Dossiê Bellatrix

Sacrifício


I will sacrifice, I will sacrifice

All I have in life to clear my conscience.

(Sacrifice – Tatu)

Regulus correu com tudo que podia, mas dentro da sua cabeça, os pensamentos estavam ainda mais acelerados. Ele era uma confusão de desespero e urgência, e não conseguia parar de pensar o que ia acontecer se não chegasse até Bellatrix a tempo.

Lembrava da sensação de gelar os ossos, quando a prima desmaiara em sua presença, sangrando, há apenas alguns dias. E se ela estivesse lá, aberta, meio comida de dentro para fora, morta? Mais rápido, Regulus. Sabia que estava naquele momento perdendo o barco que os sonserinos iam usar para escapar de Hogwarts e ver Lord Voldemort. Uma reunião de aspirantes a comensais lhe pareceu imensamente estúpida enquanto Bellatrix estava correndo risco de vida.

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Finalmente alcançou a estufa desativada, após atravessar o desnível de terra que separava os jardins do castelo da área destinada a Herbologia. As estufas eram invisíveis do castelo, de fato o local perfeito para praticar algo proibido sem ser pego em flagrante. Era também uma localização ótima para se sangrar até a morte, se uma dessas praticas dessem errado, porque ninguém jamais ouviria um pedido de ajuda.

Ele se jogou na porta da estufa e começou a bater com força, mas o barulho de seus punhos eram abafados pelas plantas. Ela também não ia ouvir seus gritos, deveria ter usado um feitiço de imperturbabilidade poderoso em torno do local. Deu a volta, seguindo as paredes da estufa, procurando uma brecha entre a folhagem que cobria toda a extensão de vidro, mas era impossível ver lá dentro. Talvez se ele...

Regulus olhou para cima, não para a lua cheia quase alta no céu, mas para o teto da estufa, onde sabia existir uma clarabóia grande o bastante para deixá-lo passar. Ele só tinha que escalar os ramos da maldita planta e então pular do teto ao chão – certamente sua aparição de lá de cima interromperia o que quer que a prima estivesse fazendo...

– BD –

Bellatrix calçava grossas luvas de jardinagem, sentada sobre a comprida mesa de trabalho da estufa. Ela não estava tensa ou nervosa, apenas concentrada. Admirava a criatura que se contorcia na caixa de madeira, ansiosa por um pouco de carne, faminta desde que saíra de seu ovo, naquela manhã.

Tinha crescido espantosos quinze centímetros durante o dia, ao se alimentar do pai verme-cego e da mãe sanguessuga, mas nada podia aplacar sua fome por carne humana. Abria e fechava a boca cheia de pequenos dente afiados, em ciclos, como se a farejasse pela língua. Não a ela, mas ao que trazia. Dentro do útero. Sua oferta. Seu problema.

– Ok, aqui nós vamos... – conversou consigo mesma, pegando o bicho pelo rabo, com cuidado. Sem as luvas, provavelmente teria os dedos comidos, deveria se ocupar em lhe dar o pedaço de carne que tinha sido destinado ao jantar aquela noite. Era quase engraçado, na verdade, que aquele projeto infame de minhoca com dentes e espinhos fosse a única coisa capaz de interromper sua gravidez indesejada.

Imaginava a sensação... primeiro a leve dor quando o anelídeo abrisse espaço pela sua pele, e transitasse por debaixo de sua carne, farejando, e então... então o alívio, quando devorasse a pequena coisa em sua barriga. Com sorte, o tiraria, alimentado e satisfeito de dentro de si, antes da meia noite, a tempo de ir para seu Lord, finalmente com a consciência limpa. Ele a admiraria pela sua coragem. Com esse pensamento, levantou a blusa, abrindo caminho para a barriga clara, sutilmente abaulada.

Ela abaixou o verme que se contorcia até o umbigo, alinhando-o, mostrando-lhe o caminho que deveria fazer. É só seguir em frente, pensou, abaixando a mão, diminuindo a distancia entre eles. Deixou-se deitar de costas na mesa, fitando o teto. Sentiu uma fisgada quando foi mordida, mas esta se espalhou estranhamente pelos seus nervos, até atingir sua cabeça e nublar sua visão.

Náuseas, enquanto o bicho afundava a sua extensão de espinhos gelados pela sua carne. Concentrou-se no teto para afastar a horrível sensação de invasão. Viu um par de olhos assustados no teto de vidro da estufa. Impossível. Delirando mais uma vez? Aquilo estava ficando cansativo…

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– BD –

Regulus se segurou precariamente nos ramos e olhou para dento. A imagem, era aterrorizante, nada mais do que Bellatrix estendida na mesa bem abaixo dele, segurando pelo rabo a coisa comprida que entrava pela sua barriga. Tarde demais, pensou em desespero. Era nauseante, agonizante, todos os pêlos de seu corpo se arrepiaram em repulsa, ele só gostaria de parar aquilo, só impedir que a coisa carnívora comesse as entranhas de sua prima. Seu absoluto terror o fez enfiar o braço pela clarabóia, pensando em qualquer coisa para impedir a cena que se desenrolava lá embaixo.

– Petrificus totallus! – gritou, o primeiro feitiço que aprendera, e o primeiro que viera a mente.

Bellatrix e sua criação viraram pedra a meio caminho do assassinato que compactuavam. Regulus achou que ficou um minuto inteiro olhando a estátua da garota lá embaixo, enquanto tremia. Uma voz do lado de fora o arrancou do torpor.

– Regulus! É você aí em cima? Você a encontrou?

Ele reconheceu Narcissa. Ela chegara insanamente rápido e só Merlin poderia saber como entrara no castelo sem permissão do diretor. Só importava que estava ali, era na verdade um grande alívio.

– Ela... ela está aqui! – gaguejou. Sua voz estava aguda, o pânico bem evidente – Eu a petrifiquei!

Sangue do inferno! Desça daí, vou explodir a porta.

Ele desceu rápido, se arranhando entre os galhos e folhagens, caindo ofegante. Tão logo pôs os pés no chão, a náusea espremeu seu estômago.

– Eu acho que vou vomitar. – avisou pra Narcissa. Ela não parecia se importar com nada além da irmã, no entanto.

