Wyrda

Wyrda fica para trás


— Eu lamento ter escondido tudo isso por tanto tempo. Era direito de vocês saberem desde o início, mas as circunstâncias apontaram o sigilo como melhor opção, e eu espero, não só como Mestre, mas como um amigo de cada um de vocês, que compreendam. Não omitimos mais nada, tudo o que está acontecendo lhes foi dito, e as opções foram propostas — O alívio que tomou conta de si foi como um peso retirado dos ombros — A escolha é de vocês.

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Eragon havia contado tudo para seus Cavaleiros, havia explicado toda a situação e suas implicações. Enquanto falava, todos permaneceram em silêncio, sem contestação e discórdia, devido talvez à perplexidade que a notícia lhes trouxe. O efeito de suas palavras era claramente visível. O silêncio falava por si só.

Elfos mantinham a expressão chocada, mãos postas sob as faces, bocas escancaradas, olhos fixos que evidenciavam o medo que sentiam. Era um povo fiel. Amavam Arya como amavam seus pais, e saber que sua Rainha estava no leito de morte atingiu-os com proporções incalculáveis.

Os anões, humanos e Urgals estavam também chocados. De toda maneira, a situação implicava em muitas consequências, não só na raça dos elfos, mas igualmente para eles. A paz era um elo frágil, ainda mais depois de tantos anos. A Alagaësia era um território minado, e a paz daquelas terras dependiam da confiança que cada raça depositava nas outras. Um passo em falso, e... tudo poderia ser posto à baixo. Cada Cavaleiro, independente da raça, sabia disso, e além de temeram a perda de uma Cavaleira, temiam o fim de alianças, e consequentemente, da paz.

Pelos anões, um povo agarrado às suas tradições e que tinham uma política complexa que não dependia tão somente do Rei, o perigo se encontrava no fato de que, se levados à acreditar que essa omissão poderia tê-los prejudicado ou, fora uma traição, duvidariam da imparcialidade que a Ordem deveria ter com as raças. Nenhuma raça deveria ser beneficiada ou prejudicada em relação às outras, esse era um acordo de extrema importância.

Pelos humanos, que controlavam o poder na Alagaësia, o perigo era o mesmo. Se considerassem que estavam sendo postos de lado diante decisões tão grandes, ou que a Ordem não depositava confiança suficiente para incluí-los em tais decisões, não só o alto poderio influenciaria, como a massa. E assim, tudo poderia acontecer, desde rompimentos, até eventuais conflitos por parte do povo, que poderia vir a se sentir inferior. A raça de humanos já predispunha desse sentimento de inferioridade quanto às demais raças, e isso poderia ser o estopim.

Os Urgals, incrivelmente, eram os que ofereciam menos risco. Eles não faziam questão de interferir diretamente em decisões das outras raças, portanto isso não os ofenderia. O máximo que poderia acontecer era que apoiassem algum lado, o que era pouco provável.

Eragon pensava isso na mais extrema das circunstâncias. Nada disso era certo. Eram possibilidades, mas a real reação só poderia ser comprovada quando chegasse aos ouvidos de todos. Ele pensava até que todas essas suposições que havia feito acerca dos povos era um exagero, mas não pagava para duvidar. Ele sabia como os humores eram ferozes nesse quesito.

Pelo menos ali, na Ilha, reagiram de forma a apoiá-lo. Muitos discordavam que o segredo tivesse sido mantido, mas não criaram discussões. O peso da realidade era mais forte que possíveis discórdias. Boa parte deles até compreendia, eles sabiam como todo tipo de política era traiçoeira.

Após um tempo em que eles refletiam, Eragon retomou seu discurso.

— Eu proponho então, que decidam se me acompanham ou ficam e honram seus títulos aqui, como defensores. É preciso que lembrem que a a batalha não pertence só a quem está na linha de frente, todos, sem exceção, são essenciais. Digo isso pois, não quero que pensem que ao optar por ficarem, estejam se acovardando ou ignorando a missão. Não, os que ficarem serão tão úteis quanto os que forem. E terão a enorme e honrosa responsabilidade de ficar e guardar a Ilha em minha ausência.

