Fake Girlfriend

Capítulo 2 - Shopping


Beatrice.

– Salto alto? Espera, não posso ser uma daquelas menininhas fofinhas que usam roupas coloridas e sapatilhas brilhantes, sem estar sujeita a usar algo que me deixa propícia a vários tipos de acidente? – perguntei, engolindo em seco.

– A gente não te faria usar salto alto se você não fosse um dos anões que saiu do conto de fadas da Branca de Neve – Josh debochou. Lulu deu risada.

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– Quem você acha que ela seria? O Dengoso ou o Zangado?

– Os dois, com uma mistura do Soneca.

– Ainda estou aqui! – elevei um pouco a voz.

Incrível, porque ter amigos é só passar vergonha? Talvez eu não deva ter nenhum amigo. Ou arranjar novos. Mas não sou boa em fazer amigos, então acho que vou adotar um animal de estimação.

Josh, Lulu, e obviamente, eu, estávamos esparramados um para cada canto do meu quarto. Lulu estava confortavelmente deitado na minha cama e brincava de ser sexy usando o meu dossel para isso, enquanto Josh estava sentado no meu pufe e eu estava deitada no chão.

Apelidamos o meu quarto, carinhosamente, de “Quartel General do Clubinho da Maldade”.

Mentira, é menos complicado. É “Quarto Para Se Ter Ideias Incríveis Para Ajudar o Josh”, com a simples sigla QPSTIIPAOJ.

– Seus preguiçosos malditos, levantem essas bundas daí e me ajudem a planejar o plano mais fabuloso do mundo – Lulu reclamou.

– O Lulu já beijou uma garota? – perguntei, para ninguém em particular.

– Não, mas pego mais caras que você.

Puta que pariu, quanta suavidade.

– Agradeço o coice – retruquei. – Ótimo, entendi que você quer que esse plano dê completamente certo. Primeiro, um jogo de perguntas. Os dois podem responder a uma mesma pergunta, ou simplesmente comentar. Entendeu? Não? Então vamos na prática mesmo.

– Beleza – Lulu deu de ombros.

– Okay. Há quantos anos você conhece o Josh?

– Dois e meio.

– Dez. Há, ganhei essa! – falei, fingindo animação na voz, como se fosse a melhor coisa do mundo. Josh me chutou. – Sua vez, Lulu.

Pela visão periférica pude vê-lo se mexer animadamente, ele deitou de bruços, e eu fiz o mesmo, então podíamos nos encarar. Josh se inclinou, mostrando interesse.

– Qual foi o namoro mais longo que o Josh teve?

– Boatos dizem que foram três dias. A namorada insuportável dele surtou quando Josh me apresentou a ela – reprimi uma risada com a lembrança.

– E é aí que a Bea erra! – Josh se intrometeu. – Eu já namorei uma garota por três semanas, se bem que foi falso... Era pra te irritar. Foi naquele mês em que ficamos brigados.

– Se seus relacionamentos duradouros são baseados em mentiras, deveria se casar uma lésbica assumida – disse, fitando as unhas.

– Okay, primeiro ponto em que os pais de Josh têm razão: ele é um mulherengo filho da mãe. Incapaz de assumir compromisso – disse Lulu.

– Um cachorro desgraçado que usa as bonitinhas e descarta depois – emendei.

– Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui – meu amigo fungou, fingindo estar magoado.

– Sobre o que mais os pais do Josh reclamaram? – perguntou Lulu.

– Notas péssimas – afirmei.

– Vamos te ensinar a colar, então – Lulu olhou para Josh.

– Oi? De jeito nenhum, amor. Ele vai estudar comigo pra ser gente, ser sucedido e ter grana. O que as mulheres gostam mais que rostinhos bonitos é dinheiro. E rostinho bonito acaba quando você entra na meia-idade, então só sobra o dinheiro mesmo. Não quero Josh quebrado e feio me pedindo money quando eu for rica, linda e bem casada em Paris – afirmei.

– Não viaja nos horizontes da imaginação, Alice – retrucou, com um sorrisinho de escárnio.

– Josh, não é tão difícil quanto parece. Eu juro que posso te ajudar – falei.

Lulu se virou para mim.

– Qual foi a outra coisa?

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– Se não me falha a memória, os pais dele disseram que ele é tão desorganizado, mas tão desorganizado, que tem urubu fazendo campana no quarto dele.

– Não foram bem essas palavras.

– Dá no mesmo.

Lulu fechou os olhos por uns instantes terríveis.

– Okay, eu vou reformular a Bea pra ser a nova gostosona dessa bagaça, ela vai te ajudar com as notas, mas só tenho algo a te dizer, meu filho, naquele quarto seu não trisco em uma meia.

– Tá, tá, seus bundões. Eu vou começar a virar maníaco por organização que nem vocês dois – Josh revirou os olhos.

Lulu sorriu.

– Bea, posso falar com seus pais? – perguntou, e lancei a ele um olhar descrente. – Prometo não assustá-los.

Suspirei e assenti.

(...)

– Já ouviu falar em cartão de fidelidade? É o que sua mãe mais tem nas lojas mais incríveis do shopping mais foda de Los Angeles. E por que você não se aproveita dessas vantagens? Porque é trouxa – Lulu sorriu diabolicamente enquanto fitava a bolsa de cartões da minha mãe, ao mesmo tempo em que Josh dirigia, pela segunda vez no mesmo dia, o carro do meu papai. Eu quase chorava toda vez que os pneus se moviam dois centímetros no asfalto.