– Você disse que petrificou ela?

– Ela já tinha começado! – justificou – o que eu ia fazer?

– Se afaste. – Cissa apontou para a porta da estufa e ordenou – Bombarda!

Estilhaços de vidro voaram para todos os lados com um barulho que não tinha como passar despercebido no meio da noite muda de Hogwarts. Ela atravessou o buraco que o feitiço tinha aberto, e Regulus a seguiu. Ambos se aproximaram do copo rígido de Bellatrix, congelado numa expressão de surpresa e dor. Narcissa torceu o rosto ao ver o verme se contorcendo a meio caminho do interior de sua barria agora petrificada.

– Você acha que ele... esse bicho, ele alcançou o... – o garoto não conseguia completar sua dúvida.

– Eu não sei. – Narcissa estava fria e séria. – Vou levá-la comigo para o hospital.

– Eu vou com você.

– Não, é claro que não, você vai ficar e contar ao diretor Dippet o que aconteceu. – enquanto falava, lançava um feitiço de levitação na irmã. – Que Bellatrix teve outro desmaio, você me chamou pela lareira e eu decidi levá-la para o hospital, já que obviamente a capacidade a enfermaria de Hogwarts é insuficiente. Mandarei uma carta para ele pela manhã confirmando tudo.

– Não, Cissa, eu não posso ficar, eu... – respirou fundo. Estava entrando em pânico de novo.
– Vai me dar notícias assim que pude, certo?

– Assim que for possível.

– Por favor! – ele choramingou, vendo-a partir em direção aos portões de Hogwarts, Bellatrix flutuando ao seu lado – Por favor me avise, e não a deixe... não a deixe morrer.

– Espero que não chegue a esse ponto, sinceramente.

– BD –

Dois dias depois, Hospital St. Mungus, Ala de Ferimentos Induzidos por Criaturas, quarto 13.

Bella abriu os olhos e sugou o ar como se emergisse de um afogamento. A sensação era de estar acordando de um pesadelo, embora não se lembrasse dele. Seu coração aparentemente lembrava, e batia acelerado como louco. Buscou a consciência. Muita luz, muito branco, um cheiro incomum... aquele não era seu dormitório em Hogwarts. Não era nenhum lugar conhecido, absolutamente. Não quando usava apenas uma peça de roupa larga e branca e nada por baixo.

Se sentia extremamente cheia, mas não se lembrava de ter comido nada. O cabelo assanhado fazia cócegas em seu nariz, tentou erguer a mão para afastá-lo do rosto; mas ambas as mãos estavam atadas firmemente nas laterais de seu corpo. Que diabos... tratou de despertar completamente. Logo estava olhando para um tubo enfiado em seu braço, que estava preso a uma bolsa cheia de substância verde-translúcida.

Poção Fortificante. Um hospital, então. O que tinha feito para parar num hospital? Amarrada, ainda por cima? Tinha se acidentado durante a reunião com Voldemort? Não, ela nem mesmo chegara a ir para aquela reunião. Seu senso de urgência sobre aquela falta a acometeu e Bella se sentiu aterrorizada por um momento. Ela se lembrou. A lua cheia, a sua ultima tentativa de aborto, a interrupção...

E depois? Forçou-se a inclinar, para conseguir ver a própria barriga, mas era impossível. No entanto puxar com mais força suas algemas fez com que disparasse um alarme mágico infernal, e logo a última pessoa que esperava ver entrou pela porta do quarto branco asséptico; Narcissa. Com a aparência aborrecida, e cansada, largas olheiras em torno dos olhos, e os lábios contraídos quando chegou a olhá-la.

– Então você resolveu acordar – reclamou, cruzando os braços – já era hora.

– Narcissa, porque eu estou presa? – exigiu a outra, sem paciência para delongas – Porque eu estou num hospital, e mais importante, por que diabos você está aqui?

– Você está num hospital porque tentou se matar. Isso também explica porque você está presa e porque eu estou aqui, vigiando você pra que não tenha outro surto de idiotice.

– O quê? Eu não... – ela rolou os olhos, negou com a cabeça. – Eu não tentei me matar. Isso é ridículo. Narcissa, me solte.

– Não. Nós precisamos conversar.

– E eu tenho que estar amarrada para isso? - a mais nova começava a ficar irritada com a loira e sua tendência a querer controlar a sua vida – Ande, me tire daqui! Narcissa, agora!

Sem se abalar, a mais recente Malfoy suspirou e se aproximou, afastando o cabelo do rosto de Bella. Tinha visto a irmã mais nova à beira da morte aqueles dias. Sabia que a garota estava se perdendo, se afundando no próprio abismo de problemas, enquanto tentava lidar com mais do que podia suportar. Queria ter estado lá para ajudá-la antes, antes que ela tivesse feito tanto mal a si mesma.

Agora via a hora de interferir, mesmo que a outra não desejasse a sua ajuda.

– O que estava pensando quando usou aquele livro para tentar abortar, Bella? - questionou docemente, a olhando nos olhos. A morena se surpreendeu com suas palavras, mas logo mascarou a surpresa com uma expressão indiferente.

– Era uma boa opção. E era a minha última.

– Você sabe que aquele é um livro classificado como de magia negra, certo? E que aquela criatura que você produziu para ingerir o feto dentro de você, facilmente poderia ingerir partes do seu corpo também.

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Ela deu de ombros, olhando para o teto.

– Era um risco que eu precisava correr.

– Foi o segundo grande risco que correu. Você tentou envenenar o feto antes, não foi? Ficando dias inconsciente na enfermaria por isso.

Ela virou-se para Narcissa, aborrecida. Aparentemente alguém andava investigando e delatando sua vida para a irmã mais velha. Entendendo sua questão muda, a loira tratou de explicar.

– Regulus. Ele me chamou quando soube o que estava planejando. Estava aterrorizado.

– Aquele pequeno abelhudo! – praguejou – Eu vou acabar com a raça dele! Eu disse que não se metesse na minha vida!

Cissa suspirou.

– Já chega, Bellatrix. – disse, cansada – Ele salvou a sua vida há duas noites atrás. Eu não cheguei a tempo, mas ele chegou.

