Como dizer adeus em robô

Adeus ou quase isso


Véspera de Natal, Baile de Inverno. Não sei mais sobre Vitor e meus pés doem.

Vejo Rony subir revoltado. Harry não diz nada. Mando ele ir embora do mesmo jeito. Meus sapatos e meu vestido começam incomodar e eu já não consigo segurar as lágrimas.

Praticamente me jogo em um dos degraus da escada; não consigo parar de chorar nem quando um grupo de sonserinos passam por mim rindo. É ridículo. Chorar é ridículo. Quando alguém para ao meu lado, espero por Krum ou por Harry, ou até mesmo por um Ronald arrependido, mas dou de cara com Draco Malfoy, parado me encarando.

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— Você está bem? – ele pergunta de sobrancelha arqueada.

— Merlin, por que tinha que ser logo você? – eu murmuro.

Malfoy inclina a cabeça para o lado, avaliando-me, e não responde. Eu solto um suspiro, pouco preocupada com a série de lágrimas que estavam por vir ainda.

— Pareço bem? – eu estremeço revoltada.

— Depende do ângulo.

— Foi uma pergunta retórica, Malfoy. Isso quer dizer que não precisava responder.

Ele se senta ao meu lado, parece estar meio tonto. Tento não me incomodar com sua presença, mas não consigo disfarçar.

— O que aconteceu? – ele pergunta.

— Por que eu te contaria?

— Parece que sou a sua única companhia da noite.

— E não é a melhor.

— Qual seu problema? Weasel fala uma merda e isso acaba com a sua noite? Você é um pouco melhor que isso, Granger.

[…]

Eu me odiei por chorar na frente de Draco e me odiei mais ainda por chegar no quarto tarde da noite chorando.

Fui direto para o dormitório que Parvati estava.

— Merlin, Mione, o que aconteceu? – Parvati perguntou assim que entrei.

Sem falar nada, me deitei na sua cama. Parvati abriu espaço para mim, me abraçou e jogou a coberta sobre nós.

— Ainda não sei se quero falar sobre isso – respondi suspirando.

— Quer sim, e eu vou ouvir atentamente – ela me cutucou, deitando-se de frente para mim.

— Eu te acordei?

— Não... Eu não consigo dormir mais– ela suspirou – Acabei de falar com Padma, mas… ainda é estranho, sabe? Ela não devia ter ido.

— Sinto muito, Parv.

— Já passou – ela deu de ombros e voltou a me cutucar – Vamos, diga… Que peso traz esse coraçãozinho?

Eu respirei fundo antes de responder:

— Acabou, Parv… Draco e eu, acabou.

Ela passou a mão pelo meu cabelo cacheado e bagunçado. Em pensar que algumas horas atrás ele estava prensado na cama gigante da Sala da Presidência…

— E sabe o que é pior? Hogwarts nem é tão grande assim – eu resmungara. Eu realmente não queria voltar a chorar, mas comecei soluçar antes que percebesse. Era um daqueles choros, sabe? Que limpa por dentro.

— Ah, amiga, vai ficar tudo bem... Hogwarts é gigante.

— T-tá doendo, P-arv. T-tá s-sim.

— Vem cá, Mione – ela me abraçou e eu chorei em seu peito.

— Ai, Parv… – Eu respirara fundo pra falar, tentando ser o mais coerente possível: – Parv, ele tem um pacto com Voldemort. Voldemort! E ele tem uma missão! Sabe lá qual que é essa missão, mas pode ser qualquer coisa. E eu acho que se envolver algum de vocês, eu não vou aguentar.

— Oh, minha amiga… Draco vai dar um jeito, eu sei que vai – ela ficara de frente pra mim. Eu evitei olhá-la diretamente, porque fazia tempos que eu não chorava daquele jeito e não sabia ao certo como as pessoas lidavam com isso. Eu nunca soube lidar com choros.

E eu chorei, Marlin, eu chorei. Eu chorei por Lilá, por Pansy e sua maldita missão, por Padma que tinha ido embora naquela manhã, por Parv vencida por Padma, chorei por Draco e por estar sendo deixada pela segunda vez. E Parvati me abraçava e passava a mão no meu cabelo, murmurando palavras de consolação, mas eu não queria ser consolada. Eu queria desabar, porque fazia tempo que eu estava acumulando o caos.