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Eragon escolhera bem essas palavras, pois queria que eles compreendessem que também era preciso que ficassem ali. Após terminar essas palavras, um anão que estava no ponto mais distante do Pátio ergueu o braço, e com voz firme, anunciou:

— Eu fico, e honrarei tal responsabilidade!

Alguns poucos segundos se passaram até que outro anão, em voz rouca gritasse:

— Também hei de ficar!

E a seguir, um humano:

— O meu lar eu honrarei, aqui permaneço!

Aos poucos, outros se pronunciavam, anunciando que ficariam. Isso surpreendeu Eragon, e encheu-o de orgulho: seus Cavaleiros não eram movidos por atitudes irracionais, eles compreendiam seu dever e missão.

Até mesmo alguns elfos anunciaram que ficariam. Diziam que a ida deles nada mudaria, e que a Ilha precisaria deles, ou que estiveram há pouco em sua terra, e embora lamentassem profundamente o estado de sua Rainha, não tinham disposição para voar até lá. Muitos diziam, com vozes embargadas que a sua presença nada ajudaria, senão a formar multidão e chegar a prejudicar a missão.

O Cavaleiro Azul pediu que os que fossem, levantassem as espadas. Contou 17 Cavaleiros, um número pequeno e surpreendente, já que acreditava que a maioria se candidatasse à viagem.

— A atitude para com o dever, me admira e me orgulho imensamente de vocês, Cavaleiros. Eu conheço cada um de vocês não só pelo nome, mas por cada indivíduo que são. Sei que são leais à nossa causa, e sei que são bons e puros de coração. São benfeitores. Digo isso para que saibam que não são considerados apenas um instrumento, jamais! São a estrutura de paz e bem!

Inflados pelo breve porém estimulante discurso, ergueram suas espadas multicoloridas e bradaram aos céus. Um grito de união que se misturou ao rugido dos dragões. Apesar do misto de sentimentos que permeava o Pátio, eles se orgulharam de serem Cavaleiros. E Eragon se orgulhou de ser o Mestre deles.

— É preciso que saibam que parto logo, ainda hoje. Os que vão, se preparem de imediato. Como sabem, é de urgência que cheguemos o mais breve na Alagaësia e em Ellesméra, o que nos leva a uma viagem ininterrupta e exaustiva. Dentro de uma hora, no máximo duas, parto. Me encontrem no cais, e estejam preparados. Não terei tempo para esperar, portanto não se atrasem. E aos que ficarem, protejam e guardem a Ilha. Honrem nosso lar — Eragon desembainhou Brisingr e ergueu-a, vendo a luz azulada que ela lançava ao chão. Buscou Saphira com o olhar, e seu dragão rugiu, como em saudação — É chegada a hora de nos despedir. Lutarei o máximo para salvar a Cavaleira e Rainha, e peço que mesmo daqui, mandem as vibrações mais positivas. Espero que ao meu regresso, tudo tenha ocorrido bem. Atra du evarínya ono varda.

Houve um silêncio respeitoso e ele se virou, ao mesmo tempo que os Cavaleiros se dispersavam e se iniciava o burburinho.

Foi mais fácil do que imaginamos, Saphira interveio em sua mente.

Isso porque eles são fiéis à Ordem, eles têm noção da verdadeira missão, Eragon não negava o orgulho que sentia. Como ele já havia declarado, sentia-se como um pai para os Cavaleiros. Ele literalmente os vira crescer.

Mais uma prova que fizemos bem nosso trabalho, Saphira lhe disse, embora mais resguardada ela também se orgulhava.

Sem dar continuidade ao assunto, Eragon seguia rapidamente para a Sede. Lá, em sua sala, organizou rapidamente alguns documentos de interesses da Ilha, e sem demora montou em Saphira. O dragão, que voava velozmente sobre uma extensa área gramada não intervinha nos pensamentos de Eragon, mas ele sabia no que ela estava pensando. Sorriu discretamente, evitando que ela notasse sua pequena invasão. Aprumou-se e logo avistou sua cabana.

Tão logo adentrou pela porta, já corria em busca de tudo que fosse precisar. Em uma bolsa que amarraria à sela de Saphira colocou algumas vestimentas, calçou uma bota resistente, amarrou à cintura um cinto que se camuflava na camisa bege onde guardaria pequenos objetos, dentro de outra sacola organizou mantimentos, na maioria grãos e alguns pedaços de pão. Em um cantil de grande tamanho estocou água que julgou ser suficiente para si, e por precaução, fez o mesmo com outro.