– Regulus chegou a tempo? O que você quer dizer? Foi ele quem... – ela piscou. Tinha uma lembrança, mas de fato pensara que se tratasse de uma alucinação... lembrava de ter olhado para o topo da estufa e ver um rosto assustado, mas podia jurar que era... – Regulus me impediu, na estufa?

– Sim, de fato, ele lhe petrificou.

Ela podia jurar que tinha sido Sirius. Tentou não expressar sua decepção, desviando o olhar de novo.

– Você vai ficar feliz em saber, ou provavelmente não, mas enfim, não houve danos, aquela criatura horrível não chegou fundo o suficiente dentro de você para comer qualquer coisa.

Bella virou o pescoço tão rápido que sentiu um estalo. Ela tinha compreendido bem? Havia medo em seus olhos, se aquilo era verdade…

– Isso mesmo – Narcissa sorriu – Regulus salvou sua vida, e salvou a vida do seu bebê.

– NÃO! Isso é impossível! – a garota quis chorar, de verdade, diante da impossibilidade e terror da noticia - Cissa, isso é completamente... um feto de três meses não pode sobreviver a tudo isso!

– Aparentemente esse pode. – ela parecia estar achando graça de toda a situação, seu tom irônico – Parece que temos ai dentro um Black que honra o sangue que tem nas veias.

– Você não entende – sua voz tremia – Isso não pode nascer, Cissa, não pode nascer. Você tem que me ajudar a fazer o aborto!

– Eu concordo que a hora é um tanto inconveniente...

– NÃO A HORA! – ela baixou a voz para sussurrar – Esse não é... não é um filho... de Rodolphos. – suspirou por fim. Odiava admitir aquilo em voz alta.

– Eu sei, querida. – a irmã assentiu. – é um filho de Sirius.Regulus também me contou essa parte da história. Estava surpreendentemente a par dos detalhes.

Bellatrix estava cansada demais para ficar surpresa, e deixou a cabeça afundar no travesseiro. Aquele era o fim, era a derrota.

– Você contou para Druella e Cygnus? - questionou, baixo.

– É claro que não. – seu tom deixava claro que considerava aquela opção absurda – Vamos resolver isso sozinhas.

– Tanto faz...

Sentiu o colchão afundar, a irmã sentando-se ao lado do seu quadril.

– Aqui está o que vai acontecer. Vamos adiantar o casamento, e você vai dizer a Rodolphos que engravidou dele por acidente. Podemos convencê-lo, e ninguém vai questionar muita coisa quando estiverem casados.

Bella negou, dando um sorrisinho irônico. No caso, a ironia era a sua própria vida.

– Ele não vai acreditar, Narcissa. De fato, eu e ele, nós nunca fizemos sexo.

– Oh. Isso é um problema. Bem, então se case, faça sexo e diga que engravidou. Fingiremos um parto prematuro. Qualquer coisa.

Bella encarou a irmã, ela não compreendia? Não compreendia o que estava propondo?

– Eu não quero essa criança – disse baixo, porém firme, o nojo transparecendo em sua voz – É um bebê de Sirius Black. Um bastardo. Não posso... não posso fazer isso. – completou, o ar lhe faltando.

– Eu sei, querida. Mas também não pode se desfazer dela, sem arriscar sua própria vida no processo.

Um tipo de pânico agudo e paralisante se espalhava pelo sistema nervoso de Bella. Ela como se algo enorme pressionasse seu peito. Nunca tinha sentido aquilo antes, uma sensação de impotência tão grave que fazia doer seus ossos. A garganta trancada, os olhos ardiam diante da sua indefensividade.

– Milord nunca vai aceitar. – lembrou-lhe, os lábios tremendo.

– Eu suponho que ele não vá. E não vejo uma utilidade para uma comensal grávida, tampouco.

Ela recordou-se do convite de seu mestre, para viajar com ele, e ser sua aprendiz. A condição era que se livrasse do seu problema, e ela não fora capaz de fazê-lo... Era um completo fracasso.

– Não me faça ter o filho de Sirius, Cissa – implorou, numa voz que não parecia com a sua. Reconheceu, e odiou, o olhar de pena no rosto da irmã.

– Não vou deixar que esse bebê acabe com você, irmãzinha – informou, soando prática e fria de novo – Nem que eu tenha que lhe deixar presa pelos próximos seis meses nessa cama, para não fazer outra besteira. Eu sugiro que pense sobre isso... e quando tiver um posicionamento a respeito, voltaremos a conversar.

E ela foi embora, realmente foi, deixando Bellatrix atada à cama e cheia de inconformismo e sufocante impotência. Eventualmente ela adormeceu – sem sonhos, graças às poções intravenosas que os curandeiros vinham lhe aplicar de tempos em tempos. No entanto, no meio da madrugada, Bellatrix teve uma visão estranha que em nada parecia com sonho; era clara, real, sólida e acontecia dentro da sua cabeça.

Visualizava uma sala e uma lareira, uma poltrona e seu ocupante, mas sabia que não estava lá de verdade.

Ele que estava ali. Invadindo a sua mente, construindo aquela lembrança, sua presença firme e dominante na teia de sua consciência.

– Milord – ela pensou, ao reconhecê-lo, com alívio. – Milord, eu sinto muito, aconteceram coisas, não pude ir a última reunião...

"Sei onde está e sei o que ocorreu, Bellatrix. Tenho uma questão apenas: pretende aceitar minha proposta?

– Sim! – mentalizou, com todas as forças de sua mente adormecida – Quero ir com o senhor, onde desejar me levar.

"E como pretende fazer isso carregando um bebê na barriga, menina?"

Ela se debateu em seu sono. Não queria deixá-lo escapar, insatisfeito, irritado com ela. A voz grave dele soou novamente, no fundo de sua cabeça.

"Estou de partida, Srta. Black, e não posso perder o meu tempo a sua espera, compreende?"

– Sim, Milord, eu compreendo, eu peço apenas um dia a mais da sua paciência. – implorou.

Voldemort aquiesceu.

"Amanhã à noite, Srta. Black, me dê sua resposta final."