– Ela é fresca. E certinha. E não se arrisca de jeito nenhum.

– Ah, estou me arriscando o suficiente por você estar dirigindo o carro do meu pai, segura sua onda aí – reclamei, também porque Lulu tinha atado minhas mãos para Josh afivelar o cinto de segurança em mim, e isso me deixou louca da vida.

Suspirei quando entramos no estacionamento gigantesco daquele maldito shopping gigantesco. Era a segunda vez que eu ia para aquele lugar no mesmo dia, ando parecendo até as patricinhas da minha escola. Que nojo.

Levamos dez minutos para achar uma vaga. Josh começou a se irritar, e eu fiquei com medo de abrir a boca para ele e pedir que voltássemos para casa, ele acabasse perdendo a paciência e me estrangulasse.

Estávamos entrando, quando Lulu puxou minha mão assim que avistou a Juicy e Josh começou a desviar de nós dois. Puxei-o pelo capuz.

– Se você tá achando que vai se safar desse castigo, está muito enganado, colega – trinquei os dentes e Josh bufou, acompanhando a mim e o amigo insano dele à primeira loja de muitas outras.

– Você não tem um moletom da Juicy. Você não merece viver, meu bem – Lulu inutilmente comentou.

Josh e eu ficamos sentados, enquanto Lulu ziguezagueava pelas araras de roupas e manequins, como se estivesse no paraíso. Ele pegou uma sacola e começou a jogar várias peças lá dentro, pretas, rosas, mescladas...

Não me leve a mal, se eu tivesse paciência e saco, me vestiria melhor. Mas eu não me sinto bonita o suficiente para me enfiar nessas coisas bonitas, como fazem as outras garotas. E estou bem assim.

Pelo menos, por enquanto, estou.

– Provadoooor! – Lulu sorriu ao jogar uns trinta quilos de poliéster, veludo e cetim em mim.

– A melhor parte – ironizei.

Josh, Lulu e eu – o trio da pesada – nos encaminhamos aos provadores. Josh, novamente tomou chá de banco, só que sozinho. Lulu entrara comigo numa cabine e trancou a porta com uma excitação não muito bem mascarada e completamente sinistra.

– Sempre soube que você queria meu corpo nu – comentei.

Lulu revirou os olhos e sinalizou que eu tirasse a roupa.

– Você quer mesmo tirar minha virgindade, não é? Eu tenho um V onde você quer um P, só para ficar sabendo – avisei enquanto tirava minha blusa verde ridícula e os shorts desfiados.

– Querida, eu tenho alergia a uma perseguida, só para ficar sabendo – retrucou, pegando seu primeiro conjunto.

Era um top rosa e branco e uma calça de cintura tão baixa que mostrava as alças da minha calcinha.

– Ficou perfeito, mas a gente vai comprar novas roupas íntimas para você.

– Mas vão o caralho – resmunguei.

– Seria uma pena se eu tivesse combinado com sua mãe que ela iria jogar todas as suas roupas num saco preto para colocar em doação.

– Eu te odeio, Lulu. Eu te odeio mesmo.

(...)

Depois de passar na Zara, Dior, Giorgio Armani, Prada, Gucci, Victoria’s Secret e todas as lojas caras que só pais ricos de gente desocupada como eu podiam bancar, Lulu, que contratara dois carregadores para as mais de vinte sacolas de joalherias, sapatarias, grifes e lojas de cosméticos que eu nunca saberia como usar, resolveu me dar um descanso e finalmente fomos para a praça de alimentação.

Josh parecia mais exausto que eu.

– Esse dia foi muito menininha. Meu Deus, agora entendi porque amo a Bea, ela nunca me fez passar por isso.

– Cala a boca, seu tratante – Lulu reclamou. – Sua falsa gata vai ficar num nível tão alto que até você vai ser um caminhãozinho minúsculo para ela.

Dei risada, e esta logo se transformou numa espécie de choro engasgado.

– Puta que pariu, ser mulher dar trabalho. Quero ter um pênis.

Lulu e Josh riram do meu comentário idiota, e meu celular apitou. Era uma mensagem da minha mãe.

Desculpa amor, mas eu não resisti, imagina só nós duas usando Louboutins? Seria épico!

PS: Não mate seus amigos, como amor, mamãe.”

Ah, ela me atira na cova dos leões e depois manda mensagem carinhosa? Comovente.

Bem, graças ao complô de Josh, Lulu e minha mãe, em breve eu estaria usando vestidos, saias, saltos altos, sapatilhas, conjuntos de lingerie e roupas que eu jamais usaria antes.

Mas graças ao meu bom Deus, Lulu poupou minhas camisetas de banda, meus converses, e até comprou novos para mim.

Eu devorei um subway melt de trinta centímetros sem ter dó. Os meninos fizeram o mesmo pedido. Depois, nós três, junto com os carregadores, fomos levar as compras para o carro.

– Obrigada, Deus – choraminguei. – Acabou!

Lulu deu uma risada diabólica atrás de mim. Senti um arrepio gelado na minha coluna.

– Oi? Amor, transformação tem mais subetapas do que você sonha em imaginar. Amanhã a gente vai te levar num salão de beleza. Pois é, enquanto você piscava, eu marquei um horário – soprou um beijo para mim.

Josh e eu empalidecemos ao mesmo tempo.

– Espero que um dia eu precise de uma ajuda super cabulosa e só tenha você para me ajudar, como está fazendo comigo agora – lancei um olhar para Josh.

– Ah, mas parece que você ainda vai precisar – Josh engoliu em seco, dando partida.