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No final das contas, eu só parei quando dormi no colo de Parvati.

E acordei com as cortinas sendo puxadas logo pela manhã.

— Ah, não, Parvati. Tenha piedade – eu murmurei tapando o rosto com o travesseiro.

— Não me diga que você vai dar uma de Ronald Weasley – ela dissera sentando-se ao meu lado na cama. Já estava de uniforme, com os cabelos negros perfeitamente arrumados.

— Não dáaaaa – resmunguei rolando na cama – Fazia tempo que eu não me sentia tão sentimental.

— Hermione, já passa do meio dia. Você não pode ficar o dia inteiro aqui – ela respondeu puxando o travesseiro do meu rosto – Eu sei que você gostava dele, mas a vida não para, meu amor.

— É, eu gostei dele e ele me mandou embora.

— Você está fazendo drama, Hermione.

— Drama? Eu cansei! Draco que morra. Não acredito que passei a semana toda preocupada com aquela doninha – eu voltara a cobrir o rosto com o travesseiro.

— Vamos, Mione… Ânimo! Hoje tem jogo, a Grifinória toda está empolgada.

— Espero que Harry derrube Draco da vassoura.

— Para com isso, Mione…

Eu tirei o travesseiro do rosto, vencida por Parvati. Dei um longo suspiro antes de levantar da cama.

— Está bem – resmunguei – Mas já vou logo avisando de que não sou obrigada a nada.

— Não, não, volta aqui… – Parv me puxou, me fazendo voltar para a cama. Ela me apontou o dedo, soando mais como uma ameaça: – Malfoy merece, mas você não vai fazer NADA contra ele.

Balancei a cabeça, tentando soar inocente e ingênua: – Isso nem se passou pela minha cabeça, Parv.

— Hermione, é sério… Eu sei que é isso que eu faria no seu lugar, mas eu também sei que não é a solução mais viável.

— ELE ME MANDOU EMBORA! – explodi – LOGO DEPOIS DE TER DITO QUE FARIA QUALQUER MERDA POR ELE SE ELE QUISESSE. GENTE ASSIM NÃO É DIGNA DE AR PURO.

— Ele provavelmente teve os motivos dele. Você teve os seus.

— É diferente.

— Você nunca quis que ele soubesse da música.

— E agora ela está pronta e ele realmente não merece saber.

— Tudo bem!, guarde seu rancor – ela ergueu os braços em rendição – Mas você não vai fazer nada contra a doninha, ouviu? Nada. E se alguma coisa acontecer com ele e eu souber que foi você…

— Tá bom, Parv – eu me levantei – Seu garoto prodígio está seguro.

— Que bom, Granger – ela respondeu irônica. Eu fiz careta.

Demorei cerca de vinte minutos para me arrumar sob pressão de Parvati Patil. Meu rosto estava deformado por ter chorado demais e por ter passado tempo demais na cama, assim como meu cabelo que estava uma bagunça. E ainda sim tive coragem de encara-lo com um pente perdido na pia do banheiro.

— Vamos logo, Hermione – ela chamou – Eles estão nos esperando.

— Eles quem? – perguntei me atrapalhando ao colocar os sapatos.

— Vamos – ela insistiu, me dando a mão.

Parvati era solidária.

Quando cheguei na Sala Comunal tive uma inesperada vontade louca de voltar para a cama. Metade do que sobrou da Lufa-Lufa se instalava nas nossas poltronas vermelhas, ora servindo-se de doces, ora servindo-se de bebidas, todos animados e empolgados. Assim que desci as escadas, com vários dos olhares em mim, tive a sensação de que todos sabiam do que ocorrera na noite anterior, e eu descobri que estava quase que certa quando Gina Weasley viera me abraçar, dizendo que sentia muito.

Eu automaticamente franzi o cenho; Hogwarts não tinha segredos. Gina só me largou quando eu disse que tudo bem, estava bem, não ia fazer nenhuma loucura, por Draco – até porque ele nem merecia –, etc.

— Vocês já souberam então? – eu perguntei para Ronald ao vê-lo se aproximar com um copo de cerveja amanteigada.

— Em respeito a você, tentamos não saber de nada – Rony respondeu.

— E deu certo? — perguntei, sarcástica.

— Não, impossível. Como você está?

— Quero ficar no quarto o dia inteiro.

— Eu sinto muito, Mione – ele me deu um beijo na testa.