– BD -

– Aqui está a poção fortalecedora, 20 ml de duas em duas horas, até o fim da semana. Ela vai precisar de repouso absoluto nos próximos meses, para o bebê não correr riscos, e deve voltar em quinze dias para a revisão. Me notifique sobre qualquer irregularidade, Sra. Malfoy. Todo cuidado é pouco, a gravidez de sua irmã pode estar correndo risco.

Mas não risco o suficiente, Bella pensou com seus botões, no ápice do mal humor. Ela queria arrancar fora a cabeça do medibruxo que falava como se ela não estivesse no mesmo quarto, mas estava se controlando, porque se ficasse quieta sairiam logo dali.

Narcissa tivera o bom senso de concordar que não havia necessidade de ficar no hospital; obviamente a cria de Black não ia para lugar algum antes da hora, então a caçula poderia ser amarrada num outro local que não implicasse gasto desnecessário com cuidados médicos.

Isso é o que Narcissa pensava que iria acontecer, é claro, por que Bella tinha pretensões muito diferentes. Estava justamente traçando seu plano de ação quando alguém mais entrou no quarto. Ou melhor, uma barriga enorme e redonda entrou no quarto, seguida por alguém com o rosto corado e com sardas.

– Cissa, Bella! – Andrômeda apoiou um braço na mesa e com o outro segurava sua enorme barriga grávida, enquanto recuperava o fôlego. – Desculpem, eu tive que parar no caminho pra tomar um sorvete de amoras, foi impossível resistir. Estou muito atrasada?

– Com licença – Bella saltou da cama, aquilo era demais pra ela – O que a outra traidora do sangue está fazendo aqui?

– Olá, Bells, que bom que seu estado de saúde não afetou sua educação refinada. – disse a grávida com um sorriso alegre – queira ou não, vim pra lhe ajudar com a sua, hum, situação.

Bellatrix passou direto, indo muito revoltada até Narcissa.

– Você tem mantido contato com ela? Por Slytherin, ela se casou com um sangue ruim e mora numa barraca no meio do mato! Tia Walburga a queimou da trapeçaria! Do que mais você precisa para ignorar a existência dela?

Mas a mais velha só lhe deu em resposta um suspiro cansado, assinou a alta de Bellatrix e despachou o médico, e então fechou a porta atrás de si, virando-se para a irmã.

– Vamos deixar umas coisas claras aqui, Bellatrix. Você se meteu num problema enorme, que possivelmente causaria a maior crise familiar, vejamos, do século. Walburga iria literalmente queimar você se soubesse que se deitou com seu primo de primeiro grau e engravidou, nas vésperas do seu casamento!

– Eu não me deitei. – Bella deu um sorrisinho maldoso, afim de irritá-la – Fizemos em pé.

Andrômeda tapou a boca com as mãos. O sangue de Narcissa perceptivelmente subiu para o seu rosto.

Que seja – disse entre os dentes travados – O que eu digo é, nessas circunstancias, precisamos nos unir. Pela honra da família como um todo. Diante disso, é necessário deixar em segundo plano a escolha infeliz de casamento de Andrômeda.

– Isso mesmo, você pode ofender meu marido depois – disse a outra - mas agora devemos ir, você não pode aparatar, Bella, então a viagem será longa.

– Viagem pra onde exatamente? Qual será minha próxima prisão?

– Ottery St. Catchpole. Mas antes vamos passar em Hogwarts e pegar suas coisas.

– Espera um segundo. Eu entendi direito? Vocês acham que eu vou para a BARRACA TROUXA de Ted Tonks? Isso é muito, eu diria, completamente insano.

Narcissa e Andrômeda trocaram olhares cansados. Bem, nenhuma das duas pensaram que aquilo ia ser fácil...

– BD -

Hogwarts. Bellatrix sabia que, de um jeito ou de outro, aquela poderia ser a última vez que pisava ali como aluna. Olhava para os quadros, os corredores, o Salão Principal, com certa nostalgia, enquanto os alunos do castelo lhe olhavam de volta com alguma estranheza.

Para os que a conheciam, era muito inesperado vê-la acompanhada das duas irmãs, e ainda, usando vestes diferentes do uniforme escolar, em pleno período letivo. Filch as acompanhou até a Sala do Diretor, resmungando qualquer coisa que ninguém realmente ouviu. Mme. Norrra os seguia, e tudo que a sonserina podia desejar era não ver Sirius Black ou Regulus no caminho. Teve sorte, chegou até a estátua em forma de gárgula a salvo.

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Dippet as recebeu com as mesuras e rasgações de seda de sempre, beijou a mão de Narcissa, lembrou o título de aluna modelo que Andrômeda recebera por sete anos consecutivos e elogiou sua 'linda barriga grávida'. Fingiu alguma preocupação pelo estado de saúde de Bella, e não por menos, já que ela parecia mesmo doente e pálida. Sua expressão de completo descaso, as pálpebras caídas, também não colaborava.

– Prof. Dippet, obrigada por nos receber de última hora. – Cissa sentou-se com as costas retas na cadeira – Como deve imaginar, o assunto da minha vinda é a saúde de Bellatrix.

– Sim, imagine se eu não iria me dispor a falar com a senhora imediatamente. – Ele era pomposo, ansioso, odiável. Bella sempre visualizava seu pequeno pescoço pelancudo sendo cortado com uma foice – Fiquei preocupado com a Srta. Black ao saber que ela teve mais um desmaio sábado passado, eu mesmo a teria relocado para o hospital St. Mungus se tivesse sido informado.

– Bem, sim. De fato teria sido melhor se a minha irmã tivesse recebido atendimento médico competente em seu primeiro desmaio, o que obviamente não aconteceu. Pelo que eu entendi, Bellatrix ficou desacordada por vários dias e o senhor não comunicou o fato aos nossos pais?

– Nós tínhamos... tudo sobre controle. – ele começou a ficar visivelmente nervoso. Algumas veias pularam na sua testa larga. – Não havia necessidade...

– Bem, agora necessidade. Bellatrix terá de se ausentar da escola para tratamento por tempo indeterminado. Passamos apenas para recolher seus pertences.

Os olhos aquosos de Armand Dippet se arregalaram na direção de Bellatrix.

– O que ela tem de tão grave?

– Preferimos não fazer comentários sobre sua situação, por hora. É uma escolha da família para resguardar a privacidade da minha irmã.

