha traído a minha amiga e ainda mais com um cara que eu odiava.

As coisas começaram a rodar e eu comecei a ver tudo dobrado. Então, quando o vi vindo em minha direção, como se estivesse prestes a dizer alguma coisa, eu vomitei em seus pés.

Sim senhores, foi isso mesmo que vocês ouviram. E isso é tudo o que eu lembro daquela noite.

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