— Tudo bem… Não é para tanto. Quer dizer, esse tipo de coisa era previsto, eu só não achei que seria assim…

— Não era TÃO previsto assim.

— Como assim?

— Qual é, Mione. Nós só ficamos sabendo que vocês estavam juntos quando vocês terminaram.

Tapa na cara.

— Eu não queria que vocês ficassem bravos comigo – respondi.

— Nós não conseguiríamos ficar bravos com você.

Ele me deu outro beijo na testa e se afastou. Eu fui até Harry que estava carregando um grande barril de cerveja amanteigada com alguns lufanos.

— Ei.

— Graças a Marlin, Mione! – ele largara o barril rapidamente, me abraçando. Alguns lufanos reclamaram, mas Harry não fez nada. – Como você está? O que precisamos fazer? Desculpe, é que eu não sei lidar bem com sentimentos…

Eu ri do seu mau jeito. Fiquei feliz ao saber que sempre poderia contar com Harry. Ele era um bom amigo.

— Ele me contou tudo, Harry.

— Ele te contou sobre Londres? — ele perguntou.

— Tudo, sobre Londres, as missões, acordo de vocês...

— Bom, pelo menos ele cumpriu parte do acordo, que era te contar.

Dei de ombros, mas logo me lembrara de um detalhe que guardei para quando encontrasse Harry: – Mas ainda não entendi o que você foi fazer em Londres.

Harry deu um meio sorriso, desconcertado. Ele passou a mão no cabelo ao dizer:

— Eu queria chegar no Ministério.

— Por quê? – franzi o cenho.

— Falar com Dumbledore, sei lá. Aqueles dias foram um caos – ele pegou a minha mão, desajeitado – Pelo menos para mim…

— Ah, nem vem.

— É sério, você devia ter nos contado. Se estava com medo da nossa desaprovação, que tipo de amigos nós somos?

— Eu sei, é que eu não tive tempo…

— Ah, Hermione, francamente! Não seja boba… Nós sabíamos sobre vocês – Harry dissera – Quer dizer, não sabíamos cem por cento, mas desconfiávamos.

— De qualquer forma, já passou. Draco é um comensal e vocês estavam certos. Eu quebrei a cara e talvez o coração, mas vida que segue.

Harry deu risada e me abraçou, passando a mão pelos meus cachos bagunçados.

— Eu sinto muito, eu não queria estar certo – ele murmurou no meu ouvido.

Não chore, não chore.

— Tudo bem – respondi apoiando a cabeça no seu ombro.

Nós nos separamos porque os garotos que estavam tomando conta do barril tiveram problemas e Harry teve que ajudar. Caso contrário, eu teria ficado abraçada com ele o dia inteiro.

Procurei Gina, mas não encontrei. Procurei por Rony, mas desisti dele quando o vi paquerando uma lufana. Tentei não pensar em como aquilo soava falso e ridículo; tentei não pensar em Lilá. Porque talvez um dia eu viria Draco em um dos corredores de Hogwarts fazendo a mesma coisa e não poderia ter um ataque de pânico. Às vezes a gente tem que seguir em frente.

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Mas às vezes a gente não quer.

Só parei quando encontrei Parvati rindo com Simas, Dino e Neville.

— Então… como vai minha destruidora de corações favorita? – ela me puxara para a roda.

— Menos, Parv – eu murmurei olhando para os garotos, mas então percebi que eles provavelmente sabiam dos acontecimentos. Suspirei – Vocês sabem, não é?

— Relaxa, Mione. Você era areia demais para o caminhãozinho do Malfoy – Dino dissera e eu ri.

— E eu espero que você não pense duas vezes antes de ir no jogo hoje – Parv dissera.

— Não sei se devo ir.

— Por causa do Malfoy? – Neville arqueou as sobrancelhas.

— Não! Hoje é sexta e tem aula – eu rapidamente adicionei.

Parvati revirou os olhos, divertida.

— E quem vai pra aula? – ela abanou a mão na minha frente.

— Achei que o jogo oficial fosse só no sábado.

Eu olhei para os meninos, buscando alguma explicação. Neville foi o primeiro a se pronunciar:

— E é. Esse jogo é só mais uma boa desculpa para competirem entre si. Minerva não pode nem sonhar que vamos usar o campo.