Isso logicamente só aumentou a curiosidade de Dippet, e Bella lhe deu uma risadinha jocosa. Naquele momento Andrômeda se aproximou dela e pousou uma mão quente em seu ombro, o que bem rápido tirou o sorriso do rosto da mais nova. Tocada pela traidora de sangue, pensou, mas se controlou, cerrando os olhos pacientemente.

– Bem, eu vou precisar da autorização dos responsáveis de Bellatrix. No caso, dos pais das senhoritas. Sem isso não posso liberá-la da escola no meio do ano letivo, a senhorita entende, burocracia...

– Não será necessário – Cissa virou-se para trás. – Bella, vá até o seu dormitório recolher suas coisas, aproveite e verifique a sua correspondência. Certamente os papéis da sua emancipação já chegaram.

– A Srta. Black vai se emancipar? - mas o diretor não perguntou mais, ao receber o olhar duro de Narcissa de volta, deixando claro que aquilo não era um assunto concernente a ele.

Bella ficou feliz em se levantar e se livrar do toque de Andrômeda, em seguida recusando sua ajuda para arrumar as coisas no dormitório. Ela precisava de um pouco te tempo sozinha, para pensar direito sobre a conversa que tivera com as irmãs a caminho da escola, dentro da carruagem da família Malfoy.

Veludo verde escuro e assentos perfeitamente confortáveis, num dos quais a morena se acomodou e fechou os olhos doloridos. Sua cabeça explodia por causa da administração freqüente de Poção Reestabelecedora, e todo movimento fazia pinicar o ferimento no umbigo, que por algum motivo vinha tendo uma lenta e dolorosa cicatrização. Fora, claro, a barriga de três meses. Bem óbvia a essa altura. Não parava nunca de crescer. Precisava de três camadas de roupa para escondê-la satisfatoriamente agora.

– Tudo bem com você, Bella? É normal se sentir tonta quando subirmos. Não se preocupe, vai passar logo.

Aquela era Andrômeda usando sua voz zelose de projeto de medibruxa.. Ela estava na metade do segundo ano de graduação, mas já se achava absolutamente capaz de curar todos os males do mundo. Era irritante, e a mais nova a ignorou.

Depois de um tempo abriu os olhos. As duas a encaravam fixamente, de um jeito estranho. Estavam sendo as piores companhias possíveis, e sempre pareciam falar menos do que estavam pensando sobre ela. Bem, Bella sabia bem o pensavam. Que era descompensada, insana e imatura, um perigo para si mesma.

Mas não era isso. Quer dizer, quantas bruxas tinham sido eficazes em abortar seus bebes indesejados? A literatura bruxa estava repleta de referências, e métodos, e ela mesma fora aos mais extremos no que se referia àquele tipo de atividade. Que bebê podia resistir a um envenenamento, francamente? A sangramentos, influência de magia negra, a ser devorado?

Naturalmente, o filho de Sirius Black podia. Suspirou, ainda tomada pela sensação de incapacidade tremenda. A coisa que crescia dentro de si, de alguma forma, era mais forte que a sua magia.

– Andrômeda – chamou sem encará-la, preferindo olhar as nuvens através da janela – Por que não consegui fazer o aborto funcionar?

Ouviu um pequeno ofego. Enquanto a outra carregava uma criança em sua barriga – uma que queria, que amava e adorava mais que a si mesma – a frieza da sua irmã a incomodava.

– Eu suponho... bem, Bella, existem muitas hipóteses. Normalmente mães bruxas e seus filhos tem uma ligação muito forte, a sua magia pode tê-lo protegido de alguma maneira.

Bem, aquela não era uma boa opção. Bella tinha certeza que toda a sua magia estivera concentrada em destruir a gravidez. Negou veemente.

– Sim, também não acho que foi o que aconteceu. A outra hipótese é, o próprio bebê ter sido protegido pela magia dele.

A caçula franziu.

– Está dizendo que um feto de três meses tem magia suficiente para proteger a própria vida?

– Não exatamente... bem, Bells, não vai gostar de ouvir isso, mas vou dizê-la de qualquer maneira. Você esquece que a criança que está gerando carrega uma combinação incomum de sangue. Você e Sirius são puro-sangues, e ainda, consangüíneos, sem contar que tio Órion e tia Wallburga também eram primos. O bebê tem um sangue poderoso. – a essa altura, ela sorria, parecendo inclusive uma boa Black, ao falar com orgulho de pureza de sangue. – Não é fácil dar fim numa criança como essa.

A boca de Bellatrix se abriu para um protesto, mas se fechou em seguida; não tinha absolutamente pensado por esse ângulo. Narcissa também se interessou pelo assunto, aparentemente revisando a árvore genealógica da família mentalmente, e terminando com um sorriso de triunfo.

– Esse bebê é o Black de sangue mais puro das últimas cinco gerações.

– Você pode imaginar seu potencial mágico? - Andie estava empolgada. Isso era óbvio, por que ela corava e seus olhos brilhavam – As possibilidades são incríveis, fazer magia para ele será tão fácil como respirar.

Bella e Narcissa trocaram um rápido olhar, o da loira com alguma preocupação, como se tivesse sabido exatamente que tipo de pensamento a irmã mais nova tinha tido. Pensamento o qual Bellatrix buscou se desvenciliar, porque parecia muito absurdo.

– Andrômeda, a coisa ainda é metade projeto de Sirius. Não pode... não pode prestar.

– Você sabe que isso não faz a menor diferença, nesse caso. Não podemos negar a competência mágica de Sirius, ele é um bruxo excepcional.

– Ok, isso é exagero seu. – reclamou, torcendo os lábios, mas sabia que a irmã do meio estava certa. Black, para o bem ou para o mal, dominava a magia com muita habilidade.

– Então, Bells – Cissa falou cuidadosamente, depois de um tempo – Você não deve... não pode não ter esse bebê. Impedir um bruxo com assim de vir ao mundo certamente vai contra o Código de Conduta Black.

