Osanana Blue: Memórias de um passado.

Capítulo dois: Você também é importante para mim.


Sábado, dia de descanso, e nossa! Finalmente eu pude dormir até tarde e isso fora um alívio. Me estiquei e meus pés ficaram para fora da coberta, senti mais uma vez que o dia ia ser bom, o ar estava alegre, meu corpo vibrava e com todas as minhas forças desejei que algo de ruim acontecesse no final do dia, como sempre acontece quando eu acordo feliz e sentindo que tudo vai dar certo.

Me arrumei sem pressa e quando desci as escadas encontrei minha casa completamente sem ninguém. Papai vivia trabalhando e acho que mamãe foi fazer compras... Sentei-me na almofada e degustei o café da manhã que já estava pronto, deixado para mim. O chá estava um tanto frio, mas mesmo assim o bebi, já que o dia bem no começo dele já estava tão quente daquele jeito.

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Eu não havia planejado nada para o dia de hoje, e droga! Eu estava tão distante de minhas amigas, preocupada em esconder minha caminhada até a colina, eu afastei um pouco todas as minhas colegas de classe e agora estou sem nada para fazer! Ajuntei a louça suja e a lavei, bom, eu já estava fazendo uma coisa pelo menos...

– Argh! Olha só até que nível você chegou Megumi! Achando que lavar louça é uma atividade interessante!

Ralhei comigo mesma. A casa estava completamente arrumada, eu não tinha videogame, meu computador estava sem internet, o jeito é dormir de novo. Enfim subi as escadas e voltei para meu quarto. Ao lado de minha agenda, que estava sob a cômoda, encontrei meu celular. O peguei para ver as horas e uma mensagem estava lá, como eu não ouvi? Talvez a mensagem chegou quando eu ainda estava na cozinha... Abri e era do Akira-kun. Meus lábios se curvaram num sorriso sem mostrar os dentes. O texto dizia:

Gumi-chan...

Você gostaria de ir ao parque comigo?

Sabe, jogar em algumas barracas, comer besteira, essas coisas (:

Você topa?”.

Passar um dia inteirinho com Akira Noguchi? Mas é claro que sim! Meus dedos digitaram rapidamente a resposta e então corri até o guarda-roupa buscando alguma roupa bonita. Akira-kun estava praticamente acostumado a sempre me ver de uniformes, já que nossa amizade só ia dos portões da escola, até a porta de minha casa, quando ele me trazia de volta da escola. Quando tínhamos por volta de nove anos, éramos inseparáveis, brigávamos juntos com os meninos da rua de cima, subíamos em árvores e não existia aquela ideia de que éramos um menino e uma menina... Apenas apreciávamos um a companhia do outro... Sei lá, às vezes me vem uma vontade louca de voltar a ter nove anos, onde minhas preocupações eram apenas voltar antes da hora do jantar e sem muitos machucados para não preocupar minha mãe. Entre esses pensamentos me vi parada em frente ao guarda roupa segurando um vestidinho branco. Aquele vestido era o que eu mais gostava e o que eu mais tinha vergonha de usar. Não por ser curto, ou vulgar, na verdade era um vestido simples e recatado, porém ele me causava um certo temor. Eu ficaria... Garotinha demais usando ele? Provavelmente o tonto do Akira me zoaria.

Bufei nervosamente e dane-se! Se ele não gostar, eu gosto!

O comprimento do vestido era mediano, ficava a um palmo acima de meus joelhos, porém tinha uma bainha de babados do mesmo tecido que o vestido era feito. As mangas eram bufantes, mas bem pouco. Nos seios havia uma divisão entre a parte de cima e a saia do vestido e em vertical, bem na parte de cima do vestido havia uma fita grossa em vertical, apertando para baixo um decote charmoso.

Com pressa e bagunçando meu cabelo eu o vesti e ficou bonito, ainda servia em mim, mesmo depois de tanto tempo pendurado no cabide. Agora a preocupação era com meu cabelo... Era curto demais para fazer um penteado diferente, seria usar o penteado de sempre, ou solto, pra variar. Uma ideia estalou em minha mente.

Peguei o pente e me sentei na penteadeira. Com ajuda de meus dedos e do pente joguei a parte direita para trás e a prendi com uma presilha brilhante de borboleta, com pequenos cristais a enfeitando. A parte esquerda ficou solta. Olhei no espelho e achei aceitável aquele novo penteado.

Como calçado, procurei algo que não machucasse meus pés, que fosse confortável, já que eu passaria quase que o dia inteiro caminhando com o Akira-kun, então calcei uma rasteirinha charmosa.