— Isso é ridículo. Não tem por que competir com a Lufa-Lufa. Somos do mesmo time.

Os três riram de mim. A desgraça alheia era acolhedora.

— Sinto muito, Mione – Dino passara a mão no meu ombro – Mas se você der sorte, Harry derruba o Malfoy da vassoura.

— Não posso perder isso por nada – Parvati disse.

[…]

O jogo estava prestes a começar e eu fui correndo até às arquibancadas, evitando ser acertada por balaços perdidos.

Ao meu lado, Parvati estava eufórica. Simas estava no campo, junto com Gina. Cormac estava no time dessa vez. Harry foi solidário e deixou o garoto participar quando eu assumi envergonhada que tinha sabotado os testes, e por causa disso, Ronald ficou na tenda, como substituto – mas me agradecera logo depois por ter a chance de participar do time oficial da Grifinória jogos antes.

Fiz sinal para eles, mas nenhum me deu atenção. Fiz sinal para Pansy, goleira do outro time, e para Mark e Alec, batedores, e para Zabini, artilheiro.

Automaticamente, tentei chamar a atenção de Draco e me arrependi instantemente quando ele me olhou, curioso. Eu desejei um boa sorte quase que inaudível.

— Obrigado, Hermione – ele respondeu sorrindo. As coisas estavam realmente estranhas.

Parvati riu assim que Draco nos deu as costas. Eu lhe dei um tapa.

— Não vai ser fácil, Mione – ela respondeu. Soltei um muxoxo.

Parv deu um grito quando Dino anunciou que o jogo começara. Eu passei entender o que estava acontecendo somente quando ela traduziu o que Dino narrava.

Assisti muitos jogos com Harry e Rony, mas não prestei atenção em muitos deles. Parecia complicado porque eu estava torcendo para os dois times, mas queria mesmo que Harry capturasse o Pomo de uma vez, já que estávamos em vantagem.

Mas então o jogo deu uma reviravolta. Pansy não deixou mais nenhuma bola passar pelo arco e Zabini começou fazer mais pontos, acertando Cormac toda hora. Um ou dois balaços acertaram Gina e Simas, mas ninguém pediu tempo e eles continuaram no campo.

Parvati e Neville ainda tinham esperança, mas cerca de dez minutos depois Draco apareceu com o Pomo em mãos e Dino anunciou a vitória da Sonserina. A torcida da Corvinal comemorou e Harry cumprimentou Malfoy contrariado. Eu desci das arquibancadas e corri para onde os sonserinos estavam.,

— Eu sabia que você estava torcendo pra gente – Mark dissera me levantando no ar.

— Você viu a sacada que eu dei na Weasley? Foi espetacular! – Alec disse e se corrigiu quando eu olhei de cara feia: – Cruel, mas espetacular.

— Cara, eu adoro ganhar da Grifinória... Muito mais prazeroso — Zabini brincou.

— Se tem uma coisa que me faz feliz é ver grifinório infeliz — Draco dissera se aproximando todo suado.

Ele não tinha me visto ali, porque ele me olha surpreso e fica sem jeito. Alec tenta quebrar o gelo, mas não tem sucesso. Eu vou me afastando aos poucos enquanto eles conversam sobre o jogo, mas nem preciso olhar para trás para saber que Draco vinha em minha direção.

Ah, como dói.

— Me desculpe, eu não quis dizer aquilo... Quer dizer, eu queria, mas não desse jeito... Não assim... Eu queria dizer de outro jeito... Ah, me desculpe — ele diz, jogando os cabelos loiros e suados para trás. Meu Merlin, a visão do paraíso.

— Está tudo bem, eu entendi — eu falei.

— A gente consegue, né? Pelo menos sermos amigos... — ele fala, ainda sem jeito. Muito raro ver Draco Malfoy assim, perdido nas palavras, sem saber o que falar, com os pensamentos bagunçados...

Tento não rir.

— Eu acho que não, Malfoy — falei, sincera — E ainda é um pouco recente. Quer dizer, bem recente. Foi ontem.

— Eu sei, mas eles são seus amigos também.... Você não precisa ir embora.

— Eles vão entender — balancei a cabeça.

Draco parecia triste. Talvez fosse muito difícil para ele não ter o que queria logo de primeira.

— Parabéns. Foi um ótimo jogo — eu disse por fim, me afastando.

— Você não consegue esconder seu desdém quanto à lógica do Quadribol – ele disse brincalhão.