– BD -

Bella entrou sem dificuldade no salão comunal nas masmorras, a senha ainda era a mesma. Buscou não encarar os poucos colegas tinham recusado ir à Hogsmeade naquele dia de visita ao vilarejo, e que se viraram todos ao mesmo tempo quando ela passou; ela devia ser a grande fofoca da semana no covil das cobras verde e prata.

Já o dormitório, estava completamente vazio, ao menos aparentemente. Puxou a cortina da sua cama e quase morreu de susto ao ver alguém adormecido ali.

Regulus. Que despertou todo confuso com o palavrão que ela soltou. Ele coçou os olhos e sorriu quando a reconheceu.

– Bells! – ele pulou da cama e fez menção em ir em sua direção, mas se conteve – Sabia que uma hora ou outra teria que voltar!

– Que diabos você está fazendo no meu dormitório?

– Esperando você. Cissa disse que ia me mandar noticias, mas não mandou. Você sabe – ele estufou o peito – eu salvei sua vida. De novo.

– Minha vida NÃO estava em risco! Mas a sua está, eu não acredito que tem a coragem de aparecer na minha frente depois de tudo que fez! Seu pequeno diabo, você tem me espionado e fofocado sobre mim por ai, não lhe sobrou um pingo de dignidade ou respeito dos quais aprendeu com as lições de Cygnus?

– Você parece bem. – ele concluiu, embora inegavelmente trêmulo com a explosão dela.

– E VOCÊ – a morena urrou – eu devia mandar tia Wallburga queimar seu nome da árvore genealógica por ser um maldito fofoqueiro!

– Você não pode fazer isso. – seus grandes olhos azuis pareciam mesmo preocupados agora – Fiz tudo pelo seu bem.

– Quem PEDIU algo a você? Ah, por Slytherin! – ela aparou a testa nas mãos. Enquanto gritava, os níveis de dor de cabeça iam aumentando. Regulus se preocupou com o movimento dela, e tão logo desceu os olhos para a sua barriga, ficou completamente surpreso.

– Você ainda está grávida.

Ela levantou o olhar, cheio de advertência, para ele.

– Você não vai contar isso para ninguém.

– Eu não vou. – negou rápido; o tom da prima era mesmo perigoso.

– Se você contar, Regulus, eu persigo você e arranco os seus olhos com minhas unhas.

– Eu não vou contar, Bells, eu juro. – ofegou. – Mas então, você vai ter o bebê?

Ela poderia repetir que não era da conta dele, mas o que adiantava? Pegou a varinha, começando a conjurar suas coisas jogá-las o mais ordenadamente possível no malão. O primo acompanhou seu movimento, mordendo os lábios.

– Ah, não, B. Não me diga que vai viajar para tentar tirar o bebê em um hospital ou algo assim.

Ela fez seus livros flutuarem e os deixou sobre suas roupas. O primo tentou chamar sua atenção mais uma vez, incomodado.

– Vamos, Bella. Eu não sei muito dessas coisas, mas já deu pra perceber... já deu pra ver que esse bebê tem que nascer. Ele quer nascer.

– Você não sabe de nada, mesmo. – suspirou, aborrecida, cansada, recolhendo o resto do material escolar de dentro das gavetas – Não estou indo para um hospital. Estou indo embora.

Ele tremeu.

– Como assim?

– Indo embora de Hogwarts.

– Você não pode largar a escola! Para onde vai?

Ela lhe deu mais um olhar irritado de "não é da sua conta".

– E quanto ao Lord? - aqui ele sussurrou, ansioso – Vai largar tudo?

– Você deveria se preocupar mais com isso do que eu. Perdeu uma reunião importante para se meter na minha vida. Não espere que ele esteja feliz com você.

– Você perdeu também! Ele sabe que está grávida? De Sirius? Isso não vai deixá-lo nada feliz!

– Já chega, Regulus. Onde está minha correspondência?

– Aqui – ele tirou alguns envelopes do bolso – Guardei para você.

Ela arrancou as cartas dele, aborrecida com o grau de intromissão do garoto. Conseguiu identificar entre eles os documentos do ministério para sua emancipação, uma carta de Rodolphos e a sua edição mensal de Bruxas Puro-Sangue Podem Mais. Uma vez com a bagagem pronta, a fez levitar atrás de si e virou-se para deixar o quarto.

– Então é isso? Você só vai embora?

Virou-se, rolando os olhos.

– Sim, eu só vou embora, pirralho. Qual é o seu problema com isso?

– E quando perguntarem sobre você?

– Diga a eles que eu morri. - ela deu de ombros.

O quartanista mordeu o lábio inferior mais uma vez. Ele não podia suportar ver Bellatrix ir embora sem mais explicações, e ela não entendia porque o menino se importava tanto. Era impressão dela, ou os olhos dele estavam brilhando de um jeito estranho? Como... úmidos?

– Regulus, pelo sagrado coração de Slytherin, não haja como um bebê chorão. Eu não vou morrer de verdade. É só um modo de falar.

– Mas você é meio louca, Bella. Nunca se sabe. – completou com uma voz incerta. Ela riu.

– Eu não vou morrer, ao menos não antes de ver você virar um comensal competente que vai ajudar a acabar com a raça imunda dos sangue-ruins. Ok?

A expressão dele fraquejou.

– Mas você vai sumir, não vai?

– Um pouco, talvez.

– Você promete que volta um dia?

Ela bufou, Um Black sentimental, mais essa agora. Regulus era um completo fracasso.

– Talvez eu não volte, bebê. Você vai ter que esperar pra ver. Mas enquanto espera – achou melhor completar, para a segurança dele, era o mínimo que podia fazer – Siga o Lord. Não ponha em cheque sua lealdade a ele nem por um segundo. Certo?

– Eu não vou... eu não vou pôr, Bella.

Ele soava inseguro. Olhou com pesar para seu rosto bonito e seus olhos meio perdidos, da cor do mar Cáspio, para a sua infância quase no fim. E se virou, foi embora, ainda tinha coisas importantes para resolver, que não envolviam seu primo mais novo.

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– BD -

Trix,

Me encontre no Três Vassouras assim que chegar a Hogsmade. Urgente!

R.L.

Levantou o rosto da carta, olhando para Narcissa, que acabava de se acomodar mais uma vez na carruagem.

– Preciso falar com Rodolphos, ele está me esperando em Hogsmeade.