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(...)

O Noguchi mandou uma mensagem avisando que já estava em frente à minha casa e eu hesitei em abrir a porta. Sentia-me como se estivesse praticando uma corrida de três quilômetros com minha condição física atual, completamente ofegante, meu coração quase que saltando pra fora do peito, mãos suadas... Sequei-as nas laterais do vestido e com um suspiro abri a porta e lá estava ele, lindo como sempre e sem o uniforme. Me bati mentalmente, é claro que ele não viria com o uniforme, tonta!

Ele usava bermudas jeans de tecido escuro, uma blusa branca com desenhos e frases em inglês e all stars de couro preto. Antes estava sorrindo só que sei lá, de repente seu sorriso sumiu. Me encolhi e esperei pela chuva de risos e zombarias sobre o vestido branco. Seria horrível e minha garganta já se contraía em choro, só esperando a primeira palavra. Eu me trancaria e me amaldiçoaria eternamente. O suspiro dele chamou minha atenção e então ergui meus olhos, ele... Estava sorrindo novamente?

Akira estendeu sua mão e a passou do lado esquerdo de minha cabeça:

– Você está incrível.

Ele era sincero e detestava mentiras, se eu pudesse me ver, aposto minha casa que eu estava completamente rubra, como eu sempre fico diante de elogios inesperados. Arregalei um pouco meus olhos e ele estava rindo:

– Como sempre você fica sem-graça com elogios – ele disse rindo um pouco.

Eu ri nervosamente enquanto alisava meu braço esquerdo com a mão direita.

Eu também não havia mudado.

*.*.*.*

– Há quantos anos esse parque existe? Uns mil? – perguntei a Akira, enquanto eu erguia meus olhos para os brinquedos gigantes.

– Talvez. Tome cuidado pra não morrer hoje, e olha só! Já veio vestida de branco... Será a nova assombração desse parque!

Dei um soco em seu ombro direito e ri da brincadeira boba. O parque estava completamente cheio e as famílias que moravam perto de nós e do parque estavam lá aproveitando o sábado de sol. Havia diversas atrações e muitas barracas de prêmios. Para não incomodar Akira com o dinheiro que poderíamos gastar, levei alguma quantia de meu cofrinho, para nós dois nos divertirmos juntos.

Olhei em volta e vi um urso branco gigante em uma das barracas, era o prêmio máximo para quem conseguisse derrubar em um minuto e meio todos os patinhos que passavam na esteira em alta velocidade.

– Oh. My. Gosh! Eu com certeza quero esse urso! – exclamei puxando a manga da blusa de Akira, que estava distraído com outras coisas.

– Míope do jeito que é? Vai acertar as velhinhas e as crianças do parque inteiro, menos os patos – o sarcasmo passou por aqui e ficou.

– Ha, ha, muito engraçado, cabeção – murmurei.

Ele era tão lindo e o sol fazia seus pelos brilharem cada vez mais, os olhos grandes e castanhos... Aquele urso estava pedindo para ser meu! Detesto admitir, mas Akira possui uma ótima mira e age tranquilamente sob pressão, eu teria que pedir, ou melhor, implorar para ele conseguir o prêmio para mim. Com a minha melhor cara de labrador que caiu da mudança eu me virei para ele:

– Por favor, Akira-kun! Por favor!

– Argh! Pra quê quer um urso tão grande? Pensa em como vai ser um horror pra carregá-lo até sua casa!

Mais um ataque de “labrador que caiu da mudança”, talvez ele amolecesse. E eu estava quase conseguindo:

– Eu te ajudo! Por favorzinho! Por favor com uma cereja em cima! – eu segurava suas mãos, até que minhas amigas passarem em frente a nós dois. Oh droga. Sinto que semana que vem existirão boatos sobre mim e Akira de mãos dadas no parque de diversões.

A primeira a se pronunciar foi Luka, uma giganta do terceiro ano. Era popular por ter a personalidade sombria e ser uma pessoa extremamente reservada, que sempre dizia não a todos os garotos que a convidavam para sair. Ela era linda, seus cabelos eram longos e cor de rosa, seu corpo era de dar inveja, até em mim, com essa beleza de corpo de tábua de passar. Luka estava acompanhada por Miku, que era do segundo ano. Usava o costumeiro penteado infantil: duas Marias-chiquinhas no topo da cabeça e franja. Ela era gentil e receptiva, sempre sorrindo para todos. Era uma ótima amiga. Rin também estava com elas e era uma menininha da oitava série de cabelos louros e curtinhos. Seus olhos eram azuis celestes e ela adorava usar seu famoso lacinho branco e os dois grampinhos que seguravam a franja longa para não tampar sua visão.