— Eu realmente não vejo muito sentido, mas sou muito boa, isso você tem que concordar — respondi, virando-me.

Uma série de coisas se passaram pela minha cabeça; a boca dele, a boca dele na minha, as noites na Sala da Presidência, as tardes na Sala Precisa… nós nos dávamos bem em qualquer lugar. E então aquilo sumiu, e eu fiquei me perguntando se estaria comemorando com ele se não tivesse ido para a Sala da Presidência na noite anterior.

Poderia voltar para noite passada e ir embora antes do "preciso te contar uma coisa". Mas eu estava me fazendo de idiota; nada realmente apagava o que Draco fez.

Ou apagará o que ele vai fazer.

Era meio complicado.

Pansy se aproxima de nós. Eu ainda não tinha falado com ela, mas sabia que ela sabia. E sabia que ela sabia de tudo.

— Nós estamos indo para a Sala Precisa comemorar o jogo… Acho que você deveria vir...

— Ah, eu não sei – fiz careta.

— Nós faríamos uma festa ganhando esse jogo ou não. Vai ser divertido — ela respondeu. — E, além do mais, sinto sua falta.

Antes que eu pudesse responder, uma massa se aglomerou em volta dos dois, os cumprimentando e os parabenizando. Até mesmo eu fui parabenizada em nome da Grifinória.

Tentei escapar antes que Draco ou Pansy percebessem, mas ainda sim fui vista.

— Hoje à noite. Você vem? – Draco perguntou no meio daquele gente toda. Eu fiquei sem responder, buscando uma resposta convincente, mas Draco logo me interrompeu – Vamos, Hermione. É só uma festa.

— Eu apareço mais tarde.

[…]

Pensei bem antes de me servir de Hidromel, ou de dar uma de doida e pegar FireWhiskey, mas me contentei com cerveja amanteigada, porque não sabia como terminaria a noite.

Mas lá para o meio da noite, Pamela já tinha me convencido a experimentar todas as bebidas exóticas do bar. Incluindo rum do groselha, que tinha um gosto bom.

— Então – Pansy começou, virando o resto que tinha em seu copo –, você soube da história.

— Há muita coisa para digerir ainda.

Ela dera de ombros, servindo-se de mais uma dose.

— Sonserinos não são confiáveis. Sonserinos e grifinórios juntos não prestam.

— Acabou tudo mesmo? Eu e você… nós duas?

Pansy riu: – Claro que não! As coisas são mais complicadas para o Draco, você sabe. Mas eu não vou te abandonar, sua louca. Nem Draco vai, você vai ver.

— Não sei, Pamela. Deve ser melhor assim.

— Que ridículo! Quando é que você vai começar tomar suas próprias decisões? Você está arrasada. Vai bater de frente com o Draco, manda ele se danar. E aproveita e fala para o Potter que ele devia ter te contado. Você pode suportar os baques da vida.

— Pamela, eu cansei. Eu disse que o perdoaria, apesar de tudo. Viu? Foi como ter dado uma arma na mão dele, esperar ele apontar para minha cabeça e pedir, com uma esperança quase absurda, que ele não atire.

Pansy riu, mas dissera séria, ao terminar sua bebida:

— Hermione, se você vai continuar com o Draco até o final, vai ter que entender uma coisa – Pansy se encostou no balcão, me encarando: – Ele vai mudar, e não vai ser para melhor. E se você não quer perdê-lo, vai ter que ser paciente e dar uns tapas naquela cabeça quando for preciso, porque você vai atrás do Potter e ele com certeza vai voltar para a Mansão. Todos vamos. E nada vai ser como antes.

— O que vão fazer com vocês lá?

— O que fizeram a vida inteira – ela virou mais um copo antes de responder: – Lavagem cerebral.

Pamela tentou me arrastar para a pista de dança três vezes, e quase conseguiu duas, mas eu fui mais rápida ao despistar ela – famosa desculpa "vou ao banheiro e já volto".

Draco estava do outro lado do salão. Se fosse mais um outro dia normal, provavelmente estaria comigo. Talvez já estivéssemos na Sala da Presidência, com as roupas espalhadas pelo quarto. Ou não, nós éramos imprevisíveis. Ele acenou com a cabeça e eu dei um sorriso de lado, tentando ao máximo não desmoronar no meio do salão. Ele riu e eu fiquei sem graça. Pude sentir meu rosto corar enquanto o via caminhar em minha direção, o andar tão canalha quanto o sorriso.