– Não, essa é uma péssima idéia. O que diria para ele?

– A verdade – deu de ombros.

Andrômeda riu pelo nariz. Aparentemente aquela altura ela já estava readquirindo a velha resistência aos absurdos da irmã mais nova.

– Vai dizer ao seu noivo que está grávida do seu primo? Que idéia fascinante. Não me lembro de idiotice ser um dos Signos Black, mas agora que volto a pensar nisso...

A caçula não aceitou a provocação.

– Eu posso aparatar até lá, mas imagino que não vão querer que eu arrisque a vida do precioso bebê imortal?

Narcissa rolou os olhos, mas dirigiu a carruagem para o vilarejo. Bellatrix vestiu uma pesada capa cinza sobre seu corpo e impediu a visão do ventre proeminente, buscando não fazer contato visual nem ser reconhecida por ninguém até entrar no bar. Encontrou o noivo facilmente, sentado numa mesa afastada, usando vestes vinho. O cabelo estava mais comprido que da última vez, e ele usava uma espécie de cavanhaque que lhe caía bem. Não pareceu aborrecido por ela estar algumas horas atrasadas.

– Minha noiva preferida – beijou sua têmpora antes que ela pudesse recuar. Cheirava a perfume amadeirado e wisk. – Você parece terrível.

– Vamos conversar em outro lugar. – resmungou. Ele soltou um 'Como desejar' galante e saíram para a rua fresca de primavera. Tão logo Rodolphos reconheceu a carruagem com o brasão da família Malfoy estacionado há alguns metros, suas sobrancelhas franziram.

– Algum problema?

– Alguns. Me siga.

O guiou até um ponto afastado do vilarejo, o mesmo para o qual tinha sido levada por Andrômeda e Sirius quando inadvertidamente desmaiara semanas atrás. Não havia ali nenhum atrativo especial além da árvore de tronco grosso, que os ocultava bem de quem transitava na rua principal, e as raízes altas nas quais podiam sentar.

– Você tem algo pra mim? - perguntou sem delongas, esfregando as mãos nos braços.

Apesar do tempo fresco, sentia frio e uma sensibilidade incomum se alastrar pela pele.

– Como sabe? Sim, tenho uma encomenda Dele. Por que faltou a reunião de sábado? Preciso te mostrar uma coisa...

– Me dê a encomenda, e seja lá o que for, se não for sobre o lorde, eu não quero ver agora...

– Você vai ver agora, querida – Rodolphos sorria, orgulhoso, se desvencilhando da capa vinho, exibindo a camisa de mangas compridas que usava por baixo. Ele arregaçou a manga esquerda cuidadosamente – Você vai gostar disso...

Ela adivinhou um segundo antes, porque seu coração foi bater na garganta. Então a viu, negra e reluzente, estampada em sua pele alva do interior do braço, a caveira e a cobra, o símbolo mais poderoso, mais especial que se podia carregar. Olhou para ele em muda admiração, e o rapaz parecia reluzir, de tanta presunção.

– Eu sou um deles agora, Trix. De verdade.

– Oh, meu deus. – ela, completamente fascinada, estendeu a mão para tocar a marca, com toda cerimônia, os dedos tremendo.

– Você gosta? Não é absolutamente...

– Fantástica. – sussurrou. – Como isso aconteceu?

– Eu seqüestrei para Ele a Superintendente do Departamento de Integração Trouxa-Bruxa do Ministério. Ele ficou tão satisfeito comigo. Falou que eu era merecedor, e que eu não precisava mais ficar sendo babá dos pirralhos de Hogwarts, agora terei missões importantes de verdade.

– Bem, faça por merecer. – recomendou, ainda olhando a Marca numa espécie de torpor.

– Ele mandou lhe entregar o segundo volume daquela enciclopédia de serpentes.

– Me dê aqui. Preciso falar com ele. – imediatamente a sensação de urgência retornou, e ele se lembrou de que havia algo errado.

– O que está acontecendo, Trix?

– Eu explico tudo quando voltar. Me espere exatamente aqui.

Lestrange lhe entregou a chave de portal disfarçada, com resignação. Bellatrix abriu na página marcada e leu as primeiras linhas; foi o bastante para sentir uma fisgada num umbigo, mas tão forte que claramente algo se partiu na sua precária cicatrização daquele mesmo ponto. Sentiu que sangrava sobre seus curativos, mas não deu muita atenção, enquanto os vultos tomavam tudo o redor. Logo ela estava na mesma sala escura com lareira na qual falara com seu Mestre pela última vez.

Ele não estava na lareira, e sim sentado atrás de uma mesa de mogno escuro, redigindo algo num pergaminho. Levantou o olhar quando ela chegou, Bella inclinou a cabeça em sinal de respeito. Recebeu um sorriso de satisfação do homem, que a deixou rapidamente quente.

– Olá, Srta. Black, estava justamente me perguntando quanto mais demoraria para vê-la.

– Milord, minhas desculpas. Sei que devo explicações, e também que mereço ser punida pelas minhas faltas.

Ele se levantou da cadeira e veio até ela, o andar elegante, os olhos escuros correndo ao longo de seu corpo, verificando seu estado e voltando a focalizar seu rosto.

– Não será necessário me dizer absolutamente nada. Só preciso de uma prova de lealdade que estará tudo perdoado.

– Qualquer coisa. – afirmou, a boca seca.

– Até mesmo me dar livre acesso a sua mente, me deixar verificar os segredos traz mais bem escondidos nestes últimos meses?

Ela engoliu em seco. Voldemort era conhecido e temido pela Legimência – uma habilidade nata e poderosa de entrar na cabeça das pessoas e vasculhar suas memórias e pensamentos enquanto olhava através de seus olhos. Ele nem mesmo precisava de permissão, e Bella se viu surpresa por ter sido solicitada.

– Eu não tenho segredos para o senhor. – respondeu, procurando soar confiante.

Ele sorriu ainda mais largamente. Não parecia feliz, apenas satisfeito com a resposta. Estendeu os dois braços na direção dela, pousou as mãos grandes e brancas dos dois lados da sua cabeça cavou fundo em seus pensamentos.

– Você é uma boa garota, Bellatrix... deixe-me ver...