– Gumi-chan! Isso é um encontro? – Luka... Discreta como um elefante laranja de bolinhas roxas.

– Q-quê? Claro que não! – me engasguei com minhas palavras, mais uma vez eu estava vermelha. Quando o assunto são elogios inesperados e perguntas em relação ao meu relacionamento com Akira, corar e negar são as únicas opções.

– Mas nós vimos vocês de mãos dadas e... – Miku falava, tentando encontrar pontos para afirmar que eu de fato estava em um encontro com Akira. De certa forma era, mas como amigos!

– É verdade! Nós vimos muito bem a Gumi-chan toda derretida segurando sua mão, Noguchi-senpai! – Rin cutucou as costelas de Akira, que estava mais morto de vergonha que eu, ele que tem sempre uma resposta agora estava calado e sem-graça.

– Eu estava implorando pra ele tentar matar os patos para eu ganhar a porcaria do prêmio, só isso – respondi irritada.

As três se viraram para a barraquinha e tiveram as mesmas reações que eu, todas quiseram conquistar o urso e já foram logo pedindo as armas para o dono da barraca. Meu maior medo era que elas conseguissem, eu queria tanto o ursinho... Fui surpreendida por um toque inesperado: Akira segurou minha mão e me puxou para caminharmos entre a multidão. Eu parei, voltando o olhar para a barraca com os ursos de pelúcia:

– Elas nunca conseguirão, anda. Deixe que elas gastarem todo o dinheiro lá e no fim do nosso passeio eu prometo tentar pegar o urso pra você – ele sorriu.

E como eu adoro esse sorriso! Me senti agradecida por ter um amigo como ele e mesmo que ele nunca correspondesse meus sentimentos, eu ainda me contentaria em ter sua amizade, porque é tudo o que eu tenho de mais precioso.

Mais uma vez olhei para trás eu pude ouvir os gritos nervosos de Rin, berrando com Miku, algo sobre a mira dela não valer o que ela comia. Ri e continuei seguindo Akira-kun.

(...)

– Vamos em qual brinquedo? – Akira girava os olhos, procurando o brinquedo mais legal e que valesse nosso dinheiro.

– Hm... Barco Viking! – apontei para o enorme barco carregado de pessoas, que se balançava alto, fazendo todos gritarem.

– Vamos lá então!

Pagamos com duas fichas e entramos na fila. Eu estava completamente nervosa. As pessoas que estavam antes e depois de nós conversavam animadamente sobre como seria ir no brinquedo e os que estavam repetindo o passeio gritavam quão viciante era a sensação de sentir o friozinho na barriga e depois o alívio de sentir o barco parando.

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– Está com medo? – Akira me acordou dos meus devaneios.

– Um pouco... Eu nunca fui nesse brinquedo – confessei sorrindo sem-graça.

– Ah! Sua primeira vez será comigo, que fofo! – ele sorriu e apertou minhas bochechas.

Droga. Eu estava sentindo um calor dominar minhas bochechas e todo meu rosto. Se eu estivesse de óculos, as lentes dele estariam completamente embaçadas. Será que havia algum duplo sentido na frase dele? Ai caramba. Ele notou minha cara de vergonha e corou também, da mesma maneira como ele fica quando está cm vergonha: ergue uma das sobrancelhas, arregala os olhos e fica completamente vermelho.

– N-não! Não foi isso o que eu quis dizer! Tipo... Argh, como eu sou idiota! B-bem, você entendeu o que eu quis dizer, não com maldade... Ah, eu não vou mais explicar, você sabe o que eu queria dizer – Nervoso, cruzou os braços, desviando seus olhos de mim.

Eu ri de seu nervosismo e então com o início de uma gargalhada ele descruzou os braços e desfez a careta de raiva e riu junto comigo. A fila caminhava rapidamente, já que o barco abrigava muitas pessoas de uma vez só. Era engraçado ver algumas pessoas que estavam morrendo de medo, ou as outras que eram corajosas que erguiam os braços e sentiam o vento em seus rostos, sem medo algum. Era incrível a altura que o barco empinava, quase que dando uma volta completa e depois voltava de costas, pegando mais impulso ainda.