Há muito, muito tempo não viajava por longas distâncias, mas ainda se lembrava do frio que sentia durante essas viagens. Já preparado, por cima da camisa jogou um colete que lhe privaria do frio, e lembrando-se ainda das mãos, calçou luvas de couro que recebera de presente de um Cavaleiro chamado Kiwä, que agora vivia na Alagaësia.

Julgou-se preparado. Enquanto estava ali, Saphira havia voado para um dos rios próximos para se abastecer de água e, se possível, caçar algum animal vagando por ali. Enquanto ela não voltava, foi até sua biblioteca. Por força do hábito, que não abandonava, olhou as estantes e objetos. Desviou o olhar de tudo que tivesse relação com Arya. Não queria pensar naquilo agora, não diretamente.

Vagueou à toa, e logo percebeu a aproximação do dragão azul. Sem prolongar-se na casa e sem demonstrar qualquer atitude que denunciasse o receio de deixá-la pela primeira vez, encostou a porta e com uma palavra selou-a, deixando a cabana completamente protegida.

Matou a sede? Ele perguntou enquanto levava os cantis e as pequenas bolsas até Saphira.

Receio que tenha secado o rio, as pedras tornaram-se visíveis e eu pude ver os peixes, o dragão disse sem nenhum indício de estar brincando.

Então eu receio que alguns elfos irão ficar muito zangados com você, Eragon riu, até o centro da Ilha você carrega esses cantis, e eu levo as bolsas, lá nós pegamos sua sela e ajustamos tudo.

O dragão apoiou-se nas patas traseiras, e com as dianteiras agarrou o estoque de água. Eragon subiu em seu dorso com destreza, e lá de cima, com um aceno e dizendo “Reisa!” as bolsas voaram para suas mãos. Tão imediatamente estava segurando-as, Saphira se impulsionou e alçou voo.

Ele ainda evitava pensar, por isso deixou que a mente vagasse sem rumo. Mal notou, já estavam descendo ao Pátio, onde muitos Cavaleiros ainda se concentravam. Viu de longe a enorme sela que era destinada para Saphira. E perto à entrada viu o gigantesco dragão vermelho e logo ao lado distinguiu Murtagh.

Abriu-se espaço para eles, então o Cavaleiro azul desmontou Saphira e foi até Murtagh. Atrás dele, Eragon não havia notado, estava Alanna, vestida como preparada para a guerra e em seus braços o dragãozinho, que já parecia familiarizado com ela e mordiscava seu ombro.

— Tudo pronto, então?

— Tudo em ordem, irmão. Eu lamento tanto não ir, é realmente meu desejo acompanhá-lo — lançou um olhar pedinte, mas não atingiu Eragon.

— Alguém tem que ficar com a parte chata, e hoje esse alguém é você. Cuide bem dos Cavaleiros, e por favor não incendeie a Ilha — sorriu e apoiou as mãos no ombro do irmão — Torça por mim.

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— Torcerei, Eragon — Ele deu um abraço rápido no Cavaleiro e apontou para trás — Alanna decidiu ir. Tentei convencê-la do contrário, apontei os perigosos, mas nada a fez mudar de ideia. Disse que não pode ser apenas coincidência que tenha se tornada Cavaleira justo hoje — abaixou a voz, e como em confidência disse: — Ela é um pouco estranha.

Eragon sorriu, apreensivo. Sim, ela era.

— É hora de partir, irmão. Trate dos assuntos importantes, comunique à Alagaësia que não levará o ovo agora, convoque uma reunião pelos espelhos e conte-lhes a verdade, não há como adiar, e os elfos entenderão, assim espero. Minha promessa de sigilo não pode mais ser mantida, não em tais condições.

— Logo que partir convocarei uma reunião com os elfos e explicarei-lhes a medida que adotaremos.

— Obrigado. Não posso mais me prolongar — esticou o corpo para ver por cima do ombro de Murtagh — Alanna, venha. Eu teria preferido celebrar sua conquista com festa, mas não é possível. Suba no dorso de Saphira, ela te ajudará.

Saphira agora com a sela, que haviam vestido nela nesse tempo, esperava já em posição.