Enquanto ele a invadia, livremente repassando as lembranças dos seus últimos dias, cada conversa, cada sensação, ela se sentia tonta, desorientada, e principalmente, cheia de calafrios que corriam por sua espinha, embora isso podia ser uma conseqüência do contato da pele de seu rosto com as palmas frias. Quando terminou, ainda a segurou por um momento enquanto ela recuperava o equilíbrio.

– Interessante. Você tem um fluxo mental muito vívido.

– Hum... obrigada? – Temia o que ele tinha visto na sua cabeça. Temia pelas retaliações, agora que ele tinha certeza que a garota transara com o primo traidor do sangue e carregava seu bebê. Certamente estava a par de suas tentativas de aborto. Sabia que ela estava arrependida...

– Cometeu um grande erro, Bella. Como pretende se retificar?

– Eu... eu venho tentando, milord. Me livrar da criança.

– Sim, e estou surpreso que ela tenha resistido às suas tentativas.

A garota olhou para o chão, envergonhada. Precisou de um fôlego para continuar.

– Eu gostaria de saber se o senhor ainda pretende me levar consigo, em sua viagem.
Apesar de eu absolutamente não ser digna da sua misericórdia – completou rápido.

– Grávida, você não me serve de nada, lembra-se?

– Sim. – ofegou. Ia ter um infarto a qualquer momento se o coração continuasse batendo naquele ritmo desesperado.

– No entanto, você ainda é a minha primeira opção. Se deseja ir, eu mesmo posso me livrar do bebê para você.

– Como... como o senhor o faria, milord?

Ele curvou seus lábios finos.

– Se eu lhe aplicasse cruciatos o suficiente, Srta. Black, você certamente perderia a capacidade de manter esse feto no ventre, uma hora ou outra.

Sua boca ficou seca. Ela imaginou se ele estava sendo somente prático ou sugeria indiretamente que ela merecia aquele tipo de castigo. Provavelmente a segunda opção. Buscou assentir, levantando o rosto.

– Se Milord assim desejar, não irei me opor. Mas, se me permite uma outra opção…

– Eu lhe permito, me diga logo que outra saída tem em mente, Bellatrix.

Ela umedeceu os lábios. Ele queria realmente ouvir sua proposta, era muito mais do que pudera supor que aconteceria, mas era exatamente o que esperava, e se viu desejando, por mais inacreditável que aquilo soasse, que ele aceitasse o que ela tinha a lhe oferecer.

– BD -

Voltou a Hogsmeade pela mesma chave de portal, minutos depois. Rodolphos, é claro, estava lá esperando por ela. Não parecia nem ter mudado de posição, na verdade, a não ser para esconder a Marca Negra sob a manga da camisa. Se ajeitou assim que a noiva pisou na sua frente.

– E então? Pode me dizer agora o que está acontecendo?

– Na verdade, sim. Mas antes uma pergunta, Rodolphos. Quanto acha que poderia suportar para concretizar o nosso casamento?

Ele sorriu, meio incerto.

– Bem, Bellarix, eu aturo você. Isso já é bastante coisa.

– Sim, mas não é tudo. – ela não se preocupou em sentar, estava com pressa. – Eu traí você.

Ele franziu ligeiramente, processando a informação.

– Você quer dizer, beijou alguém em Hogwarts?

– Não, eu transei com alguém em Hogwarts.

Ele pareceu ter recebido um tapa, ou quem sabe um balaço rebatido na cara. Ficou pálido, então sugou o ar e recuperou a expressão neutra.

– Ok. Eu posso lidar com isso.

– Ótimo. Outra coisa, estou deixando a escola. Não posso dizer para onde vou, mas ficarei ausente por um tempo, talvez um tempo longo.

Isso pareceu preocupá-lo mais do que a confissão detraição. O rapaz se levantou, até um pouco atemorizado, indo até ela.

– Ah, Trix, por Merlin, tem algo haver com Ele? Ele vai te castigar? Vai lhe mandar para uma missão perigosa onde sua vida vai estar em risco?

Sua reação exagerada incomodava Bella. Que razões Rodolphos tinha para se preocupar com ela, uma vez que eram somente noivos, unidos por um mero contrato entre famílias, e nada mais que isso?

– Não, não tem nada haver com milord. Acontece que eu estou grávida de Sirius Black, Rodolphos. E estou indo dar um jeito nisso.

Após o choque inicial, ele riu. Uma risada nervosa.

– Eu não acredito em você.

– Tanto faz. – rolou os olhos. Puxou a blusa para cima e lhe mostrar a barriga proeminente, meio oculta pelo curativo sobre seu umbigo, mas ainda assim visível. O rapaz pareceu ter visto um inferi ou algo do tipo. Recuou. Negando.

– Você não fez isso.

– Rodolphos, me ouça... – tudo que ela não precisava é que ele começasse a ter um ataque agora.

– COM SIRIUS BLACK! – berrou, consternado. – Você me traiu com seu primo grifinório!

– Eu não tinha nenhum compromisso legal com você...

– Por que você faria uma coisa dessas, Bellatrix?

– Oh não seja ridículo, isso não é da sua conta.

– NÃO É DA MINHA CONTA! – ele deu um soco na árvore – Não é da minha conta se a minha noiva é uma vadia! E da sua própria... – ele engasgou, com nojo – da sua própria família! Que tipo de doente em você?

– Você sempre soube que não podia confiar em mim. – ela rolou os olhos, então procurou segurar nos ombros dele, para que ele parasse de se mexer e a ouvisse – Mas precisa me ouvir agora.

– Eu não quero ouvir droga nenhuma que você tem a dizer!

– Você é o homem com o qual eu quero me casar.

– O quê? - pego de surpresa, ele só franziu o rosto, confuso, e ainda enojado – Que diabos está dizendo?

– Você será o meu marido, Rodolphos. Quando eu voltar.

– Você é louca.

– Você vai esperar por mim. Mesmo que eu demore.

Ele continuava negando com a cabeça. Bella tirou seu anel de noivado do dedo e entregou a ele.

– Guarde com você, um dia eu voltarei a usá-lo. Rodolphos, não se esqueça. Nós temos um contrato.

(Continua...)