Depois de se balançar por diversas vezes, as pessoas saíram pela fila oposta e agora era finalmente nossa vez. Sentei-me no centro do barco, no meio de outras pessoas, mas... Cadê o Akira?! Me assustei e com os olhos procurava por ele, não havia como sair, já que as laterais foram ocupadas por outras pessoas e eu estava espremida no meio delas. Um assovio chamou minha atenção. Era Akira, ele estava sentado de frente para mim, do outro lado do barco.

– Aproveite – pude ler seus lábios se movendo lentamente.

As travas de segurança desceram, prendendo nossas pernas e cinturas, o corrimão frio servia para segurarmos também, caso sentíssemos medo. No alto-falante uma voz masculina cheia de desânimo nos avisou que caso sentíssemos algum mal estar, era para cruzarmos nossos braços em frente nosso peito em formato de X.

Lentamente o barco pegava impulso e eu olhei para as bases que sustentavam o barco no ar e nossa! Elas estavam enferrujadas e sua pintura estava descascando! Todo rastro de coragem se esvaiu de mim. Já pensou se o barco estivesse lá no alto e essas malditas bases se soltassem? Todo mundo ia voar pra onde o Judas perdeu as botas, as calças, a roupa, ai meu senhor...

Akira balançava os braços e gritou:

– Uh... Senhorita assombração! – e gargalhou como se não houvesse amanhã.

– Idiota! – bradei e ele riu ainda mais.

Retirando o celular do bolso ele ameaçou tirar fotos de mim naquele estado: cabelos balançando contra o vendo, cara de esquilo assustado e pálida como um lençol recém-lavado.

– Não ouse fazer isso!

– Me obrigue! – e eu pude ouvir o som do clique da câmera do celular.

Eu estava falando, provavelmente eu saí com fazendo uma careta! Quando ele sentiu que o barco estava balançando mais forte, tratou de guardar o celular no bolso e segurou no corrimão gelado. Balançava alto e era inevitável não sentir aquele frio quando o barco subia e voltava. Porém o Noguchi não se importava, ria, gritava e erguia os braços, sentindo o vento passar entre seus dedos.

Alguns teimosos tentavam tirar fotos e eu pude ver seus celulares e câmeras caírem, e mesmo sendo um pouco de maldade, eu ri das caras de desespero deles, procurando entre os pés das outras pessoas os seus pertences. Enfim o barco parava seu balanço lentamente até finalmente parar na plataforma, onde nós iríamos sair pela fila oposta.

As travas se levantaram e então nós saímos. Do lado de fora eu o encontrei:

– Agora você tem um novo método para bagunçar seu cabelo! É só vir até aqui no barco viking e pronto!

– Fala como se seu cabelo estivesse arrumado – ele fechou os olhos e cruzou os braços, depois se virou para mim – deixa que eu ajeito, não faz essa cara de choro, você sabe que eu estava brincando.

– Eu não estou com cara de choro! – protestei enquanto ele se aproximava e se abaixava até ficar próximo a minha altura.

– Tá sim. Você é a menina mais chorona que eu conheço! – ele tentava arrumar minha franja e a presilha com a borboleta, porém ele não levava jeito nenhum.

– Talvez seja porque eu sou a única menina que você conhece – eu o alfinetei. Porém isso não era verdade. Com seu crescimento, sua beleza aumentou ainda mais e isso chamou a atenção das meninas de nosso colégio. Era esse um dos motivos por eu ter me afastado dele. Na verdade não fui eu quem se afastou... Era uma multidão enorme para ser transposta e eu desisti de tentar penetrá-la.

– Un-rum, se você diz, Megpoid – ele tentou responder enquanto segurava minha presilha com os dentes. Seu rosto estava extremamente próximo ao meu e eu podia enxergar cada risca que existia em sua íris castanho-dourada, cada pigmento e mudança de cor. Sua respiração batia com a minha, fazendo cócegas em meu rosto. Não seria hoje que ele conseguiria arrumar meu cabelo. Com tom de desistência tirou a presilha da boca e a colocou em minha mão, depois passou seus dedos entre meus fios verdes, trazendo a parte que estava atrás para o lado – deixa assim. Você fica bem de cabelo solto.

Minhas amigas novamente passaram por nós. Rin sem se conter gritou para os quatro cantos do parque:

– Mas ele vai beijá-la! – Luka e Miku seguraram a pequena e arrastaram-na para qualquer canto distante de nós, acenando para mim e Akira.

– Isso foi constrangedor – murmurei.

– Ô! Como você anda com essas doidas? – Ele colocou as mãos no bolso e nós continuamos nossa caminhada pelo parque de diversões.