Somente em sua mente, ela protestou: Ninguém mais pode levá-la? Eragon ignorou o comentário. A elfa foi até ela, com receio, e o dragão em seu colo fixou os olhos em Saphira, admirado. Ela escalou as escamas do enorme dragão, que vibrava levemente. Quando chegou ao topo, sentou-se na sela e amarrou as tiras de couro em suas pernas. Uma espécie de cesta fora acoplada à sua frente, para o pequeno dragão. Ela carregava apenas uma bolsa lateral, e de lá retirou uma manta com que o cobriu carinhosamente. Ele continuava com as órbitas rosadas fixadas nas escamas de Saphira, atento.

Eragon e Murtagh disseram palavras de boa sorte na Língua Antiga e despediram-se com um abraço. Ele escalou-a novamente e ajustou-se às tiras de couro resistente, à frente de Alanna. Um impulso e já estavam no alto, ele desembainhou Brisingr e acenou. Viu os Cavaleiros fazerem o mesmo, e espadas das mais variadas cores cintilaram, lançando reflexos e colorindo o cenário. Dragões rugiram, e Saphira respondeu. Alanna mantinha silêncio, e Eragon também nada dissera. Logo, já estavam longe, avistando no horizonte o cais e outros dragões, já preparados também.

Ao avistarem Saphira, um por um ergueu-se ao Céu. Eragon podia reconhecê-los. O dragão cinza Niklaus, ia montado por seu Cavaleiro anão, Gadfur. Um pouco atrás ia Böotes, um humano de Kuasta com seu dragão laranja claro Altarf, e a seu lado ia Archibald, outro humano, mas de uma vila ao sul da Alagaësia, com seu dragão marrom Arkab. Haviam ao todo, três anões, cinco humanos e nove elfos ali, sem contar com Alanna. Um dos elfos, Eltanin, acenou das costas do dragão azul claro e cintilante, Ruchbah. Eragon devolveu o aceno, e assim, todos já estavam no céu, preparados.

Na Língua Antiga, disse o encantamento que garantiria que os Cavaleiros não saberiam a localização de Wyrda. Eram palavras simples, mas que surtiam o melhor efeito, confundindo-os no trajeto e fazendo-os esquecer quando estivessem na Alagaësia.

Conforme se distanciava, Eragon sentia que uma parte de si ficava. Quando deixou a Alagaësia também havia se sentido assim, incompleto. Uma espécie de onda de excitação passava pelo seu corpo, uma ansiedade e também medo.

Ao olhar para trás, deu com os olhos nos olhos de Alanna. Ela encarou-o, mas desviou o olhar, voltando a atenção para o pequeno amontoado à sua frente. Eragon passou a fitar o horizonte, onde pouco a pouco a linha de terra de Wyrda desaparecia. Quando nenhum pedaço do território era visível, e seu pescoço doía pela posição, uma curiosidade assomou-se dele. Alanna não havia contado o nome do dragão.

Temia ser indelicado, mas a curiosidade era maior. Voltou a observá-la, e a elfa mantinha os olhos em seu dragão. Acariciava os pequenos espinhos esbranquiçados em ser dorso, e o dragão permanecia parado, com os olhos pregados ao brilho das escamas de Saphira.

— Alanna-Finiarel — chamou-a pelo novo título, e lentamente ela levantou os olhos para fitá-lo — ainda não nos disse o nome que batizou seu dragão.

A elfa sorriu. Era um sorriso sincero e até mesmo ingênuo. Naquele sorriso, Eragon viu refletido o amor que a elfa passara a sentir por seu dragão, e como era de se esperar, o laço Cavaleiro e dragão estava feito.

— Ebrithil, eu não lhe dei um nome. Não se dá um nome para um dragão. Ele nasce com ele.

Eragon também sorriu com sua reflexão. De fato, o nome de um dragão nada mais era do que algo intrínseco a ele.

— Então, qual é o nome de seu dragão?

Outra vez, um sorriso estampou-lhe a face. Um sorriso de orgulho, amor e felicidade. Os olhos da elfa brilhavam como jamais brilharam antes, e ela baixou as pálpebras, ergueu o rosto, fazendo com que os raios de sol o iluminassem com uma aparência quase divina. Voltou o olhar e a face para Eragon, e passando as mãos pelo pescoço fino do dragão, disse:

— Mor'ranr é o nome dela. E eu tenho certeza que seu nome profetiza o que ela trará: paz.