— Boa noite.

Seu copo estava cheio por um rum de groselha, uma bebida que eu, Harry e Ron não estávamos tão acostumados a tomar em nossas reuniões. Draco já tinha 17 anos, mas eu não queria quebrar uma regra da escola, mesmo com o copo cheio de cerveja amanteigada.

— Não é uma boa hora – eu falei assim que ele parou a minha frente. Ele riu.

— Você ainda vai ter muito o que descobrir até lá.

Eu bufei. Draco se encostou na parede ao meu lado, permanecendo em silêncio por um tempo, até que de repente soltou:

— Hermione, não quero ser quem fala isso, mas você nunca precisou de mim ou do Potter. Ou do Wealsey, ou de ninguém. Já notou? E você pode me odiar por fazê-la notar isso, já que você podia muito bem ter notado sozinha… mas é verdade.

— É verdade, eu nunca precisei de você.

Ele revirou os olhos.

— Vai ser assim agora?

— Só me responda… Se você sabia como tudo terminaria, por que ainda continuou comigo? Por que falou todas aquelas coisas na casa da Ruth? Por que você fez isso comigo? Por favor, me fale que tem um motivo realmente bom além do seu ego.

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Ele ficou quieto.

Eu fitei aqueles olhos cinzas e profundos, tão profundos quanto o Oceano Atlântico. Sufocantes, herméticos e cansados. E se me perguntassem qual a minha cor favorita, eu ainda sim, com toda certeza, responderia aqueles cinzas. Mas eu precisava de mais. Em relação a Draco, sempre precisei. Já tinha dado nossa cota, só não tínhamos percebido ainda.

Pansy dissera que aquela não era simplesmente a hora, mas eu não conseguia deixar de pensar que na verdade nós não tínhamos futuro.

— Foi o que eu imaginei... A gente se vê, Draco – eu falei dando-lhe as costas.

— Que imensa miséria o grande amor – ele murmurou – depois do não, depois do fim, reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Numa festa qualquer… É assim que termina?

— Já estava condenado, você sabe.

— Eu sinto muito, Hermione.

— Eu não.

Eu me virei para trás, como fiz todas as outras vezes. E lá estava ele. Só que eu não voltei como fiz todas as outras vezes. Eu apenas soltei um leve sorriso doloroso. Despedidas tomam a gente de um jeito muito louco.

— A questão, Draco – eu comecei –, é que isso não foi uma opção. Não foi um pedido de socorro. Você não foi minha reabilitação. Eu não precisava de você, eu te quis por perto. Esse é o ponto. Você não enxergou isso. Você não me ama, nunca amou.

Draco deu um meio sorriso e respondeu:

— A gente se vê, Hermione.

Só então me dei conta de que acabara.

[…]

— É diferente.

— Você gosta dele. Ou ele gosta de você.

— Não! Quer dizer – eu encaro minhas mãos – é diferente quando parte de outra pessoa e quando parte do seu melhor amigo.

— Você gosta dele.

— Você não entendeu nada.

Malfoy revirou os olhos: – Se ele é tão seu amigo, por que estragou sua noite?

— Não é assim que funciona.

— Sei que Pamela não daria uma dessa.

— Quem?

— Pansy Parkinson.

— Achei que vocês estivessem namorando.

— Não deu certo.

— Às vezes não dá.

— Onde quer chegar com isso?

— Que imensa miséria o grande amor – eu digo – depois do não, depois do fim, reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Numa escadaria à noite… É assim que termina?

— Não sei se ela é meu grande amor. Como poderia saber? Temos 14 anos, Granger. Acorda.

— Não é tão jovem. Cem anos atrás, as garotas se casavam nessa idade.

— Cem anos atrás, o Mundo Mágico estava um caos.

— E não está mais agora?

— O que você sabe sobre o grande amor?

— Bobagens.

— Ela não é meu grande amor.

— Ótimo, continue repetindo e então você se convence.

— O Weasley é seu grande amor?

— Nós somos amigos.

— Por enquanto.

— Malfoy… eu cansei de você. Estou subindo.

— Tchau, Granger.

— Tchau, Malfoy.

Mas quando eu me virei, ele já não estava mais lá.