– Digamos que quando um certo alguém estava distante demais, elas se aproximaram e se tornaram minhas amigas – destilei um pouco de minha mágoa no ar Akira pode captar as palavras nas entrelinhas.

– Un. Você estava acompanhada também, além do trio de malucas.

Desta vez eu não consegui entender o que ele queria dizer com aquilo. O dia estava passando rápido e eu ainda tinha que ir até a colina! Como pude esquecer-me disso?

– Eu não entendi Noguchi, seja mais direto, sim? – respondi com um tom humorado.

– Você também reuniu seu time de admiradores, porém não percebeu isso ainda porque é inocente demais – ele encarava as nuvens se movendo.

– É coisa da sua cabeça preocupada. Você é superprotetor hein? – virei meu olhar para o rosto dele, que tentava não demonstrar algum sinal de preocupação.

Ciúme?

– Tenho que me preocupar. Você é uma parte essencial de meu passado, não posso simplesmente deixar isso morrer sabe? Seria uma perda significativa.

O ar parou no meio do caminho e eu quase me engasguei com as palavras dele. Era incrível e maravilhoso saber que mesmo depois de tantos anos separados, nós ainda nos considerávamos importantes um para o outro e eu senti uma fina camada de lágrimas se alojarem em meus olhos e se eu fechasse meus olhos elas escorreriam pelo meu rosto.

– Você... Você também é muito importante para mim, Akira-kun – sorri para ele e o bobo apertou minha bochecha.

Bem que ele poderia mudar esse hábito tão irritante.

(...)

Nos divertimos em quase todos os brinquedos, porém nosso dinheiro estava quase no fim, então decidimos voltar até a barraca de tiro no patinho e eu torcia com todas as minhas forças para que o urso não tivesse sido conquistado por alguém mais habilidoso que o Akira-kun. Caminhamos rapidamente até a barraca e para minha alegria o ursão branco ainda estava lá. Luka, Rin e Miku não o conseguiram e provavelmente foram tentar a sorte em outra barraca.

– Se eu não conseguir, saiba que eu tentei – ele disse enquanto retirava a franja dos olhos.

– Hn! Eu estou torcendo por você, se esforce!

Akira deu algumas notas para o dono da barraca e se posicionou da maneira que ele achava melhor para acertar os patos. A sineta estridente soou, indicando que o tempo do moreno já havia começado a correr. Ele mirava com calma e com habilidade acertava os patos, poucos eram os que conseguiam escapar dos tiros precisos dele.

Eu mordia a unha do polegar de minha mão direita, nervosa. O tempo estava prestes a acabar e faltavam três patos que estavam distantes um do outro. O senhor da barraca sorria, pensando que o “rapazinho” não conseguiria conquistar o prêmio máximo. Porém para nossa surpresa ele acertou o pato bem no exato momento que a sineta soou.

– Desculpe garoto, mas o urso não será de vocês, mas tem outros prêmios, escolhe aí.

Mas como? Ele havia acertado no último segundo! Todos os patos foram derrubados, aquilo era uma injustiça enorme! Coloquei as mãos na cintura:

– Hey! Ele conseguiu matar todos esses patos infelizes, pode passando pra cá esse urso, não venha tentando passar a perna em nós porque não somos bobos!

Algumas pessoas concordavam conosco e o vendedor sem vergonha teve que me entregar o urso lindo e gigante. Como eu me senti feliz! Puxei o urso das mãos dele e o abracei como um amigo que a gente não vê há muitos anos. E ele nem era tão pesado assim como Akira havia imaginado, dava para eu segurá-lo sozinha. A maioria do pessoal conhecia a fama do enorme urso branco e nos saudavam, alguns nos paravam no meio do caminho, perguntando quem havia atirado em todos os patinhos e orgulhoso, Akira dizia que fora ele e contava sobre a pressão e a injustiça do dono da barraca. Eu não iria estragar seu momento de glória, então não atrapalhava com as explicações para o pessoal, eu estava feliz demais com meu novo urso de pelúcia.

– Meu dinheiro está acabando – ele suspirou pesadamente.

– O meu também. Muito obrigada pelo urso, mas eu poderia ter pagado pelas fichas!

– Nem! Considere como um presente completo.

Hoje o dia estava sendo perfeito.

– Gumi-chan, vire-se pra cá – Akira estava a alguns passos de distância de mim e quando eu me virei com o urso, ouvi o clique da câmera do celular.