Eragon admirou-se com o nome, e ainda mais com a confiança da elfa.

— É um bom nome, e seu significado vê-se estampado em seu rosto — ambos sorriram — diga-lhe que, estou aqui e desejo-lhe as melhores coisas que a vida pode lhe oferecer, além de que tenho certeza que será um dragão incrível.

— Ela gosta de você, posso sentir. Ainda não está preparada para falar com você, mas em breve eu tenho certeza, estará. Ela admira excepcionalmente Saphira. Não pára de olhá-la.

O dragão azul, que voava silenciosamente, encheu-se de orgulho. Eragon riu, sentindo que o ego de sua companheira era quase palpável.

Seja bem-vinda, Cavaleira, as palavras de Saphira foram suaves, para não assustar Alanna com o contato mental, aprecio suas palavras.

Alanna não pareceu assustada, e respondeu Saphira em voz alta:

— É uma honra, Bjartskular.

Percebendo as intenções de Saphira, Eragon avisou-a:

— Diga para Mor'ranr que Saphira deseja abençoá-la.

Alanna sorriu e fechou os olhos, poucos segundos depois balançou a cabeça em concordância.

Saphira então, disse na mente dos três:

Eka, Saphira Bjartskular un iet Shur'tugal, ethgri aí celobrasja wyrda eom thronessa Skulblaka. *

O pequeno dragão rosa estremeu e se contorceu agora nos braços de Alanna. Ergueu o pescoço e fitou Eragon, as órbitas absorvendo toda a luz e com um grunhido baixo, voltou a se aninhar em sua cesta.

— Ela sente-se honrada por ter recebido uma benção do maior e mais honrado dragão. É o que eu interpreto por seus pensamentos — Alanna continuava sorrindo, e Eragon notou que os traços da elfa traiçoeira e misteriosa haviam se extinguido.

Depois disso, seguiram viagem em silêncio por muito tempo. Saphira sentia-se satisfeita e liderava os dragões, voando em um ritmo acelerado mas que todos pudessem acompanhar. Alanna e Mor'ranr iam silenciosas, com Alanna ainda acariciando suas escamas e o dragão firme em admirar Saphira. Eragon, por sua vez, não tirava os olhos do horizonte à sua frente. O mar se estendia infinito, com as águas azuladas cintilando com o sol que fazia lentamente seu percurso pelo céu.

O horizonte curvo nunca deixara de surpreender Eragon. Desde a primeira vez que notara isso, há tanto tempo, ainda se questionava se sua conclusão era mesmo correta. O mundo seria mesmo redondo? Ele cogitara que não, que deveria ser uma ilusão ou aquilo acontecia apenas em alguns lugares. Mas a experiência e observação refutavam tais argumentos, deixando-o novamente com a hipótese de que o mundo deveria ser redondo.

Mesmo quando pensava sobre o horizonte, outros assuntos inquietantes estavam em sua cabeça. Tentava evitá-los, mas eles pareciam zumbir, chamando sua atenção. Eram inevitáveis, ele sabia. Tudo girava constantemente. As últimas horas, as decisões, as incertezas... tudo. Fora tudo muito confuso e estressante. Somente ali, com a mente vagando mais livre é que o peso do que acontecia caia sobre ele.

Toda a correria se devia à situação que era no mínimo desesperadora, ele compreendia, e pela situação ser assim inesperada e urgente as decisões também o foram. Tudo em favor do dever. Todas as decisões tinham de se basear nisso, e assim aconteceu. Mas foi ali, no dorso de Saphira, ouvindo o bater de assas de quase duas dezenas de dragões, sentindo o vento açoitar seus cabelos e o sol lançando seus raios na água lá embaixo que ele pôde perceber a magnitude do que o destino fazia.

Arya estava doente, no leito prestes a morrer, e essa informação era mantida em segredo das outras raças. Seus mestres e magos mais poderosos não foram capazes de salvar Arya. A Menoa mostrava que não perdoava dívidas, e o mais devastador: ele, que estava destinado a não mais voltar para a Alagaësia, violava o própria destino e voltava.