– Ei! Eu não queria tirar uma foto, seu tonto!

– Nah, para de reclamar, olha só como ficou! – ele me mostrou as imagens e havia algumas que eu ainda não tinha notado que ele havia tirado. Com exceção da que ele tirou de mim no instante em que estávamos no barco viking que estava horrorosa, as outras estavam incríveis, inclusive a do urso que ele tirou de surpresa.

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– Wow! Você é um ótimo fotógrafo! Porque está querendo ser médico?

– Porque dá mais dinheiro – ele respondeu sem humor.

– Não está fazendo pelas pessoas? – eu havia me assustado com sua resposta tão breve e sem sentimentos.

– Eu até posso fazer, mas não seria algo que eu queira.

“Seu pai é médico. Me lembrei”.

Eu não queria deixá-lo tão triste em um dia tão alegre e perfeito como o dia de hoje, estava ótimo para mim e eu queria que ele se sentisse tão feliz quanto eu. Ao longe eu vi a roda gigante e senti vontade de convidá-lo, desta vez seria eu quem pagaria pelas fichas.

– Vamos na roda gigante?

– Claro – ele respondeu forçando um sorriso.

Abri a portinha e com algum esforço enfiei meu urso lá dentro, então ficou dessa forma: perto do canto direito Akira, eu no meio e o urso na outra lateral. Morro de medo de altura, mas a imagem da vista de lá de cima era tentadora. Enfim a roda começou a girar e eu pude ver a cidade, a colina, as pequenas casas coloridas, os prédios... Era de tirar o fôlego.

Eu estava me divertindo tanto, mas Akira continuava quieto, pensativo. Eu realmente não devia ter tocado no assunto “futuro emprego do Akira” e me arrependi por ter feito isso.

– Olha só, a colina! Argh, o que foi isso?

– A roda parou Gumi. Agora podemos apreciar a vista daqui do alto – ele apontou para os cantos da cabine e eu admirei cada canto que pude ver, é claro, sem me movimentar muito, eu estava morrendo de medo de estar lá em cima, mas não deixava de aproveitar cada segundo.

O sol deixava seus olhos ainda mais dourados e seu rosto um pouco mais claro. Eu o amava tanto... Por tudo que havia feito por mim, por ser meu passado e porque mais que tudo eu ansiava que ele fosse em meu futuro. Porque era tão difícil dizer tudo o que eu sentia? Ah sim. O medo de ele dispensar meus sentimentos e se afastar mais uma vez de mim. Uma vez já foi difícil, mais uma e eu morreria por dentro.

Minha inner berrava para beijá-lo, como se eu mesma não quisesse fazer isso. Eu me inclinaria e fecharia meus olhos para sentir pela primeira vez o beijo dele, na verdade o primeiro beijo que eu receberia de alguém. Já estava ficando difícil respirar com tanta expectativa dentro de mim.

– Akira-kun?

Ele estava com o braço apoiado no canto da cabine e sua cabeça apoiada em sua mão fechada, estava admirando a vista gloriosa que fomos presenteados.

– Sim? – virou o rosto para mim e sua bochecha estava marcada pela pressão de seus dedos.

– Isso... Isso é... Ahn...

– Isso o que?

– Foi um encontro? – eu disse despejando rapidamente minhas palavras contra ele.

Ele abaixou os olhos e encarou suas mãos que apertavam uma contra a outra, buscando a melhor resposta.

– De certa forma foi, eu te chamei e você veio. Mas está mais pra um passeio mesmo, não acha?

Ah sim, claro. Todas as minhas expectativas foram por água abaixo, mas eu não choraria, nem reclamaria, ele é um ótimo amigo e apenas me enxerga como sua amiga de infância. Porque isso me incomoda tanto? Eu deveria de ter me acostumado com a ideia.

– Bem... Você está linda, eu ganhei um urso pra você. Suas amigas tem razão em pensar que você está em um encontro.

Eu nunca entenderei onde ele quis chegar com tais palavras, porém sorri e senti a roda voltar a girar e depois de uma volta completa nós descemos. O pelo macio do urso roçava contra minha bochecha e fazia cócegas em meu nariz. Caminhamos por uma trilha e então chegamos até a colina, bem a tempo de assistir o sol se por.

Era o dia quarenta e sete, faltavam mais quatro dias até meu prazo se encerrar e eu ainda julgava não estar pronta para dizer a Akira-kun que eu o amo.

O melhor a se fazer era sentir o calor morno do fim da tarde e agradecer por ter tido um dia tão feliz.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.